02 setembro, 2018

CARDIA, Dr.ª Amélia - PECADORA : romance psicológico. Lisboa, Casa Editora Gonçalves, 1934. In-8.º (18cm) de X, 269, [1] p. ; [1] f. il. ; E.
1.ª edição.
Ilustrada com um retrato da autora a sépia em separado.
"Para te contentar, meu querido Pedro, darei finalmente a público, já que tanto mo tens pedido, o meu romance «Pedacora», atirado para o fundo da minha gaveta de inéditos, no propósito deliberado de nunca o deixar ver a luz.
Concebido numa época de pretensa independência mental, estultamente declarada (como se qualquer de nós não fôsse um dependente, um escravo do grupo social de que faz parte...) não o julguei consentâneo no seu audacioso realismo, depois de mais acertada ponderação, nem com certas convenções, aliás respeitaveis, duma sociedade que, outrora, pouco se me dava de melindrar, contanto que me sentisse na Verdade, nem com o acordo tácito dos escritores moralistas que se propõem, como eu, na fase evolutiva actual do meu pensamento, enviar para o Éter sideral do Espaço, formas-pensamentos de pureza imaculada, evitando pô-las em contraste com as abjecções e torpezas que na Terra nos obrigam a desviar os olhos turvos de nojo.
Eis porque me não pareceu digno da publicidade o romance «pecadora».
A minha análise psicológica fôra feita nesse romance, mergulhando a fundo num repositório de dejectos nauseabundos, excreções eliminadas por vísceras putrefactas, com o fimm de descobrir fibrilas sãs que ainda pudessem ser encontradas nêsse magma difluente onde os meus tenáculos as extremassem cuidadosamente, na ânsia de verificar se persistiam intactas por entre a podridão que as contaminava, o que me permitiria identificar nelas a mola impulsora do seu dinamismo consciente, , o quid divinum que as vitalisa, essa coisa ignota, oculta nos meandros da natureza humana, por todos apodada de sórdida, vil, desprezível."
(Excerto do prefácio, Carta a Pedro Cardia)
Amélia Cardia (Lisboa, 1855 - Lisboa, 1938). “Médica e escritora. Dedicou-se ao estudo dos clássicos e da filosofia, após o que se formou em Medicina com brilhantes classificações, tendo sido a primeira mulher licenciada em Medicina em Lisboa e a primeira mulher interna nos Hospitais Civis. Fundou uma casa de saúde na Estrela, que abandonou passados oito anos para se dedicar a estudos de filosofia e espiritismo. Pertenceu à Associação das Ciências Médicas e à Federação Espírita Portuguesa. Colaborou assiduamente em diversos jornais e revistas – Ilustração Portuguesa, O Século, Revista de Espiritismo, Diário de Notícias, etc. –, tendo dirigido O Mensageiro Espírita.”
(Fonte: Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990)

Encadernação editorial com dourados gravados a seco e a ouro nas pastas e na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação.
Muito invulgar.

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