24 dezembro, 2024

SANTOS, Corte-Real -
AGONIA E MORTE A 13,43 GRAUS DE LATITUDE SUL.
2.ª edição : 3.º, 4.º e 5.º milhares. Sá da Bandeira - Angola, [Edição do Autor]. Distribuidores: Publicações Imbondeiro, [1964?]. In-8.º (21,5x14,5 cm) de 86, [2] p. ; mto il. ; B.
Capa de Alfredo de Freitas.
Reportagem da tragédia que vitimou dois pilotos em Angola no início dos anos 60 do século passado. O misterioso desaparecimento da aeronave emocionou e prendeu a atenção da população de ex-colónia portuguesa durante longos e penosos meses.
Obra com larga divulgação em Angola na época, ainda assim não se encontra representada no acervo da BNP.
Ilustrada com fotografias a p.b. no texto de mapas, da aeronave acidentada e dos malogrados pilotos, algumas impublicáveis pela crueza das mesmas.
"Aparece este livro para corresponder ao desejo manifestado de muitas das pessoas que se apaixonaram, condoídas, pela aventura extraordinàriamente emocionante dos aviadores civis Carlos da Costa Fernandes e Acácio Lopes da Costa, os quais em 18 de Março de 1963, a bordo da avioneta «Piper Colt», do Aero Clube do Lobito, empreenderam uma viagem de que infelizmente não haveriam de voltar vivos.
O triste caso, sem par na história da aviação de Angola, consternou vivamente a população da Província e a partir de então se manteve em intrigante mistério, apesar de intensivas buscas por ar, mar e terra efectuadas por dezenas de pessoas durante largas e arreliantes semanas.
Quando parecia que a tragédia havia terminado com a convicção de que a avioneta «Piper Colt» se afundara no mar com os seus dois ocupantes, surgiu inesperadamente, em 29 de Junho, - 103 dias passados! - a notícia de que o aparelho fora encontrado a mais de 50 quilómetros ao sul de Benguela, num local deserto denominado Dulombuluco, Piqui, não muito longe da praia da Binga. A informação, chegada a Benguela na tarde desse dia, acrescentava que os dois aviadores estavam mortos e os seus corpos já em meia decomposição.
Este epílogo trágico do caso consternou profundamente a população angolana, que leu sofregamente os relatos dos jornais - logo esgotados - e ouviu, magnetizada, o noticiário das emissoras. Todos esses relatos se dispersaram naturalmente e muita gente ficou insuficientemente informada.
Este facto tornou patente a necessidade dum livro em que se registasse o acontecimento por ordem cronológica, se desvendassem antecedentes que pareceram esclarecedores e, sobretudo, se dessem a conhecer os famosos «diários» deixados pelos desventurados aviadores."
(Excerto da Introdução)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
20€

23 dezembro, 2024

RAU, Virgínia -
O PE. ANTÓNIO VIEIRA E A FRAGATA FORTUNA. Por... (Separata de Stvdia - Revista semestral - N.º 2 - Julho de 1958). Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos : Portugal, 1958. In-4.º (23,5x16,5 cm) de [12] p. (91-102 p.) [1] f. il. ; B.
1.ª edição independente.
Trabalho histórico. Curioso subsídio vieiriano sobre uma faceta pouco conhecida do notável religioso jesuíta.
Ilustrado extra-texto no final com fac-símile: "Contrato de fretamento da nau Fortuna".
"A vida do Pe. António Vieira tem sido estudada com carinho e em profundidade por investigadores do melhor quilate, mas a sua actividade como negociador de navios na Holanda tem parcialmente escapado à argúcia da pesquisa em fontes portuguesas. [...]
Desde bem novo o Pe. António Vieira demonstrou possuir uma funda intuição da importância do predomínio marítimo e da evolução da táctica naval. Conhecedor da arte de construir navios e apreciador sagaz dos méritos e qualidades relativas das fragatas holandesas, francesas, ou dunquerquesas, se os seus planos para a construção e compra «of a fine fleet of frigates» tivessem sido adoptados, «Portugal might well have recovered more of her colonies than Angola and Pernambuco» nesse tormentoso período subsequente à Restauração de 1640.
Adversário convicto das caravelas, escolas de fugir como ele lhes chamava, aconselhou sempre a compra de fragatas bem armadas, pois só com navios grandes e bem artilhados poderiam os portugueses dominar os inimigos no mar como o faziam em terra e preservar o seu império ultramarino."
(Excerto do Estudo)
Virgínia Roberts Rau (1907-1973). "Formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, doutorando-se em 1947. Professora Catedrática na mesma instituição durante vinte anos, fundou, em 1958, o Centro de História da Universidade de Lisboa, então Centro de Estudos Históricos. Foi, também, a primeira mulher a assumir a direcção da Faculdade de Letras (1964-1969). A sua obra como historiadora, transversal cronológica e geograficamente, é balizada por um lado pela formação medieval do reino e por outro pelo seu processo moderno de atlantização, sem nunca perder de vista uma escala de comparabilidade europeia. Uma concepção moderna da oficina do historiador, baseada no trabalho colectivo, numa precoce internacionalização assim como na articulação entre a investigação e o ensino, garantem-lhe uma posição singular na historiografia portuguesa. "
(Fonte: http://www.centrodehistoria-flul.com/virginia-rau.html)
Exemplar brochado em bom estado de conservação.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
15€

