19 fevereiro, 2017

MONIZ, Dr. Egas - A NEUROLOGIA NA GUERRA. Pelo... Professor de Neurologia na Faculdade de Medicina de Lisboa. Ilustrada com 91 gravuras no texto. Lisboa, Livraria Ferreira, 1917. In-4.º (23cm) de 334, [2] p. ; mto il. ; E.
1.ª (e única) edição publicada.
Obra pioneira sobre o «stress pós-traumático» - sintomatologia adquirida pelos soldados nos campos de batalha na 1.ª Guerra Mundial -, salvo melhor opinião, a primeira que sobre este assunto se publicou entre nós. 
Muito valorizada pela dedicatória autógrafa do Prof. Egas Moniz.
"Quis a Faculdade de Medicina de Lisboa nomear-me seu delegado, a fim de estudar em França os últimos progressos da Neurologia a que a guerra veio trazer tão numerosos subsídios. Dessa missão me desempenhei o melhor que pude, e como me impus a obrigação de apresentar um relatório do que vi e estudei, resolvo fazê-lo um pouco mais extenso e documentado, dar-lhe mesmo uma forma didática e entregá-lo à publicidade, convencido de que com êle algum serviço posso prestar, pois contém doutrina que a todos os médicos portugueses interessa conhecer neste momento, atentas as nossas condições especiais perante o conflito europeu.
As novas aquisições da Neurologia não foram muito numerosas. Muitos dos assuntos se conheciam já, mas uns incompletamente, outros com deficientes aplicações clínicas e quási todos estavam mais ou menos esquecidos na prática corrente, por carência de material. Veio a guerra e êste aumentou tão prodigiosamente, que as séries intermináveis de perturbações, não examinadas normalmente, fez concentrar a atenção dos neurologistas sôbre assuntos que até aí lhes tinham sido quási indiferentes. E assim, se de facto as descobertas neurológicas - e algumas tem havido -  não têm sido extraordinárias, as aquisições que a clínica neurológica acaba de fazer são verdadeiramente notáveis.
Não só novas entidades nosológicas começam a definir-se, mas completam-se capítulos ainda não concluídos e confirmam-se factos sôbre que experiências numerosas e concludentes não tinham ainda pronunciado o último veredicto. O grande conflito fez avançar de muito anos a Neurologia e sobretudo demonstrou que esta especialidade é de tal forma indispensável na guerra que a França não julga ainda suficientes os seus 27 centros neurológicos, sendo 7 da frente e 20 da retaguarda. [...]
O livro que hoje publicamos representa um trabalho de momento que, em alguns casos, não pôde sequer socorrer-se de tudo o que acontece em França, pois há estatísticas que, por motivos militares, não foram ainda publicadas. Só terminada a guerra e conhecidos dos dois lados dos combatentes e em todas as frentes a estatística mórbida e os trabalhos realizados, se poderá fazer obra de conjunto bem documentada e de que as conclusões podem ser definitivas. O nosso propósito é muito modesto: levar aos médicos portugueses o conhecimento do que até hoje nos ensinou a guerra no campo neurológico e aconselhar a prática que reputamos mais vantajosa.
Nos dois últimos capítulos tratamos dos simuladores e dos direitos dos feridos de guerra. Êste último assunto apaixonou a França e, nomeadamente, os médicos e juristas, a propósito dum tratamento executado em Tours pelo neurologista Clovis Vincent e a que os soldados deram o nome de torpedeamento. A questão depois generalizou-se. Pretendeu-se saber se um ferido de guerra tinha ou não o direito de recusar não só os tratamentos eléctricos dolorosos, mas também os tratamentos cirúrgicos, fôsse qual fôsse a sua gravidade. Examiná-la hemos sob estes dois curiosos aspectos."
