GRAVE, João - PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA QUINHENTISTA : um soneto inédito de Camões? Por... Academia das Sciências de Lisboa. Separata do «Boletim da Segunda Classe» volume XI. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1918. In-4.º (23x14,5 cm) de 10, [2] p. ; B.
1.ª edição independente.
Interessante subsídio camoniano relacionado com o naufrágio do vate português junto à costa do reino do Sião, tragédia que resultou na morte de Dinamene, moça chinesa que o acompanhava, mas tendo salvo o manuscrito d'Os Lusíadas.
Exemplar valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao Vereador do Pelouro da Biblioteca da Câmara Municipal do Porto.
"O sr. José Maria Augusto da Costa, funcionário muito competente e sabedor da Biblioteca Pública Municipal do Pôrto, carecendo de consultar, recentemente, um manuscripto arquivado nas colecções da mesma Biblioteca, intitulado Decada oitava de Diogo do Couto, (e que é o tomo XII duma séria) para resolver determinadas dúvidas que surgiram no seu espírito ao desempenhar um trabalho que lhe fôra confiado, encontrou no livro v da referida Decada - que tem por epígrafe: «Do que suçedeo a D. Antão de Noronha na Viagem; e de como faleceo e do que suçedeo as Naos de sua Companhia atee o Reyno» - uma passagem que alvoraçadamente o interessou, porque nela se esclarecia certo assunto quási obscuro e, apesar disso, da mais alta importância para a nossa literatura quinhentista, especialmente para a história do maior épico portuguez de todas as idades: - Luís de Camões. Dizia, com efeito, esse manuscripto, na grafia que textualmente reproduzo: - «Aqui em Mocambique achamos aquelle principe dos Poetas dos nossos tempos, Luiz de Camões, de quem fui especial amigo, e contemporaneo nos estudos em Portugal, e na India matalotes muytos tempos de casa e mesa, o qual tinha do aquella fortaleza em companhia de Pe. Barreto Rolim, quando foi entrar naquella Capitania, por que desejou elle de lhe faser bem e o por em estado de se poder ir para o Reyno por estar muito pobre, porque da Viagem que fez a China por Provedor dos defuntos que lhe o Governador fran.co Barreto deu Vindo de lá se foi perder na Costa de Sião, onde se saluarão todos despidos e o Camões por dita escapou com as suas Lusiadas como elle diz nellas e aly se lhe afogou hua moca China que trasia m.to fermosa com q. vinha embarcado e muyto obrigado, e em terra fez sonetos a sua morte em que entrou aquelle q. diz:
Alma minha gentil que te partiste
Tam cedo desta vida descontent,
repousa tu no ceu eternamente
e viva eu que na terra sempre triste.
«A esta chama elle em suas obras dignam.te, em suas obras dinamente. Aly fez tambem aquella grave e docta Canção q. começa:
Sobre os rios que vão
Por Babilonia me achei;
Aly asentado chorey
alemb rando-me Sião
e quanto nelle passei.
O que tudo anda impresso no Livro de seus sonetos...».
O alvorôço que a descoberta produziu explica-se claramente, porque até há poucos anos considerava-se que o admirável soneto «Alma minha» havia sido consagrado â morte de Natercia, a mulher que o lirico genial perdidamente amou."
(Excerto do Ensaio)
João José Grave (1872-1934). "Foi um escritor e jornalista português. Autor de obras de
ficção, crónica, ensaio e poesia. Como jornalista chefiou a redacção do
Diário da Tarde e colaborou nos jornais Província, Século e Diário de Notícias
e em vários órgãos da imprensa brasileira. Foi director da Biblioteca
Municipal do Porto e dirigiu o dicionário enciclopédico Lello Universal.
A nível literário, esteve inicialmente próximo dos naturalistas,
notando-se influências de Emílio Zola. Depois enveredou pelo romance de
costumes."
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Cansado. Capas frágeis com defeitos, algo manchadas.
Muito invulgar.
15€
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