COELHO, Trindade - IN ILLO TEMPORE. Estudantes, lentes e futricas. Desenhos de Antonio Augusto Gonçalves. Paris-Lisboa, Livraria Aillaud & Cia, 1902. In-8.º (19x12 cm) de [2], 422, [8] p. ; mto il. ; E.
Segunda edição - publicada no mesmo ano da primeira - de um clássico da literatura memorialista do meio estudantil coimbrão. Trata-se de uma das mais apreciadas e emblemáticas obras que se escreveram sobre o assunto, belissimamente ilustrada no texto com desenhos de Mestre António Augusto Gonçalves e fotografias coligidas em Coimbra por António Luís Teixeira Machado e Adriano Marques.
"In illo tempore - no tempo em que eu andava em Coimbra, andava lá tambem a estudar Direito um rapaz chamado Passaro. Elle não se chamava Passaro. Passaro, pozemos-lhe nós, porque além de ser alegre como um pintassilgo, e vivo como um ardal, - usava o cabello não sei de que modo, que parecia que lhe punha duas azas atraz das orelhas, e que a cabeça lhe ia a voar!
Elle não se zangava que lhe chamassem Passaro, e até gostava: - e como alcunha que se ponha em Coimbra, péga como se fôsse visgo, - desde o Camões que era lá em Coimbra o Trinca-fortes, até ao fallecido Alves da Fonseca, chamado o Chato José do Cão, por andar sempre com um cão atraz d'elle e ter um nariz muito chato, ou ao outro a quem por ter só metade do bigode passaram a chamar Gode, e ainda a outro o Sete Fallinhas, que por se desfazer em fifias quando fallava, - ninguem lhe chamava d'outra maneira: - «Ó Passaro, isto!» - «Ó Passaro, aquillo!».
A pontos que o rapaz addicionou a alcunha ao appellido..."
(Excerto de A festa das latas)
Indice:
Segunda edição - publicada no mesmo ano da primeira - de um clássico da literatura memorialista do meio estudantil coimbrão. Trata-se de uma das mais apreciadas e emblemáticas obras que se escreveram sobre o assunto, belissimamente ilustrada no texto com desenhos de Mestre António Augusto Gonçalves e fotografias coligidas em Coimbra por António Luís Teixeira Machado e Adriano Marques.
"In illo tempore - no tempo em que eu andava em Coimbra, andava lá tambem a estudar Direito um rapaz chamado Passaro. Elle não se chamava Passaro. Passaro, pozemos-lhe nós, porque além de ser alegre como um pintassilgo, e vivo como um ardal, - usava o cabello não sei de que modo, que parecia que lhe punha duas azas atraz das orelhas, e que a cabeça lhe ia a voar!
Elle não se zangava que lhe chamassem Passaro, e até gostava: - e como alcunha que se ponha em Coimbra, péga como se fôsse visgo, - desde o Camões que era lá em Coimbra o Trinca-fortes, até ao fallecido Alves da Fonseca, chamado o Chato José do Cão, por andar sempre com um cão atraz d'elle e ter um nariz muito chato, ou ao outro a quem por ter só metade do bigode passaram a chamar Gode, e ainda a outro o Sete Fallinhas, que por se desfazer em fifias quando fallava, - ninguem lhe chamava d'outra maneira: - «Ó Passaro, isto!» - «Ó Passaro, aquillo!».
A pontos que o rapaz addicionou a alcunha ao appellido..."
(Excerto de A festa das latas)
Indice:
A
festa das latas. | Resurrexit non est hic. | O Saraiva das forças. |
Lopes ou Bettencourt? | Poetas balneares. | O Orpheon Academico. |
Balthazar, o lethargico! | D, Felicidade. | A Niveleida. | O Lusitano e o
Anda a Roda. | A campanha do Ze Pereira. | A sebenta. | Na aula do
Chaves. | O «Velho». | As fogueiras do S. João. | A Casaqueida. | Um
homem não é de pau. | A récita dos quintannistas. | Alho! Alho! Alho! | A
Cabra! | O Bólson das contas lisas. | «Á tabúa!». | «Viu bem?». | Os
voluntarios... da Economia!... | O grande Damazio. | «Miserere nobis!». |
Leão, rei dos animaes. | Sanches, o comilão.
José Francisco Trindade Coelho (1861-1908). "Escritor.
Natural de Mogadouro, a sua obra reflete a infância passada em Trás-os-Montes,
num ambiente tradicionalista que ele fielmente retrata, embora sem intuitos
moralizantes. O seu estilo natural, a simplicidade e candura de alguns dos seus
personagens, fazem de Trindade Coelho um dos mestres do conto rústico
português. Fiel a um ideário republicano, dedicou-se a uma intensa atividade
pedagógica, na senda de João de Deus, tentando elucidar democraticamente o
cidadão português. Era um homem inconformado. Nem a fama de magistrado, nem o
prestígio de escritor, nem a felicidade conjugal conseguiam fazer de Trindade
Coelho um cidadão feliz. À medida em que avançava no tempo mais se desgostava
com a vida, pelo que o desespero o levou ao suicídio em 1908. Deixou uma
obra variada e profunda, distribuída por quatro vertentes. Jornalismo, carácter
jurídico, intervenção cívica e literária. Algumas obras: «Manual Político do Cidadão Português», o «ABC do Povo»,
o «Livro de Leitura». A série «Folhetos para o Povo», onde se incluem, entre
outros: Parábola dos Sete Vimes, Rimas à Nossa Terra, Remédio contra a Usura,
Loas à Cidade de Bragança, e Cartilha do Povo, A Minha candidatura por
Mogadouro. Como obras literárias deixou: «Os Meus Amores» (1891) e já inúmeras
reedições de «In Illo Tempore» (livro de memórias de Coimbra-1902)."
(Fonte: Wook)
Bela encadernação meia de pele com cantos, nervuras e ferros gravados a ouro na lombada. Carminado à cabeça. Conserva as capas originais.
Exemplar em bom estado de conservação.
Exemplar em bom estado de conservação.
Invulgar.
15€




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