31 outubro, 2019

GUIMARÃES JUNIOR, Francisco José Pereira - COMPENDIO DE METAPHYSICA. Por... Coimbra: Imprensa de Trovão & Comp.ª, 1841. In-8.º (16 cm) de 159, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante trabalho oitocentista, dos primeiros que sobre este assunto se publicou entre nós. O facto do seu autor ser português torna-o digno de registo e motivo de curiosidade, já que os títulos existentes até então eram na sua maioria redigidos em latim, existindo algumas (poucas) traduções.
Nada foi possível apurar acerca desta obra publicada em Coimbra, ou de Guimarães Júnior, por não existir registo na Biblioteca Nacional, nem referência à mesma em qualquer outra fonte bio-bibliográfica.
"Pergunta. Que é a Metaphysica?
Resposta. É uma sciencia em que se ensinão as idéas, as causas e as razões mais geraes das cousas eternas, creadas e possiveis. [...]
P. É util o estudo da Metaphysica?
R. É muito util; pois cultivando-a bem e rectamente, póde contribuir muito para a nossa felicidade. Na verdade o fim dos nossos estudos é a nossa felicidade, que consiste em um perfeito gosto, que procede do bem perfeito, e este só se alcança com os costumes bem regulados, o que ensina a Ethica e a Theologia. A Metaphysica porem dá os principios a estas Sciencias; por que ella é, conforme a sua definição, uma sciencia universal de que dependem todas as mais, recebendo della os seus principios. Por isso nos é muito util e até necessario o estudo da Metaphysica.
P. É agradavel o estudo da Metaphysica?
R. É muito agradavel. Pois não é pequeno o prazer de indagar e contemplar os interiores do mundo, isto é, o mundo intelligivel, e feito excellentemente de causas invisiveis, e com ordem invisivel, o que ensina a Metaphysica, e ao que não póde chegar o povo, que somente admira os phenomenos do mundo, e cuida que existe só o que vê com seus olhos. [...]
P. Em quantas partes se costuma dividir a Metaphysica?
R. Costuma dividir-se em tres: a primeira comprehende os principios mais geraes da Ontosophia e Cosmosophia, isto é, a Metaphysica geral: a segunda a Psychesophia, isto é, o Tractado da alma e da sua natureza: a terceira comprehende a Teosophia, isto é, a Sciencia de Deos e das cousas Divinas."
(Excerto do preâmbulo)
Matérias:
Parte I. Da Ontosophia e Cosmosophia . Definições. I - Das palavras cousa, ente, nada, repugnante, não repugnante, possivel, impossivel, futuro, ente de existencia necessaria, ente necessario para a existencia, ente necessario para a essencia, ente contingente. II - Das palavras relação, sujeito, adjuncto, substancia, accidente, essenciaes do ente e attributo. III - Das palavras essencia, força, acção, paixão, natureza e leis da natureza. IV - Das palavras potencia, razão sufficiente, principio, causa, caso, fim, conservação, attracção, causa attractiva, gravidade ou força centripeta, força centrifuga. V - Das palavras extenso, espaço, solidez, materia, vacuo, infinito, duração, lugar, movimento. VI - Das palavras perfeição, verdade, bondade, semelhança, ordem, proporção e formosura. Theoremas. I - Do ente, do nada, do possivel. II - Da natureza do ente necessario e contingente, e da substancia em geral. III - Da origem e indestrubilidade das substancias. IV - Das leis mechânicas e moraes da natureza. V - Da actividade das cousas e do fado.
Parte II. Da Psychesophia. Definições. Que é alma? Que é vida? Theorêmas. I - [...]. II - Da união da alma e do corpo.

Parte III. Da Theosophia. Definições. Que é Deos? [...]. Theoremas. I - Da existencia de Deos. II - Das propriedades de Deos que lhe convèm como a um ente. III - Das propriedades physicas de Deos, que lhe convèm como a um espirito. IV - Das propriedades moraes de Deos, que lhe convèm como a um espirito. V - Da origem dos males. VI - Da Religião que se deve a Deos. VII - Da Religião natural e da necessidade da Revelação. VIII - Da genuidade dos Livros do Novo Testamento, da veracidade da sua historia, e da daquelles dogmas que concordão com a razão, que se contém nos ditos livros. IX - Da veracidade daquelles dogmas dos Livros do Novo Testamento, que são superiores á nossa razão. X - Conclusão do capitulo antecedente. XI - Da Divindade dos Livros do Novo Testamento. XII - Da genuidade e Divindade dos Livros do Velho Testamento.
Exemplar em brochura (capas de protecção lisas, originais), por aparar, em bom estado de conservação.
Muito raro.
Sem registo na BNP.
Peça de colecção.
Indisponível

29 outubro, 2019

ALBUQUERQUE, Dom Prior Manuel d' - A VERDADEIRA IGREJA DE CHRISTO. Póvoa de Varzim Livraria Povoense - Editora, de José Pereira de Castro, [190-]. In-8.º (19 cm) de 106, [6] p. ; B. Colecção "Sciencia e Religião", XXXV
1.ª edição.
Estudo comparativo, histórico e religioso, sobre a Igreja Católica e a Igreja Protestante.
"Entre nós, neste reino fidelissimo, a idea religiosa está passando por uma crise grave.
Este doentio estado dos espiritos tem uma de suas causas no indiferenttismo religioso, que procede d'uma quasi-incredulidade, que em muitos é gerada pela materialidade, que tem suas origens no exaggerado amor á independencia, no ingenito orgulho humano e, quem tal diria! no bem-estar individual.
Consiste essa quasi-incredulidade em se não acreditar em todo o ensino da Igreja e em se acreditar com pouca firmeza e ardor no que se crê do seu ensino. E essa materialidade está no esquecimento de que, sendo o homem composto d'alma e corpo, está sujeito, não a uma attracção terrena somente, mas tambem a uma attracção celeste; d'onde vem que muitos e muitos não consentem que a sua independencia, o seu orgulho e o seu bem-estar lhes sejam perturbados pela imposição de preceitos da Igreja, que os irritam, ainda que suaves, e pela idea, que os aterra, de que um dia, que só Deus sabe, lhes serão tomadas contas por este Deus supremo, que, segundo o conceito catholico, tudo vê e a todos julgará."
(Excerto do Prologo)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
15€

28 outubro, 2019

GAYO, Dr. A. Silva - MARIO. Episodios das Lutas Civis Portuguezas de 1820-1834. Pelo... Lisboa, Imprensa Nacional, 1868. In-8.º (22 cm) de 463, [1] p. ; E.
1.ª edição.

