21 maio, 2024

BRAGA, Theophilo - FREI GIL DE SANTAREM. Lenda faustiana da Primeira Renascença. Por... Alma Portugueza. Porto, Livraria Chardron, 1905. In-8.º (19,5x12 cm) de XXIII, [1], 376 p. ; E.
1.ª edição.
Versão dramática da lenda de S. Frei Gil de Santarém, religioso português que por amor vendeu a alma ao Diabo.
"Gil Rodrigues de Valadares, filho do Alcaide-mór de Coimbra, frequenta as Escholas do Mosteiro de Santa Cruz. Absorve-se na meditação das doutrinas neoplatonicas, que actuam na primeira Renascença, do seculo XIII, as quaes suscitando a theoria do Amor, que se manifesta no ideal do novo Lyrismo dos Trovadores, na acção heroica da Cavalleria, no culto mystico da Virgem, prestando novo Symbolos á Arte, na contemplação da Natureza pelas investigações experimentaes dos Alchimistas que preparam as inducções da Sciencia, tambem coincidem com a formação das Irmandades e Jurandas em que fortifica o Proletariado.
Entre estas correntes complexas, que determinam a agitação revolucionaria d'esse seculo, Gil de Valadares chega á concepção platonica: O Poder, a Sciencia e o Amor, como as trez manifestações divinas por excellencia."
(Excerto de I - A primeira Renascença - Symbolisação artistica)
Dom Gil Rodrigues de Valadares, O.P., também conhecido sob os nomes de São Frei Gil de Portugal, São Frei Gil de Vouzela, São Frei Gil de Santarém, ou simplesmente São Frei Gil (Vouzela, c. 1190 - Santarém, 14 de maio de 1265). "Foi um frade dominicano médico, taumaturgo, teólogo e pregador português dos séculos XII e XIII, beatificado pelo Papa Bento XIV a 9 de Maio de 1748. É um dos beatos portugueses com maior projecção nacional e internacional. Sobre São Frei Gil e o seu percurso de vida teceram os séculos numerosas lendas e histórias. De acordo com uma história popular, ele foi abordado em sua jornada por um estranho cortês que prometeu ensinar a arte da magia em Toledo. Como pagamento, diz a lenda, o estranho exigiu que Gil entregasse sua alma ao demónio e assinasse o pacto com seu sangue. Gil obedeceu, e depois de se dedicar sete anos ao estudo da magia sob a direção de Satanás, foi para Paris, obteve facilmente o grau de doutor em medicina e realizou muitas curas maravilhosas. Uma noite, enquanto ele estava trancado em sua biblioteca, um cavaleiro gigante, armado da cabeça aos pés, teria aparecido a ele e, com sua espada desembainhada, exigiu que Gil mudasse sua vida perversa. O mesmo espectro apareceu pela segunda vez e ameaçou matar Gil se ele não se refizesse. Há quem acrescente que a sua conversão tivera início apenas na mesma cidade de Paris e se consumara em Palência, onde entrara na Ordem dos Pregadores. Giles voltou a Portugal, depois de tomar o hábito de São Domingos no mosteiro recentemente erguido em Palência, por volta de 1221. Pouco depois, seus superiores o enviaram para a casa dominicana em Santarém. Ali ele levou uma vida de oração e penitência, e, ainda de acordo com as lendas, por sete anos sua mente foi atormentada pelo pensamento do pacto que ainda estava nas mãos de Satanás. Finalmente, narra seu biógrafo, o diabo foi compelido a entregar o pacto e colocá-lo diante do altar da Santíssima Virgem."
(Fonte: Wikipédia)
Belíssima encadernação inteira de pele com ferros gravados a ouro na lombada, e com cercadura e desenho de Teófilo Braga com o seu inconfundível guarda chuva gravados a seco e a ouro na pasta anterior. Preserva as capas originais.
Exemplar em bom estado de conservação. Aparado e pintado à cabeça. Carimbo de posse na f. rosto e ex-libris no verso da mesma. Sem f. ante-rosto.
Muito invulgar.
35€

20 maio, 2024

TAVARES, Maria José Ferro -
HISTÓRIA DE PORTUGAL MEDIEVO (Economia e Sociedade)
. Lisboa, Universidade Aberta, 1992. In-fólio (30x21 cm) de 515, [5] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Capa: Montagem de iluminuras de: Arquivo Nacional da Torre do Tombo - Missal do Lorvão; Biblioteca Municipal do Porto - Iluminados de Santa Cruz de Coimbra.
Obra de fôlego - de generosas dimensões - sobre a História de Portugal na Idade Média.
Trata-se do manual da disciplina de História de Portugal Medievo produzido pela Universidade Aberta para apoio dos alunos do Ensino à Distância.
Ilustrado com desenhos, fotografias, quadros e mapas ao longo do livro, na sua maioria impressos em página inteira, sendo alguns deles desdobráveis.
"O território que viria a ser Portugal, no século XII, ocupou uma parte das províncias romanas da Callaecia, entre o Douro e Minho, e da Lusitania, entre aquele e o Tejo.
Estender-se-ia, até meados do século XIII para além deste rio, acabando por atingir o mar com que ficaria limitado a Ocidente e a Sul. [...]
A sua vizinhança com o mar e a sua posição na parte ocidental da Península Ibérica iriam colocá-lo, entre dois pólos de influências, provenientes umas por via marítima e outras por via terrestre. Por esta, penetraram os povos germanos, no início do século V, enquanto os mouros e os normandos, em rotas de sentido oposto, nos séculos VIII e IX-X, respectivamente, o fariam por mar."
(Excerto de Os reinos bárbaros (411-711))
Maria José Ferro Tavares (n. 1945). "Nasceu em Lisboa, em 1945. Licenciou-se em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1969. Doutorou-se em História Medieval pela Universidade Nova de Lisboa (1981) e obteve a sua agregação nesta instituição, onde foi professora associada e catedrática de nomeação definitiva, desde 1991. Foi membro dos Conselhos Directivos da Faculdade de Letras, (1974-77). Foi presidente do Conselho Científico do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (1992-93). Foi directora da Unidade de Ensino à Distância, vice-reitora e reitora da Universidade Aberta (1989-2006), sendo a primeira mulher em Portugal a ocupar tais funções académicas.
Exemplar em brochura, bem conservado. Com notas e sublinhados a lápis no texto.
Invulgar.
25€

