31 agosto, 2015

GONÇALVES, J. Cardoso - UMA JÓIA DA ILUMINURA PORTUGUESA : o Missal Pontifical de Estevão Gonçalves Neto. Por... Da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Estudos-Nacionais sob a égide do Instituto de Coimbra. Colecção louvada pela Junta de Educação Nacional. Gaia, Edições Pátria, 1931. In-4.º (25 cm) de 64, [4] p. ; [1] f. il. ; il. ; B.
1.ª edição.
Monografia ilustrada com belíssimas estampas coloridas e a p.b., de diversos tamanhos, em separado, e coladas nas páginas de texto ao longo do livro.
"Temos sôbre a mesa a reprodução do Missal Pontifical de Estevão Gonçalves Neto, notável códice iluminado do século XVII. [...]
A data de 1610 é considerada, de há muito, como a do início da composição do Missal. A rubrica diz que o artista foi abade de Sereijo, e não de Serêm como até há pouco se acreditava. A data de 1610 não tem todavia correspondencia com a do exercício daquelas funções eclesiásticas, porque está hoje averiguado que E. Gonçalves tomou posse da sua abadia em 3 de maio de 1613. [...]
O Missal Pontifical de Estevão Gonçalves Neto é uma obra prima da arte portuguesa.
Ao aparecer na época em que se manifestava já a decadência do Renascimento, o Missal é um prodígio do génio. Levado a exposições internacionais, a França e Inglaterra, a critica unanimemente o sagrou como jóia do mais alto valor. Merece por isso um estudo carinhoso, que ponha em relêvo as suas belezas extraordinárias e incomparáveis."
(Excerto do texto)
Exemplar brochado, totalmente por abrir, em bom estado de conservação.
Invulgar.
Indisponível

30 agosto, 2015

PENTEADO, Francisco - COMO SE PESCA. Por... Oficial da marinha de guerra. 13.ª secção : Vida Marítima. Lisboa, Editor-Pedro Bordallo Pinheiro: Livraria Profissional, [191-]. In-8.º (14 cm) de 64 p. ; il. ; B. Colecção Os Livros do Povo, 26
1.ª edição.
Muito ilustrada nas páginas do texto com variados desenhos de artes de pesca.
"No banco da Terra Nova - Faz-se a do bacalhau com anzol, empregando-se para isca o soft-clam (molusco muito salgado e semelhante à ameijoa, abundante no litoral da América do Norte), ou as lulas e algumas vezes até os próprios intestinos do bacalhau. Os centros desta pescaria são Lisboa, Figueira da Foz, Aveiro, Porto e Viana do Castelo, d'onde, em época própria, sáem os navios, - lugres, patachos e escunas, - que ali vão exercer essa pesca de abril a setembro. O maior rendimento é tirado, em geral, desde meado de abril até fim de junho e nos princípios de outubro retiram os navios, obrigados pelos gêlos que começam a invadir aquelas regiões."
(Excerto do Cap. I, Pesca longínqua)
Matérias:
- Introdução. - Pesca marítima. - Classificação dos aparelhos. I - Pesca longínqua. II - Pesca do alto. III - Pesca costeira. - Espécies a cuja pesca se refere o texto.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar e muito apreciado.
Indisponível

29 agosto, 2015

ARAGÃO, Major Francisco - TROPAS NEGRAS : as forças ultramarinas na defesa nacional. Lisboa, [Ed. do Autor], 1926. In-8.º (19cm) de 166, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Obra dedicada pelo autor "à memória dos meus companheiros de armas, oficiais e soldados do 1.º de Dragões de Angola, que pela última vez fitaram o sol na manhã sangrenta de Naulila".
                   ..................................
"Maus quadros, instrução deficiente e rotineira, nula acção dirigente e meios materiais mais do que insuficientes - eis o que temos em África para nos defrontarmos com uma agressão inesperada que nos movam. Assim foi também em 1914 - e bem caras nos custaram, em vidas e desfeitas inglórias, as improvisações hesitantes e tardias que tentámos, pesado tributo paga à incúria e ao desleixo a que tínhamos votado as nossas instituições militares coloniais."
(excerto do prefácio)
"Quando no último período da guerra, em Moçambique, acabámos por nos convencer da impossibilidade de continuar a luta com tropas europeias, improvisámos, à pressa, numerosas companhias indígenas que a urgência de mandar na frente, cada vez mais extensa, efectivos numerosos, nos obrigou a instruir em condições precárias e deficientes.
Só forçados por uma realidade que não perdôa nos resignáramos a fazê-lo.
Mas, nem a preparação que lhe demos foi cuidada, porque não tínhamos previsto com antecedência a necessidade do seu emprêgo, nem os chefes e graduados puseram grande confiança nas suas qualidades: uns supunham-nos incapazes de se defrontarem com os askaris inimigos, aguerridos por três anos de luta e de êxitos, outros receavam aumentar sensivelmente os efectivos dessas tropas - não fôsse voltar-se contra nós o instrumento de fôrça que creávamos...
Todos cometeram uma grave injustiça atribuindo às tropas de côr culpas que nunca lhes pertenceram: durante quatro anos de luta a nossa infantaria indígena sempre se bateu com valorosa decisão, quando bem enquadrada e comandada, e das suas fileiras não saiu um exemplo de deslealdade ou de traição."
(excerto de O soldado indígena)
Matérias:
- O soldado indígena. - Exército nacional - A nova organização das fôrças ultramarinas. - A ocupação militar. - O emprêgo das tropas indígenas. - O recrutamento indígena. - O alto comando. - Os quadros. - A divisão territorial - As tropas, as reservas e os serviços. - A infantaria indígena. - A cavalaria. - A artilharia, a engenharia e a aviação. - Os serviços. - As fôrças ultramarinas na defesa nacional. - A unificação dos quadros. - Sôbre a organização das forças militares nas colónias. - A defesa militar das colónias. - Conclusões. - Esboço da organização militar de Angola.
Exemplar brochado em razoável estado de conservação. Capas sujas com defeitos; assinatura possessória na capa; lombada restaurada, apresenta falha de papel considerável.
Invulgar.
10€
Reservado

