CAMARA, João da - EL-REI : romance original. De... Lisboa, Empreza Editora Mello d'Azevedo & C.ta - Typographia do «Comercio de Portugal», 1894. In-8.º (22x14 cm) de 301, [1] p. ; [4] f. il. ; E.
1.ª edição.
Romance histórico cuja acção ocorre durante a crise de sucessão ao trono português após a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir.
Ilustrado com quatro belíssimas estampas intercaladas no texto assinadas F. Villaça (des.) e D. Netto (grav.).
"Acabára-se tudo.
E nos olhos verdes de Martha marejavam lagrimas saudosas d'um sonho desfeito em luto.
O povo apinhava-se nas ruas esperando a passagem do Cardela que ia ser acclamado. Nas janellas fulgia o oiro das colchas bordadas e as damas vestiam fatos de gala: o povo preparava-se para gritar: - «Real, real, real, pelo serenissimo principe D. Henrique, rei de Portugal!» Era a manhã de vinte e nove de agosto; manhã de verão, céu ardente, azul purissimo. Os pardaes em revoadas alegres vão pousar nas altas torres d'onde mais tarde em debandada hão de fugir ao repique alegre dos sinos. E Martha chorava e era para todos um dia de luto aquelle.
Acabára-se tudo? Talvez não. Nem que os seus olhos o houvessem visto barbaramente mutilado, apodrecido ao sol africano no areal ardentissimo, nem que as suas mãos tremulas houvessem lançado na cova os primeiros punhados de terra sobre o cadaver, nem que ella mesmo houvesso soluçado o amen ultimo requiescat, lhe seria possivel acreditar que o peloiro d'um pero, peloiro estupido, perro infiel, pudesse desfazer em nada tanto castello sonhado, tanta mocidade, tanta vida!
Havia treze dias que o Cardeal chegára d'Alcobaça. Até então o desbarate era um boato apenas sobresaltando as almas, encanecendo as frontes, deixando ainda nos corações uma esperança. Mas o boato confirmou-se. D. ebastião dera batalha em Alcacer-Kibir. A carta de Belchior do Amaral trazia a nova da morte d'El-Rei."
(Excerto de I - A acclamação)
João Maria Evangelista Gonçalves Zarco da Câmara (Lisboa), 1852 - 1908). "Mais conhecido como D. João da Câmara, foi um dramaturgo português, o primeiro português a ser nomeado para o Prémio Nobel da Literatura, em 1901. Estudou em Lisboa (Colégio de Campolide) e em Lovaina, na Bélgica, regressando a Portugal com a morte do pai, em 1872. De seguida, estudou na Escola Politécnica e no Instituto Industrial. Casou-se a 12 de Fevereiro de 1874 na Igreja de São Pedro de Alcântara, em Lisboa, com D. Eugénia de Mello Breyner (1852-1944). Desenvolveu a sua carreira profissional nas obras públicas: construção do ramal de Cáceres e das linhas de Sintra e Cascais e chefiou a Administração Central de Caminhos de Ferro. Posteriormente dedicou-se à escrita, que o tornaria conhecido."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação meia de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Páginas algo oxidadas devido à qualidade do papel.
Muito invulgar.
25€
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