1.ª edição.
Raríssima
edição original deste livro de poemas "em que ecoam traços
orientalistas". Primeira obra do autor, publicada quando contava apenas
22 anos de idade.
Em Notas, na parte final do livro, Soromenho "explica" alguns versos: "Depois
de escriptos e impressos esses poucos versos que ahi ficam, intendi
dever acompanhar varios d'elles com notas explicativas, porque, na
verdade, em alguns ha um tanto de enigmatico e obscuro. Ahi vão, pois,
as que julguei necessarias. O numero romano corresponde a uma poesia com
egual numero."
Quem canta seu mal espanta;
Quem chora seu mal augmenta;
E eu canto para espalhar
Uma dôr que me-atormenta!
"Que horrivel noite! O vento, a chuva, tudo
Contra mim se-conspira!
Trevas no céu, e trevas sobre a terra;
Em volta de mim trevas!
Apenas vejo alem uma luzinha,
Contra mim se-conspira!
Trevas no céu, e trevas sobre a terra;
Em volta de mim trevas!
Apenas vejo alem uma luzinha,
Signal mysterioso,
Que me-faz ir chuchar um aguaceiro
A troco d'um bilhete
Perfumado d'almiscar! – Triste coisa
É andar enamorado!
Eu quando penso no que tenho feito,
Por causa das mulheres,
Pasmo! E a luz? Sumiu-se! Era o correio
Que vae para a Amarante!"
Que me-faz ir chuchar um aguaceiro
A troco d'um bilhete
Perfumado d'almiscar! – Triste coisa
É andar enamorado!
Eu quando penso no que tenho feito,
Por causa das mulheres,
Pasmo! E a luz? Sumiu-se! Era o correio
Que vae para a Amarante!"
(XLV.)
"Eu estava, hontem de tarde, a ler o Fausto,
Deitado n'um sofá,
Quando senti abrir-se a porta e, rindo,
Entrar o diabo. "Olá!
"Por aqui, é milagre!" – Mal tu sabes
O que eu venho pedir. –
"Não; decerto. Vejamos." – É uma Biblia. –
E desatou a rir...
"Uma Biblia?!" disse eu. – E então, que pensas?
Não serei eu capaz
De a-lêr? Não póde haver um litterato
Chamado Satanaz? –
Deitado n'um sofá,
Quando senti abrir-se a porta e, rindo,
Entrar o diabo. "Olá!
"Por aqui, é milagre!" – Mal tu sabes
O que eu venho pedir. –
"Não; decerto. Vejamos." – É uma Biblia. –
E desatou a rir...
"Uma Biblia?!" disse eu. – E então, que pensas?
Não serei eu capaz
De a-lêr? Não póde haver um litterato
Chamado Satanaz? –
"Póde. Ahi tens... Mas que buscas"? – Eu t'o-digo:
Estive, ha pouco, a lêr
O Paraizo de Milton, e ha lá historias
Que eu não posso saber
Onde-as fosse buscar. Conta lá coisas
De mim, que nem eu sei;
E venho vêr então se n'esta Biblia
Acaso as-acharei. –
"Duvido” – E tu que lês? – "O Fausto." – O Goethe!
Esse foi mais ratão.
Ao menos, teve graça. O Mephistóphles
É um grande maganão.
O Fausto é que era um parvo. – "Assim ha muitos!"
– E tu também o-és. –
"Obrigado." – E assentou-se folheando
Estive, ha pouco, a lêr
O Paraizo de Milton, e ha lá historias
Que eu não posso saber
Onde-as fosse buscar. Conta lá coisas
De mim, que nem eu sei;
E venho vêr então se n'esta Biblia
Acaso as-acharei. –
"Duvido” – E tu que lês? – "O Fausto." – O Goethe!
Esse foi mais ratão.
Ao menos, teve graça. O Mephistóphles
É um grande maganão.
O Fausto é que era um parvo. – "Assim ha muitos!"
– E tu também o-és. –
"Obrigado." – E assentou-se folheando
Os Livros de Moisés.
