25 julho, 2018

ANNUNCIAÇAÕ, Doutor Fr. Francisco da - CONSULTA // MYSTICO-MORAL // SOBRE O HABITO DE CERTAS RELIGIOZAS // da Ordem de S. Clara Urbanas, // NA QUAL SE TRATA // DA UNIFORMIDADE, SINGULARIDADE, // Publicidade, Uniões, Divisoēs, Amizades parti- // culares, Escandalos, & outras couzas, que deve, // ou naõ deve haver entre os membros de hu- // ma comunidade Regular. // ESCRITA // PELO PADRE // DOUTOR FR. FRANCISCO // DA ANNUNCIAÇAÕ // da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, // E OFFERECIDA // AO ILLUSTRISSIMO // SENHOR // D. RODRIGO // DE MOURA TELLEZ // // ARCEBISPO PRIMAZ, // Do Concelho de Estado &c. // COIMBRA: // NO REAL COLLEGIO DAS ARTES DA COMPANHIA DE JESU // ANNO DE M. DCC. XVII. // Com todas as licenças necessarias. In-8.º (20cm) de [34], 295, [1] p.
1.ª edição.
Importante subsídio para a história das regras monásticas sobre os hábitos das religiosas.
Ilustrado com bonitas gravurinhas em madeira (vinhetas tipográficas, capitulares e florões).
"Ha questoēs, pio Leytor, que nacem graves, outras há, q nacendo muito leves, o zelo as fáz gravissimas, & a esta classe pertence, a meo ver, a questaõ, que resolve esta Consulta: Se huma Religioza de Santa Clara, levada do dezejo de maior perfeiçaõ, com licença de seu Prelado pode dentro dos limites de sua Regra vestir hum habito de maneira mais vil, & naõ uzada no seu Mosteiro? Questaõ parecia digna de se tratar em huma das antigas Collaçoēs dos Santos Padres do Ermo, onde sem questionar o Licet talves discordariaõ nos pareceres os Hilarioēs, & os Pacomios dizendo hũs Expedit, outros Non expedit, & todos bem segundo os diversos, & santos fins, que cada hum dezejasse com o seu voto promover.. Naõ se contentou o zelo com taõ pouco, & assim trouxe esta questaõ aos Theologos, & a todo o rigor escholastico. Sahio hum papel anonymo contra a maior vileza dos habitos, em cuja resposta offereceo ao Illustrissimo Senhor Arcebispo Primaz huma muito douta, & pia apologia certo Prelado da Illustrissima Religiaõ de S. Domingos, o qual eu aqui com a devida veneraçaõ nomeara, se a sua modestia sobscrevendo-a só com o nome da dignidade, naõ quizera, que esta gloria fosse mais commua de sua esclarecida Ordem. [...] Depois se consulatraõ na materia muitos, & grandes Theologos da nossa insigne Universidade de Coimbra: appareceo em fim outro papel anonymo reforçãdo com bastante desfastio os fundamentos do primeiro. Confesso, que vendome obrigado a dizer o meu sentir nesta jà questaõ gravissima, & ouvindo, que as escholas todas, & o commum de todos os Theologos condenavaõ de illiscita hũa acçaõ, em que a minha rudez naõ podia descobrir malicia, logo entendi, que para desasombrar a devoçaõ de tantas, & taõ authorizadas censuras naõ era tanto necessaria Theologia, quanto diligencia em averiguar a verdade do facto, & assentar a proposta com a devida sinceridade. Averiguei, & que me naõ faltassem meios para conseguir o intento, o Leytor o pode presumir, sem me obrigar a provar."
(Excerto do Prologo ao Leytor)
Frei Francisco da Anunciação (1669-1720). Foi reitor da Universidade de Coimbra (1745-1757). "Tendo tomado hábito no convento lisboeta de Nossa Senhora da Graça, na ordem dos agostinhos (eremitas calçados de Santo Agostinho), foi no colégio graciano da cidade do Mondego que frei Francisco da Anunciação orientou o começo do movimento reformador. Professou em 1685, iniciando uma vida que o fez sobressair da maioria dos seus contemporâneos, em especial pela redacção do livro Vindicias da virtude (...), no qual fixou os objectivos e o programa espiritual da Jacobeia, [movimento de renovação espiritual e religiosa]. Após 1707, chegava ao colégio conimbricense um grupo de alunos para o novo curso de Artes, que terá sido um dos primeiros a adoptar os princípios jacobeus. Acresce que corria o ano de 1717, frei Francisco pretendeu responder aos argumentos críticos que já então circulavam sobre quantas pessoas tinham integrado o movimento reformador, em especial no convento das Clarissas, através da Consulta Mystico-Moral sobre o Habito de Certas Religiozas da Ordem de Santa Clara Urbanas."
(Fonte: Elisa Maria Lopes da Costa, «A Jacobeia : achegas para a história de um movimento de reforma espiritual no Portugal setecentista», Arquipélago - História, 2.ª série, XIV-XV (2010-2011), on-line)
Exemplar desencadernado em bom estado de conservação. Folha de guarda anterior apresenta falha de papel no canto superior direito (2x5cm), e uma inscrição autógrafa coeva dando conta do tema do livro.
Raro.
Com interesse histórico e religioso.
85€

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