19 maio, 2024

GARCIA, Joaquim -
BARCA-VOLANTE : arte de pesca de lançamento circular.
Privilegiada por Alvará Regio. Tavira, Typ. Burocratica, 1885. In-8.º (20,5x13,5 cm) de 31, [1] p. ; [1] f. desdob. ; B.
1.ª edição.
Inovadora arte de cerco, ou de lançamento circular, desenvolvida no Algarve, que pretendia reunir o melhor de várias artes de pesca, incluindo os "galeões", técnica desenvolvida com bons resultados pelo país vizinho, mas dispendiosa e não totalmente adequada à faina portuguesa.
Esta curiosa monografia - muito rara - foi concebida e mandada imprimir por Joaquim Garcia, o proprietário do "privilégio régio" (detentor exclusivo deste empreendimento pesqueiro), na Tipografia Burocrática (1882-1912), inovador projecto tipográfico tavirense de João Gil Pessoa, primo direito do pai de Fernando Pessoa. É de realçar a consciência ambiental do autor, expressa na preocupação que o "varrimento" do fundo mar com artes de pesca desenvolvidas para o efeito causa ao ecossistema, e as graves consequências daí resultantes para o futuro das pescas.
Ilustrado no final com desenho esquemático de grande dimensões (58x55 cm) representando o funcionamento da Barca-volante.
"Quando se examina a carta da Europa, reconhece-se facilmente que Portugal é, em relação á sua população e á sua area, uma das nações d'esta parte do mundo que dispõe de maior extensão de costa maritima. [...]
Desde a Ponta de S.to Antonio, junto á foz do Guadiana, até Caminha, em todas as zonas departamentaes, ha numerosos pontos apropriados ao exercicio da pesca; aos quaes, ora n'uns ora n'outros, concorre todos os annos bastante pescaria; e mais concorrerá, de certo, se alguma vez se pozerem em pratica todos os meios preventivos, que se oppozerem á devastação dos prados submarinos, e á retenção e destruição da massa embryonaria proveniente da desova fecundada e dos numerosos cardumes de peixes pequenissimos, cuja extincção é uma das causas que mais poderosamente concorre, para o escasseamento da pesca domiciliaria e de arribação em alguns dos nossos districtos maritimos. Apezar, porém, do inestimavel valor d'essa riqueza que a provida mão da natureza tão generosamente nos proporciona, temos deixado jazer no mais deploravel estado de atrazo, a industria que tem por fim o emprego dos meios destinados ao aproveitamento de tão magnifica fonte de producção."
(Excerto de Duas palavras)
Indice:
I - Duas palavras. II - Artes de cêrco. III - Galeões. IV - Barca-volante. V - Armação do apparelho e seu lançamento ao mar.. VI - Barcascas ou artes de chavega. VII - Comparação entre a barca-volante e as barcas actuaes ou artes de chavega. VIII - Comparação entre a barca-volante e os galeões. IX - Differenças economicas entre a barca-volante e os galeões. X - Companhas. XI - Observações geraes.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Contracapa apresenta secção de papel que aí esteve colado.
Raro.
Com interesse histórico e regional.
45€

18 maio, 2024

GOMES, Celestino - MARIA DA DÔRES. [S.l.], [s.n. - Tipografia "Beira-Mar" - Ilhavo], MCMXXII [1922]. In-8.º (16,5X11 cm) de 57, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Interessante novela, algo densa, de cunho modernista. Maria das Dores, a moça que dá nome ao livro, definha por causa de um amor impossível.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao jornalista aveirense Manuel Lavrador.
"Lentamente, na indecisão de seu andar nostálgico, Maria das Dôres descera a velha escada de granito escuro. Estiraçada, a sombra desenhava arabescos de roixo-cinza nos lilaseiros floridos do jardim onde ela viera sentar-se.
Na candura suavíssima dos seus desaseis anos incompletos, Maria das Dôres, mimosa figurinha de iluminura a cujo oiro tostado do cabelo o sol arrancava scintilas, costumava distrair fenilmente os olhos côr de alecrim nos verdes canteiros bordados de primaveras e gardénias, emquanto no regaço lhe repousava, a tempos olvidado, o volume do romance predilecto.
Raro se topariam mágoas naquêles olhos sombreados dum lilás delido, que raro, também, na sua alma de menina entrara alguma contrariedade maior que o vestido com que a modista faltou.
Tudo, nela, era graça e sorriso. Tanto, que fôra de costume já os pobresinhos tristes de chagas e velhos aleijões conhecerem-na pelo alvorecer de chilreantes risos com que acolhê-los vinha, junto do nicho musgoso da sua casa solarenga, cada segunda-feira, a dar-lhes a piedosa esmola semanal."
(Excerto do Cap. I)
João Carlos Celestino Gomes (Ílhavo, 1899 - Lisboa, 1960). "Foi um médico, professor, escritor e pintor português. Pertence à segunda geração de artistas modernistas portugueses. Foi pintor e ilustrador, área em que utilizou o nome João Carlos; escreveu sobre medicina; dedicou-se à literatura de ficção, à crítica e história da arte, sob o nome Celestino Gomes."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação inteira de pele com cercadura dourada na pasta anterior e ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Capas cansadas; impresso em papel de fraca qualidade.
Raro.
25€

