31 agosto, 2025

MOINHOS - AZENHAS - LAGARES DE AZEITE -
III CADERNO DE DIVULGAÇÃO
. Terras de Bouro, Escola EB 2,3/ Martins Capela : Ano Lectivo 1995/1996, [199-]. In-8.º (21x15 cm) de 27, [1] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Trabalho de valia histórica e etnográfica sobre os engenhos comunitários de caracter pré industrial existentes no concelho de Terra de Bouro, levantamento executado pelos professores e alunos de História da Escola Padre Martins Capela.
Opúsculo invulgar e muito curioso, sem menção na BNP.
Ilustrado em página inteira com 3 quadros e 3 gráficos referentes aos Moinhos, Lagares de Azeite e Engenhos de Linho do concelho, e no final, com 7 fotografias a p.b. em página inteira.
"Protegido a leste pela altitude da Serra do Gerês, a região de Terras de Bouro é recortada em compartimentos naturais pelos vales dos rios, que correm no sentido leste-oeste possuindo caudais abundantes e pelos numerosos ribeiros que neles afluem, surgindo assim inúmeros moinhos e azenhas ao logo desses corredores fluviais. A história desta zona, influenciada pelas condições naturais existentes, diz-nos que as populações, em tempos não muito remotos, viviam em boa parte do pastoreio de gado miúdo, em terras pobres e inóspitas, onde se juntam em aldeias, praticando uma agricultura intermitente apenas em algumas épocas do ano, necessitando de manter laços de forte solidariedade colectiva para organizarem o trabalho e preservarem os mais caros instrumentos de produção, como o forno, a eira, o moinho, o engenho e os lagares."
(Excerto da Introdução)
Índice:
Introdução | Moinhos e Azenhas | Lagares de Azeite | Engenhos de Linho | Conclusão | Bibliografia | Índice.
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
10€

30 agosto, 2025

CUNHA, Xavier da -
RISCOS E LIGAÇÕES
. Em Lisboa, na Livraria Nacional e Extrangeira de José Antonio Rodrigues & C.ª. - Editores, M.CM.VII. [1907]. In-8.º (19x14 cm) de [8], 336 p. ; B.
1.ª edição.
Conjunto de crónicas, contos históricos e fantásticos, lendas, tradições e memórias, escritas com estilo escorreito, na forma e na substância.
"Quando elle nasceu, já no Paço Real a princezinha D. Thereza alegrava desde muito a velhice do septuagenario monarcha D. Affonso Henriques.
Tinha D. Thereza olhos pretos e cabellos loiros, - tal qual exactamente, septe seculos depois, nos appareceu em Portugal outra princeza da sua nobre linhagem, a Rainha D. Maria Pia.
Cabellos loiros e olhos negros: - azeviche e oiro!
É que a infantinha, se por um lado lhe circulava nas arterias o sangue dos Borgonhas e dos Saboyas, herdára egualmente as feições meridionaes do Imperador de Castella e de Leão, cuja bisneta se gloriava de ser.
Alêm dos olhos pretos e dos cabellos loiros, com que a todos enfeitiçava, D. Thereza possuia taes incantos de formosura, que passava por ser no seu tempo a mais linda princeza em toda a Europa.
O cavallinho que lhe nascêra das estrebarias do Paço, era todo elle de uma alvura na pelagem que nem as plumas de um cysne.
«Cysne» lhe ficaram por isso chamando."
(Excerto de A Princeza e o Cysne)
Xavier da Cunha (1840-1920). "Nasceu em Évora, a 14 de fevereiro de 1840, e faleceu em Lisboa, a 11 de janeiro de 1920. Foi médico, escritor, poeta, colaborador da imprensa da época e bibliógrafo. Concluiu o curso da Escola Médico-Cirúrgica em 1865, tendo exercido funções de cirurgião interno no Hospital da Marinha, em Lisboa, no Hospital da Misericórdia de Alcobaça e no Hospital de Constância, na vila da Barquinha, e de facultativo da Associação Conciliadora de Santa Catarina. Em 1886 foi provido ao lugar de segundo conservador da Biblioteca Nacional de Lisboa, que dirigiu entre os anos de 1902 e 1910. Foi também redator em diversos periódicos científicos e literários, tais como "Arquivo Pitoresco" e "Gazeta de Portugal", bem como autor de uma extensa obra de poesia lírica."
(Fonte: https://arquivo.acad-ciencias.pt/authorities/10085)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Aparado à cabeça. Capas algo sujas, com pequena falha de papel na lombada.
Muito invulgar.
Indisponível