Edição original de um dos mais conhecidos e considerados romances históricos sobre a guerra civil portuguesa, também conhecida por Lutas Liberais.
"Conheceis a Beira Alta?
É uma fertil provincia, portugueza de lei, que vê a leste, a serra da Estrella com as suas neves; a oeste, o Caramulo com a sua tristeza; ao sul, o Bussaco de gloriosa memoria e de mystica tradição.
É accidentado o solo, succedendo-se ás pequenas ondulações do terreno as collinas, os cerros e os montes, separados, uns dos outros, por quebradas e valleiros, onde sussurram as aguas, caídas das alturas.
As cumiadas ou são vestidas de urzes, e de asperos tojos, ou são toucadas com a rama verdenegra dos pinheiros. Mas tão rica de seiva é toda a terra, que nos logares em que o machado desbastou o pinhal, vedes logo apparecer a leira verdejante, que irá escorregando pela encosta, até se casar com a farta cultura dos valles.
Aos soutos de castanheiros de carcomido tronco, e aos pinhaes e carvalhedos, segue-se, aqui, o rico plaino animado pelo ribeiro e pelo moinho ruidoso; ali, a vinha a espriguiçar-se na encosta; mais acima, e longe, e perto, a oliveira.
São tristes as aldeias, porque o granito beirão, mal desbastando e ennegrecido, lhes dá a côr do luto; e como ellas, e como a oliveira, é triste o aspecto do paiz. Não ha as amplas planuras, em que a vista se deleita e se namora; nem os meandros da lisa corrente a luzir em longa fita, por entre as folhas dos salgueiraes; nem o alvejar de muita casa branca, no pendor das collinas; nem a laranjeira odorosa, enfileirada em pomares extensos, que, fóra do Valle de Besteiros, sómente a encontrareis como benefico atavio da casa do lavrador!
Mas na altura, no logar vistoso, apparecer-vos-ha bem caiada a capella ou a igreja, meia escondida detrás das folhas de castanheiros, de carvalhos e de oliveiras. São a devota alegria das povoações vizinhas; são a respeitada causa de festas e romagens, onde o povo troca por sincera alegria, o ar serio e grave, que lhe é habitual.
Na Beira vereis a infancia dos processos agricolas; o homem a suar trabalhos, a mulher a lidar no campo, e até as creanças empregadas no duro serviço, que só é devido aos braços. Mas ao cair do dia, vel-os-heis alegres e cantantes, apesar da fadiga de tantas horas. Descobrir-se-hão diante de vós, e ouvil-os-heis a dizerem «guarde-o Deus»! ou «Deus o salve»!
Da torre da proxima igreja, descerá o toque da Ave Maria, como bençam da tarde, que vem de cima; e emquanto vão caminhando, silenciosos e recolhidos na breve oração, só ouvireis as campainhas dos gados, que se recolhem ao redil.
E em tudo vereis a crença e a força; o trabalho e a paz, e esta sã virilidade dos povos lavradores, que é o eterno louvor da natureza!
Caminhae para leste, vinde commigo. Na falda d'essa Estrella, desse velho Herminio, vereis unidas a agricultura e a industria: que dos alcantis da montanha lhes corre a agua em torrentes, para em baixo ser transformada em motor economico.
Dizeis-me, que estamos em Dezembro de 1828; que tudo agora ali está velado por farto lençol de neve; que atravessa o corpo o frigido vento, que de lá sopra; que toda aquella parte da Beira é como um corpo morto e amortalhado.
Vinde, porém, assim mesmo. A hospitalidade é lá generosa e franca, e na lareira das casas crepitam os cavacos, e ramos secos.
D'aquella altura parecer-vos-ha, planicie, este immenso espaço até o Caramulo.
Levar-vos-hei ao presbyterio de S. Romão: quereis vir?" 
(Excerto do Cap. I, Um presbytero na Beira)
António de Oliveira Silva Gaio (Viseu, 1830 - Buçaco, 1870). Natural de Viseu. Escritor e lente da Universidade de Coimbra. Educado no seminário de Almeida, formou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra, onde foi professor de Higiene. Fundou na mesma cidade O Comércio de Coimbra. Publicou apenas um romance, Mário, que relata as lutas entre liberais e absolutistas, inserindo-se na corrente romântica, com influências de Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco."
(Fonte: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/sgaio.htm)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em razoável estado de conservação. Enferma no entanto de alguns defeitos que importa apontar: encadernação cansada com falha de pele nas extremidades da lombada; sem f. anterrosto; mancha de humidade antiga, desvanecida, visível nas primeiras oito folhas do livro; última página alvo de tosco restauro na vertical, determinou linhas desencontradas.
Invulgar.
Com interesse histórico.
Indisponível

27 outubro, 2019

FONSECA, Tomás - A ORIGEM DA VIDA. Por... (Prof. e director das Escolas Normaes de Lisboa). Lisboa, Empreza de Publicações Populares, 1913. In-8.º (19 cm) de 151, [1] p. ; il. ; B. Bibliotéca d'Ensino Popular
1.ª edição.
Curiosíssimo título do autor, e um dos mais raros da sua extensa bibliografia. Obra de forte pendor anticlerical, onde Tomás da Fonseca procura desmistificar os ensinamentos religiosos ministrados durante o período da monarquia, de que Deus estaria por trás da criação da vida.
Livro ilustrado em página inteira com as árvores genealógicas monofilética e polifilética dos seres organizados, cada qual em sua página.
"N'esta altura da vida portugueza, depois de tanta destruição, aliaz necessaria, bom é que se comece a construir.
Deitou-se por terra a monarquia, expulsaram-se os reis e os jesuitas, fecharam-se as congregações religiosas, dominou-se o clericalismo, neutralisou-se o ensino, mas isso só não basta. O principal, que é a formação do caracter, a educação do povo - aspiração e pensamento dominante dos que fizeram a Revolução e a Republica - isso está por fazer.
O nosso esforço, as nossas energias teem-se gasto combatendo e demolindo instituições nocivas, castas inimigas do progresso, grupos divorciados da Razão e da Patria.
É tempo de começarmos a ensinar, levando a mocidade á repulsão de preconceitos tolos, d'aspirações absurdas, d'habitos degradantes que fizeram a decadencia e a miseria moral dos que nos precederam. [...]
O que fazer portanto? Crear a ordem n'essa confusão.
A ciencia augmenta, dia a dia, os seus triumfos; as ideias de emancipação e de egualdade tomaram conta dos espiritos, e fazem, gloriosamente, a sua marcha."
(excerto da introdução)
Matérias:
A Origem da Vida. I - As velhas teorias; II - Luta entre a religião e a ciencia; III - A geração expontanea; IV - Experiencias biologicas; V - Influencias do meio; VI - Aparecimento da vida; VII - Desenvolvimento das especies; VIII - Nosce te ipsum.
O Transformismo e a Intolerancia. I - A um professor primario; II - A uma aristocrata; III - [Resposta a uma carta que defende os milagrosos textos de Moises].
«Aparecimento da Vida sobre a Terra» (3.ª lição da Universidade Livre de Lisboa, realisada por Tomás da Fonseca).
Tomás da Fonseca (1877-1968). "Nasceu em Laceiras, Mortágua, a 10 de Março de 1877. Escritor, poeta, jornalista, professor e propagandista, professou desde cedo ideias liberais e republicanas. Frequentou Teologia no seminário de Coimbra, escrevendo 'Evangelho de um seminarista', após a sua saída em 1903. Pertenceu à Maçonaria, sendo iniciado em 1906. Foi um dos mais activos propagandistas republicanos, estando presente na organização de várias associações de carácter cultural e social. Jornalista, escreveu em vários órgãos de imprensa, nomeadamente O Mundo, Pátria, Vanguarda, Voz Pública, Norte, República, Povo, Batalha, Alma Nacional, sendo director do Arquivo Democrático. Escreveu também em jornais estrangeiro (España Nueva e Lanterna, do Brasil). Depois da implantação da República em 5 de Outubro de 1910, foi chefe do gabinete de Teófilo Braga, em 1910-1911, foi eleito em 1911 para a Assembleia Constituinte, por Santa Comba Dão, deputado na primeira legislatura e, em 1915, senador por Viseu, pelo Partido Democrático. Muito ligado à questão da educação e do ensino, foi vogal do Conselho Superior de Instrução Pública, director das Escolas Normais de Lisboa e da Universidade Livre de Coimbra. Foi presidente do Conselho de Arte e Arqueologia de Coimbra. Em 1920 visitou a França, a Bélgica e a Inglaterra, numa missão de estudo a escolas, museus e bibliotecas. Da sua vasta obra, de cariz essencialmente pedagógico e de propaganda anti-clerical (especialmente contra a exploração de Fátima), cumpre referir os seguintes títulos: Sermões da Montanha (1909), Cartilha Nova para o Zá Povinho ler à noite ao serão (1911), Origem da vida (1912), Memórias do Cárcere (1919), Cartas Espirituais – A mulher e a Igreja (1922), História da Civilização, relacionada com a História de Portugal (1922), Ensino Laico (1923), No Rescaldo de Lourdes (1932), A igreja e o Condestável (1933), Fátima (1955), Na Cova dos Leões (1958), Bancarrota (1962). Morreu em Lisboa a 12 de Fevereiro de 1968."
(fonte: http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/biografias?registo=Tom%C3%A1s%20da%20Fonseca)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas apresenta mancha junto à lombada.
Raro.
Indisponível