17 maio, 2024

I ROMAGEM AOS JERÓNIMOS : 1963 - CLUB DE REGATAS VASCO DA GAMA
. Rio de Janeiro - Brasil, [Clube de Regatas Vasco de Gama - Nobre Gráfica Editora Ltda - Barão de Bom Retiro], [1963]. In-4.º (23x16 cm) de 97, [7] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Memória da primeira romagem de uma comitiva do Vasco da Gama, popular clube carioca, ao Mosteiro dos Jerónimos - Lisboa, no ano de 1963.
Livro raro, por certo com tiragem reduzida, profusamente ilustrado com fotografias a p.b. relacionadas com a viagem a Portugal, incluindo eventos com a presença de figuras de proa do regime português: o PR Almirante Américo Tomaz, o PC Prof. António de Oliveira Salazar e o Almirante Henrique Tenreiro. Registe-se ainda, a título de curiosidade, o registo fotográfico do banquete oferecido pela direcção do Sport Lisboa e Benfica à comitiva brasileira no Estoril, e da presença da equipa profissional de Benfica e Belenenses na homenagem prestada nos Jerónimos ao navegador português.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do presidente do clube vascaíno - Manoel Joaquim Lopes - a Jorge Felner da Costa, Director do Centro de Turismo de Portugal no Rio de Janeiro e do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), em Lisboa.
"Este documentário da Primeira Romagem aos Jerónimos realizada no ano administrativo de 1963 - sexagésimo quinto da fundação - é oferecido aos vascainos para guarda e lembrança do grande ato da vida social do Club de Regatas Vasco da Gama, em terras portuguêsas e em louvor de seu Imortal Patrono.
Dizemos "Primeira Romagem" porque confiamos plenamente no espírito cívico-sentimental dos associados de nossa agremiação para esperar outras visitas à Pátria-Mãe, berço do Almirante Navegador.
A Romagem aos Jerónimos, é indispensável que se explique, não representou uma promoção, no sentido moderno da expressão. Constitui o prosseguimento da tradicional linha de luso-brasilidade que desde a fundação do Club de Regatas Vasco da Gama se vem mantendo lealmente, para satisfação de quantos se agrupam em tôrno de sua gloriosa bandeira.
A fundação ocorreu quando o mundo político festejava com Portugal o 4º Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo das Índias.
A 9 de Setembro de 1900, durante a solenidade da posse do presidente Leandro Augusto Martins, na modesta sede da Travessa do Maia (mais tarde Passeio Público), inaugurou-se o retrato de Vasco da Gama oferecido pelo sócio João Rodrigues de Oliveira. Uma composição livre, sem traços precisos da real fisionomia do homenageado, fixadas todavia as linhas características do marinheiro e descobridor destemido."
(Excerto de Sentido histórico da Romagem)
Encadernação em percalina com ferros gravados a seco e a ouro na pasta anterior e na lombada. Conserva as capas originais.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse histórico e desportivo.
35€

16 maio, 2024

PORTUCALE, Antonio de -
O ENCANTADO.
Versos de... (Com desenhos, capa e vinhetas de Eduardo Malta). Porto, Tipografia da Renascença Portuguesa, [1919]. In-8.º (16,5x12 cm) de 98, [6] p. ; [8] f. il. ; B.
1.ª edição.
Obra poética magnificamente ilustrada por Eduardo Malta que assina as capas, as vinhetas no texto e as 8 estampas em separado impressas sobre papel couché.

"Oh! meu Anto! meu «Só» de triste sorte!
Pelos teus Olhos vi tão bem o Ceu
Que, se o meu Sônho sobrevive á morte,
O que de mim estar será só teu!

Nasci; sorri; sonhei... Amei, um dia,
(Sonhava ainda...) e nunca fui amado!
E a minh'alma ficou, sósinha e fria,
Na indiferença do Mundo regelado.

E nunca mais esta Melancolia,
Que ao cahir da noitinha sinto ao lado,
Deixou de atormentar na mão esguia
Meu pobre Coração de torturado!...

Os meus castelos - Torreões de Sônho
Que em horas brancas, aureoraes ergui -
Vi-os ruir ao vendaval medonho!

Então, sobre a ruina, á tempestade,
Com prantos de Alma e Sangue, contruí
Uma Fonte de Magua e de Saudade."

(Da minha Magua - Á memoria de Antonio Nobre, poeta e martyr.)

Índice:
Inscripção | Da Minha Magua | Da Minha Terra | Do Meu Amor | Da Minha Saudade | Fecho.
António de Sousa (1898-1981). "Poeta português, nascido em 1898, no Porto, e falecido em 1981, em Oeiras, licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, colaborou em Ícaro, Byzancio, Tríptico, Presença, Portucale, O Diabo, Revista de Portugal, Vértice, Litoral. Autor de obras poéticas situadas na confluência de várias correntes estéticas (O Encantado foi editado pela Renascença Portuguesa; Caminhos, pelas edições Seara Nova e Ilha Deserta, pelas edições Presença), mas filiadas num lirismo tradicional de cunho intimista, revelando a influência de António Nobre, perpassadas por isotopias marítimas onde se plasma o destino irremediavelmente degredado de um sujeito poético que se autoanalisa irónica ou dolorosamente nas suas contradições."
(Fonte: Infopédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Cansado. Capas frágeis com defeitos
Raro.
25€

15 maio, 2024

TORGA, Miguel -
UM REINO MARAVILHOSO (Trás-os-Montes)
. [S.l.], [s.n], [19--]. In-8.º (21x15 cm) de [16] p. ; B.
Edição "pirata" do magnífico texto de Miguel Torga, produção fotocopiada(?) com retrato desenhado do escritor na capa, não referenciada em nenhuma bibliografia torguiana, ou outra. A BNP não menciona. A 1.ª edição impressa deste texto data de 1941, e foi incluída num livrinho 'a meias' com Paulo Quintela que reproduz a intervenção dos dois no 2.º Congresso Transmontano, realizado em Pedras Salgadas (1941), sendo a alocução de Quintela, intitulada "Um poeta de Trás-os-Montes", sobre o próprio Torga. Mais tarde, em 2002, este texto-homenagem de Torga à sua região seria republicado a solo sob chancela da Dom Quixote com ilustrações de Graça Morais. Algures entre estas datas, foi executado o presente folheto, por certo com tiragem reduzida.
Raro, com interesse para a bibliografia do escritor e ensaísta transmontano.
"Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso.
Embora haja muita gente que diz que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite.
O meu, o nosso Reino, que é preciso ver e sentir assim, não só existe, como é dos mais belos de que há memória na terra.
Senão reparem.
Fica ele no alto de Portugal, como os ninhos ficam no alto das árvores, para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. Quem vai de cá, cá de baixo, se realmente é rapaz e gosta de ninhos, tem de subir, subir, até chegar ao alto, lá onde não acaba a Ilusão, porque começa o Sonho.
Vê-se primeiro um mar de pedra. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela palavra rija dum Deus de terra. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente rasga o silêncio da penedia uma voz assim:
- Para cá do Marão, mandam os que cá estão!...
Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que magia se apodera de nós?
Mas ainda os olhos interrogam as fragas, e já a voz terrosa ordena:
- Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso."
(Excerto do texto)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa apresenta mancha.
Raro.
Peça de colecção.
25€