22 dezembro, 2024

LOBATO, Gervasio & VICTOR, Jayme -
OS INVISIVEIS DE LISBOA : grande romance em 6 volumes.
Desenhos de Manuel de Macedo. Executados pelos processos Ignio Eberle e Gillot. Volume I. [II; III; IV; V; VI]. Lisboa, David Corazzi, Editor : Empreza Horas Romanticas, 1886-1887. 6 vols in-8.º (19,5x13 cm) de 388, [4] p. ; [5] f. il. (I) ; 388, [4] p. ; [3] f. il. (II) ; 387, [5] p. ; [5] f. il. (III) ; 389, [3] p. ; [4] f. il. (IV) ; 388, [4] p. ; [2] f. il. (V) ; 402, [6] p. ; [5] f. il. (VI) ; E.
1.ª edição.
Obra de fôlego. Romance de costumes em 6 volumes (completo).
Ilustrado com as 24 estampas fora do texto assinadas por Manuel de Macedo.
"Era uma manhã tempestuosa de inverno. Do céu escuro caía permanentemente, com insisterncia teimosa, uma chuva muito miuda, muito fria, que, de vez emquando, impellida por fortes rajadas de vento, açoutava com violencia as vidraças, hermeticamente fechadas, contra o frio glacial, que fazia bater o queixo, e invejar as grandes lareiras provincianas.
O Tejo apresentava o sombrio espectaculo de um rio em temporal.
As ondas, muito picadas, agitavam-se furiosamente, quebravam-se, espumando a grande altura, nos cascos dos navios de grande lotação.
Os barcos pequenos, estavam todos a coberto, ou mettidos nas docas, ou estirados regaladamente ao longo dos caes, como grandes amphibios, que viessem dormir a sua sésta fóra da agua.
Alguns catraios, raros, que não tinham remedio senão aventurar-se por aquelle tempo diabolico, faziam cabriolas phantasticas sobre o dorso lamacento das ondas, e pareciam não sair nunca do mesmo logar, apesar dos esforços herculeos dos remadores, que, para ganhar a vida, se arriscavam assim a perdel-a, de um momento para o outro.
Os navios grandes, que de ordinario assistem impassiveis a estes vendavaes dos rios, tambem n'esse dia andavam mettidos na dança macabra que agitava todo o Tejo. Apesar da sua enorme corpulencia, das suas fórmas gigantescas, talhadas de molde a arrostar com os grandes temporaes do alto mar, as ondas, habitualmente pacatas do Tejo, investiam atrevidas com elles, e faziam-os oscillar com as suas convulsões, tremer com as suas furias.
No meio do rio, em frente do Caes do Sodré, o Gironde, o bello paquete das Messageries, preparava-se para levantar ferro, apesar do temporal."
(Excerto do Cap. I - A bordo do «Gironde»)
Gervásio Jorge Gonçalves Lobato (1850-1895). "Figura muito popular do meio teatral e literário lisboeta da segunda metade do século XIX, nasceu a 23 de maio de 1850, em Lisboa, e morreu a 26 de maio de 1895, na mesma cidade. Autor, num curto espaço de tempo, de uma obra extensa e variada, foi jornalista, tradutor, comediógrafo e romancista, tendo sido comparado a Rafael Bordalo Pinheiro quanto ao humor e ao talento de caricaturista. Colaborou em vários periódicos da época, como o Diário de Notícias, o Diário da Manhã, o Jornal da Noite e O Ocidente, onde sucedeu a Guilherme de Azevedo na rubrica "Crónica dum ocidental". Os contornos realistas da sua crítica de costumes, exercitada nos romances e nas peças de teatro, são amenizados pelo tom displicente e pelo humor revisteiro."
Manuel de Macedo Pereira Coutinho (1839-1915). "Aguarelista e ilustrador, discípulo de Anunciação e de Howell. Foi pintor, cenógrafo, gravador, caricaturista, distinguiu-se como ilustrador de excepcionais qualidades. Ilustrou das mais importantes obras, revistas do seu tempo. As suas obras encontram-se nos vários museus contemporâneos portugueses e em colecções particulares."
Encadernações editoriais com ferros gravados a seco e negro e ouro nas pastas e na lombada.
Exemplares em bom estado de conservação.
Raro.
100€

21 dezembro, 2024

AMZALAK, Moses Bensabat -
CARLOS MORATO ROMA E OS SEUS ESTUDOS ECONÓMICOS E FINANCEIROS.
Por… Sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa. Separata das «Memórias» (Classe de Letras - Tômo IV). Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1941. In-4.º (24,5x19 cm) de 19, [1] p. ; B.
1.ª edição independente.
Ensaio bio-bibliográfico sobre Carlos Morato Roma (1798-1862), incompreendido economista português de oitocentos, que legou à posteridade importantes obras da especialidade.
"Referiu-se o próprio Morato Roma num dos seus trabalhos à sua atribulada existência, escrevendo o seguinte: «Várias circunstâncias geraram e alimentaram os preconceitos que existem contra mim. Não emigrei; e pôsto que sofresse prisões e perseguições, como tôda a minha família, o facto de ficar em Portugal, no meu modesto emprêgo, me colocava numa situação mesquinha, ao lado do que se denominava - a emigração. Chamado todavia a um emprêgo elevado, pelos homens que se haviam coberto de glória e carregado de serviços, a conseqüência necessária, na opinião de quantidade de gente, devia de ser que eu não poderia jamais ter opinião própria; que me cumpria fazer o inteiro sacrifício de tôdas as min has faculdades morais, e, ai e mim, se um dia ousasse quebrar os fios que me enlaçavam!
«Sem embargo, ainda nesta embaraçosa opinião o meu espírito era livre, e nada poderia prendê-lo. O cavalheiro que me chamou ao Tesouro, e depositou em mim plena confiança, teve muitas vezes ocasião de relevar e apreciar generosamente essa liberdade."
(Excerto e I - Biografia)
"Carlos Morato Roma foi um economista que se dedicou ao estudo dos problemas financeiros. Os seus trabalhos versaram principalmente sôbre finanças públicas, bancos e moeda. [...]
Todos os trabalhos de Carlos Morato Roma tratam de assuntos de palpitante interêsse nacional, versam pontos de actualidade. Ao debatê-los demonstra o seu autor sólidos conhecimentos da ciência económica e financeira."
(Excerto de III - Doutrinas e Crítica)
Índice:
I - Biografia. II - Bibliografia. III - Doutrinas e Crítica.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
10€
Reservado

