ACACIO, Abel - LYRA INSUBMISSA (1874-1883). Porto, Livraria Civilisação de Eduardo da Costa Santos - Editor, MDCCCLXXXV [1885]. In-8.º (19,5x12,5 cm) de 186, [6] p. ; E.
1.ª edição.
Coletânea de poesias compostas entre 1874 e 1883. Trata-se da edição original da primeira obra do autor, o conhecido Abel Botelho, que assinou as primeiras obras com os seus nomes próprios - Abel Acácio.
"Não se pretenda enxergar nos versos, que seguem, o minimo vislumbre da adopção de qualquer eschola litteraria. Foi a factura d'elles ordenada ao sabor de spontaneas escorrencias da alma e do esirito; nunca pautada friamente polas exigencias disciplinares de um ou outro modo de escrever.
Elaborados com parcimonia durante o dilatado periodo, que transcorre dos ingenuos verdores da mocidade até á completa madureza da intelligencia; concebidos e metrificados a largo trecho por entre as escassas horas feriadas d'uma epocha de estudo e de preparação para o ingresso na vida social, - derivaram naturalmente os primeiros d'essa cariciosa e vaga exaltação indefinivel, em que gostosas se perdem as almas noveis, a colher-lhe da essencia immaculada finissimos thesouros da candura, de crenças, de amor: ao passo que os ultimos se resentem do influxo de uma certa absorpção scientifica, manso e manso realisada, e da sua textura mais firme, poderosa e characteristica deixam talvez ressumbrar a individualidade, sem duvida insignificante, de quem os fez."
(Excerto do Preambulo)
"Se mais ampla, febril, mais rija fôra,
Retumbante, feroz, ameaçadora,
E fizesse a minha voz
A Terra estremecer, humilde e mansa,
Como ao sopro gentil de meiga creança
Treme uma casca de noz;
Se do granito a escura forma austera,
Do relampago a luz, que o terror gera,
Tivessem os versos meus;
Se eu podesse dispor da Magestade,
Do infinito poder com que nos hade
Esmagar a mão de Deus;
N'essa impudica face, em ira acceso,
Cuspiria um escarro de desprezo,
Ó monstros sem coração!
Ó machinas servis, almas corruptas,
Sensuaes, depravadas, dissolutas,
Abysmos de podridão;
Que no intimo contacto amoroso
Transmittis as doenças com o goso,
- Torpes mulheres venaes, -
E leprosas, roidas de grangrena,
Ides contar a vossa vida obscena
Á enxerga dos hospitaes!"
(Excerto de Torpezas)
Abel Acácio de Almeida Botelho (1856-19174). "Nasceu em Tabuaço. Diplomata, Ministro de
Portugal desde 1911 em Buenos Aires, morreu na capital argentina.
Estudou entre 1867 e 1872 no Real Colégio Militar, de onde saiu com o
posto de aspirante, tendo ingressado na Escola Politécnica sem abandonar
a carreira das armas, onde atingiu o posto de coronel que lhe valeu a
chefia do Estado-Maior da 1.ª Divisão Militar em 1906. Foi deputado pela
República e senador. Ocupou vários cargos em organismos da sociedade
civil, Academia de Ciências e a Sociedade de Geografia entre outras.
Colaborador em diversos periódicos (O Século, O Repórter – do qual foi diretor –, O Ocidente, Serões, Brasil-Portugal, Atlântida, etc.), enquanto crítico literário expôs as suas ideias artísticas no jornal O Dia.
Estreou-se nas letras com o nome Abel Acácio com um volume de poesia, Lira Insubmissa
(1885), ao qual se seguiram peças de teatro, sobretudo comédias,
representadas nos teatros de Lisboa. Destas, causaram polémica e
escândalo Vencidos da Vida (1892, proibido pelas autoridades por ofender a moral pública) e A Imaculável (1897, motivo de tumultos no Teatro de D. Maria).
A partir do Ultimatum a sua produção, a par da escrita de contos rurais, reunidos no volume Mulheres da Beira
(1898), desenvolve-se no projeto romanesco «Patologia Social», onde
pretendeu retratar os vícios da sociedade portuguesa, sobretudo a
lisboeta, através dos métodos experimentais do Naturalismo; dependente
das finalidades do método, a criação artística de Abel Botelho
submeteu-se às largas descrições paisagísticas e às características
fisiológicas, ortodoxamente realistas, mórbidas ou grotescas, das suas
personagens. Interessavam-lhe sobretudo as aberrações morais, rejeitando
figuras que em si reunissem as “faculdades de sentimento, de pensamento
e de ação” por aglutinarem as qualidades do “tipo fisiológico banal,
sem interesse” literário. Dedicava-se preferencialmente ao estudo de
carateres representativos do desequilíbrio resultante do “predomínio (…)
de qualquer dessas faculdades”, traduzido em “aberrações e anomalismos
patológicos” ("Prólogo da segunda edição" [1878] a O Barão de Lavos, apud Maria Aparecida Ribeiro, História Crítica da Literatura Portuguesa. Volume VI. Realismo e Naturalismo. 2ª ed. Lisboa: Verbo, 2000, p. 284).
Centrado na história de Sebastião de Castro e Noronha, O Barão de Lavos (1891), da série Patologia Social,
é considerado o primeiro romance português a versar o tema da
homossexualidade masculina; a série continua com o relato da obsessão de
um homem (Mário) por uma prostituta em O livro de Alda (1898) e deriva depois para as lutas da classe proletária nos bairros operários de Lisboa em Amanhã! (1901). Isabel Penalva torna-se o exemplo da adúltera numa classe social contundida pela corrupção sexual em Fatal Dilema (1907); na véspera da implantação da República, descreve-se a decadência do regime monárquico em Próspero Fortuna (1910), romance onde são revelados os métodos utilizados pelo protagonista para a sua ascensão política.
Abel Botelho oscila entre épocas
literárias, recebendo influências idealistas, mas fixando-se sobretudo
num Naturalismo que apresenta traços decadentistas revelados em mortes
recorrentes por assassinato, suicídio ou total degradação física e
moral. No entanto, no número de 26 de setembro de 1900 d’A Paródia, de Rafael Bordalo Pinheiro, a caricatura do funeral de Eça de Queirós indica Abel Botelho como o sucessor do defunto na cátedra naturalista, pondo-se-lhe ao peito uma placa onde se lê «Eça»."
(Fonte: http://dp.uc.pt/conteudos/corpus-de-ficcionistas-a-a-z/item/29-botelho-abel)
Bonita encadernação meua de pele, recente, com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura
Exemplar em bom estado de conservação. Aparado à cabeça. Páginas com acidez.
Muito Raro.
120€


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