14 maio, 2024

BASTOS, Leite - O MARQUEZ DE POMBAL E A EXPULSÃO DOS JESUITAS. Lisboa, Typographia da Empreza Serões Romanticos, [1882]. In-8.º (20,5x13 cm) de 32 p. ; E.
1.ª edição.
Narrativa histórica publicada por ocasião das celebrações do Centenário do Marquês de Pombal.
Exemplar muito valorizado pela magnífica encadernação executada nas oficinas de mestre Frederico de Almeida.
"Era fins de Setembro de 1759, pelas horas tristes e monotonas de uma noite sombria e carregada de brumas pardacentas.
Em uma das salas do regio paço da Ajuda, o recento conde de Oeiras, recostado na sua ampla cadeira de espaldar, que alguns dos principaes personagens da côrte rodeava de pé, em attitudes repeitosas e graves, acabava de ouvir da bôca do seu secretario particular: «que as ordens d'el-rei estavam cumpridas, quanto ao embarque dos jesuitas que tinham vindo de Azeitão e n'esse momento estavam sendo recebidos a bordo do brigue S. Nicolau, prestes a largar ferro, afim de os levar a Civita-Vechia.»
De facto, lançando-se uma vista d'olhos para a janella que ficava em frente, viam-se ainda no rio as ultimas galeotas demandando a prôa do brigue S. Nicolau.
Eram cento e trinta e tres os padres jesuitas que essas galeotas conduziam.
Tinham vindo effectivamente da quinta de Azeitão, onde estavam prezos.
Poucos dias depois o brigue S. Boaventura, que estava no nosso ancoradouro, devia conduzir os 120 que restavam.
Ficavam ainda mais cento e vinte e quatro, nos subterraneos da torre de S. Julião da barra, d'onde só mais tarde apenas quarenta logravam sair com vida.
Assim, em pouco mais de duas semanas, foram proscriptos e banidos do reino os opulentos e poderosos padres da Companhia, e completo o pensamento inicial do grande estadista, ao assumir a direcção suprema dos negocios."
(Excerto do Cap. I)
Francisco Leite Bastos (1841-1886). "Jornalista, autor de contos e romances policiais, dramas e comédias, nascido a 17 de setembro de 1841, em Lisboa, e falecido a 5 de dezembro de 1886, na mesma cidade. Apesar da ausência de formação literária, os seus escritos - peças, crónicas  e romances - gozaram no seu tempo, de um relativo êxito popular. Colaborou no Diário de Notícias e em vários jornais literários. Deu sequência ao Rocambole, de Ponson du Terrail, em Maravilhas do Homem Pardo. Toda a sua obra jornalística e literária se pauta pela crítica de costumes."
(Fonte: Infopédia)
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a ouro na pasta anterior. Conserva as capas de originais.
Exemplar em bom estado de conservação. Aparado e pintado à cabeça.
Raro.
40€

13 maio, 2024

VASCONCELLOS, J. Leite de -
CLASSES DE POVOAÇÕES PORTUGUESAS.
Estudo histórico-etnográfico. Lisboa, Composto e Impresso nas oficinas Gráficas do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, 1931. In-8.º (22,5x16 cm) de 39, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante ensaio histórico-etnográfico sobre as povoações portuguesas e sua classificação.
Sumário:
O que se entende aqui por povoamento e póvoa. Exemplos toponímicos de póvoa. - Diferença de povoar e dar foral. - O que eram Povoadores em geral e Povoadores d'El-rei em particular. - Erros dos geógrafos no quererem determinar a origem das povoações, e a etimologia dos nomes d'estas. - O que é Povoção. - Terra no sentido de Povoação e de Pátria. - Classes de povoações: cidade, vila, aldeia. Sentidos de cada uma d'estas expressões, e especialmente de Aldeia. Povoações a que se aplicam os nomes comuns de Lugar, Povo, Casal, Quinta, Monte, e Sítio. Textos literários e textos populares. - Circunvizinhanças de uma povoação: Afumados, Alfoz, Aro, Arrabalde, Arredores, Subúrbios, Termo, Terrentório.
"Por povoamento entende aqui: estudo da origem remota ou recente das povoações que constituem Portugal (Continente, e Ilhas Adjacentes): pois há-as que provêm do passado, isto é, de tempos anteriores à existência de Portugal, ou como estado independente, ou como território já assim chamado; e outras que se formaram ou desenvolveram depois, em três períodos sucessivos: primeiros séculos da restauração cristã, do século VIII em diante, ou comêço do período portugalense; período dos alvores da nacionalidade (forais dos reis de Lião & Castela); período correspondente ao Estado português propriamente dito, que tem tido três fases: condado, monarquia, república. [...]
Considerando na essência, a génese de qualquer povoação, observa-se que esta ou se formou de um jacto, ou a pouco e pouco, por assim dizer, espontâneamente, em volta de um núcleo muito variável."
(Excerto de Generalidades)
Índice:
Dedicatória | Generalidades | Classes de Povoações: A) Cidade. B) Vila. C) Aldeia: Definição geral, Locus e vicus; a) aldeia, lugar, povo. Outra sinonimia: 1. - Casal; 2. - Quinta; 3. - Monte;. 4. - Sítio. b) aldeia: conjunto de casais, de lugares, de lugarejos; c) aldeia: propriedade rural; d) aldeia: nos gentios do Brasil. Geografia linguistica | Circunvizinhanças de uma povoação: 1. Afamados; 2. Alfoz; 3. Aro; 4. Arrabalde; 5. Termo (e terrentório).
José Leite de Vasconcelos (1858-1941). "Por muitos considerado o pai fundador da etnografia, da dialectologia e da arqueologia portuguesas, José Leite de Vasconcellos foi, e continua a ser, um colosso da cultura, das letras e do pensamento. Tendo orientado os seus trabalhos para o estudo do povo português - origens, história, língua e tradições -, Leite de Vasconcellos viajou por todo o país, ao longo de décadas, anotando e transcrevendo tudo o que se relacionasse com usos, costumes e dialetos locais, assim realizando, por essa via, uma ímpar colheita etnográfico-linguística que nunca mais seria igualada."
(Fonte: Wook)
Exemplar brochado em bom etado geral de conservaçõ. Capas frágeis com pequenos defeitos.
Muito invulgar.
20€