20 dezembro, 2024

TEIXEIRA, Jorge F. -
AUXILIAR DO FERRO-VIÁRIO.
Subsídios de instrução profissional. Lisboa, [s.n. - Comp. e imp. na Imprensa Lucas & C.ª - Lisboa], 1929. In-8.º (19x12,5 cm) de 108, [4], IX, [12] p. ; [1] mapa desdob. ; il. ; B.
1.ª edição.
Curioso subsídio para a história dos Caminhos de Ferro portugueses. No interior o autor apela à "formação profissional" como única forma de os ferroviários se manterem actualizados.
Ilustrado no texto com croquis, quadros e tabelas estatísticas, e em separado, com mapa desdobrável de generosas dimensões (38x20 cm): "Mapa dos Caminhos de Ferro de Portugal - Anexo ao «Auxiliar do Ferro-viário»".
Obra rara, pioneira. A BNP não menciona.
"A tiragem dêste livro foi, quási, limitada aos pedidos feitos antecipadamente conforme a circular profusamente distribuida. Os poucos exemplares que nos restam serão enviados a que no-los requizitar primeiro."
(Excerto da nota de abertura)
"O profissional consciente não pode furtar-se ao estudo de tudo quanto se relacione com a sua arte. A prática não dispensa a teoria e ambas se completam na vida. Se o profissional se esquivasse ao conhecimento consciente das inovações que o progresso vai introduzindo na sua arte - limitando-se a estagnar na prática ronceira - degradar-se-hia lamentavelmente aos olhos dos camaradas e no íntimo conceito dos seus superiores. O estudo impõe-se a todos - exige-o a moderna educação profissional e a propria evolução.
O pessoal das estações é, entre todo o pessoal ferroviário, aquêle a que se exige maior soma de conhecimentos práticos e teóricos - e é para êle que as empresas publicam numerosos compêndios e regulamentos, que não interessam na sua maioria, o restante pessoal. Tudo quanto se escreva, pois, a esclarece-lo e a elucida-lo, será meritório e recomendável a nosso ver.
Este livro nasceu duns simples apontamentos que a nossa curiosidade foi coligindo ou compilando durante cêrca de um ano, no intuito de os franquearmos nas aulas profissionais. Destinado aos ferro-viários e todas as redes, não poderíamos tratar pormenorizadamente, questões de esta ou daquela; o livro perderia, assim, parte do seu interesse. Todavia, não nos furtámos a tratar, por vezes, assuntos do interesse do maior número."
(Excerto de Prefácio)
Indice das Materias:
Primeira Parte - Aritmética experimental. Segunda Parte - Exploração técnica. Terceira Parte - Exploração comercial. Quarta Parte - Diversos. | Indice das gravuras.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Com foxing nas capas.
Raro.
Com interesse histórico.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
35€

19 dezembro, 2024

ZINÃO, Francisco Pires -
POESIAS DE FRANCISCO PIRES ZINÃO,
Escolhidas entre as mais interessantes que elle tem feito, CONTENDO A VIDA E MORTE DO MESMO. Valença: 1857. Typographia do Jornal - A Razão. In-8.º (14x10 cm) de 74 p. ; B.
Conjunto de poesias de Pires Zinão impressas em Valença. Trata-se de uma das edições oitocentistas, a segunda julgamos - primeira póstuma, deste conhecido - patusco, brejeiro e desbragado - poeta vianense, incluindo a presente um apontamento biográfico em verso jocoso por ele mesmo.

"Quem tal souber e cuidar,
É para chorar e sentir,
E tambem caso de rir,
Sentindo o seu pesar:
Não posso acreditar,
Que o corpo de meu Jesus
O pozesse certo chapuz
No regaço d'uma mulher!...
Faz-se na Silva o que quer
No descimento da Cruz.

Tremo, estou admirado
Pelo que tenho ouvido,
Pilatos, ainda vivo,
Estar na Silva conservado!!
Este tyranno malvado
Contra si deitou o laço,
Atou a corda ao cachaço
Este perverso traidor,
Escrevendo contra o Senhor
Com todo o desembaraço.

Estar na Silva a Mãi de Deos
Com Pilatos, ambos vivos,
Sem ter estes carcomidos
A carne e ossos, como os meus!
Olhem que dous Pharizeus
Aquella terra produz!
De noite dança o lapuz,
De dia Mãi do Senhor!...
Foi este caso aterrador
Na Silva dado á luz."

(Excerto de Ao descimento da Cruz, que se fez na freguezia da Silva em 1850)

"Fui nascido em Carreço,
No districto de Vianna,
Fui traste de grande fama
Mas de bem pequeno preço:
Depois de velho conheço
O mal que hei commettido
Porém hoje arrependido
De todo o meu coração,
Peço-nos, Senhor, perdão
De tanto vos ter offendido."

(Excerto de Nas seguinte decimas conta o Auctor a sua vida, fazendo scientes os leitores de algumas maganeiras por elle praticadas, e de que se mostra arrependido)

Francisco Pires Zinão (1786-1856). "Poeta, natural de Viana do Castelo, nasceu a 20-11-1786, e faleceu a 30-10-1856. Pertenceu a um agregado familiar de doze irmãos, sendo ele o terceiro, o que era bastante elevado e difícil para aquela época. Do seu matrimónio nasceram, pelo menos, sete filhos: João (Paulinho?), em 1827, Margarida Rosa, em 1829, Timóteo, em 1833, Inácia Maria, em 1838, Joaquina, em 1841, e Francisca, em 1843. Maria, emigra para o Brasil, onde faz poesias, publicando-as.
Figura boémia e gracejadora de “Zinão”, que ficou na memória dos mais idosos, aparece-nos tão distante e embrumada pela passagem dos anos, que mais nos parece uma figura lendária que se recorda vagamente. Na província minhota, cujas belezas naturais são uma realidade, ainda hoje aparece numa velha prateleira, à mistura com alfarrábios ou numa frondosa biblioteca, o livrinho das poesias do “Zinão”. O poeta em causa, que era quase analfabeto, pedia a José Joaquim Areal, pessoa de sua íntima confiança, também da freguesia de Campos, para lhe manuscrever os versos de sua autoria, para efeito de publicação, que finalmente levou a cabo! Teixeira Pinto, diz ser um mariola da sua igualha, Bento Arezes, a quem ditava as suas poesias para este escrever. Durante muito tempo “Zinão” frequentou a casa da família Areal, dedicando uma quadra a Joana Rosa de Faria, esposa do citado José Areal: “Ó minha Joana Rosa / Tu não te deixes morrer / Porque quem morre logo esquece / Mas tu não me hás-de esquecer.”. As suas poesias eram reflexo da incoerência e desorientação de uma época nefasta e severa que ficou na história. Há nelas maledicência crítica a par de uma adorável pureza de boas e más intenções!
Destituídos de valor poético os versos de “Zinão”? Segundo o “Dicionário de Inocêncio”, sem dúvida, menos que medíocres, pois classificou-os de «desconchavos poéticos». De notar que o poeta-criador lia com dificuldade, soletrando, mas não sabia escrever. Diz-nos também Teixeira Pinto, numa das suas obras literárias, das Edições D.N. n.º 4, de 1958:
Reconheça-se, no entanto, que os seus versos, pecos como eram, bondavam para satisfazer as froixas exigências literárias de um povo que se quedara, obscuramente, à margem do abêcê. Integram-se nos domínios vastos dessa «literatura menor», arte menina que desambiciona e até dispensa os oiros e os fastígios da sua irmã maior, prosapiosa. Apraz-lhe, Deus sabe, a simples condição de gata borralheira…”. Um dos poemas mais apreciados através dos tempos, é aquele que teve como cenário, no ano de 1815, a prisão do forte de S. Julião da Barra, em Viana do Castelo, onde “Zinão” cumpriu uma pena de dois anos, por ter desertado da vida militar. Tudo o que antes se diz é mais que suficiente para que as edições das poesias populares do “Zinão”, fossem numerosas, a primeira das quais apareceu no ano de 1854, seguindo-se-lhe outras, para além de algumas que não consta o ano, nos anos de 1857, 1862, 1863, 1864, 1876, 1880 e 1907. Em 1928 a obra era reeditada, seguida de mais três edições, integradas nos folhetos-de-cordel, publicados por José de Almeida Jorge, da cidade do Porto."
(Fonte: https://ruascomhistoria.wordpress.com/2023/11/23/quem-foi-quem-na-toponimia-de-vila-nova-de-cerveira/)
Exemplar brochado protegido por capas improvisadas de cartão com o título e autor manuscritos na capa frontal.. Em bom estado geral de conservação. Corte das folhas irregular com pequenas falhas.
Raro.
Peça de colecção.
Indisponível

