19 dezembro, 2024

ZINÃO, Francisco Pires -
POESIAS DE FRANCISCO PIRES ZINÃO,
Escolhidas entre as mais interessantes que elle tem feito, CONTENDO A VIDA E MORTE DO MESMO. Valença: 1857. Typographia do Jornal - A Razão. In-8.º (14x10 cm) de 74 p. ; B.
Conjunto de poesias de Pires Zinão impressas em Valença. Trata-se de uma das edições oitocentistas, a segunda julgamos - primeira póstuma, deste conhecido - patusco, brejeiro e desbragado - poeta vianense, incluindo a presente um apontamento biográfico em verso jocoso por ele mesmo.

"Quem tal souber e cuidar,
É para chorar e sentir,
E tambem caso de rir,
Sentindo o seu pesar:
Não posso acreditar,
Que o corpo de meu Jesus
O pozesse certo chapuz
No regaço d'uma mulher!...
Faz-se na Silva o que quer
No descimento da Cruz.

Tremo, estou admirado
Pelo que tenho ouvido,
Pilatos, ainda vivo,
Estar na Silva conservado!!
Este tyranno malvado
Contra si deitou o laço,
Atou a corda ao cachaço
Este perverso traidor,
Escrevendo contra o Senhor
Com todo o desembaraço.

Estar na Silva a Mãi de Deos
Com Pilatos, ambos vivos,
Sem ter estes carcomidos
A carne e ossos, como os meus!
Olhem que dous Pharizeus
Aquella terra produz!
De noite dança o lapuz,
De dia Mãi do Senhor!...
Foi este caso aterrador
Na Silva dado á luz."

(Excerto de Ao descimento da Cruz, que se fez na freguezia da Silva em 1850)

"Fui nascido em Carreço,
No districto de Vianna,
Fui traste de grande fama
Mas de bem pequeno preço:
Depois de velho conheço
O mal que hei commettido
Porém hoje arrependido
De todo o meu coração,
Peço-nos, Senhor, perdão
De tanto vos ter offendido."

(Excerto de Nas seguinte decimas conta o Auctor a sua vida, fazendo scientes os leitores de algumas maganeiras por elle praticadas, e de que se mostra arrependido)

Francisco Pires Zinão (1786-1856). "Poeta, natural de Viana do Castelo, nasceu a 20-11-1786, e faleceu a 30-10-1856. Pertenceu a um agregado familiar de doze irmãos, sendo ele o terceiro, o que era bastante elevado e difícil para aquela época. Do seu matrimónio nasceram, pelo menos, sete filhos: João (Paulinho?), em 1827, Margarida Rosa, em 1829, Timóteo, em 1833, Inácia Maria, em 1838, Joaquina, em 1841, e Francisca, em 1843. Maria, emigra para o Brasil, onde faz poesias, publicando-as.
Figura boémia e gracejadora de “Zinão”, que ficou na memória dos mais idosos, aparece-nos tão distante e embrumada pela passagem dos anos, que mais nos parece uma figura lendária que se recorda vagamente. Na província minhota, cujas belezas naturais são uma realidade, ainda hoje aparece numa velha prateleira, à mistura com alfarrábios ou numa frondosa biblioteca, o livrinho das poesias do “Zinão”. O poeta em causa, que era quase analfabeto, pedia a José Joaquim Areal, pessoa de sua íntima confiança, também da freguesia de Campos, para lhe manuscrever os versos de sua autoria, para efeito de publicação, que finalmente levou a cabo! Teixeira Pinto, diz ser um mariola da sua igualha, Bento Arezes, a quem ditava as suas poesias para este escrever. Durante muito tempo “Zinão” frequentou a casa da família Areal, dedicando uma quadra a Joana Rosa de Faria, esposa do citado José Areal: “Ó minha Joana Rosa / Tu não te deixes morrer / Porque quem morre logo esquece / Mas tu não me hás-de esquecer.”. As suas poesias eram reflexo da incoerência e desorientação de uma época nefasta e severa que ficou na história. Há nelas maledicência crítica a par de uma adorável pureza de boas e más intenções!
Destituídos de valor poético os versos de “Zinão”? Segundo o “Dicionário de Inocêncio”, sem dúvida, menos que medíocres, pois classificou-os de «desconchavos poéticos». De notar que o poeta-criador lia com dificuldade, soletrando, mas não sabia escrever. Diz-nos também Teixeira Pinto, numa das suas obras literárias, das Edições D.N. n.º 4, de 1958:
Reconheça-se, no entanto, que os seus versos, pecos como eram, bondavam para satisfazer as froixas exigências literárias de um povo que se quedara, obscuramente, à margem do abêcê. Integram-se nos domínios vastos dessa «literatura menor», arte menina que desambiciona e até dispensa os oiros e os fastígios da sua irmã maior, prosapiosa. Apraz-lhe, Deus sabe, a simples condição de gata borralheira…”. Um dos poemas mais apreciados através dos tempos, é aquele que teve como cenário, no ano de 1815, a prisão do forte de S. Julião da Barra, em Viana do Castelo, onde “Zinão” cumpriu uma pena de dois anos, por ter desertado da vida militar. Tudo o que antes se diz é mais que suficiente para que as edições das poesias populares do “Zinão”, fossem numerosas, a primeira das quais apareceu no ano de 1854, seguindo-se-lhe outras, para além de algumas que não consta o ano, nos anos de 1857, 1862, 1863, 1864, 1876, 1880 e 1907. Em 1928 a obra era reeditada, seguida de mais três edições, integradas nos folhetos-de-cordel, publicados por José de Almeida Jorge, da cidade do Porto."
(Fonte: https://ruascomhistoria.wordpress.com/2023/11/23/quem-foi-quem-na-toponimia-de-vila-nova-de-cerveira/)
Exemplar brochado protegido por capas improvisadas de cartão com o título e autor manuscritos na capa frontal.. Em bom estado geral de conservação. Corte das folhas irregular com pequenas falhas.
Raro.
Peça de colecção.
Indisponível

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