20 março, 2019

LODY, George - SOLDADOS DA SOMBRA! Romance-documentário de... Versão livre de João Amaral Júnior. Lisboa, João Romano Torres & C.ª, [1934?]. In-8.º (21cm) de 342, [2] p. ; il. ; B. Colecção Dramas da Espionagem ,V
1.ª edição.
Curioso romance sobre a Grande Guerra e suas consequências para a Alemanha. Obra da autoria de João Amaral Júnior, o 'tradutor', que assina com o pseudónimo George Lody.
Ilustrado com 10 estampas no texto, das quais 8 em página inteira. Desenhos (inc. capa) de Ramos Ribeiro.
"Quem nos meados de Agosto de 1914 passasse pela Avenida das Tilias e circundantes avenidas de Berlim, e, quatro anos mais tarde, na primavera de 1918, lá tornasse, teria, certamente, de pasmar da extraordinária diferença de âmbiente.
Em 1914 tudo clamores de entusiasmo, gritos guerreiros, risos, alegrias, massas de povo cantando a plenos pulmões na praça pública hossana ao über alles;
Em 1918, silêncio, desalento, palidês em todos os rostos;
Em 1914 a grande azafama das tropas orgulhosas, firmes e contentes, certas de que o mundo as espera trémulo e encolhido de medo;
Em 1918 o arrastar de total amargura a enlutar a bela cidade, o desfazer doloroso de um grande e louco sonho até essa data alimentado a poder das sucessivas «mentiras» oficiais!
Em 1914 os cantos; em 1918 as lágrimas. Em 1914 as fanfarras e o orgulho; em 1918 a tristeza e a fome
Em 1914 a multidão agitava as bandeiras da guerra e gargalhava com a certeza de ir conquistar o mundo; em 1918, a substituir tudo isto, o luto, os soluços, o arrependimento...
Em 1914 a arrogância e o desafio; em 1918 a humilhação e a debandada!
Sim.
Diante das humanas muralhas de Ypres, de Verdun, de Amiens e do Marne, diante ainda da grande brecha aberta no oriente, as últimas iluzões tinham caido na lama, arrefecidas no sangue dos penúltimos cadaveres do louco morticinio...
Estamos na primavera de 1918 e, agora, o espectro da ruina assola totalmente o imperio alemão.
Até Março dêsse ano, glorioso para os aliados, fizera-se uma guerra de posições diante as frentes francêsas e tudo isto trouxera aos exercitos do Kaiser a monotonia, o despêro e o cansaço extremos."
(Excerto do Cap. I, Sonho desfeito)
João dos Santos Amaral Júnior (Lisboa, 1899 - ?). "Tal como Guedes do Amorim e Rocha Martins, não concluiu qualquer curso superior, sendo exemplo de mais um autodidacta de sucesso que colaborou com a Romano Torres. Estreou-se antes dos 20 anos com o romance A ladra (1920), seguindo-se em 1923 novo romance intitulado Direito de viver com prefácio de Manuel Ribeiro. O Dicionário Universal de Literatura atribui ao bom acolhimento que teve destas primeiras obras o impulso que o levou a dedicar-se exclusivamente à literatura. Embora não tivesse sido jornalista, colaborou enquanto crítico literário com o jornal A República e dirigiu o quinzenário Novidades Literárias.
Curiosamente, o Dicionário Universal de Literatura aponta o seu pseudónimo George Lody como sendo autor da «tradução livre» de alguns escritores estrangeiros, indicando como exemplos disso mesmo as obras Legião maldita, Rússia negra, Sentinelas dos mares, Braseiro ardente, Soldado da sombra e Espiões da Paz. Há clara confusão, visto que é o próprio João Amaral Júnior que se apresenta como tradutor de um alegado autor francês de nome George Lody, afinal seu pseudónimo. Este caso foi desconstruído por Maria de Lin Sousa Moniz no seu ensaio «A case of pseudotranslation in the Portuguese literary system». No entanto, o verbete do Dicionário Universal de Literatura, publicado em 1940, serve de exemplo para a confusão que à época havia relativamente à pseudotradução (Amaral Júnior não foi o único na Romano Torres, veja-se os casos de Guedes de Amorim e José Rosado).
A colaboração de Amaral Júnior na Romano Torres foi intensa, quer como autor, quer como tradutor. Para além de ter escrito os seis romances já referidos sob o pseudónimo de George Lody, que constituíram a colecção «Dramas de espionagem: as aventuras dos mais célebres espiões internacionais», escreveu também sob o pseudónimo de Fernando Ralph o livro O golpe alemão (1936), e no seu próprio nome Minha mulher vai casar (s.d.), O nosso amor não é pecado (s.d.), A mulher que jurou não ser minha (1936), etc. Enquanto tradutor, dedicou-se especialmente a Max du Veuzit e Claude Jauniére.
Não se conseguiu apurar a data ou o local da sua morte."
(Fonte: fcsh.unl.pt/chc/romanotorres/?page_id=63#G)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa e lombada com falhas de papel.
Raro.
Indisponível

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