18 dezembro, 2024

FILHO, Teutonio -
M.ᴹᴱ BIFTECK-PAFF : romance
. Lisboa, Guimarães & C.ª - Editores, 1914. In-8.º (18,5x11,5 cm) de 211, [1] p. ; E.
1.ª edição.
Edição original deste pouco conhecido trabalho de Teotónio Filho, autor "maldito" brasileiro, conhecido pelas suas obras controversas e reacionárias, indispôs a elite brasileira da época.
Raro. Obra inicialmente publicada em Portugal, a BNP não menciona.
"- Mariazeta!
No cáes, em pleno dia, sob um sol que faiscava contra as vidraças das carruagens, Flavio empolgou num abraço a delgada cretaura que noutras épocas fôra a sua irmã mui bem querida, o pequeno anjo dos seus dias d'infancia morta. E agora, nesse amplexo doce, nesse retorno de vida passada, ele punha toda a volta d'uma esplendida, antiquissima ternura.
- Mariazeta! Mariazeta!
- Flavio!
Ela parecia comovida. Ele julgou descobrir-lhe uma lagrima figidia e rompeu o silencio, perguntando:
- Esperaste muito?
- Dez minutos. Bôa viagem?
- Os nove dias de Lisbôa aqui, foram agradaveis... De Cherburgo a Lisboa, não... O mar, por taes bandas é violento - oh! nem imaginas...
Desviaram a vista para o oceano - ele, com expressão de fadiga terminada - ela, com expressão de desejo e de amor pelo horizonte misterioso. O porto interno estava pouco movimentado. Junto aos recifes vapores de carga sopezavam mercadorias d'alvarengas enormes. Lá fóra, na Lamarão, o transatlantico balançava-se ás vagas da maré alta."
(Excerto do Cap. I)
Theotônio de Lacerda Freire Filho, ou Theo Filho, (1895-1973). "Foi um dos escritores mais lidos no Brasil nos anos 20 do século passado. Descreveu a boémia parisiense e carioca, e os vícios da elite brasileira. Cônsul brasileiro em França, correspondente internacional, jornalista, poeta, dramaturgo e comediógrafo. Romancista "pré-modernista" e "maldito"."
(Fonte: https://www.skoob.com.br/autor/1272-theo-filho)
"Theotonio Filho publicou três títulos em casas editoriais portuguesas. A Tragédia dos Contrastes apareceu em 1911, por Guimarães & C., de Lisboa. Seu primeiro romance, todavia, parece que foi mal recebido por uma parte do público brasileiro. Em 1912 [1914] Mme. Bifteck-Paff foi lançado pelo mesmo editor. Esse romance, escrito em Aix, no ano anterior, mas ambientado no Recife e na praia de Olinda, desenvolvia o tema da traição, observado ora pela lógica da mulher adúltera, ora pela lógica do canalha que a passou para trás. Finalmente, Bruno Ragaz, anarquista surgiu, em 1913, em edição de Magalhães & Moniz Editores, do Porto."
(Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp056898.pdf)
Encadernação em percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Miolo correcto. Apresenta mancha na f. rosto.
Raro.
35€

17 dezembro, 2024

PIMENTA, Alfredo -
O COMUNISMO, INIMIGO N.º 1. Pôrto, Enciclopédia Portuguesa, Limitada, 1941. In-8.º (19,5x13,5 cm) de 12 p. ; B.
1.ª edição independente.
Libelo anti-comunista originalmente publicado em A voz, Porto, distribuído por dois artigos: 28 de Junho; 3 de Julho de 1941. "Aponta o comunismo como o principal inimigo da Europa e da civilização ocidental".
Opúsculo dado aos prelos pelo autor, - historiador e polemista, conhecido germanófilo, - em plena Segunda Guerra Mundial, durante a "Operação Barbarossa" - nome de código da invasão da União Soviética pelas Potências do Eixo, com início a 22 de junho de 1941.

«O Comunismo é a grande heresia da nossa Idade»
Salazar

"Não nos deixemos arrastar levianamente pelas impressões de momento, e mantenhamos, nos nossos juízos, a calma, e a consciência de nós próprios.
Como nos três anos ásperos e difíceis de 1936 a 1939, a Civilização cristã e europeia está em guerra com o Comunismo bárbaro e destruidor. [...]
No desgraçado conflito que, há dois anos, se desencadeou, Portugal declarou-se neutro, como os seus mais altos interesses determinavam. Neutro se tem mantido. Que a Providência olhe por nós e nos permita que sempre neutros nos mantenhamos, não só por nós, mas até pelos outros.
É certo que a nova guerra germano-soviética é considerada, pelos velhos beligerantes, como simples modalidade ou fase da guerra germano-inglesa.
Tenham êles o critério que lhes aprouver, - que nada nos impede de nós termos o nosso critério. [...]
Se há três anos nos manifestamos anti-comunistas, com maior calor nos devemos manifestar agora, porque já oiço vozes burguesas, não digo defender o Comunismo, mas atenuar a sua eficácia, diminuir a sua influência e proclamar até que está muito modificado!
Já oiço proclamar Staline campeão da Liberdade, e não demorará muito que mo não apresentem como defensor da Civilização cristã e da liberdade dos povos!"
(Excerto do texto)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Vincado.
Raro.
Com interesse histórico.
25€

