BARROSO, Joaquim Dias - OS MOTINS EM BARBACENA. Elvas,
Typographia Progresso, 1899. In-8.º (22 cm) de 89, [5] p. ; B.
1.ª edição.
1.ª edição.
Importante documento sobre os tumultos de
Barbacena, em 1898, numa questão que deu brado na época. Trata-se da versão dos acontecimentos pela boca do antigo
rendeiro geral das terras ocupadas pelos habitantes daquela vila alentejana.
"Muitas vezes confundido com a questão dos baldios ou
terras não agricultadas de uso comunitário característica dos séculos XIX e XX,
confusão praticada sobretudo pela imprensa da época, mas também por alguns dos
múltiplos juízes que intervieram na longa sucessão dos processos judiciais e,
até, pelos protagonistas, a verdade é que o caso de Barbacena me pareceu, e
parece agora por maioria de razão, um caso diverso. Por um lado, pela natureza
das terras em disputa: um conjunto de herdades cujo chamado “domínio directo”,
ou direito de perceber um foro ou uma renda, pertencia desde a Idade Média aos
senhorios, ou proprietários, mas sobre as quais pesava, de facto, o ónus do
“domínio útil” em benefício dos pequenos foreiros, implicando este o uso da
terra contratada e a possibilidade de o transmitir por herança, ou até de o
vender ou trocar, uma vez obtido o beneplácito da entidade senhorial. Por outro
lado, pela natureza da resistência oferecida desde tempos remotos pelos
habitantes de Barbacena sempre que se viram ameaçados de espoliação deste
direito, num impulso pela defesa dos meios da sua subsistência que terá
modelado uma identidade colectiva coesa e sentimentos de pertença e de
solidariedade. […]
Pude, também, [entre outras obras que se escreveram sobre o
assunto], socorrer‑me da revisão histórica da autoria de Joaquim Dias Barroso,
que fora por vários anos o rendeiro geral das propriedades em disputa e,
talvez, um dos correspondentes anónimos dos diários lisboetas de então. É o
opúsculo saído em Elvas em 1899, com o título Os Motins em Barbacena, ditado
pelo desígnio de provar a bondade da razão dos senhores das terras e dos seus
rendeiros no litígio contra os camponeses da região."
(SÉRVULO CORREIA, Margarida, "O caso de Barbacena : um
pároco de aldeia entre a Monarquia e a República" – Centro de Estudos
Históricos da UCP)
"Em o mez de julho de 1898, parte da populaça da villa
de Barbacena, no concelho d'Elvas, instigada por uns taes Canello, Gadanha,
Fanico, Cordeiro, Borrego, e outros, invadiu com os gados da povoação varios
ferregiaes e outros tractos de terreno proximos d'aquella villa - pertencentes
á antiga Casa do Conde de Barbacena - que trazia arrendados o sr. Alfredo de
Andrade, e expulsou violentamente das mesmas terras os gados do rendeiro,
praticando assim essa populaça um acoto de espoliação contra individuos de quem
os moradores de Barbacena só teem recebido beneficios, concessões e favôres,
como adeante demonstrarei.
Semelhante invasão foi precedida e acompanhada de grandes
tumultos e alvorotos por parte de mulheres da villa, de rapazio, e de alguns
homens, que praticaram então os maiores desafôros, bramindo insultos contra o
cobrador dos fôros e contra o rendeiro geral das Terras de Barbacena, - e a tal
ponto chegaram os amotinamentos, que teve a auctoridade administrativa da séde
do concelho de requisitar uma força armada a fim de ser mantida a ordem
n'aquella povoação.
Do dominio publico foi, porem, que, apesar de haver
destacado para ali uma força militar, o estado anarchico continuou, pois que os
amotinadores, se bem que aconselhados a respeitar o direito de propriedade, não
abriram mão do esbulho, allegando que os terrenos invadidos eram do povo e só
do povo."
(Excerto do Cap. I)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa apresenta falha de papel junto ao canto inferior esq.
Lombada restaurada.
Raro.
Com interesse regional.
30€
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