12 maio, 2024

INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO POR CORRESPONDÊNCIA : LISBOA -
Fundado em 1 de Janeiro de 1919. Director e proprietário Ruy Manuel Mourão de Freitas. Lisboa, Composto e impresso na tipografia do Instituto Nacional de Correspondência Lisboa, [1927]. In-8.º (21x15 cm) de 38 p. ; [1] f. desdob. ; il. ; B.
1.ª edição.
Importante subsídio para a história do Ensino à Distância (EaD) entre nós. Brochura de apresentação da, estamos em crer, primeira organização portuguesa que se dedicou a este tipo de instrução. Fundado no imediato pós-Grande Guerra, em época de desanuviamento, esperança e crença na recuperação económica, o seu principal objectivo seria munir de competências os empregados do comércio para que estes pudessem ascender a melhores empregos e salários, ou mesmo, perspectivar a sua entrada no mundo empresarial. No entanto, verificou-se que também os ociosos, curiosos e donas de casa em busca de conhecimento e cultura solicitaram e receberam as aulas por correspondência, método simples e económico para quem não queria ou podia frequentar o ensino oficial.
Inclui as condições de inscrição nos cursos por correspondência e os testemunhos de antigos alunos, de várias áreas, do sexo masculino e feminino.
Livrinho ilustrado no interior com reprodução de certificados de aproveitamento escolar, um em página inteira, e outro em folha desdobrável:
- Título que é conferido aos alunos que concluiram qualquer dos cursos com aprovação;
- Diploma que é conferido aos alunos que concluiram os dois cursos com uma classificação média não inferior a 15 valores.
"O ensino por correspondência, seja de que ramo fôr do saber humano, é hoje o meio universalmente consagrado para todo o homem de trabalho se ilustrar, aperfeiçoar-se numa profissão e até iniciar-se nela.
Não há sciência, não há idioma, que não tenha encontrado a fórma prática e eficaz de ser ensinado por correspondência. As próprias artes e ofícios, que se consideravam inaprendíveis fóra do âmbito das fábricas e das ofícinas, ensinam-se hoje de longe nos mínimos detalhes da sua execução e de longe se aprendem nas maiores delicadezas da sua técnica."
(Excerto de Origem e necessidade do ensino por correspondência)
"Perguntem à maioria dos primeiros empregados no comércio e dos guarda-livros modernos, não em Portugal, onde a rotina em tudo é o maior inimigo a vencer, como êles se fizeram: se foi indo de livros debaixo do braço para as escolas, ou recorrendo ao ensino por correspondência? Não oferece a menor hesitação a resposta.
O homem moderno, o verdadeiro trabalhador desta época, em que, como nunca, houve tanta pressa de entrar na luta pela vida e tanta ânsia de vencer, não gasta o melhor dos seu anos e da sua energia pelas escolas, debruçado sôbre tratados."
(Excerto de O curso rápido, prático e económico que é preciso para o comércio)
"Partindo dos centros de maior população e actividade, o ensino comercial por correspondência tem-se pouco a pouco infiltrado por tôdas as outras terras.
É curiosissima a forma por que o nosso ensino se foi alargando, curiosissima pela correlação que, de facto, há entre o número de alunos e a expansão do trabalho e da riqueza pública nas respectivas regiões.
Pouco tempo esteve o nosso ensino circunscrito às cidades ou às vilas mais importantes pela sua indústria e pelo seu comércio. Não tardaram a afluir alunos até de aldeias, onde não era presumível que êle viesse a implantar-se tão cedo, pelas poucas ou nenhumas necessidades do comércio local.
A explicação do facto veio depois. O aluno mandou ir as lições e os livros para os escriturar, como exercícios; experimentou as suas fôrças perfeitamente à vontade em sua casa, sem ninguem saber de uma tentativa, que podia ser frustrada.
Compreendeu bem as primeiras lições e os trabalhos a fazer; animou-se, continuou e, por fim, concluiu o curso. E, senhor desta bela arma de luta, dêste poderoso instrumento de trabalho, deixou a sua aldeia, arranjando logo colocação noutra terra em qualquer estabelecimento fabril ou comercial e tendo em pouco tempo o seu futuro assegurado."
(Excerto de O ensino por correspondência alarga-se...)
Índice:
Origem e necessidade do ensino por correspondência | O curso rápido, prático e económico que é preciso para o comércio | O ensino por correspondência alarga-se considerávelmente entre nós tendo aberto futuros invejáveis a muitos alunos | Em tôdas as idades e condições sociais se pode aprender com êxito. Cursos que se freqüentam sem incómodos, nem acanhamento e emulações | O desenvolvimento febril no nosso comércio e o "Instituto Nacional" | O testemunho dos que aprenderam - A satisfação dos que acabam o seu curso. Como êles se sentem com fôrças para assumir as responsabilidades do trabalho e conseguem, após os estudos, empregar-se como guarda-livros ou exercer cargos superiores. - As senhoras e o ensino comercial | O nosso ensino estende as suas vantagens a todos os domínios portugueses e ao estrangeiro. - Os que descriam do ensino e o reconhecem hoje como o melhor. | Programa e condições de matrícula dos cursos de Escrituração Comercial por partidas simples e dobradas, Aritmética e Contabilidade: [Programas] / Duração dos cursos / Condições de matricula / Ordem dos estudos / Preços dos cursos / Pagamento em prestações.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
Com interesse histórico.
Sem registo na BNP.
25€

11 maio, 2024

VIEIRA, Affonso Lopes -
AR LIVRE. Lisbôa, Livraria Editora Viuva Tavares Cardoso, 1906. In-8.º (19,5x12,5 cm) de 216 p. ; E.
1.ª edição.
Obra poética, das primeiras e mais apreciadas do autor, revestida por capa muito bela (não assinada) e encadernação de luxo.

