16 setembro, 2025

BRAGA, Alberto -
CONTOS ESCOLHIDOS.
Illustrações de E. Casanova. Collecção Litteraria Portugueza. Lisboa, M. Gomes, Livreiro Editor, 1892. In-8.º (19x12,5 cm) de [6], 246, [2] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Conjunto de onze contos naturalistas, maioritariamente de matriz rústica.
Obra superiormente ilustrada com capitulares a duas cores, vinhetas tipográficas e belíssimos desenhos no texto e em página inteira - um por história - por Enrique Casanova (Saragoça, 1850 - Madrid, 1913), pintor aguarelista espanhol que veio para Portugal em 1880 como refugiado político.
"O capitão Fortunato, logo que se levantou, chegou á janella para ver o mar. O dia amanheceu carregado e triste. Uma chuva miuda, mas insistente, escorria nos vidros da janella, interiormente embaciados pela vaporação tepida do quarto. Dos beiraes, que defrontavam com a casa do capitão, a chuva caía em fio, estrugindo sobre o lagedo da rua. De vez em quando, uma rajada de vento abalava a casa e silvava pelas frinchas das portas. [...]
Na casa que ficava defronte - n'aquella estreita e solitaria rua de Leça da Palmeira - uma janella abriu-se, e um velho magro, fresco, de suissas muito brancas e as faces muito vermelhas, envolto n'uma robe de chambre escura, assomou no peitoril, sorridente.
- Captain!
- Good morning, mister Rawts - correspondeu o capitão.
O inglez olhou para o mar. Elle esperava um vapor que deveria chegar n'esse dia de Liverpool."
(Excerto de I - Á beira-mar)
"Logo abaixo dos açudes, ficava de uma bando do rio a azenha do Euzebio moleiro, e da margem opposta, um pouco mais abaixo, a azenha do tio Anselmo.
Eram dois velhotes viuvos, de bons sessenta annos, e amigos desde creanças. Para contradicção do anexim popular, estes dois moleiros queriam-se como dois irmãos, a despeito de serem do mesmo officio. [...]
No verão, quando a levada era minguada, os dois velhotes visitavam-se a miudo, atravessando destemidamente pelas poldras; mas, quando as chuvas do outomno principiava a tornar o rio caudaloso, limitavam-se então a fallar de um lado para o outro. Era triste!
- Anselmo, falla mais alto, que não te ouço.
- O que é? - perguntava o outro, inclinando o pavilhão da orelha.
O Euzebio fazia um porta-voz com as mãos, e gritava:
- Não te entendo.
Quando chegavam a fallar, concordavam sempre que era o barulho das rodas do moinho, que os não deixava ouvir. Isso sim! Era o peso dos annos que os tinha quasi surdos de todo. Pobres velhos!
O Euzebio tinha um filho, que era uma rapagão de vinte e dois annos, como um castello! Ainda o dia vinha longe, já elle estava a trabalhar, que era um regalo a gente vel-o.
- Lida como um  mouro! - diziam os conhecidos."
(Excerto de II - A guerra)
Índice:
I - Á beira-mar. II - A guerra. III - O sermão. IV - O retrato dos paes. V - Nem esculptura nem pintura... VI - O abandono do moinho. VII - O sonho da noviça. VIII - O engeitado. IX -  Que triste fim!... X - A azeitona de Sevilha. XI - Tristezas do Mondego.
Alberto Leal Barradas Monteiro Braga (Foz do Douro, Porto, 1851 - 1911). "Jornalista e escritor português. Foi secretário do Instituto Comercial de Lisboa. Ao longo da sua carreira assinou diversas crónicas literárias em jornais portugueses e brasileiros. Como autor, escreveu peças de teatro e livros de contos sendo reconhecido pelo seu estilo directo e claro, pela sobriedade na escrita e pelo tom sentimental que imprimiu a algumas das suas obras. Desenvolveu peças teatrais com uma forte raiz romântica e com pendor naturalista. Foi diretor da revista A semana de Lisboa (1893-1895) e colaborou em várias publicações periódicas, nomeadamente nas revistas Brasil-Portugal (1899-1914), Illustração portugueza (1903-1980), Serões (1901-1911) e A risota (1908). Faleceu na mesma freguesia onde nasceu, vítima de tuberculose."
(Fonte: Wikipédia)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos e pequenas falhas de papel. Lombada restaurada. Apresenta ex-libris de António Viriato Lopes Tadeu na f. ante-rosto.
Raro.
30€

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