28 agosto, 2015

SILVA, Antonio Diniz da Cruz e - O HYSSOPE, POEMA HEROI-COMICO DE... Lisboa, Na Typographia Rollandiana. 1808. Com Licença. In-8º (16cm) de 128 p. ; E.
1.ª edição publicada em Portugal (2.ª absoluta). A 1.ª edição foi impressa em Londres [aliás Paris], em 1802).
A respeito d’O Hyssope, e com a devida vénia pelo magnífico texto publicado no blog asinvasoesfrancesas.blogspot.pt , sob o título O Hissope, poema heróico-cómico publicado em Portugal durante o Governo de Junotreproduzimos as palavras dedicadas a esta obra incontornável da literatura portuguesa.
“Em 1768, o bispo de Elvas, D. Lourenço de Lencastre, e o deão do cabido, José Carlos de Lara, tiveram um arrufo que pôs fim ao costume que o último tinha em obsequiar o hissope (ou aspersório, instrumento utilizado para aspergir água benta) ao bispo, sempre que este se dirigia à sé. Ofendido, D. Lourenço de Castro conseguiu que o cabido emitisse um acórdão para obrigar o deão a continuar a executar o antigo costume. O deão protestou ao cabido, ao bispo e até ao metropolita de Évora, vendo sempre baldados os seus esforços e acabando mesmo por morrer, poucos meses depois, sem ver alterada a sentença. Sucedeu-lhe no cargo um seu sobrinho, ao qual também se exigiu o mesmo, sob pena de repreensão e multa. Sem se deixar intimidar, o novo deão apelou desta vez à Coroa. Prevendo um desfecho malogrado, o bispo e o cabido acabaram por riscar os acórdãos do respectivo livro e negar tudo o que se tinha passado. Este caso, que durou à volta de dois anos, foi acompanhado de perto pelos habitantes de Elvas, entre os quais se encontrava António Diniz da Cruz e Silva, exercendo funções de magistratura junto do exército da cidade. Tendo sido um dos fundadores da Nova Arcádia, Diniz aproveitou os seus dotes poéticos para caricaturizar esta "bagatela", compondo assim uma obra intitulada O Hissope, que começava com os seguintes versos:
Eu canto o Bispo e a espantosa guerra
Que o hissope excitou na Igreja d'Elvas.
O Hissope tem a particularidade de ter sido o primeiro poema heróico-cómico criado em Portugal, género hoje desaparecido que se caracterizava por celebrar (e de igual forma satirizar) em tom épico um acontecimento sem qualquer importância, como era o presente caso. A crítica incisiva que Diniz fazia às vaidades eclesiásticas (retratando um clero ignorante, mundano e soberbo) não agradou à censura da Intendência Geral da Polícia – note-se que a Inquisição, apesar de continuar a existir, tinha perdido muita da sua força desde o tempo do Marquês de Pombal –, que proibiu a obra de ser publicada em Portugal. Contudo, não se conseguiu impedir que proliferassem e circulassem diversas cópias manuscritas. Francisco Augusto Martins de Carvalho, na obra abaixo mencionada, catalogou 54 exemplares manuscritos, com algumas variantes entre si, que se encontravam recolhidos em bibliotecas nacionais (embora possivelmente existam ou tenham existido muitos mais). As variantes aludidas entre estes exemplares derivam provavelmente do facto de António Diniz da Cruz e Silva ter ido aumentando, corrigindo e retocando O Hissope quase até 1799, ano em que morreu. Somente três anos depois é que finalmente era publicada a primeira versão impressa. Talvez para desviar a atenção da censura da Intendência da Polícia, que controlava de forma cerrada tudo o que vinha da França desde os tempos da Revolução, esta primeira edição saiu à estampa com a menção de ter sido publicada em Londres, como se pode ver à esquerda, apesar de na verdade ter sido impressa em Paris. Contudo, de pouco serviu esta dissimulação, pois logo em 1803, o Intendente Geral da Polícia, Pina Manique, mandava afixar em edital um aviso proibindo a venda ou divulgação em Portugal de O Hissope.
Foi assim preciso esperar até ao ano de 1808 para esta obra sair da ignomínia da censura portuguesa, quando o Governo de Junot deu permissão para se publicá-la em Portugal. É possível que uma das razões para essa autorização fosse a semelhança entre esta obra e Le Lutrin de Nicolas Boileau, obra de idêntico teor que já circulava na França há mais de cem anos, e que o próprio autor português tomara confessadamente como modelo de inspiração (embora alguns autores, entre os quais Almeida Garrett, garantam que Diniz ultrapassou a obra de Boileau). Também se deve notar que a iniciativa da publicação de um livro que desmascarava o absurdo e a hipocrisia de certas convenções religiosas era conforme àquela afirmação de Junot, na sua proclamação de 1 de Fevereiro, quando dizia aos portugueses que "a religião de vossos pais [...] será protegida e socorrida [...], mas livre das superstições que a desonram". Num país onde o clero tinha um poder enorme, esta obra caía como uma bomba, e os franceses deviam ter plena consciência disso. Por outro lado, O Hissope continha passagens que se encaixavam perfeitamente naqueles tempos, como a seguinte:
