25 outubro, 2019

CASTELLO BRANCO, Camillo - ONDE ESTÁ A FELICIDADE? : romance. Por... Porto, Em Casa de Cruz Coutinho - Editor, 1856. In-8.º (20 cm) de 389, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Rara edição original de uma das mais apreciadas obras camilianas, romance de crítica à sociedade citadina da época. A Biblioteca Nacional dá notícia de, pelo menos, 11 reimpressões da mesma até 1965, existindo outras mais recentes após essa, sem porém ostentar o n.º da edição. A BNP dá ainda notícia de duas primeiras edições na sua base de dados: uma em depósito (Lisboa) e outra pertencente à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.
"Onde Está a Felicidade? representa, por vários motivos, um marco singular na obra camiliana. Os críticos que mais se têm dedicado ao seu estudo têm-na considerado não só como um ponto de viragem na produção romanesca do autor, mas também como uma significativa agitação no marasmo em que se encontrava a ficção nacional de meados de Oitocentos, apontando nessas duas dimensões para uma maior naturalidade do estilo."
(Fonte: wook)
"Aos vinte e um de Março do corrente anno de mil oitocentos e cincoenta e seis, pelas onze horas e meia da noite, fez justamente quarenta e sete annos que o snr. João Antunes da Motta, morador na rua dos Armenios, d'esta sempre leal cidade do Porto, estava em sua casa. Até aqui não ha nada extraordinario. O snr. João Antunes podia estar onde quizesse.
A historia assim começa fria e desgraciosamente. É uma especie de Anno do Nascimento. A descripção de uma tempestade, saraiva a estalar nas vidraças, o vento norte a assobiar nos forros, o arvoredo secular a ramalhar rangendo, e duas duzias mais de carêtas que a natureza faz á humanidade espavorida, e que os romancistas, desde Longus até nós, descrevem com invariavel phrase em todas as occasiões que lhe não occorre outra cousa... A mim tambem me não occorre agora o que vinha dizendo... Penso que a minha idéa era apresentar o snr. João Antunes da Motta. [...]
Quem é, pois, o morador da rua do Armenios?
Lá vamos. O snr. João Antunes da Motta, por alcunha o kágado, natural da Lixa, viera rapazito de doze annos, para o Porto, conduzido por seu tio materno o tio Antonio Cabêda, com destino de embarcar para o Brazil. Achando-se no caes da Ribeira, com o dito seu tio, admirando o tamanho d'um hiate, que o bom Antonio Cabêda denominava uma anau de guerra maritema, com grande espanto do rapaz, chegou-se a elles um homem gordo, de jaqueta de ganga amarella, e chinelos d'ourêlo, perguntando ao tio Antonio se o rapaz embarcava. Á resposta afirmativa, disso o homem gordo, mandando cobrir os admiradores do anau de guerra maritema, que era dono de duas lojas de mercearia na Fonte Taurina, e muito desejava metter n'uma dellas um rapaz, que tivesse boa pinta para o negocio."
(Excerto do Prologo)
Camilo Castelo Branco (1825-1890). "Nasceu em 1825, em Lisboa, e faleceu em 1890, em S. Miguel de Seide (Famalicão). Com uma breve passagem pelo curso de Medicina, estreia-se nas letras em 1845 e em 1851 publica o seu primeiro romance, Anátema. Em 1860, na sequência de um processo de adultério desencadeado pelo marido de Ana Plácido, com quem mantinha um relacionamento amoroso desde 1856, Camilo e Ana Plácido são presos, acabando absolvidos no ano seguinte por D. Pedro V. Entre 1862 e 1863, Camilo publica onze novelas e romances, atingindo uma notoriedade dificilmente igualável. Tornou-se o primeiro escritor profissional em Portugal, dotado de uma capacidade prodigiosa para efabular a partir da observação da sociedade, com inclinação para a intriga e análise passionais. Considerado o expoente do romantismo em Portugal, autor de obras centrais na história da literatura nacional, como Amor de Perdição, A Queda dum Anjo e Eusébio Macário, Camilo Castelo Branco, cego e impossibilitado de escrever, suicidou-se com um tiro de revólver a 1 de Junho de 1890."
(Fonte: wook)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Folha de anterrosto apresenta rasgão e restauro grosseiro. Primeiras 19 folhas de texto, incluindo f. rosto, com pequeno rasgão à cabeça, sem perda de papel e sem afectar a mancha tipográfica, bem como outras 11 folhas no interior. Pequena falha de papel no canto superior em 7 folhas perto do final da obra. Páginas com pequenos picos de acidez.
Raro.
Indisponível

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