06 outubro, 2025

COLLECÇÃO D' EPISTOLAS : Eroticas e Philosophicas
. Paris. Em Casa de J. P. Aillaud, Quai Voltaire, 11. 1834. In-8.º (15,5x9,5 cm) de VIII, 80 p. ; E.
1.ª edição.
Obra composta pela conhecida epistola Pavorosa Illusão de Bocage, aqui impressa pela primeira vez, seguindo-se A voz da razão (em três epístolas) de José Anastácio da Cunha, também ele um "espírito livre", finalizando com a Epistola de Eloisa a Abeilard, versão livre de Colardeau sobre os versos de Pope, traduzida do francês por "J. da F" (José da Fonseca, o editor?), mas atribuída a Bocage por Inocêncio e Maria Luísa Malato Borralho (Borralho, O mito de Abelardo e Heloísa no poesia portuguesa de setecentos, in Revista da Faculdade de Letras «Línguas e Literaturas», Porto, XIX, 2002, pp. 267-286).
Ainda sobre a Pavorosa Illusão, com a devida vénia, reproduzimos excerto do trabalho de Cristina Marinho - Triunfos da Religião e da Natureza: discordia concors, in Leituras de Bocage, UP, 2007.
"Num género de tradição libertina europeia, a Pavorosa, conforme insinuantemente foi também conhecida, superava em divino erotismo muito do mero anticlericalismo bocageano culminando na caricatura do papa como “purpúreo fanfarrão, e papel sacrista”. Na verdade, Bocage aí identificará o Inferno com o “sistema de política opressora” que engendra estrategicamente o engano para manipular a Ignorância, convidando-a a reduzir as “propensões da natureza/ Eternas, imutáveis, necessárias” a “espantosos, voluntários crimes” aos olhos de um Deus opressor e vingativo que não existe, invenção atroz do “sanhudo ministro dos altares” que difunde “a peste do implacável fanatismo”, qual “bárbaro impostor”, instrumento dos “tiranos da terra”.
Edição ilustrada com bonitas capitulares e gravurinhas no texto.
"Sai pela primeira vez á luz publica a belissima epistola Pavorosa Illusão da eternidade do insigne poeta Manoel Maria Barbosa du Bocage, a qual «reforçada das culumnias de seua inimigos, o conduziu a gemer alguns mezes na cadeia de Lisboa, e nos carceres do tribunal da Inquisição, d'onde o redemiu a piedade, e valimento dos marquezes de Ponte-de-Lima, Abrantes, e Pombal, cuja protecção implorou em epistolas, que serão um eterno testimunho de seus talentos, e da sua desgraça.»"
(Excerto de Advertencia)

"Pavorosa illusão da eternidade,
Terror dos vivos, carcere dos mortos,
D'almas vãs sonho vão, chamado inferno;
Systema da politica oppressora,
Freio, que a mão dos déspotas, dos bonzos
Forjou para a boçal credulidade;
Dogma funesto, que o remorso arraigas
Nos ternos corações, e a paz lhe arrancas;
Dogma funesto, detestavel crença
Que envenenas delicias innocentes,
Taes como aqquelas que no ceo se fingem.
Furias, cerastes, dragos, centimanos,
Perpetua escuridão, perpetua chamma;
Incompativeis producções do engano,
Do sempiterno horror terrivel quadro
(Só terrivel aos olhos da ignorancia)
Não, não me assombram tuas negras côres:
Dos homens o pincel e a mão conheço.
Trema de ouvir sacrilego ameaço
Quem de um Deus, quando quer, faz um tyranno.
Trema a superstição; lagrymas, preces,
Votos, suspiros, arquejando espalhe;
Cosa as faces co'a terra, os peitos fira:
Vergonhosa piedade, inutil venia.
"

(Excerto de Pavorosa Illusão)

Encadernação meia de pele com rótulo negro e ferros gravados a ouro na lombada.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Aparentemente falta uma folha no início, "aparentemente", por ser "defeito" comum a outros exemplares, e o texto se encontar completo.
Raro.
85€
Reservado

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