Ao pé de cada esquina, hoje, sem pejo,
Se tratam de Monsieur os portugueses.
Isto, senhor, é moda, e como é moda,
A quisemos seguir; e sobretudo,
Mostrar ao mundo que francês sabemos.
Na verdade, esta segunda edição é hoje raríssima, pois logo que os franceses saíram do país (em Setembro de 1808), mandaram-se recolher os seus exemplares, e novamente foi proibida a venda e divulgação desta obra. Só depois da implantação do regime liberal é que se permitiu que O Hissope fosse novamente publicado em Portugal, embora entretanto se tivessem publicado diversas edições em Paris.
Apesar desta censura de quase meio século, O Hissope, a "verdadeira coroa poética" de António Diniz da Cruz e Silva, no entender de Almeida Garrett, não perdeu a sua força e vivacidade, pois só contando até ao ano de 1921, foi editado pelo menos vinte e quatro vezes, três das quais traduzido para o francês. Uma média invejável, tendo em conta o perfil da obra. Note-se que, ainda até aquele ano, o poema também já tinha sido alvo de outras traduções (embora parciais) em inglês e alemão. De 1921 para cá foi publicado pelo menos mais cinco vezes em Portugal, a última das quais através de uma nova edição crítica de Ana María García Martín e Pedro”.
                                ..........................................
"Jozé Carlos de Lara, Deaõ da Igreja de Elvas, querendo obsequiar o seu Bispo e Ex.mo e Rev.mo D. Lourenço de Lencastre, vinha offerecer-lhe o Hyssope á porta da Casa do Cabido, todas as vezes que este Prelado ia exercitar as suas funções na Sé. Depois, esfriando esta amizade por motivos que nos saõ occultos, mudou o dito Deaõ de systema; o que o Bispo sentio em extremo, como uma grande affronta feita á sua Ill.ma pessoa: e para o obrigar a continuar no mesmo obsequio, maquinou com alguns seus parciaes do Cabido, que este lavrasse um Accordaõ, pelo qual o Deaõ fosse obrigado, debaixo de certas multas, a naõ o esbulhar de pertendida posse, em que se achava. Deste terrivel Accordaõ appelou o Deaõ para a Metrópole, onde teve sentença contra si. Esta é a acçaõ do Poema."
(excerto do Argumento) 
António Dinis da Cruz e Cruz (1731-1799). “Escritor português, natural de Lisboa. Formou-se em Leis na Universidade de Coimbra. Terminado o curso, seguiu a magistratura, sendo nomeado juiz em Castelo de Vide (1759) e em Elvas (1764). Mais tarde, foi promovido a desembargador da Relação do Rio de Janeiro. Nessa qualidade, fez parte da comitiva enviada ao Brasil para julgar os réus da revolta que ficou conhecida por Inconfidência Mineira [1789], entre os quais se encontravam alguns poetas seus amigos [Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás António Gonzaga]. Pouco mais se sabe da sua estadia no Brasil, embora aí tenha escrito a maior parte da sua obra. Poucos meses depois do terramoto de 1755 fundou, em Lisboa, juntamente com dois outros jovens bacharéis em Direito, Esteves Negrão e Gomes de Carvalho, a Arcádia Lusitana, adoptando o pseudónimo arcádico de formação greco-latina Elpino Nonacriense. Conforme parecia ser apanágio dos poetas arcádicos, também Cruz e Silva publicou pouco em vida - apenas quatro hinos, três idílios, duas odes e um ditirambo. Muita da sua obra, bem mais vasta, só foi publicada postumamente. Pouco tempo depois de morrer foram publicadas as Odes Pindáricas (1801), o poema O Hissope (1802), e os seis volumes das Poesias (1807-1817). Mesmo assim, uma fatia considerável da sua obra permanece ainda hoje inédita. Fiel seguidor dos princípios estéticos preconizados pelo neoclassicismo, raramente intentou libertar a sua poesia dos convencionalismos arcádicos, enchendo-a de alusões mitológicas e respeitando sempre os rígidos cânones clássicos, o que lhe retirou muito do seu carácter emotivo. Mas a sua maior obra, talvez a maior de todo o período arcádico, o poema herói-cómico O Hissope, desfrutou de grande popularidade e foi traduzida para francês, inglês e alemão. Na obra, escrita no estilo épico d'Os Lusíadas, com um tom escolhido propositadamente para melhor realçar o ridículo do tema, e servindo-se do pretexto de uma intriga entre o bispo e o deão da cidade de Elvas, ridiculariza os valores feudais, a mentalidade escolástica, a poesia gongórica, o fausto da aristocracia e os abusos praticados pelas altas esferas da Igreja. Alguns autores consideram este poema a única obra dos árcades que merece, ainda hoje, ser lida."
(Transcrito com a devida vénia de: http://osgrandeselvenses.blogspot.pt/2007/03/antnio-dinis-da-cruz-e-silva.html)

Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação.
O nosso exemplar possui, após o final da obra, o "Catálogo de alguns livros que se achão á venda na loja de Antonio Marques da Silva, na Rua Augusta nº. 2, em Lisboa" (24 pags), impressa em 1835, na Typ. de M. J. Coelho & Comp.ª.
Raro.
Indisponível

27 agosto, 2015

CARDOSO, José - O BLOQUEIO MODERNO : estudo sobre estrategia naval. Por... Primeiro Tenente da Armada. Coimbra, Typographia de França Amado, 1909. In-8º (20cm) de XV, [1], 429, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Muito valorizada pela assinatura de posse, na folha de rosto, de José Carlos da Maia, oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, e destacado político republicano, que viria a ser barbaramente assassinado na purga levada a cabo em 19 Outubro de 1921, que ficaria conhecida por "noite sangrenta".
"Muito embora o estado precario em que se encontra a nossa marinha de guerra, cremos que a opportunidade que aproveitamos não é das mais apropriadas para ser dado á luz da publicidade um trabalho tendo por objecto o estudo de uma das bases da organisação da nossa defesa naval.
Com effeito, são muito graves os problemas da nossa situação interna que neste momento absorvem por completo a attenção do publico. [...]
Mas ha tambem razões de bastante importancia a determinar a publicação immediata de um trabalho com o caracter de um estudo estrategico como é o do presente livro.
Desde 1904 que se pensa em dotar a nossa marinha de guerra com novo material, e, nas varias tentativas feitas desde então para adquirir esse material, parece-nos que tem sido posto de lado o argumento estrategico, que devia predominar na orinetação dos nossos programmas navaes.
É um erro muito grave."
(excerto do prólogo)
Exemplar brochado, por aparar, em bom estado de conservação. Capas envelhecidas com defeitos. Sem f. anterrosto. 
Raro.
25€

26 agosto, 2015

PIMENTEL, Alberto - O POETA CHIADO (Novas investigações sobre a sua vida e escriptos). Lisboa, Empreza da Historia de Portugal, 1901. In-4º (23cm) de 59, [5] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Ilustrada por bonitas vinhetas tipográficas a assinalar o início de cada capítulo.
Apontamentos biográficos sobre a figura popular que dá o nome a um conhecido Largo lisboeta - o Poeta Chiado.
"A popularidade de Antonio Ribeiro o Chiado proveiu não tanto da sua veia poetica, aliás muito apreciada pelos entendidos, como das sua repetidas tunantadas, de que o povo tinha directo conhecimento, porque as presenceava em plena rua.
Era entre o povo, entre as classes humildes de que elle provinha, por que lá diz Affonso Alvares no proposito de deprimil-o
Nasceste de regateira
e teu pai lançava solas;
era entre a arraya miuda que o Chiado localizava o theatro das sua façanhas picarescas, dos seus feitos esturdios, das sua «partidas» e «piadas», como hoje dizemos."
(excerto do Cap. IV)
António Ribeiro (1520?-1591). “Poeta jocoso que viveu no século 16. Era conhecido pelo Chiado, por ter morado muitos anos em Lisboa, na rua assim chamada já naquele século, nome que se conservou até meados do século 19, em que foi mudado para o de rua Garrett. Nasceu num humilde arrabalde de Évora, e faleceu no ano de 1591. Quis professar na Ordem de S. Francisco, mas não se lhe dando por válida a profissão, passou o resto da vida como celibatário, vestido sempre com hábito clerical. Apesar de não ser muito douto, tinha verdadeiro talento e bastante conhecimento das boas letras. Improvisava versos com a maior facilidade, mais pelo impulso da natureza, que de arte, sendo os seus versos muito jocosos e joviais, provocando festivos aplausos a quem os escutava. Também imitava com muita propriedade e galanteria as vozes e os gestos de diversas pessoas conhecidas. Todos estes predicados lhe alcançaram a estima geral e a maior popularidade.“
(in www.arqnet.pt)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas frágeis com defeitos.
Invulgar e muito apreciado.
25€

25 agosto, 2015

FORJAZ, Prof. Pereira - PASSOS BRIGANTINOS NUMA TRILOGIA DE GLÓRIAS. [S.l.], Fundação da Casa de Bragança, 1953. In-4º (26cm) de 44, [4] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Ilustrada com bonitos desenhos nas folhas de texto.
Matérias:
- Os noviços do Monte Olivete : 1603-1759.
- Os meninos do Colégio dos Nobres : 1761-1837.
- Os famosos politécnicos : 1837-1911.
"Naquela madrugada do dia da Assunção do ano de 1534, Inácio desceu do seu calmo terceiro andar, chamou no primeiro sobrado (o Inferno!) um mocetão de Vousela, Simão Rodrigues, e foi com mais alguns amigos para a capela dionisiana de Montmartre - a fundar a Companhia de Jesus. Seis anos depois, a pedido de El-rei, o beirão vinha para o Hospital de Todos-os-Santos e uns três meses passados chegava-lhe o companheiro - S. Francisco Xavier. O povo dizia que eram os dois de tanta virtude que haviam atravessado o Tejo a pé enxuto - e ao vê-los passar no Rossio, D. João III segredava ao ouvido do marquês de Vila Real: «ali vão, os novos Apóstolos!...»."
(excerto de Os noviços do Monte Olivete)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
Indisponível