(excerto do prólogo)
"Dois assumtos importantes prendem neste momento a atenção dos neurologistas. Um, é a neurologia de guerra própriamente dita, visto a neurologia, e subsidiáriamente a psiquiatria, terem tomado no grande conflito um lugar importantíssimo entre as demais especialidades médico-cirúrgicas. Outro, ainda mais importante do que o primeiro, é a nova patologia neurológica nascida do exame de milhares de casos de perturbações e feridas nervosas que em tempo normal só raras vezes se observavam e algumas mesmo nunca se viam. E quantas correntes e orientações diversas surgiram após o estudo dêsse grande, dêsse imenso material clínico! E quantas decisões, scientificamente comprovadas, há ainda a tomar!"
(excerto do preâmbulo)
Matérias:
- Lesões do crânio e cérebro. - Lesões do ráquis e da medula. - Lesões dos nervos periféricos. - Lesões dos nervos do membro superior. - Lesões dos nervos do membro inferior. - Os comocionados. - As perturbações chamadas de ordem reflexa. - Simuladores e exageradores. - Os direitos dos feridos de guerra. - Conclusão.
António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz (1874-1955). “Nasceu em Avanca, concelho de Estarreja, em 29 de Novembro de 1874. Formou-se em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 1899, e defendeu a tese de licenciatura em 1900. Em 1901 prestou provas de doutoramento e em 1902 entrou para o quadro docente como professor substituto. Inicialmente trabalhou nas disciplinas de Anatomia, Histologia e, mais tarde, de Patologia Geral. Em 1910 tornou-se professor catedrático. Em 1911 transferiu-se para a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde ficou responsável pela cadeira de Clínica Neurológica. Abriu consultório em Lisboa e começou a fazer deslocações regulares a outros países, principalmente a França. Desde os seus tempos de estudante que tinha uma actividade política intensa. Era defensor activo da liberdade de expressão e pensamento e em 1908 foi preso por estar envolvido na tentativa de golpe de estado de 28 de Janeiro contra a ditadura de João Franco (1855-1929). Foi deputado em várias legislaturas, de 1903 a 1917. Em 1910 fez a sua iniciação na maçonaria, na Loja Simpatia e União, de Lisboa. Em 1917 fundou o Partido Centrista, que pretendia unir antigos monárquicos de corrente progressista e republicanos que se afastavam do Partido Evolucionista. Defendia uma aliança entre o capital e o trabalho e preconizava a aplicação de medidas de protecção das classes trabalhadoras. Defensor das liberdades públicas e dos direitos individuais, liderou a corrente parlamentarista do Partido Nacional Republicano resultante da aliança entre os Partido Centrista e os sidonistas, apoiantes do golpe que instaurou em 1917 a ditadura de Sidónio Pais (1872-1918). Em 1917 foi nomeado Ministro de Portugal em Madrid e em 1918 foi Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Sidónio Pais. No desempenho deste último cargo presidiu a delegação portuguesa na Conferência de Paz de Versalhes em 1918. Em 1919, após o assassinato de Sidónio Pais, foi substituído neste cargo por Afonso Costa (1871-1937) e decidiu abandonar a política activa. Passou então a dedicar-se à sua carreira científica, após ter publicado a obra Um Ano de Política, onde expõe os seus sentimentos e opiniões sobre o seu percurso político. Foi nomeado director do Hospital Escolar de Lisboa em 1922 e tornou-se sócio efectivo da Academias das Ciências de Lisboa em 1923, instituição de que veio a ser presidente pela primeira vez em 1928, vindo a ocupar posteriormente esse cargo por diversas vezes. Foi director da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa entre 1929 e 1931. Em 1939, quando tinha 65 anos, sofreu um atentado no seu consultório, por parte de um seu doente, que o alvejou com oito tiros, dos quais cinco o atingiram. Sobreviveu e jubilou-se em 1944. Em 1945 foi-lhe entregue o prémio de Oslo e em 1949 foi-lhe atribuído o prémio Nobel de Medicina e Fisiologia. Faleceu em Lisboa em 13 de Dezembro de 1955."
(fonte: cvc.instituto-camoes.pt)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Apresenta fissuras na lombada.
Raro.
Peça de colecção.
150

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