"A ância da ideia que procura a fórma,
quer som, mármore e côr e, num momento,
achada a fórma, é alma, e nella ondeia.

A Palavra do homem, - sentimento
da vida que sentiu e que o rodeia, -
é pedra, côr, som, alma: é pensamento.

Eu senti: e aqui vai, muda e vivida,
- pobres palavras ditas em tropel, -
a pobre escrita em que falei da Vida:

Escrevêr, é falar-se no papel."

(Preâmbulo)

Preciosa encadernação meia de pele com cantos e dourados na lombada, Conserva as capas originais, assim como a lombada de papel que se encontra colada no final do livro.
Exemplar em bom estado de conservação. Aparado e pintado à cabeça.
Muito invulgar.
45€

10 maio, 2024

SOUSA
(Marquês de Rio Maior), João de Saldanha Oliveira e -
A EXECUÇÃO DA MARQUESA DE TÁVORA. Inéditos Pombalinos II. Lisboa, Comp. e Imp. nas Oficinas Gráficas da C. M. L., 1938. In-4.º (25x16,5 cm) de 12 p. ; [2] f. il. ; B.
1.ª edição independente.
Separata do Boletim Cultural e Estatístico da Câmara Municipal de Lisboa : Volume I - N.º 4.
Importante subsídio pombalino para a história do "Processo dos Távoras", apelido da ilustre família que deu nome ao processo, acusada de conspirar e atentar contra a vida do rei D. José, que culminaria com o suplício e execução de alguns membros da família Távora, entre outros, a 13 de Janeiro de 1759 em Belém, Lisboa.
O presente trabalho reporta ao "horroroso" suplício individual da Marquesa de Távora, D. Leonor Tomásia (1700-1759), contestado pelo autor, que refuta eventuais práticas de tortura às mãos dos carrascos, contrariando a conhecida tese do biógrafo anónimo do Marquês de Pombal.
Opúsculo ilustrado em separado com duas estampas:
"A Marqueza de Távora" - reprodução de retrato desenhado de Leonor de Távora quando jovem, com a inscrição "original de Alcype";
"A memoria do chão salgado" - fotografia do Padrão mandado erigir pelo Marquês de Pombal (1759) em memória dos condenados do Processo.
"Na história de Lisboa avulta, como capítulo notável, o Reinado de D. José I, ou seja o período pombalino, de que é facto culminante o frustrado regicídio na noite de 3-9-1758.
Para descrever a execução dos réus condenados à morte por causa dêsse atentado, alguns historiadores recorreram ao manuscrito intitulado Vida de Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.º Marquês de Pombal e 1.º Conde de Oeiras... etc., etc.
Na revista e sob o título que acabamos de mencionar em nota, publicou J. Lúcio de Azevedo, com comentários seus, alguns extractos duma cópia do referido manuscrito.
Segundo êsses extractos, o historiador anónimo, ao narrar a execução da Marquesa de Távora, D. Leonor Tomásia de Távora, escreveu:
«O meirinho das cadeias com três algozes a esperava sobre o cadafalso. Logo que a recebeu a foi mostrando ao povo espectador, correndo com ela a circunferencia daquele lugar. Depois lhe foi mostrando muito individualmente os instrumentos e formalidades com que haviam de padecer morte afrontosa ela, filhos, genro e parentes, mais sócios e sequazes do seu delito. Esta a mais tirana vista, em hora de tanta amargura, lhe fêz a mais cruel impressão no ânimo, e abatendo a intrepidez, que até então mostrara, não pôde conter o grande fluxo de lágrimas, que copiosamente entrou a sair de seus olhos, e pediu que lhe abreviassem a vida.»
Êste episódio é, a nosso ver, imaginário."
(Excerto do trabalho)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado geral de conservação. Com vestígios de humidade marginais.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e pombalino.
25€

09 maio, 2024

COSINHEIRO FAMILIAR : tratado completo. COPA E COSINHA. (3.ª edição, augmentada). Preço 200 reis. [S.l.], [s.n.], [189-]. In-8.º (15,5 cm) de 128 p. ; B.
"Valliosa collecção de receitas para fazer almoços, lunchs, jantares, merendas, ceias, petiscos, conservas, pudins, bôlos, compotas, gelados, caldas de fructa, licôres, vinhos finos e artificiaes, crèmes, vinagres, refrescos, etc. etc. Formulas para evitar os maus cheiros, o bolôr, e o ranço, para afugentar as formigas, para concertar louças, conhecer falsificações, etc."
Curioso tratado de cozinha de produção popular, contendo mais de centena e meia de receitas. Sem indicação de autor, nem referências bibliográficas, incluindo a própria BNP, que não menciona este título na sua base de dados. Terá sido publicado, cremos, na última década do século XIX.
Livro preenchido com receitas gastronómicas - as mais variadas -, bem como conselhos e panaceias para resolução de problemas que "afligem" os cozinheiros, relacionados com a limpeza, os cheiros, etc.
"A cobra offerece uma carne muito deliciosa e que não é inferior á do melhor peixe, com o qual ella se assimilha.
As pessoas que comerem a carne de cobra, preferem-n'a a qualquer outra.
A melhor vantagem, porem, que apresenta o uso d'esta carne é que é muito efficaz na cura das molestias do coração, da syphilis inventerada e sobre tudo da morphéa, que, estando ainda em principio, desapparece totalmente com o uso da carne de cobra."
(Excerto de Carne de cobra)
"Enche-se um frasco pequeno, que possa conter approximadamente 20 grammas de liquido, com o vinho que se quizer experimentar.
Em volta do gargallo passa-se-lhe um cordel e, suspendendo-o por uma das pontas, mergulha-se o frasco, sem o tapar, dentro d'um copo grande cheio de agua.
Apenas a bocca do frasco tiver passado abaixo do nivel da agua, o vinho - se é puro - sahirá precepitadamente do frasco, e, atravessando a agua sem se misturar com ella, virá espalhar-se na superficie; se está falsificado, ficará no fundo do frasco."
(Excerto de Receita para conhecer a pureza do vinho)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa frágil, com pequenas falhas de papel. Sem capa posterior. Pelo interesse e raridade deve ser encadernado.
Raro.
45€