24 agosto, 2015

MORAIS, Tenente Pina de - AO PARAPEITO (2.ª edição - 2.º milhar). Pôrto, Edição da Renanscença Portuguesa, 1919. In-8º (18,5cm) de 146, [2] p. ; B.
Obra memoralista sobre a participação do contingente expedicionário português em França, durante a Grande Guerra. 
"Ao Parapeito, que relata as vivências do autor na frente de combate, foi considerado em França o melhor livro estrangeiro sobre aquela conflagração mundial, e mereceu as honras de tradução para Francês, com o título Au créneau."
.........................
"A batalha seguia a sua marcha normal - inflexivel, violenta, poderosa. Vagas d'um assalto precedidas de vagas de metralha. Cortinas de fôgo, d'estilhaços, rubras, estrondosas e contínuas. Duas linhas de baionetas duras e escurecidas. Um modêlo da escola alemã, de combate.
As rajadas das metralhadoras assobiam.
No reducto de Pont de Hem Post, estão destacados sete homens e uma metralhadora.
É um pôsto importante - o de Pont du Hem Post. [...]
A guarnição perdeu dois homens até chegar ao posto. [...]
Os cinco homens recebem ordem de esperar e quando o boche chegar batê-lo.
E então êles esperarm.
O metralhador espera, fica sempre.
Póde a infantaria refluir como as ressacas, que o metralhador fica.
Póde a artilharia, fundidas as culatras, atrelar e rasgar a barragem inimiga, numa galopada - mas o metralhador ficará."
(excerto de O metralhador)
Índice:
- Adeus. - Uma lição. - A sombra do pelotão. - A carta. - Frases de Legenda. - A morte do sapador. - Uma patrulha. - Batalha de La Lys. - O metralhador. - S. O. S. - Ambulância. - História do amôr. - Andorinhas mortas. - Balada da neve. - Coisas de rir. - Aos meus soldados.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa frágil com defeitos marginais. Assinatura de posse na f. anterrosto.
Invulgar.
Indisponível

23 agosto, 2015

BASTO, Artur de Magalhães - LIMIAR DE TRAGÉDIA. Reflexos no Pôrto das vésperas de Alfarrobeira. Extracto do Vol. 13.º da «revista de Historia». Porto, Imprensa Portuguesa, 1925. In-4º (22cm) de 31, [1] p. ; B.
1.ª edição independente.
Valorizada pela dedicatória autógrafa do Dr. Magalhães Basto.
"Apenas chegou a Trás-os-Montes a notícia de que o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra, havia deixado a regência do reino, logo o Duque de Bragança saiu de Cheves, onde residia, e, acompanhado dos seus homens de armas, passou ao Pôrto, a Guimarães, a Ponte do Lima e outras povoações, de toda a parte expulsando os criados e parciais do antigo regente, aos quais acusava de traição contra o rei. Era o extravasar dos ódios e despeitos longo tempo a custo reprimidos, ódios e despeitos que haviam conseguido levar Afonso V a suspeitar da lealdade de D. Pedro e que procuravam agora lançar entre o povo, contra os servidores dêste, o labeu de traidores. [...]
No Pôrto havia dois partidos: a facção de D. Pedro e a do Duque de Bragança. Mas a mais numerosa era a primeira. [...]
As cartas que D. Pedro V, D. Pedro e outros Senhores escreviam à cidade, eram pretexto de ajuntamentos nas ruas e praças, de comícios ruidosos, de tumultos - e o povo, levado pelos meneurs e pelos eternos pescadores de águas turvas, encontrava-se inconscientemente envolvido numa atmosfera de guerra civil."
(excerto do texto)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
10€

22 agosto, 2015

NO FUNERAL DE SIDONIO PAES, MARTYR DA PATRIA. Assassinado em Lisboa, aos quatorze de Dezembro de mil novecentos e desoito, pelos maos portugueses aos quaes a sua grandeza fazia sombra, e levado para os Jeronymos em cortejo de verdadeira apotheose nacional, a vinte e um do mez e anno. [Prefácio de H. F. C.]. Lisboa, [s.n. - imp. Officinas da Empreza Diario de Noticias, Lisboa], 1920. In-4º (25,5cm) de 47, [1] p. ; [3] f. il. ; B.
1.ª edição.
Ilustrada com 3 fotogravuras extratexto de Sidónio Pais impressas sobre papel couché: montado, em parada; 1 retrato da autoria de Vasques; 1 retrato da autoria de Bobone.
"Os quatorze capitulos d'este folheto reproduzem quatorze folhas soltas, numeradas, impressas sem rubrica de auctor nem designação de typographia, que foram distribuidas nas ruas de Lisboa durante o desfilar do grandioso funeral de Sidonio Paes. [...]
Feitas por quem fossem, ellas resumem nas suas poucas linhas a mais justiceira e patriotica apreciação do grande Vulto, grande na sua curta vida, grande na sua morte, caracter inteiro, n'uma epocha em que o caracter a todos fallece, espelho de antigas virtudes portuguezas..."
(excerto do prefácio, Explicação previa)
Indice:
Explicação previa.
I - O seu momento historico. II - Quem o matou? III - A sua intelligencia. IV - O 5 de Dezembro. V - O Homem. VI - Como Elle te amou, bom povo português! VII - Elle foi um novo D. Pedro V. VIII - Elle era respeitado pelos estrangeiros.  IX - Elle respeitou a religião. X - Elle foi amado pelas mulheres de Portugal. XI - Elle despresou os politicos. XII - Elle amou a mocidade. XIII - Elle amou as creanças. XIV - Portugueses! O grande Presidente entrou na imortalidade.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas manchadas. Gravuras ligeiramente oxidadas.
Invulgar.
25€