29 agosto, 2025

CASTELLO BRANCO, Camillo -
O CONDEMNADO : drama em tres actos e quatro quadros.
Seguido do drama em um acto COMO OS ANJOS SE VINGAM. Por... Porto, Viuva Moré - Editora, 1870. In-8.º (18x12 cm) de 282, [4] p. ; E.
1.ª edição.
Edição original desta obra do grande prosador de São Miguel de Seide composta por dois dramas, um deles, o principal - O Condemnado -, relacionado e dedicado ao seu amigo José Vieira de Castro, que num acesso de ciúmes, assassinou sua mulher pelas suas mãos.
"Segundo Henrique Marques “… O Condemnado é dedicado a José Cardoso Vieira de Castro, e foi escripto sob a impressão da dolorosissima tragédia que atirou com este eloquentissimo parlamentar e escriptor elegante como degredado para uma das nossas possessões africanas, onde terminou seus dias …” (in Descrição Bibliográfica Camiliana, por Miguel Carvalho, 2003).
"Se ainda tens lagrimas, se ainda as tens no coração, meu infeliz amigo, permitta Deus que possas verter alguma na pagina onde encontrares uma palavra, um grito de lacerante angustia, como tantos de has de ter abafado.
N'este livro, não pude bem assignalar um leve traço do teu enorme infortunio. Não pude, porque a tua desgraça não tem nome.
Figura-se-me que tu, Vieira de Castro, na tua cerrada noite de seis mezes, ainda não pudeste vêr ao sol de Deus os sulcos por onde desceu de teus olhos o sangue, a seiva toda de tua mocidade. [...]
Deus que te veja chorar, e te envie o doce trago da morte, que receberás sorrindo como todo o homem que expira vergado ao pêso de sua cruz, mas não á ignominia d'ella.
Falta-te morrer, Vieira de Castro, para que em tua sepultura se respeitem as cinzas d'um grande coração extremado na honra e na desgraça."
(Excerto da Dedicatória - A José Cardoso Vieira de Castro)
Encadernação coeva meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação.
Raro.
50€

28 agosto, 2025

LEITÃO, Arthur -
UM CASO DE LOUCURA EPILEPTICA.
[Por]... Medico pela Universidade. Lisboa, Proprietario e editor Arthur Leitão, 1907. In-8.º (21,5x15 cm) de 30, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Obra caluniadora, algo insólita. Trata-se de um ataque pessoal, rasteiro, do autor a João Franco, Presidente do Conselho na época, que reputa de desequilibrado, "culpa" da genética familiar.
Opúsculo raro, a BNP não menciona.
"Houve quem extranhasse que este «Relatorio» fosse pela primeira vez publicado num jornal politico - O Mundo.
Esse facto em nada altera, porém o rigoroso caracter scientifico do documento, e muito menos empalidece o valor das suas conclusões, até hoje incontestadas. [...]
Tinha o direito e o dever de o fazer.
Além de que que não é vedado a qualquer periodico, seja qual fôr o seu caracter ou indole politica tractar assumptos scientificos, e particularmente quando, como no caso presente, se ligam com o interesse publico geral. [...]
A publicação d'este «Relatorio», obedeceu, por conseguinte, sómente a um criterio ponderado de profilaxia social, que não admite hesitações, nem reservas, e está largamente justificada n'estas palavras bem singelas."
(Excerto de Duas palavras prévias)
"O Pae é um degenerado inferior com tendencias criminosas. É avarento. Desce resolutamente á prática do crime para obter dinheiro.
Na sua terra natal, e na sua provincia, é reputado como um bandido, e temido como um salteador.
As suas ladroeiras são conhecidas, e a maior parte dos seus crimes têem sido practicados como o auxilio e protecção do filho, garantindo-lhe pela sua elevada situação politica a impunidade. [...]
A Mãe era uma histerica e desequilibrada, acabando louca, em Lisboa, onde foi cuidada por varios medicos.
Os irmãos da mãe, tios do observado, foram trez, - todos anormaes.
Um d'elles, tipo fanfarrão, foi acusado de pretender envenenar a esposa, afim de se consorciar com outra mulher, com quem publicamente mantinha relações."
(Excerto de Antecedentes hereditarios)
"Antes do seu curso universitario, sabemos apenas que foi sempre um irritado, brusco e medroso, bisonho e beato.
Em Coimbra, onde concluiu o seu curso na faculdade de Direito, só foi conhecido pelas suas rusgas aos gatos, que denotavam manifestas tendencias criminosas, e em refregas nocturnas com os mais infesos habitantes da cidade, sempre cuidadosamente protegido pela valentia dos companheiros."
(Excerto de Antecedentes pessoaes)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, com defeitos.
Muito invulgar.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
20€

27 agosto, 2025

GREENER, W. W. -
ESCOPETAS MODERNAS.
Por... Autor de las obras "Modern Breech-Loaders", The Gun and its Develoment," etc. Traducción de Arts Y Ocon. Málaga, Gallegos y Urbano, Impresores, [1888]. In-8.º (21x15 cm) de [6], X, 221, [1] Pp. ; il. ; E.
1.ª edição.
Tradução espanhola do clássico de armeiro «Modern Shot Guns» (publicada no mesmo ano da ed. inglesa) do fabricante britânico William Wellington Greener (1834-1921), natural de Newcastle, conhecido pela qualidade das suas armas e múltiplos inventos nesta área, em especial pelo desenvolvimento e aperfeiçoamento da moderna arma de carregar pela culatra.
Livro ilustrado no texto e em página inteira com quadros, tabelas, desenhos esquemáticos e belíssimas gravuras de armas e cenas de caça.
"El gran desarrollo que ha adquirido entre los amantes de la Caza el deseo de instruirse acerca del perfeccionamiento de la escopeta, y la falta notada hasta hoy de tratados que llenen este vacío, han decidido á W. W. Greener, competente é ilustrado Armero, á reproducir en español esta obra que contiene grabados, descripciones y juicios críticos de vários modelos de armas de caza.
Las peculiaridades, fuerza y precio de las escopetas; la variedad de pólvoras, plomos y cartuchos; las teorías de los hombres científicos, cazadores y armeros están extensamente tratadas; pero la mayor parte del libro, se ocupa de aquellos informes prácticos que solo el armero puede afacilitar, y que son indispensables á todos los tiradores."
(Excerto de A nuestros lectores)
Encadernação inteira de pele com ferros gravados a ouro (sumidos) na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
Peça de colecção.
45€

26 agosto, 2025

COELHO
, Trindade - IN ILLO TEMPORE. Estudantes, lentes e futricas. Desenhos de Antonio Augusto Gonçalves. Paris-Lisboa, Livraria Aillaud & Cia, 1902. In-8.º (19x12 cm) de [2], 422, [8] p. ; mto il. ; E.

