19 julho, 2016

MAGANÃO, João - A MULHER QUEIMADA VIVA POR TER O DIABO NO CORPO. MARIA DO SOL (A sua tragédia). Lisboa, Pedidos a Manoel Rodrigues - [s.n. - Comp. e imp. na Imprensa Lucas & C.ª, Lisboa], 1933. In-8.º (19,5cm) de 8 p. (inc. capas) ; B.
1.ª edição.
Curioso folheto de cordel escrito em verso a duas colunas.
Tratam-se de duas histórias distintas:
A primeira história - A mulher queimada viva por ter o diabo no corpo - refere-se a um episódio real ocorrido em Soalhães, freguesia de Marco de Canaveses, em 1933, cujo processo consta no site do Tribunal da Relação do Porto, que reproduzimos com a devida vénia.
"Processo de Soalhães - Marco de Canavezes. Em processo de querela com o n.º 41/33, da comarca do Marco de Canaveses, iniciado em 27 de Fevereiro de 1933, julgaram-se quatro indivíduos por co-autoria do crime de homicídio voluntário. Foram condenados, por acórdão de 30 de Maio de 1934 do Tribunal Colectivo daquela Comarca, na pena de 6 anos de prisão maior celular, seguida de degredo por 10, ou alternativa fixa de degredo por 20 anos, em possessão de 1ª classe. Mais se condenaram a pagar a indemnização de 6.000$00 aos filhos da vítima, Arminda de Jesus. A pena foi confirmada por acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 13 de Maio de 1934.
Motivação: um cunhado amigo da vítima e várias outras pessoas juntaram-se em casa de uma mulher possuída por duas almas, uma boa e outra má, como sapientemente diagnosticara uma mulher de virtude de Vila Nova de Gaia. O referido cunhado da vítima havia beneficiado, pouco antes, de dois empréstimos concedidos por esta, um de 100$00 e outro de 90$00, sem juros e sem prazo de pagamento, não tendo ainda sido devolvido o dinheiro aquando dos acontecimentos ocorridos na noite de Sábado, 25, para 26 daquele mês de Fevereiro. Propuseram-se aqueles orar, com base no Livro de S. Cipriano, comprado, pouco tempo antes, em Penafiel, por 17 mil reis. Já haviam feito o mesmo na noite anterior, para esconjuro da alma má. Em certa altura, a possuída disse para um casal circunstante se deitar no chão, se acaso pretendiam salvar-se, o que eles fizeram. Chegando, nesse momento, a vítima Arminda também se deitou, começando esta, desde logo, em altos gritos, de mãos erguidas para o ar e a bater palmas, dizendo logo a possessa para a porem na rua e lhe baterem, pois, obviamente, trazia o diabo dentro dela. Foi prontamente obedecida e agredida à paulada e sacholada. Como, apesar disso, se não calava, mesmo já com ossos quebrados, a mesma instigadora mandou que a queimassem. Juntaram, então, caruma de pinheiro e deitam-lhe persistentemente o fogo, acabando este por pegar com a utilização de um isqueiro. À medida que a caruma ardia e a vítima esturrava, os circunstantes foram ajeitando, com diligente cuidado, o combustível. Consumada a queima, perante o estático torresmo, retiraram-se para casa da mandante, recolhidos em esperançosa oração, até alta madrugada, para que a vítima ressuscitasse (sancta simplicitas!). Como tal não se verificou, certamente já inquietos, os algozes foram para suas casas onde se mantiveram até que foram presos.
O drama foi objecto de um filme e de uma peça teatral, "O Crime da aldeia Velha", esta da autoria de Bernardo Santareno."

(Fonte: www.trp.pt/historia/87-processoshistoricos.html)

"Veio a lume nos jornaes
Que um bando de canibaes,
N'uma aldeia distante;
Tinha praticado um crime,
cuja crueldade esprime
Um cinismo horripilante!

Deu-se o caso em Soalhães,
Quatro homens - quatro cães,
Peor's que os pretos de tanga -
Assaram numa fogueira
Uma pobre lavradeira,
Como se fosse uma franga!"

(excerto do texto)

A segunda história - Maria do Sol (A sua tragédia contada em versos simples) - refere-se igualmente a um episódio verídico, sucedido em Sangalhos - na época, "uma linda aldeia". Maria do Sol, caluniada por um pretendente, espera-o, e mata-o a tiros de caçadeira. É condenada a dois anos de prisão. Posteriormente muda-se com o marido para Espinho onde passa a residir.

"Em Sangalhos, linda aldeia,
Uma camponia vivia
Na doce paz do seu lar,
Gosando pura alegria.

Era a Maria do Sol,
Moça de porte formoso;
E professava um amor
Puro e santo pelo esposo.

Mas era o seu lar modesto
Constantemente rondado,
Por outro homem que estava
Da Maria enamorado

Sem que lhe importasse o esposo
Fez-lhe propostas d'amor;
Mas ela repeliu sempre
Os gestos do sedutor."

(excerto do texto)

Exemplar em brochura, frágil, em bom estado geral de conservação. Com defeitos nos cantos e nas margens.
Raro.
Indisponível

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