16 dezembro, 2024

EXPOSIÇÃO DE SUPER-LIBROS.
Realizada no Palácio Foz. Secretariado N. de Informação, Cultura Popular e Turismo - CATÁLOGO. Lisboa, Academia Portuguesa de Ex-Líbris, 1958. In-8.º (19x14,5 cm) de 71, [1], [2], [8] f. il. ; E.
1.ª edição.
Relação dos 142 itens que constituíram esta exposição.
Ilustrada no final com 20 fotografias distribuídas por 8 páginas separadas do texto.
Desta importante mostra mandou-se imprimir o presente catálogo com tiragem limitada a 250 exemplares - sendo este o n.º 125 - rubricados pelo presidente da Academia Portuguesa de Ex-Líbris.
Encadernação inteira de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Pasta frontal apresenta pequena "esfoladela" no canto superior direito.
Raro.
25€

15 dezembro, 2024

GRAVE, João -
PARA A HISTÓRIA DA LITERATURA QUINHENTISTA : um soneto inédito de Camões?
Por... Academia das Sciências de Lisboa. Separata do «Boletim da Segunda Classe» volume XI. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1918. In-4.º (23x14,5 cm) de 10, [2] p. ; B.
1.ª edição independente.
Interessante subsídio camoniano relacionado com o naufrágio do vate português junto à costa do reino do Sião, tragédia que resultou na  morte de Dinamene, moça chinesa que o acompanhava, mas tendo salvo o manuscrito d'Os Lusíadas.
Exemplar valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao Vereador do Pelouro da Biblioteca da Câmara Municipal do Porto.
"O sr. José Maria Augusto da Costa, funcionário muito competente e sabedor da Biblioteca Pública Municipal do Pôrto, carecendo de consultar, recentemente, um manuscripto arquivado nas colecções da mesma Biblioteca, intitulado Decada oitava de Diogo do Couto, (e que é o tomo XII duma séria) para resolver determinadas dúvidas que surgiram no seu espírito ao desempenhar um trabalho que lhe fôra confiado, encontrou no livro v da referida Decada - que tem por epígrafe: «Do que suçedeo a D. Antão de Noronha na Viagem; e de como faleceo e do que suçedeo as Naos de sua Companhia atee o Reyno» - uma passagem que alvoraçadamente o interessou, porque nela se esclarecia certo assunto quási obscuro e, apesar disso, da mais alta importância para a nossa literatura quinhentista, especialmente para a história do maior épico portuguez de todas as idades: - Luís de Camões. Dizia, com efeito, esse manuscripto, na grafia que textualmente reproduzo: - «Aqui em Mocambique achamos aquelle principe dos Poetas dos nossos tempos, Luiz de Camões, de quem fui especial amigo, e contemporaneo nos estudos em Portugal, e na India matalotes muytos tempos de casa e mesa, o qual tinha do aquella fortaleza em companhia de Pe. Barreto Rolim, quando foi entrar naquella Capitania, por que desejou elle de lhe faser bem e o por em estado de se poder ir para o Reyno por estar muito pobre, porque da Viagem que fez a China por Provedor dos defuntos que lhe o Governador fran.co Barreto deu Vindo de lá se foi perder na Costa de Sião, onde se saluarão todos despidos e o Camões por dita escapou com as suas Lusiadas como elle diz nellas e aly se lhe afogou hua moca China que trasia m.to fermosa com q. vinha embarcado e muyto obrigado, e em terra fez sonetos a sua morte em que entrou aquelle q. diz:

Alma minha gentil que te partiste
Tam cedo desta vida descontent,
repousa tu no ceu eternamente
e viva eu que na terra sempre triste.

«A esta chama elle em suas obras dignam.te, em suas obras dinamente. Aly fez tambem aquella grave e docta Canção q. começa:

Sobre os rios que vão
Por Babilonia me achei;
Aly asentado chorey
alemb rando-me Sião
e quanto nelle passei.

O que tudo anda impresso no Livro de seus sonetos...».

O alvorôço que a descoberta produziu explica-se claramente, porque até há poucos anos considerava-se que o admirável soneto «Alma minha» havia sido consagrado â morte de Natercia, a mulher que o lirico genial perdidamente amou."
(Excerto do Ensaio)

João José Grave (1872-1934). "Foi um escritor e jornalista português. Autor de obras de ficção, crónica, ensaio e poesia. Como jornalista chefiou a redacção do Diário da Tarde e colaborou nos jornais Província, Século e Diário de Notícias e em vários órgãos da imprensa brasileira. Foi director da Biblioteca Municipal do Porto e dirigiu o dicionário enciclopédico Lello Universal. A nível literário, esteve inicialmente próximo dos naturalistas, notando-se influências de Emílio Zola. Depois enveredou pelo romance de costumes."
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Cansado. Capas frágeis com defeitos, algo manchadas.
Muito invulgar.
15€

14 dezembro, 2024

MORENO, Humberto Baquero -
A ACÇÃO DOS ALMOCREVES : no desenvolvimento das comunicações inter-regionais portuguesas nos fins da Idade Média
. Porto, Brasília Editora, [1979]. In-8.° (19,5x13,5 cm) de 97, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Curioso estudo histórico-etnográfico sobre os almocreves, mercadores que ao longo da Idade Média comerciavam os seus produtos de terra em terra.
Ilustrado com um mapa de Portugal em página inteira com trajectos utilizados pelos almocreves - "Algumas linhas de transporte de peixe e sal, do litoral para o interior (Séculos XIV e XV)" - encontrando-se assinalados os seguintes núcleos populacionais: Lisboa; Santarém; Leiria; Buarcos; Coimbra; Aveiro; Porto; Guimarães; Chaves; Bragança; Lamego; Viseu; Guarda; Marvão; Arronches; Elvas; Montemor-o-Novo; Évora; Noudar; Beja; Lagos; Faro; Tavira; Setúbal.
"O papel dos almocreves na circulação interna portuguesa já foi bem sublinhado pelo Prof. Jorge de Macedo, ao salientar que assentava neles «a coluna vertebral das comunicações interiores por terra». A sua existência entre nós, desde os primórdios da nacionalidade, aparece comprovada através de inúmeros forais, o que por certo faz pressupor o seu valor e a sua importância na vida económica das autarquias locais. Apresentando-se de início com uma organização menos estruturada, observa-se, contudo, uma melhoria acentuada, no âmbito das suas atribuições, à medida que o tempo vai avançando. Em Portugal atingem uma expressão digna de nota nos séculos XIV e XV.
A que atribuir o papel relevante dos almocreves nas comunicações internas do nosso País? - Por certo, a um complexo de factores que vão desde a mobilidade, capacidade de adaptação ao solo e relativa rapidez de deslocação dos animais de carga utilizados nos transportes, até à deficientíssima rede vial existente em Portugal."
(Excerto do Cap. 1)
Humberto Carlos Baquero Moreno (Lisboa, 1934 - Porto, 2015). "Foi um professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto que se destacou no campo da história de Portugal, deixando uma extensa e valiosa obra histórica, que ultrapassa as três centenas de títulos."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
Indisponível