21 agosto, 2015

BORGES, Manoel Antonio - OS HEROES D'AFRICA : discurso. Que na Sé Cahtedral de Portalegre e no solemne «Te-Deum» promovido pelo Conselheiro Governador Civil Antonio Xavier Perestrello, apenas com a preparação de 24 horas recitou... Conego Capitular da mesma Sé. Portalegre, Marques & Fabião, 1896. In-8.º (21,5cm) de 14, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Valorizada pela assinatura de posse na f. rosto do conhecido tribuno amarantino António Cândido, que viria mais tarde a fazer parte do grupo literário «Vencidos Da Vida», que integrava, entre outros, Eça, de Queirós, Junqueiro e Ramalho Ortigão.
"Do Ministerio da Guerra partiu um appello ao Exercito Portuguez. Esse Exercito, que tem na sua historia os pergaminhos de sua nobreza, sentiu affluir-lhe ao coração todo o sangue; e trocaram-se numeros, e sollicitaram-se alistamentos e todos e de toda a parte queriam uma parcella de gloria n'este martyrologio sacrosanto de morrer pela Patria.
Honra lhes seja feita. Que este exemplo fique ahi bem gravado em caracteres indeleveis no coração de todos os Portuguezes.
Foram. O que fizeram, as inclemencias que soffreram, os perigos que affrontaram, as difficuldades que venceram, ali estão no centro da Historia Nacional a merecer a nossa homenagem, a pedir as nossas ovações.
Não lhes faltarão. O coração de cada Portuguez é-lhes altar e culto.
Outros cahiram... morreram!!!...
Sanctas memoria, abençoadas memorias!"
(excerto do Discurso)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
Obra impressa em Portalegre. Sem registo bibliográfico de qualquer espécie, incluindo a BNP (Biblioteca Nacional).
15€

20 agosto, 2015

FONSECA, F. Belard da - NOSSA SENHORA DA ATALAIA, Padroeira das Alfândegas e NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, Protectora da Alfândega das Sete Casas. Subsídios para a História das Alfândegas. I. Lisboa, [s.n. - imp. Scarpa, Lda.], 1944. In-8.º (21,5cm) de 16 p. ; [2] f. il. ; B.
1.ª edição.
Ilustrada com 2 gravuras extratexto impressas sobre papel couché. 
Valorizada pela dedicatória autógrafa do autor.
Tiragem: 500 exemplares.
"Perde-se na noite dos tempos o culto prestado à Virgem Maria com o título da Atalaia, na sua ermida do termo de Aldeia Galega do Ribatejo [Montijo].
A imagem que na mesma se encontra foi sempre considerada como milagrosa e prodigiosa em sua origem, desconhecendo-se, no entanto, a data do seu aparecimento."
(excerto de Nossa Senhora da Atalaia, Protectora das Alfândegas)
"Paralelamente ao que acontecia na Alfândega Grande, que tinha por padroeira N. S. da Atalaia, celebrava a Alfândega das Sete Casas a festividade de N. S. da Conceição.
Em 1832, por aviso da Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda, com data de 2 de Maio, ordenou-se que se continuasse a celebrar na Sala grande do edifício da Alfândega das Sete Casas a festa de N. S. da Conceição, como padroeira do Reino e protectora dos Tribunais e Casas Fiscais."
(excerto de Nossa Senhora da Conceição, Protectora da Alfândega das Sete Casas)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Indisponível