26 outubro, 2019

COMPANHIA CARRIS DE FERRO DE LISBOA - SERVIÇO DE AUTO-CARROS : carreiras, percursos, horários, roteiro e planta dos trajectos. Setembro 1949 : Preço: 1$. [S.l.], [s.n.], 1949. In-8.º (16 cm) de 36 p. ; [2] plantas ; il. ; B.
1.ª edição.
Curioso roteiro do serviço de transportes públicos da Carris, na época com 23 carreiras de autocarros. Ilustrado com publicidade no texto e duas plantas, uma delas, em encarte separada do livro: - Planta do Serviço de Auto-Carros (a cores, impressa na Lito de Portugal, Lisboa - assinada F. Carvalho) (30,5x39cm), que inclui o início e terminus das carreiras e pontos de interesse geral: parques e jardins; museus; miradouros; - Planta Geral da Rede do serviço de Carros Eléctricos e Auto Carros (a duas cores) (27x33cm), que além das carreiras existentes, inclui os percursos em estudo.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa apresenta restauro no canto superior direito.
Raro.
Peça de colecção.
25€

25 outubro, 2019

CASTELLO BRANCO, Camillo - ONDE ESTÁ A FELICIDADE? : romance. Por... Porto, Em Casa de Cruz Coutinho - Editor, 1856. In-8.º (20 cm) de 389, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Rara edição original de uma das mais apreciadas obras camilianas, romance de crítica à sociedade citadina da época. A Biblioteca Nacional dá notícia de, pelo menos, 11 reimpressões da mesma até 1965, existindo outras mais recentes após essa, sem porém ostentar o n.º da edição. A BNP dá ainda notícia de duas primeiras edições na sua base de dados: uma em depósito (Lisboa) e outra pertencente à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.
"Onde Está a Felicidade? representa, por vários motivos, um marco singular na obra camiliana. Os críticos que mais se têm dedicado ao seu estudo têm-na considerado não só como um ponto de viragem na produção romanesca do autor, mas também como uma significativa agitação no marasmo em que se encontrava a ficção nacional de meados de Oitocentos, apontando nessas duas dimensões para uma maior naturalidade do estilo."
(Fonte: wook)
"Aos vinte e um de Março do corrente anno de mil oitocentos e cincoenta e seis, pelas onze horas e meia da noite, fez justamente quarenta e sete annos que o snr. João Antunes da Motta, morador na rua dos Armenios, d'esta sempre leal cidade do Porto, estava em sua casa. Até aqui não ha nada extraordinario. O snr. João Antunes podia estar onde quizesse.
A historia assim começa fria e desgraciosamente. É uma especie de Anno do Nascimento. A descripção de uma tempestade, saraiva a estalar nas vidraças, o vento norte a assobiar nos forros, o arvoredo secular a ramalhar rangendo, e duas duzias mais de carêtas que a natureza faz á humanidade espavorida, e que os romancistas, desde Longus até nós, descrevem com invariavel phrase em todas as occasiões que lhe não occorre outra cousa... A mim tambem me não occorre agora o que vinha dizendo... Penso que a minha idéa era apresentar o snr. João Antunes da Motta. [...]
Quem é, pois, o morador da rua do Armenios?
Lá vamos. O snr. João Antunes da Motta, por alcunha o kágado, natural da Lixa, viera rapazito de doze annos, para o Porto, conduzido por seu tio materno o tio Antonio Cabêda, com destino de embarcar para o Brazil. Achando-se no caes da Ribeira, com o dito seu tio, admirando o tamanho d'um hiate, que o bom Antonio Cabêda denominava uma anau de guerra maritema, com grande espanto do rapaz, chegou-se a elles um homem gordo, de jaqueta de ganga amarella, e chinelos d'ourêlo, perguntando ao tio Antonio se o rapaz embarcava. Á resposta afirmativa, disso o homem gordo, mandando cobrir os admiradores do anau de guerra maritema, que era dono de duas lojas de mercearia na Fonte Taurina, e muito desejava metter n'uma dellas um rapaz, que tivesse boa pinta para o negocio."
(Excerto do Prologo)
Camilo Castelo Branco (1825-1890). "Nasceu em 1825, em Lisboa, e faleceu em 1890, em S. Miguel de Seide (Famalicão). Com uma breve passagem pelo curso de Medicina, estreia-se nas letras em 1845 e em 1851 publica o seu primeiro romance, Anátema. Em 1860, na sequência de um processo de adultério desencadeado pelo marido de Ana Plácido, com quem mantinha um relacionamento amoroso desde 1856, Camilo e Ana Plácido são presos, acabando absolvidos no ano seguinte por D. Pedro V. Entre 1862 e 1863, Camilo publica onze novelas e romances, atingindo uma notoriedade dificilmente igualável. Tornou-se o primeiro escritor profissional em Portugal, dotado de uma capacidade prodigiosa para efabular a partir da observação da sociedade, com inclinação para a intriga e análise passionais. Considerado o expoente do romantismo em Portugal, autor de obras centrais na história da literatura nacional, como Amor de Perdição, A Queda dum Anjo e Eusébio Macário, Camilo Castelo Branco, cego e impossibilitado de escrever, suicidou-se com um tiro de revólver a 1 de Junho de 1890."
(Fonte: wook)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Folha de anterrosto apresenta rasgão e restauro grosseiro. Primeiras 19 folhas de texto, incluindo f. rosto, com pequeno rasgão à cabeça, sem perda de papel e sem afectar a mancha tipográfica, bem como outras 11 folhas no interior. Pequena falha de papel no canto superior em 7 folhas perto do final da obra. Páginas com pequenos picos de acidez.
Raro.
Indisponível