13 dezembro, 2024

PEREIRA, Frederico A. - OS ELEPHANTES. Por... Consul de Portugal em Siam. Porto, Livraria Portuense de Lopes & C.ª, 1890. In-8.º (19 cm) de [2], 104, [2] p. ; [1] f. il. ; B.
1.ª edição.
Curioso estudo sobre o elefante asiático, primeira obra (e talvez única) que sobre o assunto se publicou entre nós.
Ilustrado com uma estampa do animal em separado.
"Não vamos fazer um estudo profundo sobre este assumpto. O nosso intuito é sem pretensões e visa simplesmente a fazer conhecer o quanto o elephante é um anima util ao homem pela sua intteligencia."
(Excerto de O elephante historico e de guerra)
"A Africa possue elephantes, mas não têm até hoje sido utilisados como animaes domesticos e de grande beneficio para quem os educasse, como acontece na Asia. No continente negro ignora-se mesmo um modo qualquer de os apanhar vivos, o que é de certo uma grande falta que se fosse remediada poderia ser um bom elemento de riqueza e de progresso. Oxalá que o meu trabalho, no que diz respeito á sua utilisação na Asia, possa contribuir para que de futuro se olhe para este pachiderme em Africa, como mais necessario como simples animal de caça: O seu marfim cujo valor augmenta com a edade, é nada comparado com os valiosos serviços que elle póde prestar á humanidade.
O elephante póde viver de 160 a 200 annos. Porém está sujeito a muitos contratempos que lhe abreviam a existencia: O homem mata-o quando póde; os animaes ferozes fazem-lhe uma guerra constante; entre si acontece em certas circumstancias que entram em lucta e sempre um dos contendores morre e ás vezes o outro pouco lhe sobrevive; a natureza apresenta grandes obstaculos á sua enorme massa, produzindo accidentes que acabam por matal-os, além de impedirem a sua reproducção. D'ahi resulta que a sua existencia está calculada na media de 70 annos. [...]
Os elephantes no estado selvagem andam sempre em rebanhos e obedecem ao mais velho ou ao mais forte, áquelle que melhor os póde guiar. Estes rebanhos compõem-se geralmente de 100 a 150. Obedecem ao seu chefe e é raro haver desintelligencia entre elles. A boa harmonia cessa quando um, menos soffredor, ou por ciumes, ou mais exigente que os outros, ou porque foi perturbado nos seus amores ou nas suas affeições, se mostra descontente e começa a maltratar os camaradas. O agressor vê então todos ligarem-se contra elle e depois de terriveis combates, humilha-se, mas altamente irritado; a companhia torna-se-lhe odiosa e para occultar a sua vergonha, sepára-se e refugia-se nas florestas. Este isolamento reage sobre o seu humor e azeda-lhe o caracter a tal ponto que se torna altamente perigoso para os seus semelhantes, para os outros animaes e para o homem; então mata tudo o que encontra. D'ahi provêm os nomes que lhes dão na Asia, de solitarios - matadores -; por isso é que o governo da India Ingleza dá um premio a todo aquelle que matar um de estes terriveis desertores."
(Excerto de O elephante selvagem)
Índice
:
- O elephante historico e de guerra. - O elephante selvagem. - Como se apanham elephantes. - Um captivo por amor. - A educação dos ellephantes. - O elephante em diversos serviços. - O elephante galante. - O elephante na familia. - O elephante combatente. - O elephante branco. - O elephante branco na Birmania. - O elephante branco em Siam.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Sem as capas originais. Pelo interesse e raridade a justificar encadernação.
Raro.
85€

12 dezembro, 2024

CUNHA, Margarida & DOMINGOS, Manuela D. -
ENCADERNAÇÕES DA «LIVRARIA DE DUARTE DE SOUSA».
Revista da Biblioteca Nacional - 1/1994 Separata. Lisboa, BNP, 1994. In-4.º (24,5x17 cm) de 13, [1] p. (149-161 p.) ; [8] p. il. ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Interessante estudo de bibliopegia, com interesse para a história da encadernação entre nós, incidindo na colecção de um conhecido bibliófilo português, - Duarte de Sousa, - cujos livros foram encadernados nas melhores casas portuguesas da especialidade.
Opúsculo ilustrado com 8 estampas a cores separadas do texto.
"António Alberto Marinho Duarte de Sousa (1896-1950) foi um conhecido coleccionador da primeira metade do século XX. «Bibliófilo distinto e apaixonado cultor de belas encadernações» - como o definiu Matias Lima, na sua obra Encadernadores Portugueses - foi reunindo pacientemente o que de mais representativo ia encontrando para a história da Cultura Portuguesa, quer em obras impressas, quer mapas, gravuras, selos, etc. Na colecção que hoje se conhece podem considerar-se dominantes as seguintes áreas temáticas: Portugal visto pelos estrangeiros, em diversas épocas; acção missionária portuguesa; descrições dos territórios de África, Brasil, Índia, Açores e Madeira; náutica e Descobrimentos portugueses; relatos de viagens; Restauração; época Pombalina, especialmente o terramoto de 1755.
As obras eram adquiridas junto dos mais importantes livreiros portugueses e estrangeiros. Pela observação de alguns Catálogos que se conservam na própria «Livraria», poderão verificar-se as múltiplas anotações manuscritas nos mesmos, que claramente induzem algumas daquelas temáticas preferenciais, assim como as intenções de compra relativamente a leilões de bibliotecas. [...]
Discutível o gosto, a falta de originalidade ou a legitimidade artísticas de alguns pastiches, o certo hoje é a representatividade dos artistas encadernadores portugueses, sobretudo lisboetas, que nela se espelham, mostrando, pelo menos, as respectivas técnicas e capacidades de execução. Sendo bem visível o carácter «ostentatório» deste conjunto, não pode ocultar-se, também, a eficácia da protecção que os sólidos dourados à folha e os revestimentos de peles genuínas prestaram aos livros... [...]
Neste apontamento é nossa intenção apresentar apenas o que esta colecção - cerca de 2000 títulos, dos séculos XVI a XX - possui de mais representativo, no foro das encadernações, quer originais, quer encomendadas pelo coleccionador.
Além de uma apreciação global deste conjunto, trabalhámos depois, directamente, sobre uma «amostra» que cobre 10 por cento da Colecção, sendo, sensivelmente, homóloga quanto à cronologia das obras.
Muitas apresentam-se identificadas com a chancela do artista encadernador, outras são anónimas, não deixando, porém, de possibilitar uma avaliação do conjunto de artistas encadernadores portugueses que floresceram nas décadas de 30 e 40. Nomes como Frederico de Almeida, António Ramos, Casa Férin, Paulino Ferreira, Alfredo David, Manuel da Silva Araújo estão amplamente representados neste conjunto, com especial destaque para os primeiros."
(Excerto de estudo)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
Com significado histórico.
15€