19 agosto, 2015

ALORNA, Marquesa de - PARAPHRASE DOS PSALMOS. Em Vulgar, por ALCIPPE, ou L. C. d' O. Hoje M. d'A. Tomo I. Lisboa: 1833. Na Imprensa da Rua dos Fanqueiros N.º 129 B. Com licença da Meza do Desembargo do Paço. In-8º (21,5cm) de [2], 194, [2] p. ; B.
Raríssima edição oitocentista da Paráfrase dos Salmos, publicada ainda em vida da autora. O Tomo I foi tudo o que se publicou desta edição de 1833.
“A paráfrase dos salmos levada a cabo por D. Leonor de Almeida Portugal constitui uma das facetas menos estudadas da sua obra: não só não tem despertado o interesse daqueles que se debruçaram sobre a sua poesia, como raramente surge mencionada na escassa bibliografia relativa às adaptações e traduções do texto bíblico para a língua portuguesa. É possível que este esquecimento se deva, em parte, à complexidade do tema: pelo facto de se tratar de um dos livros mais antigos da Bíblia e sendo constituído exclusivamente por poemas destinados ao canto, o Saltério suscita questões do ponto de vista ecdótico, estilístico e exegético cuja complexidade constitui um desafio para os estudiosos.
Existem três edições conhecidas da sua paráfrase – publicadas respectivamente em 1817, em 1833 e em 1844 [Obras Completas em edição póstuma] – revela que se tratou de um projecto desenvolvido em várias fases.
Na exposição que se segue, centrar-nos-emos na relação da Marquesa de Alorna com o texto dos salmos bíblicos. As informações que pudemos reunir sobre o assunto até ao presente levam-nos a ter em conta dois aspectos fundamentais: por um lado, a documentação existente permite situar o convívio de D. Leonor de Almeida com o Livro dos Salmos, na sua juventude e, por outro, o estudo comparativo das três edições conhecidas da sua paráfrase – publicadas respectivamente em 1817, em 1833 e em 1844 – revela que se tratou de um projecto desenvolvido em várias fases, no qual a autora trabalhou ao longo de, pelo menos, duas décadas. No tratamento destes dados, procuraremos reflectir acerca do significado que poderá ter a paráfrase dos salmos levada a cabo por Alcipe no contexto da sua biografia, no conjunto da sua obra, e no âmbito mais vasto da sua estratégia de actuação enquanto mulher de letras.
A primeira publicação de poemas de Alcipe inspirados no saltério intitula-se Parafrase a vários psalmos e verá a luz em 1817, na mesma casa editora (a Impressão Régia. A obra inclui apenas 11 textos: os sete salmos ditos penitenciais (VI, XXXI, XXXVII, L, CI, CXXIX e CXLII), os salmos CXXX, LXXI e XLIV e o «Cântico de Moisés» (Cantemus Domino, gloriose enim magnificatus est.) que era considerado pelos preceptistas, como vimos, como um exemplo sublime.
Entre esta primeira abordagem do saltério feita pela Marquesa de Alorna e a Paraphrase dos Salmos que a mesma publicará em 1833, decorre um amplo lapso de tempo durante o qual se verificaram profundas mudanças na organização política e na mentalidade dominante na sociedade portuguesa. A religião constituirá, durante as décadas de 20 e de 30 um grande tema de discussão, que envolverá todas as forças políticas e se reflectirá, necessariamente, num renovado interesse pela divulgação do texto bíblico.
Em 1833, ano da vitória das forças liberais, foi dada à estampa a Paraphrase dos psalmos em vulgar por Alcippe ou L. C. d’O. hoje M. d’A. Trata-se de uma obra que inclui as paráfrases em verso de cinquenta textos do Livro dos Salmos do qual supomos ter sido impresso apenas o I volume. D. Leonor de Almeida cumpria então 83 anos… […]
Recorde-se que apesar da sua avançada idade, a Marquesa de Alorna não se encontrava ainda, na época, completamente retirada da vida social. Sabemos por testemunhos contemporâneos que Alcipe frequentou e organizou em sua casa (e em casa do Marquês da Fronteira, D. José Trazimundo de Mascarenhas, seu neto) reuniões de poetas e de intelectuais pelo menos até 1836. Sabemos, assim, que na década de 30 a Marquesa era uma figura central da sociedade lisboeta, reconhecida por várias gerações de homens e mulheres de letras de diferentes percursos ideológicos, que viam a frequência do seu círculo de relações como um sinal de prestígio e de legitimação do talento. É, pois, numa época em que goza de renome e de aceitação nos meios intelectuais, e numa situação muito diferente daquela em que dera à estampa a sua primeira abordagem poética dos salmos, que D. Leonor publica a paráfrase completa do Saltério.”
(ANASTÁCIO, Vanda, «Alcipe e os Salmos», Via Spiritus, n.º 12 (2005) 109-153)
"Longos annos ha, que os Sabios, tanto Nacionaes como Estrangeiros, anciosamente pedião a publicação das Obras d’ALCIPPE; sem que até agora podessem alcançar da sua modestia Poeticos ensejos inspirados só para mitigar as magoas, e trabalhos da sua vida. Finalmente as instancias e rogos das suas Filhas, conseguirão tão precioso Thesouro, com o qual se propõe enriquecer a Literatura Portugueza. Talvez os pouco entendidos as accusem de cegueira e parcialidade; porém a opinião bem conhecida de Filinto Elysio, de Bocage, e mil outros Literatos, assim como a do insigne Prégador Regio Frei José Leonardo da Silva, da Ordem dos Prégadores, que lendo, e relendo com satisfação a bella Paraphrase dos Psalmos, que hoje se publica, exclamou
Quae David Hebreo, Luso tu carmine cantas:
Coelum Musa David, Alcippe ipse David!
arrojão longe de nós toda a suspeita de uma tal accusação. Acceitai pois benigna, ó Patria, o dom que o filial amor vos consagra! Haver-vos servido, como nos competia, seja o nosso prémio; assim como será sempre a nossa gloria o termos nascido Portuguezas, e
