CASTRO, Americo de - ULTIMOS ANOS DA MONARQUIA (memorias). Porto, Deposito: Livraria Fernandes de J. Pereira da Silva, 1918. In-8.º (19x12 cm) de 172, [4] p. ; E.
1.ª edição.
Memórias do autor relativas aos anos que precederam a República, desde os tempos de estudante, até ao final da Monarquia e os anos que se seguiram.
Edição do autor, por certo com tiragem reduzida.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor na f. rosto.
"Os ultimos anos da monarquia foram de descredito para o país, de veniaga e corrupção da parte chamada intelectual e de miseria para o povo.
Os partidos politicos iam buscar aos bancos das escolas os seus mais fortes sustentaculos.
Coimbra, de madre forte e alentada,arremessava para o mundo politico quasi todos os bachereis.
Uma carta de formatura garantia uma administração do concelho.
Quando um estudante recebia das aristocraticas mãos da sua noiva a adorada pasta bordada a matiz ou a ouro, já tinha na sua terreola aquela benesse que servia para os primeiros anos de aflição.
Não era raro ouvir nos geraes da Universidade empomadados quintanistas referirem-se á sua vida politica futura e á votação que tinham na sua terra.
Ali, de ordinario, o futuro bacharel ou pensava em politica baixa e reles ou nos casamentos ricos.
Uma carta de bacharel era uma carta de alforria. Foi na Universidade, dêsse alcouce de Minerva, onde as consciencias sofriam verdadeiros tratos de polé, que sairam todos os males que nos legou a monarquia e de que tem enfermado a propria Republica. Recebido o grau, a borla de lente tonava-se o apagador do senso comum.
Lá vinha por aí fora o bacharel apelintrado e faminto.
Rodeado de esfaimados como êle, subornava consciencias, dominando as gentes tristes das fabricas e dos campos.
Ele infligia o castigo aos seus inimigos e semeavam o dinheiro do Estado por aqueles que apenas sabiam que as eleições davam a maioria a êste ou áquele, ao progressista ou ao regenerador.
Ele era então o terror e o bom deus."
(Excerto de IV - Fim da Monarquia)
Indice:
Ao leitor | I - Vida Academica no Porto. II - Os estudantes republicanos de Coimbra. III - Organisação revolucionaria dos estudantes republicanos de Coimbra (a sua acção em 28 de Janeiro). IV - Fim da Monarquia. V - Sete anos depois. VI - Post scriptum.
Américo da Silva Castro (1889-?). Natural de Santo Tirso, formado em Direito pela Universidade de Coimbra
em 1908, abriu banca de advogado no Porto. Fixou residência em Vila Nova
de Famalicão desde Dezembro de 1943, exercendo o cargo de Conservador
do Registo Civil, trabalhando em advocacia. No Porto, enquanto estudante
liceal, fundou, com outros, a União Académica. Dele, já Bernardino Machado, num discurso no
Porto, na inauguração do Montepio da Classe Comercial da mesma cidade,
se refere nos seguintes termos: "esperançoso e simpático aluno
da Faculdade de direito da nossa Universidade" (Bernardino Machado, Obras: Política - I, "A Reforma", p. 414). No Porto, foi vereador da Câmara Municipal, Conservador do Registo Civil
no 2.º Bairro, Administrador do Concelho em Matosinhos, Presidente do
Tribunal dos Árbitros Avindores, Presidente da Comissão Administrativa
dos Bens da Igreja, Director do Instituto Industrial do Porto,
Conservador do Registo Civil em Espinho, entre outros cargos. Foi
deputado em 1921 pelo círculo de Santo Tirso e, em 1922, pelo Porto nas
listas do Partido Democrático. Em 1907 escreveu no jornal "O Porvir"
várias crónicas intituladas "Palavras Vermelhas".
Encadernação de amador com rótulo na lombada. Sem capas de brochura. Aparado à cabeça.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
45€


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