19 março, 2019

SAAVEDRA, Manuel de - OS DOUS VOLUNTARIOS (romance). Episodios das nossas luctas civis. Braga, Typographia Lusitana, 1891. In-8.º (18,5cm) de 164, [4] p. ; E.
1.ª edição.
Romance histórico cuja acção ocorre durante as Guerras Liberais. Publicada em Braga, nada foi possível apurar acerca desta obra (ou do seu autor), por não existir registo na Biblioteca Nacional, nem referência à mesma em qualquer outra fonte bio-bibliográfica.
"Abre-se a primeira scena d'esta nossa humilde e tôsca narrativa em um theatro tão tôsco e humilde  como ella. Estamos em uma pequena aldêa situada a pouca distancia da margem esquerda do Douro, em territorio do antigo concelho de Rezende, tão cheio de vetustas e poeticas tradições, entre as quaes avultam as lendas da infancia do nosso primeiro rei D. Affonso Henriques, que por alli discorrera levado ainda nos braços robustos do seu heroico aio Egas Moniz.
Alli o caudaloso rio sente-se apertado em leito de rochedos, e ladeado de ingremes encostas e de collinas verdejantes, que se vão sobrepondo umas ás outras até terminarem, á direita, nas cumeadas dos montes, que se destacam da alta serra do Marão, e á esquerda na extensa cordilheira das serras de Meadas, Espinheiro, Gralheira, Monte Muro, uma fileira de gigantes, que parece espreitar lá de cima o curso arrebatado e tôrvo do fugitivo Douro. [...]
Todo aquelle territorio é sulcado por corregos e ribeiros profundos, ténues veios de agua crystalina durante o verão, de que os lavradores se approveitam para a irrigação dos campos, mas que no inverno se convertem em torrentes despenhadas e revóltas, que se precipitam de alcantil em alcantil, com temeroso fragôr, até virem emfim perder-se na corrente do Douro.
Por alli se acha disseminada uma população numerosa, já em casaes isolados, já em habitações agglomeradas em aldêas ou lugares (como lá mais commummente se diz) constituindo um certo numero d'esses lugares a freguezia ou parochia, cuja egreja com seu campanario rustico se vê alvejar a espaços no meio da verdura dos campos e dos arvoredos.
É pois a uma d'essas pittorescas aldêas, situada, como já dissemos, á esquerda do Douro, que temos a honra de condusir os nossos amaveis e condescendentes leitores.
Era nos primeiros mezes do anno de 1834. Corria um jubiloso dia para o lavrador André Collaço, em cuja casa se notavam, desde o amanhecer, uma azafama e um movimento extraordinarios. Os serviçaes, que sahiam da morada de André, uma das principaes do lugar de B... em procura das vituallas e mais aprestos necessarios para um banquete, a que elle havia convidado os sesu amigos d'aquellas visinhanças, encontravam-se no caminho com varios d'esses amigos, que anticipando-se muito á hora do jantar, vinham pressurosos cumprimentar o recem-chegado filho do lavrador, em honra do qual ia ser dada aquella jubilosa festa.
Rodrigo, o joven filho de André Collaço, alguns annos havia que estava ausente do lar paterno. Não se retirara elle, porem, d'alli como o filho prodigo do Evangelho, contra a vontade de seu pae, para esbanjar ao longe a sua letima em devassidões e loucuras.
Pelo contrario, André vira-o partir de bom grado; e se bem que, na despedida, não podéra conter algumas lagrimas, disséra-lhe todavia, abraçando-o com ternura:
«Vai, filho, com Deus, a quem peço de todo o coração te defenda dos perigos da guerra. Mas se Nosso Senhor permittir que hajas de morrer em algum combate, teu pae, sim, te chorará como a um filho querido que és; porem ufanar-se-ha ao mesmo tempo de que o teu sangue, que é tambem o meu, seja vertido em defeza da nossa Santa Religião e do throno do nosso adorado rei, o Sr. D. Miguel I.»
Fica sabendo portanto o leitor que Rodrigo Collaço era militar.
Frequentava elle os estudos em Lamego quando o governo de D. Miguel, esperando já uma tentativa armada da parte dos liberaes reunidos na Terceira começara de organisar os batalhões de voluntarios realistas."
(Excerto do Cap. I)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Pastas cansadas. Folha de rosto e 1.ª página de texto ostenta a assinatura de posse de D. Francisco Sotto-Mayor.
Muito raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível

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