Segunda edição - publicada no mesmo ano da primeira - de um clássico da literatura memorialista do meio estudantil coimbrão. Trata-se de uma das mais apreciadas e emblemáticas obras que se escreveram sobre o assunto, belissimamente ilustrada no texto com desenhos de Mestre António Augusto Gonçalves e fotografias coligidas em Coimbra por António Luís Teixeira Machado e Adriano Marques.
"In illo tempore - no tempo em que eu andava em Coimbra, andava lá tambem a estudar Direito um rapaz chamado Passaro. Elle não se chamava Passaro. Passaro, pozemos-lhe nós, porque além de ser alegre como um pintassilgo, e vivo como um ardal, - usava o cabello não sei de que modo, que parecia que lhe punha duas azas atraz das orelhas, e que a cabeça lhe ia a voar!
Elle não se zangava que lhe chamassem Passaro, e até gostava: - e como alcunha que se ponha em Coimbra, péga como se fôsse visgo, - desde o Camões que era lá em Coimbra o Trinca-fortes, até ao fallecido Alves da Fonseca, chamado o Chato José do Cão, por andar sempre com um cão atraz d'elle e ter um nariz muito chato, ou ao outro a quem por ter só metade do bigode passaram a chamar Gode, e ainda a outro o Sete Fallinhas, que por se desfazer em fifias quando fallava, - ninguem lhe chamava d'outra maneira: - «Ó Passaro, isto!» - «Ó Passaro, aquillo!».
A pontos que o rapaz addicionou a alcunha ao appellido..."
(Excerto de A festa das latas)
Indice:
A festa das latas. | Resurrexit non est hic. | O Saraiva das forças. | Lopes ou Bettencourt? | Poetas balneares. | O Orpheon Academico. | Balthazar, o lethargico! | D, Felicidade. | A Niveleida. | O Lusitano e o Anda a Roda. | A campanha do Ze Pereira. | A sebenta. | Na aula do Chaves. | O «Velho». | As fogueiras do S. João. | A Casaqueida. | Um homem não é de pau. | A récita dos quintannistas. | Alho! Alho! Alho! | A Cabra! | O Bólson das contas lisas. | «Á tabúa!». | «Viu bem?». | Os voluntarios... da Economia!... | O grande Damazio. | «Miserere nobis!». | Leão, rei dos animaes. | Sanches, o comilão.
José Francisco Trindade Coelho (1861-1908). "Escritor. Natural de Mogadouro, a sua obra reflete a infância passada em Trás-os-Montes, num ambiente tradicionalista que ele fielmente retrata, embora sem intuitos moralizantes. O seu estilo natural, a simplicidade e candura de alguns dos seus personagens, fazem de Trindade Coelho um dos mestres do conto rústico português. Fiel a um ideário republicano, dedicou-se a uma intensa atividade pedagógica, na senda de João de Deus, tentando elucidar democraticamente o cidadão português. Era um homem inconformado. Nem a fama de magistrado, nem o prestígio de escritor, nem a felicidade conjugal conseguiam fazer de Trindade Coelho um cidadão feliz. À medida em que avançava no tempo mais se desgostava com a vida, pelo que o desespero o levou ao suicídio em 1908. Deixou uma obra variada e profunda, distribuída por quatro vertentes. Jornalismo, carácter jurídico, intervenção cívica e literária. Algumas obras: «Manual Político do Cidadão Português», o «ABC do Povo», o «Livro de Leitura». A série «Folhetos para o Povo», onde se incluem, entre outros: Parábola dos Sete Vimes, Rimas à Nossa Terra, Remédio contra a Usura, Loas à Cidade de Bragança, e Cartilha do Povo, A Minha candidatura por Mogadouro. Como obras literárias deixou: «Os Meus Amores» (1891) e já inúmeras reedições de «In Illo Tempore» (livro de memórias de Coimbra-1902)."
(Fonte: Wook)
Bela encadernação meia de pele com cantos, nervuras e ferros gravados a ouro na lombada. Carminado à cabeça. Conserva as capas originais.
Exemplar em bom estado de conservação.
Invulgar.
15€

25 agosto, 2025

LIBERATO, Barónio -
EÇA DE QUEIRÓS POVEIRO ILUSTRE.
(Questão da sua naturalidade). Póvoa de Varzim, Tipografia Camões Editora, 1952(?). In-8.º (21x15 cm) de [2], 15, [3] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Interessante subsídio para a questão relacionada com as raízes natalícias de Eça de Queiroz, o grande vulto da literatura portuguesa, desígnio disputado pela vizinha Vila do Conde.
Invulgar e muito curioso. Inclui o argumentário das duas povoações que fundamenta a reclamação da natalidade do insigne escritor.
Opúsculo ilustrado em página inteira com reprodução de 4 fotografias: O ala-arriba da Póvoa-de-Varzim; Monumento a Eça de Queirós na Póvoa-de-Varzim; Casa de Eça de Queirós, na Póvoa-de-Varzim; Placa comemorativa na casa de Eça de Queirós, na Póvoa-de-Varzim.
"Vistos os Autos, em que a milenária Póvoa-de-Varzim - «Praia Ideal de Maravilhas» - por parte de categorizados poveiros, reivindica, para si, a Glória do nascimento do egrégio Eça de Queirós, Notável Figura Nacional e de larga projecção no estrangeiro, - Glória que é contestada pela sua irmã e vizinha Vila-do-Conde - «Formosa Raínha do Ave» - por parte dalguns apaixonados bairristas..."
(Excerto do Estudo)
Exemplar em brochura, fotocopiado, bem conservado.
Invulgar.
10€