Passado tempo, volto-me, e, que vejo!
Deitado sobre o chão
O bom do Satanaz, que adormecêra
O bom do Satanaz, que adormecêra
A lêr o Salomão!..."
(CVI.)
Augusto Pereira Soromenho
(Apresentação, Aveiro, 1833 - Lisboa, 1878). "Mais conhecido por
Augusto Soromenho, foi um professor, filólogo e escritor português.
Adotou também o pseudónimo Abd-Allah e usou os nomes Augusto Pereira do
Vabo e Anhaya Gallego Soromenho e os de Castro e Pedegache, afirmando
que descendia de famílias nobres de Castela e do Algarve. Inocêncio
Francisco da Silva lista o nome como Seromenho, grafia que o próprio não
terá usado. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de
Lisboa e seu bibliotecário.
Considerado de génio volúvel e altivo, Camilo Castelo Branco, no 2.º volume do seu Cancioneiro Alegre, afirma que nunca
viu ninguém com tantas artes para ganhar inimigos e que sacrificava os
seus benfeitores àquilo a que a sua consciência chamava Justiça.
O mesmo escritor afirma que o conhecera ainda muito novo e infeliz, ao
que parece, sem protecção nem meios para se vestir e sustentar.
A
incapacidade de manter relacionamentos dificultou-lhe sobremaneira a
vida, por tinha poucos recursos, não os podendo obter da família, já que
o pais, ao tempo director da alfândega de Vila do Conde, pouco o podia
ajudar já que o emprego não seria muito rendoso.
Em 1855, com 22 anos de idade, publicou no Porto a sua primeira monografia, o volume de poesia intitulado Diwan, obra presentemente rara dada a escassa tiragem da edição.
Também
por volta de 1855 obteve um modesto emprego na Biblioteca do Porto,
onde durante os anos imediatos se dedicou ao estudo da história de
Portugal e de arqueologia. Dos seus estudo resultou a publicação de
numerosos artigos avulsos em diversos periódicos, que complementava com
artigos de crítica literária. Entre estes últimos artigo dedicou alguns a
acusações de plagiato, de que resultaram azedas polémicas.
Em
inícios de 1858 conheceu Alexandre Herculano, que ao visitar a cidade
do Porto o encontrou e ficou impressionado com os seus conhecimentos dos
clássicos e da língua portuguesa, reconhecendo nele um mancebo de muito talento, muito estudioso e já então muito erudito.
Desse encontro resultou ser convidado por Herculano para se transferir
para Lisboa e passar a colaborar nos seus trabalhos de história de
Portugal. Aceitou e a partir de meados de 1858 passou a trabalhar na
biblioteca da Academia Real das Ciências de Lisboa.
Augusto Soromenho foi um dos conferencistas das Conferências do Casino, nas quais a 6 de Junho de 1871 dissertou sobre A Literatura Portuguesa Contemporânea. Antes dele falara Antero de Quental e depois Eça de Queirós e Adolfo Coelho.
Foi
feito sócio correspondente da Academia Real de Ciências e bibliotecário
da mesma Academia, tendo nestas funções sucedido a Alexandre Herculano
na coordenação da obra Portugaliæ Monumenta Historica. Apesar
disso, e seguindo o seu padrão de relacionamento difícil, acabou por
cortar relações com o seu antigo protector Alexandre Herculano, que em
retaliação lhe cortou o acesso ao acervo da Torre do Tombo. Também no
que respeita à Academia das Ciências, após múltiplas disputas,
especialmente depois de uma grave pendência com o matemático Daniel
Augusto da Silva, foi obrigado a demitir-se de sócio para evitar a
expulsão.
Augusto Soromenho faleceu em 9 de Janeiro de 1878, vítima de tuberculose pulmonar. A revista literária O Ocidente
publicou uma pequena biografia e o seu retrato. Deixou uma vasta obra
em prosa e verso dispersas por múltiplos periódicos e inéditos muitos
manuscritos."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar
brochado em bom estado geral de conservação. Cansado. Capas frágeis, com defeitos.
Raro.
Indisponível
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