12 setembro, 2016

BARROSO, Joaquim Dias - OS MOTINS EM BARBACENA. Elvas, Typographia Progresso, 1899. In-8.º (22 cm) de 89, [5] p. ; B.
1.ª edição.
Importante documento sobre os tumultos de Barbacena, em 1898, numa questão que deu brado na época. Trata-se da versão dos acontecimentos pela boca do antigo rendeiro geral das terras ocupadas pelos habitantes daquela vila alentejana.
"Muitas vezes confundido com a questão dos baldios ou terras não agricultadas de uso comunitário característica dos séculos XIX e XX, confusão praticada sobretudo pela imprensa da época, mas também por alguns dos múltiplos juízes que intervieram na longa sucessão dos processos judiciais e, até, pelos protagonistas, a verdade é que o caso de Barbacena me pareceu, e parece agora por maioria de razão, um caso diverso. Por um lado, pela natureza das terras em disputa: um conjunto de herdades cujo chamado “domínio directo”, ou direito de perceber um foro ou uma renda, pertencia desde a Idade Média aos senhorios, ou proprietários, mas sobre as quais pesava, de facto, o ónus do “domínio útil” em benefício dos pequenos foreiros, implicando este o uso da terra contratada e a possibilidade de o transmitir por herança, ou até de o vender ou trocar, uma vez obtido o beneplácito da entidade senhorial. Por outro lado, pela natureza da resistência oferecida desde tempos remotos pelos habitantes de Barbacena sempre que se viram ameaçados de espoliação deste direito, num impulso pela defesa dos meios da sua subsistência que terá modelado uma identidade colectiva coesa e sentimentos de pertença e de solidariedade. […]
Pude, também, [entre outras obras que se escreveram sobre o assunto], socorrer‑me da revisão histórica da autoria de Joaquim Dias Barroso, que fora por vários anos o rendeiro geral das propriedades em disputa e, talvez, um dos correspondentes anónimos dos diários lisboetas de então. É o opúsculo saído em Elvas em 1899, com o título Os Motins em Barbacena, ditado pelo desígnio de provar a bondade da razão dos senhores das terras e dos seus rendeiros no litígio contra os camponeses da região."
(SÉRVULO CORREIA, Margarida, "O caso de Barbacena : um pároco de aldeia entre a Monarquia e a República" – Centro de Estudos Históricos da UCP)
"Em o mez de julho de 1898, parte da populaça da villa de Barbacena, no concelho d'Elvas, instigada por uns taes Canello, Gadanha, Fanico, Cordeiro, Borrego, e outros, invadiu com os gados da povoação varios ferregiaes e outros tractos de terreno proximos d'aquella villa - pertencentes á antiga Casa do Conde de Barbacena - que trazia arrendados o sr. Alfredo de Andrade, e expulsou violentamente das mesmas terras os gados do rendeiro, praticando assim essa populaça um acoto de espoliação contra individuos de quem os moradores de Barbacena só teem recebido beneficios, concessões e favôres, como adeante demonstrarei.
Semelhante invasão foi precedida e acompanhada de grandes tumultos e alvorotos por parte de mulheres da villa, de rapazio, e de alguns homens, que praticaram então os maiores desafôros, bramindo insultos contra o cobrador dos fôros e contra o rendeiro geral das Terras de Barbacena, - e a tal ponto chegaram os amotinamentos, que teve a auctoridade administrativa da séde do concelho de requisitar uma força armada a fim de ser mantida a ordem n'aquella povoação.
Do dominio publico foi, porem, que, apesar de haver destacado para ali uma força militar, o estado anarchico continuou, pois que os amotinadores, se bem que aconselhados a respeitar o direito de propriedade, não abriram mão do esbulho, allegando que os terrenos invadidos eram do povo e só do povo."
(Excerto do Cap. I)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa apresenta falha de papel junto ao canto inferior esq. Lombada restaurada. 
Raro.
Com interesse regional. 
30€

Sem comentários:

Enviar um comentário