24 novembro, 2025

GRANJO, Antonio -
DO POVO A SUA MAGESTADE A RAINHA D. AMELIA
. Villa Real, Imprensa Moderna, 1909. In-8.º (22,5x16 cm) de 12 p. ; B.
1.ª edição.
Raríssimo opúsculo da autoria de António Granjo, figura incontornável do futuro regime republicano, publicado no ano seguinte ao atentado que vitimou em Lisboa o rei D. Carlos e de D. Luís Filipe, o príncipe herdeiro. Trata-se de uma obra poética, por certo com tiragem reduzida, onde Granjo pretende justificar os acontecimentos do Terreiro do Paço, no sentir e nas palavras do povo (e dos regicidas), que no fundo é quem passa a mensagem em verso, e que termina com um aviso à rainha... para recolher a França com o filho que lhe resta, única forma de o não perder também.
Obra de gosto duvidoso, dadas as circunstâncias, que reflete, de certa forma, a aversão à família real e o estado de espírito de larga franja da sociedade civil e militar em vésperas da revolução.

"Senhora!
Não sabeis, certamente, o meu nome.
Chamo-me um dia - Crime, e noutro dia - Fome.
Ás vezes tenho o gesto insolente e brutal
Dum bandido sem lei - sacerdote do mal
Levantando nas mãos em sangue, para o céo,
Transformado em raiva, o beijo que me deu
Minha mãe ao nascer. Mas no fundo, Senhora,
Eu sou um bom christão...

Apenas brilha a aurora
Abro logo o postigo, agarro logo a enxada,
E ponho-me a caminho ao longo d'essa estrada,
Que alguns chamam - a Vida, e outros chamam - o Inferno.
Ai! Senhora!... As manhãs nevoentas d'inverno,
Quando a geada cae e quando a neve cae,
E do peito s'capa o coração n'um ai,
E cá dentro nos roe a idêa tenebrosa
De que Tartuffo dorme um somno côr de rosa
No vosso quarto azul, n'esse encantado paço,
Feito da minha carne, erguido p'lo meu braço!...

... Custa muito, Senhora, abandonar o ninho,
Quente, caricioso e doce como arminho,
E ir campina fóra, envolto na mortalha
Do nevoeiro, atraz d'um osso, uma migalha...
Mas, emfim, que fazer? Senhora, que fazer?
A gaveta vasia... Os filhos e a mulher?!...

Não me conheceis, não...

Eu vivo nas cavernas."

(Excerto do poema)

António Granjo (1881-1921). "Político português nascido a 27 de dezembro de 1881, em Chaves, e falecido a 19 de outubro de 1921, em Lisboa. Tirou o curso de Teologia no Porto, em 1889, e tornou-se bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, em 1907. Ingressou na Maçonaria em 1911. Foi advogado, deputado e administrador do concelho de Chaves. Em 1919 foi viver para Lisboa e participou na revolta de outubro de 1918 e na de janeiro de 1919. A partir deste ano enveredou por uma carreira política, vindo a ocupar o cargo de ministro da Justiça, ao mesmo tempo que exercia a função de diretor do jornal República. Foi ministro do Interior no governo efémero de Francisco Costa, tendo vindo a ocupar em seguida outros cargos políticos, como o de chefe de governo. Faleceu na "noite sangrenta" de 19 de outubro de 1921."
(Fonte: Infopédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, com defeitos; apresenta vinco vertical.
Muito raro.
Com interesse histórico.
Peça de colecção.
85€

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