CIDADE, Hernani - ZARA (Tempos de D. Dinis). Um acto em verso, representado pela primeira vez em Leiria, em récita a favor do cofre da Liga dos Amigos do Castelo, a 10 de dezembro de 1915. Leiria, Tip. Leiriense, 1916. In-4.º (23,5x14,5 cm. Com [2], 22, [4] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Peça de teatro histórica cuja acção decorre na zona de Leiria. Trata-se, julgamos, do primeiro trabalho do autor, publicado pouco antes de seguir para a Flandres, França, onde combateu integrado nas forças do CEP.
Inclui no final, em página inteira, partitura da música expressamente composta para a peça por José Zúquete.
Exemplar impresso em papel encorpado, muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor.
"Tempos de D. Dinis.
Episódio da paisagem dos arredores de Leiria. Ao fundo, o Castelo, elegante e novo, recortando a distância, na penumbra que desce, o perfil épico e trovadoresco. Á E. uma casa de campo, alpender e escada exterior.
O velho mouro lê o Alcorão, enquanto a filha, dentro de casa, canta:
Fermosas flores do verde pinho,
que novas dais do meu amigo?
Ai, Deus, u é?
Minha alma alegra o seu carinho,
morre de frio sem seu abrigo,
Ai, Deus, u é?"
(Excerto da Peça)
Hernâni António Cidade (Redondo, 1887 - Évora, 1975). "Professor no Liceu Passos Manuel em regime
provisório, em 1914 é já efetivo do Liceu de Leiria. Em prol da Liga
dos Amigos do Castelo escreve os versos da peça em um ato Zara (Tempos de D. Dinis)
(1916), representada em 1915, o que serve para ilustrar o “idealismo
construtivo” que sempre pôs nos assuntos coletivos. Na Primeira Guerra,
incorporado no Corpo Expedicionário Português, comanda com bravura e
humanidade um pelotão na Flandres. Debaixo de fogo, vai à zona alemã
resgatar feridos portugueses e recolhe na “terra de ninguém” ferido
alemão moribundo. Condecorado com a Cruz de Guerra, feito prisioneiro
na Batalha de La Lys, em 1918, aproveita para desenvolver o
conhecimento da língua alemã e vai divulgando a literatura portuguesa
entre estrangeiros e compatriotas. Em 1956 haveria de ser agraciado
pela França com a Legião de Honra.
Regressado, em 1919 entra para o
corpo docente da recém-fundada Faculdade de Letras do Porto, contratado
para o grupo de Filologia Românica. Terá a seu cargo cadeiras de
literatura — portuguesa, francesa, italiana — e de «linguística» —
Filologia românica, Gramática comparada das línguas românicas,
Filologia portuguesa. Chega a catedrático, mas a Faculdade de Letras do
Porto é extinta em 1928. Até ao encerramento efetivo da mítica
faculdade, ensina também no Liceu Rodrigues de Freitas. Nesta década
portuense publica bastante na Águia e estreita laços com colegas com quem mais tarde haveria de colaborar na História de Portugal dita de Barcelos ou na menos ambiciosa História de Portugal
da Lello, de cujo quarto volume se encarregou. E decerto se refletiu na
maneira de conceber o ensino a proximidade entre professores e alunos
marca da faculdade ideada por Leonardo Coimbra.
Em 1930 integrará o grupo de
professores da Faculdade de Letras de Lisboa, apresentando-se a concurso
para a cátedra com a dissertação a A obra poética do Dr. José Anastácio da Cunha — com um estudo sôbre o anglo-germanismo nos proto-românticos portugueses (1930) e a lição, «à escolha», Fernão Lopes é ou não o autor da “Crónica do Condestabre”? (1931). Colabora com a Seara Nova, por 1934, e com Joaquim de Carvalho e Mário de Azevedo Gomes dirige o Diário Liberal
(1934-1935). Conotado com a oposição ao Estado Novo, mesmo se não o
caracterizavam as atitudes mais sonoras e se, à época, já se ia
afastando da luta contra a implantação do regime, em 1935 o seu nome
constaria da conhecida lista de professores a serem exonerados,
valendo-lhe o ora colega germanista ora ministro germanófilo Gustavo
Cordeiro Ramos, que fora seu contemporâneo em Évora. Estudantes e
alguns colegas desagravam-no na Homenagem aos Professores Mário de Azevedo Gomes, Hernâni Cidade, Joaquim de Carvalho (1935), onde os alunos de Letras o epitetam como “o mais amado e o mais respeitado dos mestres”."
(Fonte: https://dichp.bnportugal.gov.pt/historiadores/historiadores_hernani_cidade2.htm)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação.
Raro.
25€


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