08 maio, 2024

ASSOCIAÇÃO DOS ARTISTAS DE COIMBRA - ANNO DE 1872. Coimbra, Imprensa da Universidade, [1873]. In-4.º (24,5x17 cm) de 34 p. ; B.
1.ª edição.
RELATORIO E CONTAS DA ASSOCIAÇÃO DE SOCORROS MUTUOS DOS ARTISTAS DE COIMBRA RESPEITANTE AO ANNO DE 1897. Coimbra, Typographia de Luiz Cardoso, 1898. In-8.º (22,5x14,5 cm) de 40 p. ; B.
1.ª edição.
Conjunto de opúsculos com interesse para a história da conhecida agremiação coimbrã - escola de artes e ofícios - e do associativismo operário da cidade - a Associação dos Artistas de Coimbra.
"Cumprindo a disposição do artigo 73.º dos nossos estatutos, temos a honra submetter á vossa apreciação as contas relativas ao anno de 1872 e que respeitam á nossa gerencia. [...]
Tivemos alguns donativos importantes, como se vê do mappa da nossa conta de receita e despeza, figurando entre os bemfeitores o nosso generoso monarcha o Senhor D. Luiz I, seu augusto irmão o Senhor Duque de Coimbra nosso presidente honorario, e o Senhor D. Pedro II Imperador do Brazil, que, visitando esta casa, se declarou nosso protector."
(Excerto de Associação dos Artistas de Coimbra : Anno de 1872 - Relatorio da Direcção)
Exemplares brochados em bom estado geral de conservação. Cansados, com falhas e pequenos defeitos. Ambos apresentam orifícios de arquivador.
Raro conjunto.
20€

07 maio, 2024

LIMA, Jayme de Magalhães -
SONHO DE PERFEIÇÃO
. Porto, Typographia Pereira, 1901. In-8.º (21,5x14,5 cm) de [6], 392 p. ; E.
1.ª edição.
Interessante romance rural cuja acção decorre na zona de Aveiro, em meados do século XIX.
"O dr. Mateus era um santo homem. A pé logo ao amanhecer, em singelo esmero, a face barbeada, cabellos brancos, poucos e desalinhados, conserva-se agora, aos cincoenta annos, como sempre fôra desde que saiu de Coimbra. Bondoso, d'uma inalteravel bondade, o olhar calmo, cheio d'indulgente sympathia, todo o tempo se lhe divide entre o escriptorio, onde trabalha e ouve os clientes, o tribunal da villa da Eirinha e o seu quintal, de que brotam com opulencia fructos, vegetações e flôres - unico, mas infinito prazer da sua vida. Conservára-se solteiro, vivendo sob a tutela benefica e doce da irmã, mais velha, que tudo mandava em casa, mandando bem, modesta e ordenadamente. Desprezando os regalos do matrimonio, nunca se resolvera a casar. Além d'isso, não faltavam herdeiros: tinha os sobrinhos, os filhos do irmão, juiz n'uma comarca do Minho. Demais, os clientes eram tantos!... coitados! não os podia desamparar. Renunciava a uma familia limitada, porque adoptára outra, incerta, vaga e extensa - a dos que precisam d'auxilio."
(Excerto do Cap. I)
Jaime de Magalhães Lima (1859-1936). Natural de Aveiro. Foi um pensador, poeta, ensaísta e crítico literário português, irmão do jornalista e político republicano Sebastião de Magalhães Lima. Licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 1888, onde conheceu Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e o seu grande amigo Antero de Quental. Era admirador de Tolstoi, que conheceu quando foi à Rússia, conforme relata no seu livro Cidades e paisagens (1889). Dirigiu a revista Galeria Republicana (1882-1883) e colaborou na Revista de Portugal de Eça de Queiroz. Colaborou ainda com regularidade no mensário O Vegetariano, dirigido por Amílcar de Sousa e em diversas publicações periódicas, nomeadamente nas revistas: A semana de Lisboa (1893-1895), Branco e negro (1896-1898), Atlântida (1915-1920), Pela Grei (1918-1919) e na revista Homens Livres (1923). A sua bibliografia é variada. Escreveu romances, ensaios e biografias.
(Fonte: Wikipédia)
Magnífica encadernação em meia de pele com cantos, com dourados e ferros gravados a ouro sobre rótulos carmim na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação. Ex-libris colado no verso da f. rosto. Ausência f. ante-rosto(?).
Raro.
Indisponível