24 agosto, 2025

OLIVEIRA, Venceslau de -
MARIA CONDESSA (Alma de Fadista) : romance original
. Lisboa, Casa Editora Nunes de Carvalho, [192-]. In-8.º (21x14 cm) de 376 p. ; il. ; E.
OLIVEIRA, Venceslau de - FADO E AMOR (Alma de Fadista) : romance original. Lisboa, Casa Editora Nunes de Carvalho, [192-]. In-8.º (21x14 cm) de 309, [5] p. ; il. ; E.
1.ª edição.
Conjunto de dois romances - encadernados num único tomo - cujo tema é o "Fado" e os meandros da "canção nacional", pretexto para o autor abordar os problemas políticos e sociais do país, tendo ambos impresso na capa em sub título "Romance da vida boémia".
Ilustrados com bonitos desenhos no texto e em página inteira.
Obras raras e muito curiosas, com interesse para a bibliografia fadista. De registar a quase inexistência de referências bibliográficas, sendo que a própria BNP não menciona.
"Madrugara-se naquela manhã entrudesca no palácio dos Marqueses do Rosal.
Não era hábito a senhora Marquesa levantar-se tão cedo, mas naquele dia, não se sabia porque razões, tivera uma enorme vontade em o fazer.
Pedia-lhe a sua compleição física, abalada por tanto infortúnio, um passeio matutino pelos áridos campos no intuito de poder mais livremente respirar fundo.
Inocência e Julião, só com a lembrança de se terem visto livros de José, por uns tempos, nem dormiram de contentamento.
Pareciam ter rejuvenescido.
Felismina, solteirona, pouco conhecedora da vida lisboeta, pensava na obtenção de licença para num pedaço da tarde ir à Avenida com Maria Rosa gozar os folguedos carnavalescos que diziam serem divertidos, e só essa idéia a fizera erguer mais cedo.
O certo é, que, as quatro almas que ali viviam como Deus com os anjos, se encontravam à mesma hora no ângulo do jardim a receberam os bons dias do astro-rei que, a brincar, vinha inundar-lhes de luz os enrugados semblantes."
(Excerto de Maria Condessa - I. Um golpe mortal)
"Decaìa a olhos vistos o regime monárquico, dois anos após o audacioso atentado contra a família real em que baquearam, não só o rei D. Carlos de Bragança e seu filho, o príncipe D. Luiz Filipe, como os arrojados regicidas, Buiça e Costa, quando o fado começou a trilhar o caminho da sua mais brilhante auréola.
Em todos os tempos e em tôdas as épocas, nos momentos mais periclitantes da vida portuguesa as canções foram sempre os clamores da revolta mal contida, contra a esmagadora opressão que tiranizava o povo trabalhador, digno de melhor sorte.
Assim, emquanto ilustres caudilhos republicanos apresentavam nos comícios o desmantelar de um trono carcomido, os fadistas, por seu turno, na maioria analfabetos, de guitarra em punho, andavam pelas ruas e tavernas, desinteressadamente, fazendo intensa propaganda de um regime novo, mostrando, em violentas estrofes, as pústulas chaguentas da depauperada monarquia mal governada que tinha por chefe em pusilánime, filho mais novo do rei-morto, a morrer-se ao sabor dos políticos palacianos.
E o povo escutava-os desvanecidamente."
(Excerto de Fado e Amor - I. Fadistas de raça)
Venceslau de Oliveira: Foi diretor do jornal Canção do Sul. Dramaturgo, editor, jornalista e poeta. Foi o fundador e o diretor do jornal O Estrondo, foi vogal do Grémio dos Artistas Teatrais. Sublinha-se o seu temperamento revolucionário e crítico, quer no que respeita ao teatro quer no que respeita ao fado. Poeta e prosador, em 1931 escreve uma obra sobre o fado, Alma de Fadista. O seu romance pretende dar a conhecer os prosélitos do fado desde 1900, e pede ajuda aos fadistas para lhe enviarem dados biográficos e fotografias. Profissionalmente, é impressor numa tipografia. Venceslau de Oliveira tem muitos filhos, entre eles um Raul Álvaro de Oliveira."
(Fonte: Tuna, Cátia Sofia Ferreira, «Não sei se canto se rezo»: ambivalências culturais e religiosas do fado (1926-1945) Volume II : Anexos, 2020)
Encadernação em tela revestida de pano com rótulo carmim e dourados na lombada. Conserva as capas de brochura anteriores.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro conjunto.
80€