24 outubro, 2019

NEVES, Orlando - TROVAS MEDIEVAIS OBSCENAS. Cantigas de mal dizer. [Lisboa], Matéria Escrita, 1998. In-8.º (22 cm) de 114, [2] p. ; il. ; B.
Interessante subsídio para a divulgação das Cantigas de mal dizer, género literário satírico galaico-português. Contém no final, em "Notas Biográficas", um brevíssimo resumo da vida dos principais contributores medievais para estas Cantigas, portugueses e galegos, incluindo o rei de Castela e Leão Afonso X, o Sábio.
Livro ilustrado ao longo do texto com reprodução de sugestivas gravuras antigas.
"As cantigas trovadorescas galego-portuguesas são um dos patrimónios mais ricos da Idade Média peninsular. Produzidas durante o período, de cerca de 150 anos, que vai, genericamente, de finais do século XII a meados do século XIV, as cantigas medievais situam-se, historicamente, nas alvores das nacionalidades ibéricas, sendo, em grande parte contemporâneas da chamada Reconquista cristã, que nelas deixa, aliás, numerosas marcas. Tendo em conta a geografia política peninsular da época, que se caracterizava pela existência de entidades políticas diversas, muitas vezes com fronteiras voláteis e frequentemente em luta entre si, a área geográfica e cultural onde se desenvolve a arte trovadoresca galego-portuguesa (ou seja, em língua galego-portuguesa) corresponde, latamente, aos reinos de Leão e Galiza, ao reino de Portugal, e ao reino de Castela (a partir de 1230 unificado com Leão)."
(Fonte: https://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp)
"Rodrigues Lapa publicou, em 1965, pela primeira vez, na Editorial Filolóxica, o acervo completo das Cantigas d'Escarnho e Mal Dizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, em transcrições feitas a partir da sua consulta directa às fontes.
A obra, pelo seu volume (cerca de 800 páginas, em grande formato) não teve divulgação, afora dos meios eruditos.
Mas, para esse desconhecimento, outros factores contribuíram, entre os quais, a existência da Censura e a imposição obscurantista da ditadura de Salazar.
Dir-se-ia que tal ocultamento se romperia com o 25 de Abril. Não aconteceu assim.
Mais fortes do que a liberdade de editar e de estudar essas cantigas foram, continuam a ser, o preconceito moral e a pudicícia convencional que não se desarreigaram do modo de ser lusitano.
Têm-se editado antologias da poesia trovadoresca galaico-portuguesa, para uso escolar e não só. Mesmo colectâneas literárias, organizadas por escritores prestigiados, sonegaram uma das mais importantes secções dessa poesia, no caso, uma larga parte das cantigas de mal dizer, porque, ainda hoje se considera que, certas, desatremam dos conceitos morais vigentes. Mais objectivamente: as cantigas obscenas foram, sistematicamente, ocultadas. [...]
A poesia galego-portuguesa (fecunda entre 1200 e 1350) é, mais ou menos, conhecida tão-só através das cantigas de amor e amigo, belíssimas, sem dúvida, em grande parte dos casos. Mas poucos saberão que muitos dos poetas seus autores (quase todos, dir-se-ia), capazes de exprimir o amor cortês na mais alta qualidade poética, são, também, os autores de trovas desbocadas, desbragadas, escabrosas, escatológicas, como, por exemplo, Estevão da Guarda, Pero da Ponte, João Airas de Santiago, Pero Garcia Burgalês, João Garcia de Guilhade, João Soarez Coelho ou Martim Soarez, indiscutivelmente dos maiores poetas da língua portuguesa.
Essa prática poética licenciosa em nada os empequeneceu. Porque é na má língua de tais cantigas - algumas de inegável mérito literário - que mais dados se encontram para o estudo da sociedade medieval e dos seus costumes, permitindo-nos conhecer o outro fervilhar vital existente fora dos salões dos castelos ou dos saraus palacianos da nobreza. Como, da mesma forma, se ignora que esses autores eram, muitos deles, fidalgos de estirpe, frequentadores da corte portuguesa e castelhana, a começar pelo rei de Castela e Léon, Afonso X, o Sábio, que, a par das Cantigas de Santa Maria, em louvor da Virgem, escreveu sátiras violentas e trovas de uma pornografia brutal.
Essas são as faces do homem medieval: o suave e delicado lirismo, lado a lado com o realismo obsceno mais rude e cru."
(Excerto do preâmbulo, Breve nota)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Esgotado.
Indisponível

23 outubro, 2019

ALMANACK PARA 1898 POPULAR E ECONOMICO. Kalendario de Borda d'Agua muito completo e util a todos, e parte recreativa para RIR. Lisboa, Livraria Economica de F. Napoleão de Victoria, [1897?]. In-8.º (19 cm) de 32 p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Curioso almanaque popular publicado no final do século XIX, contendo artigos sobre Mercados e Feiras, Agricultura, Floricultura, etc., bem como Cantares e Anedotas na secção humorística.
Ilustrado com bonitos desenhos ao longo do texto.
"Janeiro - Semêa alecrim no Norte, amaranto, azederach e azereiro; separa as cebolinhas que estão ao pé das grandes e mette-as logo na terra (bordões de S. José), planta estacas de de baunilhas, cebolinhas de açuçenas (não invernando muito), planta roseiras, jasmineiros e outras flores; mette estacas de murta e de alecrim e transplanta açuçenas."
(Excerto de Floricultura)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Sem capa frontal.
Invulgar.
10€

22 outubro, 2019

HENRIQUES, Contra-Almirante J. d'Almeida - A UNIDADE DO IMPÉRIO PORTUGUÊS E O DISTRITO DE LEIRIA. (Separata do semanário «Portugal»). Leiria, Imp. Comercial, 1938. In-8.º (22 cm) de 87, [1] p. ; il. ; B.
Ilustrado em página inteira com fac-símile da última página do Almanach Perpetuum, impresso em Leiria, em 1496.
e
HENRIQUES, Contra-Almirante J. d'Almeida - A UNIDADE DO IMPÉRIO PORTUGUÊS E O DISTRITO DE LEIRIA. (Aditamento). Leiria, Imp. Comercial, 1940. In-8.º (22 cm) de 68, [2] p. ; [1] f. il. ; B.
Ilustrado em extratexto com uma bonita estampa, tendo ao centro a figura equestre do Coronel Artur de Paiva.
1.ª edição.
Importante estudo acerca da grandiosidade do Império Português tendo como pano de fundo o distrito de Leiria e os seus naturais, que de uma forma ou de outra, participaram na sua edificação e colonização.
Obra em dois volumes (completa). Ambos valorizados pela dedicatória autógrafa do Almirante Almeida Henriques, também ele natural da Cidade do Lis.
Joaquim de Almeida Henriques OTE • GOA • MPBS • MOCE (Leiria, 1875 - Lisboa, 1945). "Foi um distinto oficial da Armada, tendo atingido o posto de contra-almirante. Foi o primeiro comandante de submarino da Marinha Portuguesa e o primeiro comandante de esquadrilha submarina do mesmo ramo. Por Decreto de Janeiro de 1920 foi agraciado com o grau de oficial da Ordem da Torre e Espada, “atendendo aos relevantes serviços prestados durante o Estado de Guerra como Comandante de Esquadrilha de Submersíveis e Comandante do ”Golfinho”."
(Fonte: wikipédia)
Exemplares brochados em bom estado de conservação.
Raro conjunto.
Com interesse histórico.
Indisponível