06 maio, 2024

MARTINS, J. P. Oliveira -
PROJECTO DE LEI DE FOMENTO RURAL APRESENTADO Á CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS NA SESSÃO DE 27 DE ABRIL DE 1887.
Pelo deputado... Lisboa, Imprensa Nacional, 1887. In-8.º (23,5x14,5 cm) de 155, [5] p. ; [12] p. desdob. ; B.
1.ª edição.
Contributo legislativo de Joaquim Pedro de Oliveira Martins composto por um relatório que expõe o panorama geral do país e em particular o estado calamitoso da lavoura, a que não era alheio o fenómeno da emigração na época, e o projecto de lei que o justifica.
Em ambos aborda com detalhe assuntos relacionados com a caça e a pesca, temas sempre interessantes e caros a franja importante da população portuguesa.
Inclui 19 "mapas" distribuídos por 12 páginas do texto.
"Pedi a palavra para mandar para a mesa um projecto de lei. Antes, porém, de o ler, desejo justificar a sua apresentação com differentes considerações que me foram suggeridas, especialmente, por um trabalho da maior importancia, distribuido na ultima ou em uma das ultimas sessões da legislatura transacta. Refiro-me ao relatorio ácerca do estado da emigração portugueza. [...]
Do relatorio a que me refiro, extrahi uns mappas para que chamo a attenção da camara. Não os leio por ser impossivel, limitando-me a envial-os para a mesa, a fim de serem publicados no Diario da camara.
Estes mappas abrangem uma parte muitissimo consideravel da area do paiz, e o relatorio a que me refiro consiste na impressão dos depoimentos das differentes camaras municipaes, das differentes repartições de fazenda e administrações de concelho, como respostas a um questionario que lhes foi enviado pela commissão parlamentar de emigração. [...]
Nos mappas a que me refiro dividi a zona inquirida em cinco regiões que se caracterisam de uma maneira perfeitamente homogenea.
A primeira comprehende os districtos da Guarda, Bragança e parte do de Vizeu; a segunda o Alemtejo; a terceira o Algarve; a quarta todo o litoral até á fronteira da Galliza, a quinta as ilhas adjacentes.
Exporei á camara o que dizem os differentes depoimentos sobre questões graves que se referem ao regimen do trabalho, á emigração, ao mercado dos capitaes e ao valor da propriedade.
Os dados recolhidos ácerca d'estes diversos assumptos seriam o bastante, parece-me, para se formar uma idéa nitida do estado em que se encontra o paiz, estado que me parece contrastar de modo gravissimo com aquella que se afigura a muitas pessoas que não olham alem do perimetro da capital."
(Excerto de Apresentação do projecto)
Indice:
Apresentação do projecto | Mappas anexos | Relatorio: I. População e emigração portugueza; II. Possibilidade de aproveitamento dos incultos; III. Fórmas de colonisação; IV. Preferencia de culturas; V. Divisão e fragmentação da propriedade; VI. Os capitaes e a lavoura; VII. Economia hydraulica portuguza; VIII. As legislações florestaes; IX. A caça e a pesca; X. Os proprietarios e a associação; XI. Conclusões. | Projecto de lei: I - Do credito rural; II - Dos consorcios de proprietarios; III - Do arroteamento de terrenos incultos; IV - Do desseccamento de pantanos e salgados; V - Da utilisação de aguas publicas; VI - Da arborisação por utilidade publica; VII - Da caça e pesca; VIII - Da indivisibilidade dos casaes; IX - Disposições diversas.
Joaquim Pedro de Oliveira Martins (1845-1894). "É hoje reconhecido como um dos fundadores da moderna historiografia portuguesa e uma das vozes de maior relevância do pensamento político e social do século XIX. Foi historiador, político e cientista social, cujas obras marcaram sucessivas gerações de leitores e investigadores, influenciando escritores do século XX, como António Sérgio ou Eduardo Lourenço. Abandonou os estudos por dificuldades económicas da família, tendo trabalhado no comércio e mais tarde como diretor de vários projetos empresariais e industriais. Foi deputado em 1883, eleito por Viana do Castelo, e em 1889 pelo círculo do Porto. Em 1892 foi convidado para a pasta da Fazenda, no ministério que se organizou sob a presidência de Dias Ferreira, e em 1893 foi nomeado vice-presidente da Junta do Crédito Público. Elemento animador da Geração de 70, revelou uma notável adaptação às múltiplas correntes de ideias do seu século, tendo colaborado nas principais publicações literárias e científicas de Portugal. A sua vasta obra começou com o romance Febo Moniz, publicado em 1867, e estende-se até 1894, ano em que morreu. Na área das ciências sociais escreveu, por exemplo, Elementos de Antropologia, de 1880, Regime das Riquezas, de 1883, e Tábua de Cronologia, de 1884. Das obras históricas há a destacar História da Civilização Ibérica e História de Portugal, em 1879, O Brasil e as Colónias Portuguesas, de 1880, Os Filhos de D. João I, de 1891, e Portugal Contemporâneo, de 1881. É também necessário destacar a sua História da República Romana. A sua obra suscitou sempre controvérsia e influenciou a vida política portuguesa, mas também historiadores, críticos e literatos do seu tempo e do século XX."
(Fonte: Wook)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos e pequenas cortes marginais.
Raro.
Com interesse histórico.
35€
Reservado

05 maio, 2024

ARRIEGAS, Arthur - A CANÇÃO DA MINHA TERRA - FADOS - Com prefacio do illustre poeta e dramaturgo D. João da Camara. Bibliotheca do «Rei Sagára» - N.2. Lisboa, [Arthur Arriegas (Editor)]. Composição e impressão - C. do Cabra, n.º 7, 1907. In-8.º (16x11 cm) de 63, [1] p. ; [1] f. il. ; B.
1.ª edição.
Rara e curiosa obra de poesia fadista da autoria de Artur Arriegas (1883-1924), músico, jornalista, editor e produtor teatral, conhecido no meio boémio da época por 'Rei Sagára'. Muito valorizado pelo prefácio de D. João da Câmara (1852-1908), romancista e dramaturgo português.
Livro ilustrado com belíssimo desenho na capa (não assinado), e em extra-texto com um retrato do autor.
"Ouve-se uma guitarra.
Ergue-se uma voz cantando um mote.
A guitarra é desafinada, avinhada a voz, mote obsceno. Logo lhe faz a glosa uma estupidez hypocrita, condemnando o fado e a poesia popular.
Uma guitarra esconde-se com pudor; um poeta, que, uma noite, fez uns versos á lua cheia, nega-os, apavorado, como S. Pedro negou a Christo. E, porque n'uma toada de piegueira em tom menor ou em quatro versos de pé quebrado, um dia, coube uma desvergonha, o juiz Acacio, com o falso pudor acceso nas bochechas, condemna musica e redondilhas ás trevas dos bêcos mal afamados.
Ora a verdade é que as canções populares portuguezas se distinguem pelo sentimento, na poesia e na musica, de todas as canções do mundo, talvez unica arte em que conservamos a nossa originalidade.
Teem um cunho especial, inconfundivel, e foram fonte purissima, luminosa, em que beberam grandes lyricos desde Bernardim até João de Deus. [...]
Lindo titulo este: A Canção da Minha Terra! O auctor é de Lisboa; creio que d'aqui não costuma sahir. Não o terão commovido as alvoradas do campo, quando os melros saudam o sol, nem as melancolias do entardecer, quando sobem mansinhas para o céo columnas de fumo em cada lar; mas, á esquina d'uma rua, encontram-se uns olhos bonitos que sorriem, ou uma mãe que, chorando, aperta um filho aos peitos esvasiados. E onde ha risos e lagrimas pode viver a poesia."
(Excerto do Prefacio)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Raro.
Peça de colecção.
45€