Filhas d’Alcippe."
1.º de Janeiro de 1833.
(Dedicatoria á Patria)
D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, Marquesa de Alorna (1750-1839). "Nasceu em Lisboa, em 31 de Outubro de 1750 e faleceu na mesma cidade a 11 de Outubro de 1839. Era a primeira filha de D. João de Almeida Portugal, 4º Conde de Assumar e 2º Marquês de Alorna, e de D. Leonor de Lorena e Távora. Neta dos Marqueses de Távora, supliciados publicamente em 1759 por suspeitas de envolvimento no atentado ao rei D. José I ocorrido em 3 de Setembro de 1758, D. Leonor foi encerrada aos oito anos de idade, juntamente com a mãe e a irmã, D. Maria Rita, então com seis anos, no mosteiro de São Félix, em Chelas, nos arredores de Lisboa, no dia 14 do mesmo mês. Seu pai havia sido preso em 13 de Dezembro na torre de Belém tendo sido posteriormente transferido para o forte da Junqueira. A família permaneceria encerrada e separada durante dezoito anos, tendo sido libertada apenas em 1777, depois da morte de D. José I e do afastamento do Marquês de Pombal. […] A circunstância de ter crescido no convento marcou profundamente a personalidade e a obra de D. Leonor de Almeida, que viveu de forma dramática a separação do pai e do irmão, D. Pedro, colocado sob tutela directa do Marquês de Pombal, e se representará a si própria na sua obra poética, como um ser triste, marcado pelo infortúnio, vítima do despotismo e da tirania. […]
Tal como aconteceu com a grande maioria dos poetas seus contemporâneos, D. Leonor de Almeida não publicou em vida a sua poesia, que foi dada à estampa, em 6 volumes, por suas filhas Henriqueta e Frederica, em 1844, cinco anos depois da sua morte. Com o título Obras Poéticas de D. Leonor d’Almeida Portugal Lorena e Lencastre, Marqueza d’Alorna, Condessa d’Assumar e d’Oeynhausen, conhecida entre os poetas portuguezes pello nome de Alcipe, esta publicação inclui, para além das obras poéticas originais da poetisa, as suas traduções de Claudiano, Gray, Goethe, Bürger, Cronek, Metastasio, Milton, Thompson, Goldsmith, Lamartine, Klopstock, Wieland e pseudo-Ossian. A obra de Alcipe é extensa e multifacetada e constitui uma preciosa fonte de informações sobre os parâmetros estéticos que orientaram a poesia portuguesa na segunda metade do século XVIII e inícios do século XIX. Nela confluem, a nível estilístico, práticas herdadas da visão reformadora dos poetas da Arcádia Lusitana (1756), com outras opções formais mais antigas, que seriam retomadas pelos poetas da Academia de Belas Letras (1789), como a glosa, o improviso em estrofes de redondilha e as quadras de rima abcb, idênticas ás utilizadas nas modinhas e lunduns popularizados por Domingos Caldas Barbosa. Filha do Iluminismo, a Marquesa de Alorna entenderá a prática poética como uma actividade de utilidade moral e pedagógica, tal como acontecerá, aliás, com os escritores portugueses das gerações seguintes, que repetirão os mesmos pontos de vista até meados do século XIX (referimo-nos a Almeida Garrett, a Herculano e a António Feliciano de Castilho, por exemplo). É nesta linha que poderemos enquadrar as múltiplas referências aos progressos das ciências disseminadas na sua obra, as exposições em que procura demonstrar a compatibilidade entre a fé católica e as leis da Natureza (de que é exemplo cabal a Epístola a Godofredo), bem como a composição do poema Recreações Botânicas, as traduções da Arte Poética de Horácio, do Essay on Criticism de Pope, a paráfrases em verso de todo o Saltério e, até, as traduções de alcance político e teológico, como De Bonaparte e dos Bourbons de 8 Chateaubriand e o Ensaio sobre a Indiferença em Matéria de Religião de Lamenais dados à estampa em 1814 e em 1820, respectivamente. Com estes temas de reflexão convive, como aliás sucede com a generalidade dos poetas portugueses que escreveram na viragem do século XVIII para o XIX, a expressão da sensibilidade característica do século XVIII europeu, ou seja, o gosto particular pela descrição e encenação dos afectos que escapam ou resistem ao controle regulador da razão. É nesta linha de pensamento que devem ser situados, segundo cremos, os autoretratos pungentes em que o sujeito de escrita se representa como um ser perseguido pela desgraça, as descrições da natureza em termos melancólicos ou tenebrosos, o comprazimento na celebração ou encenação da morte, da noite, da doença, da dor e das lágrimas, tão frequentes na obra poética de Alcipe que lhe valeram o ser classificada como poetisa pré-romântica nos anos 60 do século XX. Contudo, uma visão global da sua produção literária que tenha em conta, simultaneamente, a prática dos poetas seus contemporâneos e daqueles que se lhe seguiram, parece indicar que tanto o gosto pelas regras, temas e motivos clássicos, como as manifestações da sensibilidade estão subordinados, nos seus textos, a uma visão do mundo orientada pelos parâmetros civilizacionais do Iluminismo, que encaram a razão e a virtude como entidades reguladoras dos afectos e a poesia como uma actividade ao serviço do ideal pedagógico de educação para a cidadania.”
(ANASTÁCIO, Vanda in www.fronteira-alorna.pt/pdf/biografia_alcipe.pdf)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa original aposta sobre a capa da protecção em brochura que reveste o livro. Mancha de humidade transversal a toda a obra (desvanecida na maior parte do miolo), com particular incidência nas primeiras e derradeiras páginas do livro.
Muito raro.
90€