24 julho, 2016

CEBOLA, Luís - PSIQUIATRIA SOCIAL. Ilustrações de Adolfo de Almeida, J. Ferreira d'Albuquerque e Stuart Carvalhais. Lisboa, Livraria Central de Gomes de Carvalho, 1931. In-4.º (23,5cm) de 204, [4] p. ; [1] f. il. ; il. ; B.
1.ª edição.
Conjunto de crónicas de "vulgarização scientifica", a maior parte delas, publicadas no Diário de Notícias.
Obra ilustrada com o retrato do autor em extratexto. Muito valorizada pelos belíssimos desenhos que acompanham o texto, alguns em página inteira.
"A guerra que a Alemanha desencadeou em 1914, veio aumentar excessivamente, no mundo inteiro, o número de alienados. Caído na engrenagem bélica, por dever de aliança, secularmente pactuada com a Inglaterra, e por legítimo desejo de conservar as nossas províncias Ultramarinas, Portugal havia de colhêr as boas e as más conseqüências que derivariam dêsse acto de patriotismo e argúcia diplomática. Das segundas é que nos proveio, como às demais nações, a sobrecarga de loucos. [...]
Eu tratei, na Casa de Saúde do Telhal, a maior parte dos loucos que vieram do sector da Flandres e da Africa.
Recordando essa época de assustador acréscimo de perturbações psíquicas, cumpre-nos salientar, aqui, uma nota assás honrosa para o nosso povo. No referido estabelecimento psiquiátrico apenas registei um caso de simulação. Todos os oficiais e praças que ali foram internados, estavam afectados na sua mentalidade.
As determinantes haviam sido múltiplas. O cansaço físico, a nostalgia da Pátria e da família, a disposição congénita para as doenças da psique, a sífilis adormecida, o esgotamento de ordem intelectual e moral e, sobretudo, a emoção fulminante, produzida pelos obuses, deram origem a várias loucuras já conhecidas dos alienistas que não descobriram, em suas aturadas observações e pesquisas, nenhum sindroma revelador duma nova entidade vesânica. Todavia, predominou sempre a psicose emocional com o seu onirismo alucinatório e delirante.
O choque houvera sido tão violento, que, longe do pleiro, sentiam-se ainda envolvidos nas scenas apavorantes da guerra: os assaltos imprevistos às trincheiras, os arremêssos de granadas, a luta titânica de corpo a corpo na «Terra de Ninguém», o ruído enervante dos motores das aeronaves, o ribombo da artilharia pesada, as nuvens rastejantes dos gases tóxicos, o estilhaçar das pontes, o naufrágio dos navios torpedeados pelos submarinos traiçoeiros, o desmoronar das aldeias e cidades, os pesadelos dos sonhos regados de sangue, o silêncio inquietante das noites, a cólera dos prisioneiros, os ais dos feridos e a hecatombe dos mortos."
(excerto de Os loucos da Grande Guerra)
"A crença no regresso daqueles que morreram, ganha milhares de adeptos em todo o mundo. Simultâneamente, cresce o número das sociedades espíritas, caem no mercado livros , opúsculos e jornais em catadupas de propaganda e, com afan, se levantam os templos da nova religião.
Os espíritos, sob condições propícias, reaparecem - falando e escrevendo.
Habitantes das esferas luminosas que giram perpètuamente no espaço incomensurável, descem à Terra, na sagrada missão de aconselhar os vivos e procederem sempre com lisura de carácter e amor fraterno.
Quem duvidará dêles? O seu verbo, depurados das mentiras terrenas, traduz sómente a Verdade.
Acaso irá alguém negar a sua existência imaterial, mas constatada por actos insofismáveis, por realizações tangíveis, por documentos que os retratam?
- Ah! sim, os mortos voltam!"
(excerto de Os mortos voltam?) 
Matérias:
Explicação prévia. Doidos à solta. Um problema médico-social de flagrante actualidade. Proémio. I - Crianças anormais na Escola Primária. II - Os vagabundos. III - Penitenciárias e colónias criminais. IV - Os suicidas. V - Psicópatas no Exército e na Marinha. VI - Os magos das multidões. VII - Consultas pré-nupciais. VIII - Os loucos da Grande Guerra. IX - A ideia política. X - O culto de Vénus. XI - Assistência aos alienados. XII - Os mortos voltam? XIII - Bobos da rua. XIV - Os desvarios da nossa época. XV - Á roda dos tribunais. XVI - Como evitar a loucura? 
Luís Cebola (1876-1967). Médico alienista, natural de Alcochete. "Estudou no Colégio Almeida Garrett, em Aldeia Galega (actual Montijo), onde completou os três primeiros anos do curso liceal, sendo depois transferido para o Liceu Nacional de Évora. De 1895 a 1900, realizou a preparação para os estudos médico-cirúrgicos na Escola Politécnica de Lisboa. Estudou na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa de 1899 a 1906. Em 1906 defendeu a sua tese inaugural, A Mentalidade dos Epilépticos, sob a orientação do Professor Miguel Bombarda no Hospital de Rilhafoles. Luís Cebola foi nomeado director clínico da Casa de Saúde do Telhal (pertencente à Ordem Hospitaleira de São João de Deus), a 2 de Janeiro de 1911, por Afonso Costa em representação do Governo Provisório da República Portuguesa, cargo que desempenhou até 1948. Enquanto director clínico parece ter sido responsável pela introdução e desenvolvimento da ergoterapia ou laborterapia, que visava a recuperação dos pacientes através do trabalho dirigido. E ainda, pela prática de uma psiquiatria social ou comunitária, i.e., uma terapêutica humanitária que visava incentivar a interacção social entre pacientes, médicos, enfermeiros, irmãos e familiares, através da prática de ofícios e de actividades artísticas, lúdicas e desportivas.”
(fonte: wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas manchadas, frágeis, com defeitos. Falha de papel no terço superior da lombada.
Invulgar.
Indisponível

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