11 dezembro, 2024

PIMENTA, Belisário -
A CAMPANHA DE 1801.
(Ligeiras considerações a propósito duns documentos). Coimbra, Biblioteca da Universidade, 1949. In-4.º (24,5x16,5 cm) de [4], 44 p. ; B.
1.ª edição independente.
Interessante contributo para a história do confronto militar luso-espanhol que ficaria conhecido para a posteridade como "Guerra das Laranjas", movimento que concorreu para a ocupação e subtracção de Olivença a Portugal.
Separata do «Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra», Vol. XIX.
"A rápida campanha de 1801, apodada pitorescamente «das laranjas», sem lances ou episódios de relevo nem comandantes que sobresaísem acima do mais vulgar, merece contudo as atenções dentro da história militar portuguesa. Tiram-se dela ensinamentos não só para o estudo geral da defesa do País como também para o das facilidades com que, em certas épocas, se entregou a quem o não merecia, a direcção suprema dos exércitos.
Este episódio doloroso da nossa história, consequência de muitas dificuldades da política externa mas muito principalmente do desleixo e desorientação da administração interna, contém vários aspectos dignos de serem observados - desde o da falta de coordenação nos assuntos de organização do exército e nos estudos ou planos de defesa, decerto os mais importantes, até ao cómico de certos pormenores que deu azo a sátiras e diatribes alegres tão predilectas ao português e que serão, possìvelmente, os aspectos mais tristes."
(Excerto do Estudo)
Belisário Maria Bustorf da Silva Pinto Pimenta (Coimbra, 1879 - Lisboa, 1969). "Nasceu em Coimbra em 1879. Frequentou o colégio externato do Padre Simões dos Reis e depois transitou para o Liceu. Aos 14 anos começou a formar a sua biblioteca pessoal, que no final da sua vida ultrapassava mais de oito mil obras. Seguiu a carreira militar ingressando como cadete na escola Prática de Infantaria de Mafra. Em 1903 foi promovido a alferes e em 1910 passou a ser Comissário da Polícia em Coimbra. A sua vida militar decorreu ainda por Valença, Portalegre, Castelo Branco, Lagos, Porto, Penafiel, Abrantes e Leiria. Em 1913 publica o seu primeiro trabalho sobre Miranda do Corvo, tema que foi uma das suas predileções e cultivou até ao final da sua vida. Os seus escritos sobre o concelho encontram-se dispersos por jornais (Alma Nova, Diário de Coimbra) e monografias, podendo ser considerado como o autor que mais se debruçou sobre o concelho. Privou com figuras ilustres da cultura como sejam Eugénio de Castro, António Nobre, António José de Almeida, Vitorino Nemésio, António Nogueira Gonçalves ou Álvaro Viana de Lemos, entre muitos outros."
(Fonte: https://cm-mirandadocorvo.pt/pt/menu/347/belisario-pimenta.aspx)
Exemplar em brochura, por abrir, bem conservado.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
Indisponível

10 dezembro, 2024

GONÇALVES, Flávio -
DUAS NOTAS VILACONDENSES
. Porto, [s.n. - Tip. Minerva - Vila do Conde], 1980. In-4.º (24,5x17,5 cm) de 18, [2] p. ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Interessante estudo icónico-religioso com interesse para a história de Vila do Conde e Póvoa de Varzim, publicado em separata do Boletim Cultural, n.º 6, do Ginásio Clube Vilacondense.
Ilustrado com 4 estampas em página inteira:
- Vila do Conde. Capela de S. Roque. Peanha do púlpito dos princípios do século XVI...;
- Vila do Conde. Capela de S. Roque. Peanha do púlpito (outro aspecto);
- Póvoa de Varzim. Museu Municipal de Etnografia e História. Pintura de Santa Clara de Assis;
- Caen (França). Museu de Belas Artes. Pintura flamenga dos princípios do século XVI, representando O Calvário, que pertenceu ao mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde.
"A capela de S. Roque, em Vila do Conde, foi levantada logo após a mortífera peste que, em 1580, assolou o nosso país. No meio de tamanha desgraça e aflição, com fé se invocaria a protecção de S. Roque - ao tempo considerada de grande eficácia contra o terrível flagelo. Passada a epidemia, à custa do povo se construiu a capela, em cujo exterior, na fachada principal, se colocou uma lápide recordando a tragédia daquele ano (para os portugueses tão dramático ainda noutros aspectos) de 1580.
Assim, causa verdadeira surpresa, dentro da dita capela, a peanha de granito do seu púlpito, esculpida num estilo que, sem sombra de dúvida, se insere nas obras que pelos começos do século XVI os artistas galegos e biscainhos executaram em várias povoações do Entre-Douro-e-Minho."
(Excerto do estudo)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
15€

09 dezembro, 2024

SOROMENHO, Augusto -
DIWAN. De... Porto, [Typ do Portugal], [1855]. In-8.º (17x11,5 cm) de [164] p. ; E.
1.ª edição.
Raríssima edição original deste livro de poemas "em que ecoam traços orientalistas". Primeira obra do autor, publicada quando contava apenas 22 anos de idade.
Em Notas, na parte final do livro, Soromenho "explica" alguns versos: "Depois de escriptos e impressos esses poucos versos que ahi ficam, intendi dever acompanhar varios d'elles com notas explicativas, porque, na verdade, em alguns ha um tanto de enigmatico e obscuro. Ahi vão, pois, as que julguei necessarias. O numero romano corresponde a uma poesia com egual numero."