23 agosto, 2025

PIMENTA, Belisário -
ANTÓNIO AUGUSTO GONÇALVES : polemista
. Coimbra, [s.n. - Composto e impresso nas oficinas da «Coimbra Editora, Limitada» - Coimbra], 1968. In-4.º (24,5x17,5 cm) de 26, [2] p. ; B.
1.ª edição independente.
Interessante apontamento biográfico sobre o Prof. António Augusto Gonçalves, ilustre pensador, artista e historiador natural de Coimbra. Estudo publicado em separata do Arquivo Coimbrão, Vol. XXIV, 1968.
"António Augusto Gonçalves nasceu em Coimbra, a 19 de Dezembro de 1848. Herdou de seu pai, pintor e decorador com alguns merecimentos, uma fina sensibilidade estética e um critério de apreciação que irá aplicar na pedagogia e na vulgarização artísticas. Concluídos os seus estudos secundários, frequentou na Universidade de Coimbra, o curso de Farmácia, que logo abandonou. A partir de então passa a dedicar-se ao ensino livre do Desenho e da Matemática, ao mesmo tempo que irá alargando o campo dos seus conhecimentos artísticos. Belisário Pimenta, que com ele de perto privou, traça-nos … o perfil da sua mentalidade: «tinha contra si a mácula das suas ideias ao tempo muito avançadas em política e a outra mácula não menor da falta de crenças religiosas; de modo que o seu atrevimento em não seguir os cânones pedagógicos oficiais em Arte, o seu tolerante republicanismo apenas de princípios embora firmes e o não menos tolerante livre-pensamento, teriam, na época ressonância verdadeiramente revolucionária». Neste testemunho falta apenas a alusão ao enternecimento que lhe mereciam as camadas populares mais humildes e o operariado carecido de instrução."
(Fonte: https://acercadecoimbra.blogs.sapo.pt/coimbra-e-as-suas-personalidades-29734)
"Nas décadas dos meados do século passado, a seguir à implantação do sistema liberal em Portugal, nasceu uma série de gerações notáveis de que ùltimamente temos andado, com mais ou menos interesse, a celebrar os contínuos centenários. [...]
Coimbra foi então um centro de inquietadora rebeldia. A Universidade mantinha velho prestígio e velhas prerrogativas apesar do vendaval de 1834; a sua acção dominantemente conservadora exercia-se com relativa independência do poder central mas não acompanhava as elevadas intenções dos rapazes que, com a viveza dos 20 anos, sentiam o que havia de caduco na instituição dionisiana que impunha até à própria actividade cidadã bastante da sua gravidade e autoritarismo. [...]
Coimbra era pois um ambiente de inconformismo e de espírito de revolta - não aquela revolta que truculentamente surge nas ruas, de armas na mão quase sempre de origens duvidosas e sem finalidade de interesse elevado ou proveitoso, mas sim a revolta em que a inteligência domina e tem como armas a livre discussão e a livre intenção de progresso. [...]
Foi pois em ambiente de elevada aspiração idealista, de inconformismo raciocinado que muitas vezes se manifestava com algum entusiasmo, que se formara a mentalidade de António Augusto Gonçalves a cuja memória aqui deixo traçadas algumas linhas de impressões que vão ao correr da memória e ao sabor da velha amizade e da admiração que por ele sempre tive."
(Excerto do Estudo) 
António Augusto Gonçalves (Coimbra, 1848-1932). "Insigne arqueólogo, artista, crítico e historiador da Arte, e polemista vigoroso. De seu nome completo António Augusto Gonçalves Neves, era filho de um pintor conimbricense de merecimento. Completou os cursos liceal e de Desenho Filosófico, mas não chegou a obter qualquer grau na Universidade. Leccionou Matemática e Desenho, Professor de Desenho na Associação dos Ajustas de Coimbra e no Colégio dos Orfãos. Criou a Escola Livre das Artes do Desenho em Coimbra em 1878, que funcionou sob a sua direcção. Relator do Centro Operário de Coimbra em 1881. Secretário da Comissão Executiva da Exposição de Artefactos e Manufacturas do Distrito de Coimbra em 1884, tendo papel de relevo na organização do certame. Professor de Desenho na Escola de Desenho Industrial Brotero a partir de 1884, e desde 1889 na Escola Industrial Brotero, sendo então nomeado seu Director. Secretário da delegação de Coimbra da Associação Industrial Portuguesa em 1888. Por sua iniciativa, foi criado em Coimbra em 1890 um Museu de Arte Industrial. Embora filiado no Partido Republicano, obteve o apoio da Rainha D. Amélia e do Bispo-Conde D. Manuel de Bastos Pina para o seu plano de restauro da Sé Velha, cujas obras foram iniciadas em 1.1893. Reorganizou a partir de 1894 o Museu de Antiguidades do Instituto de Coimbra, que em 1911 deu lugar ao Museu Machado de Castro. Iniciado na Maçonaria em 1897 com o nome simbólico de “Fernão Vasques”. Superintendente dos Palácios Reais, nomeado pelo Governo Provisório em 24.10.1910. Sócio do Instituto de Coimbra e da Associação Liberal de Coimbra. Transitou para a Faculdade de Ciências em 12.5.1911. Professor da Faculdade de Ciências. Cadeiras - Desenho (1911-1928), prof. ordinário. Jubilação - Em 2.3.1929. Transitou da Faculdade de Filosofia como professor da cadeira de Desenho anexa às Ciências Biológicas. Pediu a aposentação em 7.1917, o que lhe foi indeferido. Vereador da Câmara Municipal de Coimbra. Membro do Conselho de Arte e Arqueologia de Coimbra em 1920."
(Fonte: https://www.uc.pt/org/historia_ciencia_na_uc/autores/GONCALVES_antonioaugusto)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas apresentam manchas de acidez.
Muito invulgar.
Indisponível