21 outubro, 2019

FONSECA, Ribeiro da - AVIAÇÃO. Sem caravelas, Portugal não tinha colónias: Só com aviões as fará progredir, como é seu dever. Lisboa, Edição do Autor, 18935. In-8.º (20 cm) de 147, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Importante subsídio para a história da aeronáutica portuguesa. Compilação de artigos escritos ao longo de doze anos para periódicos, e de documentos relacionados com o assunto.
"A obra da Aviação, eminentemente patriótica, tem que ser estudada e executada pelos do ofício e não, como em quási tudo, por fura-vidas que aparecem a querer tratar do que não sabem, o que dá sempre os resultados que todos vemos.
É necessária uma certa campanha orientadora para que todos se compenetrem da utilidade da Aviação e se veja o perigo de continuarmos atrasados como temos vivido, sem olhos para a razão do progresso em outros países, sem ouvidos para as censuras que se fazem ao nosso atraso.
Desde 1917 que me dediquei só à Aviação, para ela tenho vivido, nela espero morrer, mas não sem procurar, como devo, que as energias se congreguem, que os esforços se unam, para que Portugal tenha de facto a Aviação que deve ter."
(Excerto do preâmbulo)
Matérias:
I - Uma propaganda que é necessária fazer: A aviação como meio de transporte; Experimentem voar; As carreiras aéreas; O aeródromo de Tablada nos arredores de Sevilha; Portugal está atrasadíssimo no capítulo da Aviação; Campo de aviação na capital; Faça-se um campo dentro da cidade; O aeródromo no Campo Grande; O preço dum aeropôrto; O valôr que todos os países estão dando à Aviação; O atraso da aeronáutica no nosso País; É preciso construir aeródromos em Lisboa e no Pôrto; O aeropôrto de Lisboa. II - Desejando um aeropõrto em Lisboa: Um ofício enviado ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa; Um ofício enviado ao comissário do desemprêgo; 2.º ofício ao presidente da Câmara; Um ofício para o ministério das obras públicas. III - Impressões de viagens: É formidável a actual rêde aérea que tem o seu centro em Berlim; A viagem a Dessau; As lagoas são realmente muito potéicas, mas os aeroportos são muitíssimo mais úteis; O aeródromo de Lisboa é uma obra urgente e indispensável; Portugal podia adquirir sem encargos para o Estado uma boa frota aérea; A aviação na Alemanha. IV - Aviões e aves: As qualidades e os defeitos dum avião. V - Aviação cómica: Os inventores. VI - Palestra sôbre Aviação: Feita pela T. S. F., em 23 de Janeiro de 1932, no posto C T 1 A A. VII - Aviação militar: O papel da Aviação em tempo de paz e como arma de guerra; Gago Coutinho vai ser o chefe de tôda a Aviação; A forma de reduzir as despesas públicas; Em Portugal não há um único campo de Aviação; É no Ar que hoje se vê o progresso de qualquer país; O avião é a arma dos países pobres; A nossa Aviação está longe de corresponder aos fins de defesa e prestígio nacional para que foi criada. VIII - Desejando melhorar a Aviação: Uma informação - Os aviadores devem ser oficiais; Um relatório - Alverca deve ser uma base; Uma proposta - Os aviadores devem voar. IX - A fronteira aérea: «Si vis pacem, para bellum»; Portugal precisa ter um Exército aéreo; Venham aviões, façam-se aviadores. X - A nossa Aviação: Conferência feita na Amadora, na presença do director da Arma, em dezembro de 1931. XI - Um exercício de propaganda aérea: Lisboa vai ser bombardeada a fingir por aviões militares; Palestra feita na estação C T. I. A. A. XII - Aviões de trapo: Qual é o material de aviação que mais nos convem?; Qual é o melhor avião de caça? XIII - O Exército do Ar: O espírito da Aviação;É preciso criar em Portugal uma atmosfera própria para a aviação; O país deve fabricar tudo quanto se possa fazer entre nós. XIV - Aviação: O 3.º exército; As Bases; O material e o pessoal; Conclusão.
Teófilo José Ribeiro da Fonseca (1886-1971). "Filho do General António Marciano Ribeiro da Fonseca (1841-1899), que esteve na fronteira do sul de Angola, evitando a potencial ofensiva alemã (Forte do Capelongo), comandou tropas em França, na WWI. Regressado a Portugal, fez parte da primeira geração de aviadores portugueses. Mais tarde comandou o Quartel de Beja tendo sido demitido por Salazar, por ter apoiado o oficial que, de acordo com a lei de neutralidade, mandou internar um avião alemão que aterrou algures no Alentejo. Era então o mais novo oficial general do exército português (como Brigadeiro)."
(Fonte: https://www.facebook.com/497789890294719/posts/504051833001858/)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
45€

20 outubro, 2019

BESSA, Alberto - O JORNALISMO : esboço historico da sua origem e desenvolvimento até aos nossos dias. Ampliado com a resenha chronologica e alphabetica do jornalismo no Brasil (com um artigo-prefacio de Edmundo d'Amicis). Lisboa, Livraria Editora Viuva Tavares Cardoso, 1904. In-8.º (18,5 cm) de 364, [4] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Subsídio histórico-bibliográfico da maior importância para os anais do Jornalismo. Obra de referência. Inclui extenso prefácio do célebre escritor italiano Edmundo d'Amicis (1846-1908), subordinado ao tema «O Jornal e o Público».
Contém em apêndice a Resenha Chronologica e Alphabetica do jornalismo brasileiro desde 1808 a 1900 (pp. 287-354) e a Addenda referente ao jornalismo do Estado de S. Paulo (pp. 355-364).
Livro ilustrado ao longo do texto com fotogravuras várias, reproduzindo sobretudo fac-símiles e portadas de periódicos.
"A caracteristica da confiança que inspira um jornal está na segurança que possa ter o seu publico, da sua atitude em face das alternativas da vida politica e social dos povos, sendo a independencia de opinião de um jornal o unico meio de garantia de uma tal segurança. [...]
Cada jornalista é geralmente considerado como mestre de primeiras lettras e cathedratico de democracia em acção, advogado e censor, familiar e magistrado. Bebidas com o primeiro pão do dia, as suas licções penetram até ao fundo das consciencias, onde vão elaboral a moral usual, os sentimentos e os impulsos de que depende tanto a sorte dos dos governos como a das nações.
Maior responsabilidade não apode, com effeito, assumir um homem para consigo e para com a sociedade. Se houvessem as virtudes que ella impõe, só os inconsciente e os fatuos se atreveriam a arrostal-a."
(Excerto da introdução - Synthese da imprensa)