Quem canta seu mal espanta;
Quem chora seu mal augmenta;
E eu canto para espalhar
Uma dôr que me-atormenta!

"Que horrivel noite! O vento, a chuva, tudo
Contra mim se-conspira!
Trevas no céu, e trevas sobre a terra;
Em volta de mim trevas!
Apenas vejo alem uma luzinha,
Signal mysterioso,
Que me-faz ir chuchar um aguaceiro
A troco d'um bilhete
Perfumado d'almiscar! – Triste coisa
É andar enamorado!
Eu quando penso no que tenho feito,
Por causa das mulheres,
Pasmo! E a luz? Sumiu-se! Era o correio
Que vae para a Amarante!
"

(XLV.)

"Eu estava, hontem de tarde, a ler o Fausto,
Deitado n'um sofá,
Quando senti abrir-se a porta e, rindo,
Entrar o diabo. "Olá!
"Por aqui, é milagre!" – Mal tu sabes
O que eu venho pedir. –
"Não; decerto. Vejamos." – É uma Biblia. –
E desatou a rir...
"Uma Biblia?!" disse eu. – E então, que pensas?
Não serei eu capaz
De a-lêr? Não póde haver um litterato
Chamado Satanaz? –
"Póde. Ahi tens... Mas que buscas"? – Eu t'o-digo:
Estive, ha pouco, a lêr
O Paraizo de Milton, e ha lá historias
Que eu não posso saber
Onde-as fosse buscar. Conta lá coisas
De mim, que nem eu sei;
E venho vêr então se n'esta Biblia
Acaso as-acharei. –
"Duvido” – E tu que lês? – "O Fausto." – O Goethe!
Esse foi mais ratão.
Ao menos, teve graça. O Mephistóphles
É um grande maganão.
O Fausto é que era um parvo. – "Assim ha muitos!"
– E tu também o-és. –
"Obrigado." – E assentou-se folheando
Os Livros de Moisés.

Passado tempo, volto-me, e, que vejo!
Deitado sobre o chão
O bom do Satanaz, que adormecêra
A lêr o Salomão!..."

(CVI.)

Augusto Pereira Soromenho (Apresentação, Aveiro, 1833 - Lisboa, 1878). "Mais conhecido por Augusto Soromenho, foi um professor, filólogo e escritor português. Adotou também o pseudónimo Abd-Allah e usou os nomes Augusto Pereira do Vabo e Anhaya Gallego Soromenho e os de Castro e Pedegache, afirmando que descendia de famílias nobres de Castela e do Algarve. Inocêncio Francisco da Silva lista o nome como Seromenho, grafia que o próprio não terá usado. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e seu bibliotecário.
Considerado de génio volúvel e altivo, Camilo Castelo Branco, no 2.º volume do seu Cancioneiro Alegre, afirma que nunca viu ninguém com tantas artes para ganhar inimigos e que sacrificava os seus benfeitores àquilo a que a sua consciência chamava Justiça. O mesmo escritor afirma que o conhecera ainda muito novo e infeliz, ao que parece, sem protecção nem meios para se vestir e sustentar.
A incapacidade de manter relacionamentos dificultou-lhe sobremaneira a vida, por tinha poucos recursos, não os podendo obter da família, já que o pais, ao tempo director da alfândega de Vila do Conde, pouco o podia ajudar já que o emprego não seria muito rendoso.
Em 1855, com 22 anos de idade, publicou no Porto a sua primeira monografia, o volume de poesia intitulado Diwan, obra presentemente rara dada a escassa tiragem da edição.
Também por volta de 1855 obteve um modesto emprego na Biblioteca do Porto, onde durante os anos imediatos se dedicou ao estudo da história de Portugal e de arqueologia. Dos seus estudo resultou a publicação de numerosos artigos avulsos em diversos periódicos, que complementava com artigos de crítica literária. Entre estes últimos artigo dedicou alguns a acusações de plagiato, de que resultaram azedas polémicas.
Em inícios de 1858 conheceu Alexandre Herculano, que ao visitar a cidade do Porto o encontrou e ficou impressionado com os seus conhecimentos dos clássicos e da língua portuguesa, reconhecendo nele um mancebo de muito talento, muito estudioso e já então muito erudito. Desse encontro resultou ser convidado por Herculano para se transferir para Lisboa e passar a colaborar nos seus trabalhos de história de Portugal. Aceitou e a partir de meados de 1858 passou a trabalhar na biblioteca da Academia Real das Ciências de Lisboa.
Augusto Soromenho foi um dos conferencistas das Conferências do Casino, nas quais a 6 de Junho de 1871 dissertou sobre A Literatura Portuguesa Contemporânea. Antes dele falara Antero de Quental e depois Eça de Queirós e Adolfo Coelho.
Foi feito sócio correspondente da Academia Real de Ciências e bibliotecário da mesma Academia, tendo nestas funções sucedido a Alexandre Herculano na coordenação da obra Portugaliæ Monumenta Historica. Apesar disso, e seguindo o seu padrão de relacionamento difícil, acabou por cortar relações com o seu antigo protector Alexandre Herculano, que em retaliação lhe cortou o acesso ao acervo da Torre do Tombo. Também no que respeita à Academia das Ciências, após múltiplas disputas, especialmente depois de uma grave pendência com o matemático Daniel Augusto da Silva, foi obrigado a demitir-se de sócio para evitar a expulsão.
Augusto Soromenho faleceu em 9 de Janeiro de 1878, vítima de tuberculose pulmonar. A revista literária O Ocidente publicou uma pequena biografia e o seu retrato. Deixou uma vasta obra em prosa e verso dispersas por múltiplos periódicos e inéditos muitos manuscritos."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Cansado. Capas frágeis, com defeitos.
Raro.
Indisponível