22 agosto, 2025

ANDRADE, Ruy d' -
LA CRISIS DEL CABALLO ANDALUZ : 1946
. Lisboa, Tip. Duarte, Limitada, 1946. In-4.º (25,5x18,5 cm) de 45, [3] p. ; [56] p. il. ; E.
1.ª edição.
Importante subsídio para a história do Cavalo Andaluz, raça equina originária da Andaluzia, Espanha. Trata-se de um alerta do autor para a situação periclitante da raça em meados do século passado, que a incúria e desinteresse poderia concorrer para a sua extinção.
Ilustrado com 111 fotografias distribuídas por 56 páginas separadas do texto, reproduzindo mais de uma centena de exemplares da raça.
"O cavalo andaluz é uma raça equina originária da Andaluzia, na Espanha. Descendente direto do cavalo ibérico, é oriundo de cruzamentos de cavalos sorraia (descendente de tarpã) com berberes e posteriormente árabes. É considerado o mais antigo cavalo de sela do mundo, tanto que muitos impérios e monarquias caíram e subiram através desta raça.
Cavalos de origem ibérica introduzidos nas Américas durante o período colonial, conhecidos como cavalos colonizadores, contribuíram geneticamente para a formação de diversas raças modernas, como o puro-sangue inglês, o cavalo campolina, o cavalo hanoveriano, o holsteiner, o lipizzan, o alter-real, o quarto de milha, conforme documentado em estudos genealógicos equinos.
É uma raça que apresenta bom desenvolvimento dos ossos e músculos, grande resistência física e perfeita harmonia entre as várias partes do corpo. Destaca-se também por sua inteligência, valentia e versatilidade."
(Fonte: Wikipédia)
"Escribo este opusculo con el fin de alertar los interesados para la situación peligrosa de la raza caballar andaluza que se va a perder, y tyentar impedir que este hecho se dé.
Porque me impresiona este peligro? Porque es una lástima perderse un monumento tan glorioso de la Historia Peninsular: el caballo compañero secular de los triunfo militares de todos nosotros , y porque es un error económico.
Los pueblos de la peninsula ibérica fueron siempre valientes y guerreros.
Desde cuando, en el liminar de la Historia, se opusieron a los invasores celtas, arrinconandolos sobre la meseta central, cuando mas tarde, mercenarios, combatieron en Sicilia y asta en Grecia, mas tarde aún, cuando en su patria se opusieron a Cartagineses y Romanos: mas tarde todavia cuando acompañaron Anibal a Italia y tantas pruebas de valor dieron hasta la ultima resistencia en la batalla de Zama; durante las glorioosas luchas de celtiberos, lusitanos, gallegos y cantábros, en que lució el valor de Viriato y de Sertorio, y el valor ibérico se elevó al lirismo de la mas alta gloria."
(Excerto do Preambulo)
Ruy de Andrade (Génova, Itália, 1880 - Lisboa, 1967). "Destacou-se como académico, político e teórico nos estudos agronómicos cuja formação ao mais alto nível concretizou com a sua tese de doutoramento apresentada no âmbito das Ciências Agronómicas na Universidade de Paris e com o reconhecimento académico no âmbito dos seus trabalhos de investigação na mesma àrea recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Madrid.
Na vida política, destaca-se a sua participação na vida política local, regional e nacional. No plano regional, revelou-se quase sempre como próximo dos interesses governamentais, sendo deputado por Arronches durante a última fase da Monarquia quando aquela vila era identificada com os valores republicanos. Durante a fase inicial do Estado Novo foi uma personagem importante junto dos corredores governamentais no sentido de obtenção de melhorias locais para a cidade de Elvas e para a Vila de Campo Maior.
Em Elvas, vive nas décadas de 40 e 50, período em que escreve e publica as suas obras de referência: O Cavalo Andaluz (1937), Garranos (1938) Elementos para a História da Coudelaria de Alter, (1947-1959), entre outras pequenas publicações de matriz agrícola."
(Fonte: http://flama-unex.blogspot.com/2009/03/ruy-de-andrade-o-ultimo-presidente-da.html)
Bonita encadernação meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Carminado à cabeça.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
30€

21 agosto, 2025

O'NEILL, Maria -
O COLAR DE VERA.
Por... Sócia correspondente da Academia das Sciencias de Portugal. Lisboa, Tipografia A Rápida, 1923. In-8.º (19x13,5 cm) de 70, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante obra poética da autora, das menos conhecidas da sua importante bibliografia. Trata-se de uma história de amor, em 10 capítulos, onde os equívocos, a vaidade e obstinação dos protagonistas - Vera e Dom Paio, fidalgo espanhol, - conduz ao trágico desenlace.
Exemplar muito valorizado pela assinatura autógrafa da autora.

"Como a tarde está linda e está serena!
O sol caíndo a prumo sobre a arena.
A praça engalanada a buxo e flores,
Ostentando bandeiras multicores
Regorgita de povo a vozear.

Vera tem a maior das arrelias:
Chega quasi ao findas das cortezias,
Depois do Rei Dom Carlos já lá estar!
Dom Paio entre a flor dos cavaleiros
Tidos na nossa terra por primeiros
Brilhava como um rei, não tendo par.