Indice das materias:
O jornal e o publico (artigo-prefacio). | Ao leitor. | Synthese da imprensa. | A necessidade da convivencia. | Origem da publicidade periodica. | Origem das «folhas» e das «gazetas». | O jornalismo na Inglaterra. | Jornaes portuguezes impressos em Londres. | O jornalismo em França. | Jornaes portuguezes impressos em Paris. | O jornalismo em Portugal e Hespanha. | Do modo de ser do jornalismo entre nós. | O jornalismo na China. | Jornaes portuguezes impressos na China. | O jornalismo no Japão. | Jornaes portuguezes impressos no Japão. | O jornalismo na America. | Jornaes portuguezes impressos nos Estados-Unidos. | O jornalismo no Brasil. | Jornaes portuguezes impressos no Brasil. | Jornaes orientaes e argentinos. | Jornaes portuguezes impressos em Montevideu e Beunos-Ayres. | O jornalismo na Russia. | O jornalismo na Italia. | Na Austria - O jornal-telephonico. | O jornal do Oceano e o jornal do Pólo. | O jornalismo no futuro - Conclusão. | Resenha Chronologica e Alphabetica do jornalismo brasileiro. | Addenda relativa ao jornalismo do Estado de S. Paulo. | Errata importante.
Alberto Bessa (1861-1938). "Escritor e jornalista, nasceu no Porto, em 1861, e morreu em Lisboa, em 1938. Iniciou a sua carreira no jornal “O Operário” e depois no “Protesto Operário”. Fundou, dirigiu e colaborou com vários periódicos portuenses, mas a sua carreira profissional ganhoJornaes portuguezes impressos na Chinau particular impulso a partir do momento em que ingressou no Século”, em Lisboa, em 1896. Em 1902, saiu do “Século” para fundar jornal “Diário”. Em 1906, transferiu-se para o “Diário de Notícias”, como redactor. Em 1910, transferiu-se para o “Jornal do Comércio e das Colónias”, do qual foi redactor principal (1917) e director (1921), cargo que ocupou até 1932. Bessa foi também um grande dinamizador do movimento associativo dos jornalistas, sendo um dos fundadores da Associação da Imprensa Portuguesa. Foi secretário da comissão instaladora da Associação da Imprensa Portuguesa (1897) e membro da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Em 1912, enquanto esteve ligado ao “Jornal do Comércio e das Colónias”, escreveu a “Enciclopédia do Comércio e do Industrial”. Prometeu lançar um livro intitulado “Nos Bastidores do Jornalismo”mas, aparentemente, nunca o publicou e, se o tinha em manuscrito, provavelmente este perdeu-se."
(Fonte: http://teoriadojornalismo.ufp.edu.pt/inventarios/bessa-a-1904)
Encadernação editorial inteira de percalina com ferros e imagem gravados a negro e a ouro na pasta anterior e na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação. Pasta frontal apresenta duas manchas.
Raro e muito apreciado.
Com interesse histórico.
Indisponível

19 outubro, 2019

PIRES, José Cardoso - DINOSSAURO EXCELENTISSIMO. Ilustrado por João Abel Manta. [Lisboa,], Arcádia, 1972. In-4.º (24,5 cm) de 93, [3] p. ; [21] f. il. ; E.
1.ª edição.
Edição original desta obra polémica, satírica, publicada pouco tempo após a morte de Salazar, em pleno período de governo Marcelista.
Impressa em papel encorpado, ilustrada com belíssimas gravuras de João Abel Manta (21), bem como a capa, que também é de sua autoria.
"Dinossauro Excelentíssimo é uma fábula satírica de José Cardoso Pires que retrata a vida de Salazar, a sua ditadura e o Portugal do Estado Novo num tom bastante irónico e amargurado. Carlos Reis designa a fábula de "relato violentamente satírico sobre a figura de Salazar" (verbete José Cardoso Pires, in Biblos, vol. 2, 213).
O livro foi editado pela primeira vez em 1972 pela Editora Arcádia, com ilustrações e capa de João Abel Manta. Embora datado de "Natal de 69 e Março de 71", o autor afirmou em entrevista a Artur Portela Filho, tê-la escrito em 1970. Nesta época José Cardoso Pires encontrava-se em Londres no King's College de Londres a leccionar Literatura Portuguesa e Brasileira. Mais tarde passou a estar incluído nas colectâneas de contos O Burro-em-Pé (1979) e A República dos Corvos (1988). Na referida entrevista, José Cardoso Pires descreve as circunstâncias que permitiram a publicação do livro e lhe deram notoriedade: numa discussão na Assembleia Nacional sobre a liberdade de imprensa, um deputado ultrafascista, Casal Ribeiro, em discussão com Miller Guerra, quis demonstrar a existência de liberdade dando como exemplo a publicação de Dinossauro Excelentíssimo. Depois disso já não seria possível à censura retirar o livro das livrarias nem a PIDE poderia perseguir o seu autor."
(Fonte: wikipédia)
"Supõe-se, está vagamente escrito, que esse imperador veio realmente do nada. Que nasceu algures numa choupana, filho de gente-nada ou pouca-coisa, camponeses ao desabrigo. Que muito possivelmente estudou por cartilhas de aldeia; por catecismos também. Mais: a acreditar nos compêndios das escolas, teria vindo ao mundo iluminado por Deus - e tanto assim que, ainda muito mocinho, fez ciência entre os doutores.
Nessa altura chamava-se Francisco ou Vitorino; Adolfo, talvez Adolfo Hirto; ou Benito Marcolino, Zé Fulgêncio, Sebastião Desejado - não interessa. O que interessa é que quando deram por ele já tinha outro nome: Imperador. Dinossaurus Um, Imperador e Mestre."
(Excerto da Parte Primeira, O homem que veio do nada)
José Cardoso Pires (1925-1998). "Foi jornalista, tendo colaborado em vários jornais e revistas. Iniciou a sua atividade como escritor publicando, em 1949, o livro Os Caminheiros e Outros Contos. Depois seguiram-se, até 1997, ano em que publicou a sua última obra – Lisboa, Livro de Bordo – mais 17 livros, distribuídos por diversos géneros literários – conto, romance, crónica, ensaio, teatro. A sua obra literária não é redutível a uma escola literária definida. Ela coloca-se entre o surrealismo, o neorrealismo, e sofre uma forte influência da linguagem cinematográfica, bem como de alguns escritores norte-americanos, nomeadamente Ernest Hemingway. As suas obras valeram-lhe vários importantes prémios literários nacionais e internacionais, nomeadamente o Prémio da União Latina, o Prémio Dom Dinis, o Grande Prémio APE, o Prémio Pessoa, entre outros. Várias das suas obras foram traduzidas para outras línguas e adaptadas ao cinema e ao teatro. José Cardoso Pires morreu em Lisboa em outubro de 1998, com 73 anos de idade."
(Fonte: https://www.estantedelivros.com/2017/01/novidade-leyartp-dinossauro-excelentissimo-de-jose-cardoso-pires.html)
Encadernação em tela com ferros gravados a ouro na lombada, revestida por sobrecapa policromada.
Exemplar em bom estado de conservação. Assinatura de posse na f. guarda.
Invulgar.
35€