Filho dum diplomata que em Lisboa
Longos anos vivêra, e cá deixára
Cordiais relações, este Dom Paio
Enraivava hespanhoes, por achar boa
E bem melhor que a sua forma rara
Elegante e gentil de toirear
Dos nossos portugueses. No seu baio
Que foi comprado aos Maias, quiz mostrar
Na Espanha airosa a graça Portuguesa
Que tem um cavaleiro. E fez furor
Nunca isento de invejas e despeito.
Houve zangas, polemicas, questões,
Ditos de estuppidez e de esperteza,
Emfim, aqui chegou tanto rumor,
Que o convidaram como cavaleiro
Na amavel intenção de lhe perestar
Carinhosa ovação. Sendo trigueiro,
O negro do vestido o faz mais belo,
E a renda antiga, em tom quasi amarelo,
Realça a distinção do seu trajar.
Vendo Vera, saudou-a gentilmente,
Lançando-lhe um olhar ousado e quente
Que intensissimamente a fez vibrar.
Nunca sentira tão profundo efeito,
Nem lhe pulsara o coração no peito
De modo mais violento e singular!..."

(Excerto de  III - A toirada)

Indice:
Dedicatoria | Prologo | I - Êles. II - O leque. III - A toirada. IV - No Campo Grande. V - Vaidade Ferida. VI - Gritos d'Alma. VII - Desilusão. VIII - Ela por Ela. IX - O Duelo. X - O Cedro. | Epílogo.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas apresentam pequenas falhas marginais. Parte f. ante-rosto amputada à cabeça.
Muito invulgar.
20€

20 agosto, 2025

MACHADO, J. T. Montalvão -
COMO E PORQUÊ SE IMPRIMIU EM CHAVES O PRIMEIRO LIVRO DE LÍNGUA PORTUGUESA.
Pelo académico correspondente... Separata dos «Anais» - II Série, Vol. 24, Tomo I. Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1977. In-4.º (26x19,5 cm) de [4], 59, [1] p. ; (41-99 pp.) ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Importante subsídio para a história do livro e da tipografia em Portugal, centrado sobretudo na circunstância da impressão do «Tratado de Confissom» em Chaves, na época vila, durante décadas considerado o primeiro livro impresso entre nós.
Estudo invulgar e muito interessante, sem menção na BNP.
Ilustrado com 6 estampas distribuídas por 3 folhas separadas do texto reproduzindo desenhos esquemáticos (marcas de água do papel), mapa do norte de Portugal e Galiza e fotografias de vistas e paisagens da cidade de Chaves, outra do Castelo de Monterrei (Espanha) e de costumes galegos.
"Visto que nos apareceu um livro, impresso em Chaves, no ano de 1489, é pela impressão que nós começaremos.
Desde o aparecimento do incunábulo foi revelado ao público, pelo artigo do Diário de Notícias, de 25 de Maio de 1965, um dos motivos de surpresa resultou do facto de a obra se dizer impressa na vila de Chaves. Como e porquê tal impressão foi ocorrer na afastada vila da nossa raia setentrional?"
(Excerto de E - A hipótese Zamora)
Índice:
A - O aparecimento do incunábulo. B - Críticas ao incunábulo recém-chegado. C - Edição fac-similada com leitura diplomática. D - Incunábulos impressos em Portugal. E - A hipótese Zamora. F - A hipótese israelita. G - A hipótese de Monterrei. H - A imprensa em Monterrei.I - Monges de Chaves. J - Frei João de Chaves. L - Quem escreveu o «Tratado de Confison»? M- Livros de autores anónimos. | Bibliografia.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa vincada no canto inferior direito.
Muito invulgar.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
35€