18 outubro, 2019

FALCÃO, José - CARTILHA DO POVO. Parte I. Para a gente do campo. Edição popular promovida pelos estudantes republicanos de Coimbra. Vila Nova de Famalicão, Typ. Minerva, 1896. In-8.º (15,5 cm) de 48 p. ; B.
Raríssimo opúsculo de propaganda à República publicado pelos estudantes republicanos de Coimbra. Para melhor compreensão do "povo", a cartilha foi escrita sob a forma de diálogo entre dois personagens - o João Portugal e o José Povinho.
"Acredita-me, meu José Povinho, o mundo está para vêr grandes coisas. A terra já deu um signal, que até se afundaram umas poucas de ilhas nos mares do Oriente. Não tens visto á hora da madrugada, e á hora do anoitecer, alumiar-se o ceu com uma luz vermelha como as labaredas de um forno? É a côr da nossa bandeira, meu irmão, é um signal tambem. Das entranhas da terra e das profundezas do ceu vem estes avisos, que amedrontam o fraco, e causam terror aos maus. O Povo é forte e valente; não tem medo á luta. Adeus irmão e quando eu voltar ha de ser para cantar nas festas da nossa aldeia a victoria do Povo, e a acclamação da Republica.
Olha, uma ultima palavra, José Povinho. O Povo trabalha de sol a sol, e fica pobre, ignorante e miseravel. Os que mandam não trabalham, e são ricos, instruidos e felizes. É esta a lei dos Homens, mas não pode ser a lei de Deus. Dizem que Christo veio resgatar as nossas almas das penas do outro mundo; pois é preciso que o Povo trate de resgatar o corpo e o espirito das miserias d'este. Acredita-me, irmão; a força governa o mundo. A força somos nós; e os que mandam tem vivido até hoje á custa da nossa força. É preciso que o Povo tome conta do governo da Nação, é preciso que trabalhemos pela Republica, porque a riqueza virá depois aos que trabalham; e só os vadios terão fome. Quando eu voltar te explicarei tudo isto, porque agora todo o tempo é pouco para eu andar pelas aldeias e povoados a pedir votos para a Republica."
(Excerto da Cartilha)
"Nota:
Esta vastissima edição do eloquente cathecismo republicano foi promovida em homenagem ao Glorioso Mestre da Democracia, José Falcão, para ser distribuida gratis ao Povo, pela seguinte commissão, em nome dos estudantes republicanos do Coimbra:
Antonio OlympioCagigal
Arthur d'Almeida Leitão
Augusto Cymbron Borges de Souza
Carlos Fuzzetta
Diogo Marreiros Netto
Joaquim José Cerqueira da Rocha
Manuel Gonçalves Cerejeira
Manuel José Moreira de Sá Couto
Victor José de Deus
Em 8-6-96."
(Nota da última página)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas frágeis com defeitos e pequenas manchas.
Raro.
Com interesse histórico.
Indisponível

17 outubro, 2019

VAUSE, Jordan - O ÁS DOS SUBMARINOS. A História de Wolfgang Lüth. Mem Martins, Publicações Europa-América, [1991]. In-8.º (21 cm) de 271, [1] p. ; il. ; B. Colecção Ventos de Guerra, 14
1.ª edição.
Título original: U-Boat Ace : The Story of Wolfgang Lüth
Ilustrado com fotografias a p.b. ao longo do texto.
"Os submarinos e os seus comandantes sempre foram temas muito populares na literatura sobre a segunda guerra mundial; admira, portanto, que até hoje não houvesse nada escrito sobre o lendário Wolfgang Lüth, um jovem capitão que afundou quarenta e sete navios e um submarino aliados, que lhe valeram a mais alta condecoração do III Reich. Em 1944, quando a Alemanha já enfrentava a derrocada, foi nomeado comandante da Escola Naval alemã. Tinha 30 anos e era o mais jovem capitão de mar-e-guerra da Kriegsmarine. A forma como morreu, abatido por uma das suas sentinelas, ainda hoje permanece envolta em mistério. Esta biografia, baseada sobretudo em entrevistas e correspondência trocada com sobreviventes da guerra que conviveram com ele, é o retrato de um homem contraditório e intrigante: ferveroso adepto de um nazismo de que só conheceu os aspectos folclóricos, era capaz de infringir todas as regras da disciplina para ajudar um dos seus homens."
(Retirado da contracapa)
Índice:
Listas das equivalências das patentes (segunda guerra mundial). Apresentação. Prefácio. Introdução. I - Preparação. II - O difícil é começar. III - Um submarino com a Cruz de Ferro. IV - Uma noite de matança. V - O Báltico e os seus homens. VI - O fim dos «bons tempos». VII - Problemas de comando. VIII - «Boa sorte e boa caça!». IX - O segundo Lüth. X - Morte e peixes voadores. XI - A longa patrulha. XII - Canção da tarde. XIII - Depois. Bibliografia.
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Invulgar.
20€

15 outubro, 2019

DICCIONARIO // EXEGETICO, // QUE DECLARA GENUINA, // e propria significaçaõ dos vocabulos // DA // LINGUA PORTUGUEZA, // ADOPTADOS UNICAMENTE PELOS SABIOS // da Naçaõ, //DADO AO PUBLICO // POR HUM ANONYMO. // LISBOA // Na Officina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno. // M. DCC. LXXXI. // Com licença da Real Meza Censoria. In-8.º (16,5 cm) de [12], 311, [1] p. , E.
1.ª edição.
Curioso dicionário cuja autoria Inocêncio atribui ao próprio editor, o conhecido tipógrafo Francisco Luís Ameno.
"Entre os dicionários para-literários do séc. XVIII tem sido esquecido o Diccionario exegetico (1781), "dado ao publico por hum anonymo" e que pode quase certamente ser atribuído ao tipógrafo e editor Francisco Luís Ameno (1713-1793). Trata-se de um dicionário in 8.º pequeno, com cerca de 6.000 entradas distribuídas ao longo de 296 páginas, mais 15 com uma breve colecção de "Adagios selectos da lingua portugueza". A nomenclatura foi cuidadosamente escolhida, segundo previne o autor no "Prolegomeno", entre os "vocabulos menos vulgares", "os vocabulos mais castigados e de que so usão os Doutos". A par dos numerosos latinismos, grecismos, tecnicismos (sobretudo no âmbito da terminologia da retórica) este vocabulário oferece-nos o mais significativo produto da teorização linguística e poética daquele tempo, com grande relevo para o critério purista e para a valorização da literariedade ao nível da selecção lexical. Não teve reedições mas parece que era obra muito procurada ainda no séc. passado."
(I.Silva 1858-1958, vol. 2,135)
"Conheço, Benevolo Leitor, a summa difficuldade, que encontraõ, ainda os que saõ sabios, em dar á luz hum Diccionario; por quanto a experiencia lhes mostra ser esta huma das Obras, que sendo de menos credito para seus Authores, por isso mesmo que se naõ reputa parto do proprio entendimento; he por outra parte a em que os defeitos saõ regularmente mais sensiveis. Sim; porque os Zoilos, huns dizem, que o Diccionario é mui pobre de vocabulos: outros, que muitas significações saõ improprias: estes, que a dicçaõ ainda tem outras accepções, de que naõ faz mençaõ o Diccionario: aqueles finalmente, que he destituido das frazes da propria Lingua. Estes saõ os defeitos particulares (além dos que saõ communs ás outras Composições) que facilmente se descobrem nos Diccionarios, e por esta causa huns naõ emprendem obras deste genero, e outros naõ as proseguem depois de as haverem traçado. Mas depois de eu saber as mordicantes censuras, que se fazem a taõ authorizadas Obras, que nesta materia tem sahido, naõ deve retrahirme da empreza, que tomei, o pensamento, que concebo, de que com muita razaõ será satyrizada a minha Obra, na qual eu mesmo percebo innumeraveis defeitos. [...] O que te offereço, he o que vês: o fim, que me propuz, já fica dito. Aqui acharás a Orthografia, que me pareceo mais correcta; aqui notarás os accentos, que daõ a conhecer o verdadeiro modo com que devem pronunciar-se os vocabulos. E como este Diccionario seria mútilo, se lhe faltassem os Proverbios vernaculos, ou os Adagios do proprio Idioma, joias as mais preciosas, que enriquecem, e fazem mais brilhante este Thesouro; eu naõ quero dispensar-me de coroar com os mais selectos, e mais recomendaveis á memoria o Opusculo, que te offereço, para que delles te sirvas nas occasiões mais opportunas."
(Excerto do Prolegomeno)
Encadernação coeva inteira de carneira com rótulo carmim e dourados na lombada.
Exemplar em razoável estado de conservação. Pastas cansadas com defeitos. Lombada apresenta falhas de pele nas extremidades. Carimbo de posse (desvanecido) na f. rosto. Mancha de humidade antiga transversal a toda a obra. Folhas de guarda (em branco) preenchidas com anotações em caligrafia antiga.
Raro.
Indisponível

14 outubro, 2019

BURTON, Anthony - A DESTRUIÇÃO DA LEALDADE : um estudo da ameaça da propaganda e da subversão contra as Forças Armadas do Ocidente. Tradução de Rosário Canais. [S.l.], Ed. Abril, 1978. In-8.º (21 cm) de 233, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Obra de análise política que inclui um capítulo dedicado a Portugal, com interesse para a história do 25 de Abril.
"No 1.º de Maio de 1974, apenas seis dias após a revolução em Portugal, numa enorme manifestação em Lisboa, os comunistas admitiram, antes de quaisquer outros, que foi inteiramente devido às Forças Armadas que a revolução se tornara possível.
Contudo, está já a ser esquecido que os militares que formaram o Movimento das Forças Armadas e que executaram a revolução, eram só uma pequena parte do Exército e que a Marinha e a Força Aérea nem sequer tomaram parte nela. [Corrigida a participação destas duas últimas armas em nota de rodapé]. [...]
Recordando a História de Portugal, verifica-se que as Forças Armadas têm tido um papel vital na maneira de governar o país durante este século. Antes de Salazar, revoluções efectuadas por uma ou outra facção das Forças Armadas ocorriam com grande regularidade e frequência. O próprio Salazar foi posto no Poder pelas Forças Armadas e nele se manteve durante mais de quarenta anos, devido ao seu apoio."
(Excerto de O Ambiente Internacional - A Revolução Portuguesa)
Índice:
Nota do Editor. | Prefácio. | Introdução. | O Ambiente Político no Reino Unido. | A Lei no Reino Unido. | O Ambiente Internacional - A Revolução Portuguesa: A Preparação; Vencimentos miseráveis; Universitários subversivos; Pequena minoria; Centrais telefónicas; Depois da revolução; Os Acontecimentos; O erro de Spínola; A Frente Popular; O começo dos perigos; As lições; Organização internacional; Os meios controlados; Doutrinação das crianças; A ligação com Praga; Sem indemnização; Um milhão de dólares por semana; A África primeiro. | As Tácticas de Deslealdade na Grã-Bretanha. | Os Sindicatos e as Forças Armadas. | Conclusões e Recomendações. | Apêndices: A - O Empreendimento Anti-Militarista Filiação dos Movimentos Trotskistas; B - Organizações do Flanco da Extrema Esquerda na Alemanha Ocidental; C - Algumas palavras sobre a Extrema Direita na Grã-Bretanha. | Descolonização: Timor - O símbolo da vergonha. | Nacionalizações: Thomé Feteira e a «Covina».
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Dedicatória de oferta (não do autor) na f. anterrosto.
Invulgar.
15€

13 outubro, 2019

MOGROVEJO, Restituto - A ODIOSA DITADURA MILITAR : os crimes do tzarismo espanhol. Um apêlo á consciência universal. Por... Ex-presidente do Comité Secreto das Juntas das Patentes Inferiores do Exercito Espanhol. Traduzido e prefaciado por Mario Domingues. Lisboa, Editora Popular, [1925]. In-8.º (19 cm) de 105, [7] p. ; [1] f. il. ; B.
1.ª edição.
Importante subsídio para a história da Ditadura de Primo de Rivera, movimento que viria a inspirar o golpe português da Ditadura Militar de Maio de 1926. Obra de denúncia publicada na sequência do golpe de estado de 13 de Setembro de 1923 encabeçado pelo general Miguel Primo de Rivera (1870-1930) que suspendeu a Constituição e instituiu um regime nacionalista e autoritário em Espanha. O autor - Restituto Mogrovejo Fernández (Palma de Maiorca, 1891 - Cidade do México, 1949) - foi um militar, jornalista, propagandista anarquista e anarco-sindicalista espanhol. Preso e perseguido, instalou-se em Portugal nos anos vinte onde produziu o presente livro. Para mais informações sobre Mogrovejo consultar: http://puertoreal.cnt.es/bilbiografias-anarquistas/5987-restituto-mogrovejo-fernandez-periodista-y-anarquista-de-mallorca.html.
Livro ilustrado com o retrato do autor em extratexto.
"O livro que o meu amigo Restituto Mogrovejo, ex-sargento do exército espanhol, escreveu e que eu traduzi directamente do original não é, como êle próprio o confessa, uma obra literária. Longe estava o seu autor dum intuito puramente artistico quando na sua pena, trémula de emoção bem sentida, traçou as scênas de sangue e de barbaridade que adiante se leem. Alguns dos dramas políticos que teem agitado a Espanha desde os fins do século XIX até aos nossos dias foram vividos por êle, mas vividos intensamente, febrilmente. Por várias vezes a morte ameaçou-o de perto. E quando as tragédias roçam e crestam a nossa sensibilidade com seu bafo abrazador, não nos restam requintes de arte, senão sómente a recordação terrivel do que se passou, em bruto, quase informe. Com essa recordação apenas e não com esmeros literários se escrevem páginas como essas que a seguir se encontram.
«A odiosa ditadura militar» é, pois, um livro de factos, vistos através da emoção dum homem que sofreu, dum idealista que se doi da pena imensa de não poder evitá-los, de não conseguir com o seu esfôrço e com a sua inteligência transformar essa região ensangüentada e sinistra que é hoje a Espanha, num país próspero e progressivo onde a sementeira das ideias de Liberdade de Justiça germinasse e crescesse alta como as belas searas doiradas nos dias luninosos de estio.
Poderá encontrar o leitor nas páginas de Mogrovejo um pouco de paixão em face dos acontecimentos políticos do seu país. Mas essa paixão longe de ser um defeito, representa uma qualidade apreciavel do autor. Indignar-se perante crimes como os que se praticaram em Barcelona é uma demonstração de grandes sentimentos de humanidade e de justiça. Restituto Mogrovejo, ao apontar esses crimes à consciência universal, pratica um acto de generosidade e desinteresse.
É necessário que se conheçam os antecedentes da actual ditadura militar para se compreenderam as razões que levaram Primo de Rivera ao poder. Grande número dessas causas, muitas delas secretas, que se viveram nos «complots» dos quarteis, são aqui reveladas e comprovadas com a citação de testemunhas de alta categoria social. Lendo-as e analizando-as através dêste livro, o leitor compreenderá claramente que os homens que hoje estão à frente dos destinos da Espanha, não se corromperam, como tanta vez sucede, após a conquista do poder; a sua corrupção vem de mais longe, é mais profunda; os seus actos de banditismo não são uma novidade moderna, constituem um defeito antigo que impunemente se foi desenvolvendo e avolumando na sombra até surgirem à luz clara do dia, com o triunfo do golpe de Estado de Setembro de 1923."
(Excerto do Prefácio)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse histórico.
25€