19 agosto, 2025

CAUFEYNON e JAF, Drs - AS MISSAS NEGRAS. Feitiços, diabruras, maleficios e sortilegios. Os amores e o culto de Satanaz. Lisboa, Typographia Lusitana Editora, 1909. In-8.º (20,5x13 cm) de 258, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Curioso estudo sobre feitiçaria e o culto a Satanás. Obra dividida em duas partes: as seitas e o culto demoníaco em si, através do cerimonial e das missas negras; a adoração a Satanás sob o ponto de vista dos costumes - eróticos e sensuais.
Obra invulgar e muitíssimo interessante. A BNP não menciona.
"As missas negras, seja qual fôr o cerimonial que n'ellas se observe, teem sempre por objectivo o culto do Demonio; aquelles que as celebram, sacerdotes ou não, são crentes do dogma christão, porque é evidente que o sacrilegio não poderia existir onde não houvesse a crença; a profanação intencional caracterisa o proprio acto. [...]
As missas negras caracterisam-se especialmente pela inversão absoluta do rito christão; são officios ao revez e nos quaes, com o espirito de se pôr bem em relevo a profanação aprazivel a Satanaz, se ministra a hostia consagrada maculando-a de differentes maneiras. [...]
Quando se estuda a origem das seitas dos primeiros seculos da era christã, fica-se profundamente impressionado pelas indubtaveis analogias que taes associações offerecem com os mysterios da antiguidade. Os prazeres sensuaes formam o seu principal attractivo; quanto ao dogma, consiste em considerar Baccho como o verdadeiro Senhor dos Deuses, desthronado pelo usurpador Jupiter. As seitas gnosticas e as que d'ella derivam, consideravam Saranaz como o verdeiro Deus, desthronado pelo Altissimo. Entre uns e outros todos os desregramentos se julgavam legitimos. Os vicios constituiam virtudes.
As missas negras derivam das primeiras seitas que ministravam a Eucharistia mesclada de substancias repugnantes e sangue, que veneravam Satanaz e se abstinham de tudo que o Evangelho preceitua, recorrendo a quanto n'elle se prohibe.
As missas negras revestem um caracter especial de maleficio; são geralmente celebradas como as missas lithurgicas, por intenção de determinadas pessôas; differem apenas n'isto: as primeiras visam os vivos, as segundas os mortos. Quando se deseja mal a alguem, faz-se consagrar no altar, pelo officiante, uma figurinha de cêra, na qual se cravam alfinetes de ferro; isto basta para causar, n'aquelle que se visa, enfermidades terriveis e muitas vezes a morte. A missa negra serve tambem de feitiço para o amor, quer dizer, obriga o homem ou a mulher ao sacrificio corporal em favor do feiticeiro; para varrer do caminho um rival ou uma rival, e, n'este caso, para lhes causar a morte ou, pelo menos, provocar-lhes qualquer doença incuravel, e ainda levál'os a praticar qualquer acto que resfrie o amor d'aquelle ou d'aquella que os ama.
Finalmente, as missas negras, verdadeiro culto satanico, constitue uma das superstições mais aferradas do nosso tempo, porque a verdade é que estão ainda em uso, fazem parte integrante da prostituição moderna."
(Excerto do Prefacio)
Indice:
Prefacio | Primeira Parte: O culto de Satanaz: I - Origens e progressos dos Mysterios. II - A Demonomania dos Antigos. III - As seitas heresiarchas e as suas cerimonias. IV - Festas licenciosa do seculo XII. V - Votos e maleficios consagrados. VI - Profanações dos seculos XIV e XVI. VII - As missas e cerimonias escandalosas do seculo XVI. VIII - Assembléas satanicas. - Missas negras dos feiticeiros. IX - Maleficios, sortilegios, sacrilegos e missas negras do seculo XVII. X - Os Convulsionarios e as suas doutrinas singulares. XI - O Templo da Maçonaria Egypcia. - Cagliostro. XII - Cerimonias sacrilegas da Revolução. XIII - Missas negras modernas. Segunda Parte: Os amores de Satanaz. Orgias do tempo antigo: I - Torpezas dos grandes senhores e do clero. II - Costumes dissolutos dos reis francos e dos bispos da Edade Media. III - Costumes publicos e privados a partir do seculo XI - Os possessos demoniacos. IV - As possessas de Loudun e Louviers. V - Os vicios dos seculos XVII e XVIII. VI - Os possessos de Morzina.
Jean Fauconney  (1870-1970). Escritor francês e médico militar, conhecido sobretudo pelas suas obras de índole erótica, algumas delas relacionadas com a sexualidade, saúde e e hábitos de higiene. Escreveu sob os pseudónimos Dr. Jaf (ou Jaff), Brennus e Dr. Caufeynon, sendo este último um anagrama do seu apelido. A obra As Missas Negras, no original Les Messes Noires, le culte de Satan-Dieu. (Paris: Pancier, 1905), que representa uma inusitada incursão do autor no tema da superstição e do sobrenatural, é praticamente desconhecida, sendo raríssimas as referências ao livro.
Encadernação meia de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Papel de fraca qualidade, folhas escurecidas. Sem f. ante-rosto.
Muito raro.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
Indisponível

18 agosto, 2025

BETTENCOURT, Jácome de Bruges -
EXPOSIÇÃO DE REGISTOS DE NOSSA SENHORA DOS MILAGRES DA SERRETA.
Comemoração do 1.º Centenário da Benção da sua Igreja Paroquial. Ilha Terceira, Serreta, 31 Ago. 2007 a 9 Set. 2007
Angra do Heroísmo, [s.n.], 2007. In-8.º (21x15 cm) de 8 p. (inc. capas) ; il ; B.
1.ª edição.
Bonito opúsculo sobre a colecção de "Estampas de Nossa Senhora dos Milagres em exposição na Serreta", Angra do Heroísmo.
Ilustrado no texto e em página inteira com imagens da Santa.
Valorizado pela dedicatória autógrafa do autor.
"Embora tenha consciência de que as estampas desta evocação sejam em número relativamente escasso, isto é, conheço nove peças de pequenas dimensões ou tiragens, como tenho na colecção, pelo menos duas litografias com interesse, pertencentes ao meu pequeno núcleo icónico de imagens impressas, veneradas nas nossas ilhas.."
(Excerto do texto)
Jácome Augusto Paim de Bruges Bettencourt (n. 1946). Nasceu na cidade da Horta. Funcionário da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, é cônsul honorário nos Açores da República de Cabo Verde. Foi vice-presidente da Comissão Administrativa da extinta Junta Geral de Angra do Heroísmo e Provedor da Santa Casa da Misericórdia desta mesma cidade. É membro da Academia Portuguesa de Ex-Líbris e da Associação da Nobreza Histórica de Portugal, Comendador da Ordem Dinástica de São Miguel da Ala e Cavaleiro da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém. Foi fundador do Partido Popular Monárquico, do qual veio a desvincular-se. Estudioso da cerâmica tradicional da ilha Terceira, de ex-librística, heráldica e património histórico, é sócio efetivo do IHIT (Instituto Histórico da Ilha Terceira), e autor de vários títulos assim como de numerosos artigos sobre diversos temas publicados em periódicos açorianos e continentais."
(Fonte: https://bparlsr.azores.gov.pt/arquivo_regional/jbb-jacome-de-bruges-bettencourt/)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Muito invulgar.
10€

17 agosto, 2025

CUNHA, Francisco Simões da -
INDUSTRIA E COMMERCIO DO FIGO.
Breves considerações precedidas d'uma carta de Luciano Cordeiro. Lisboa, Typographia do Futuro, 1874. In-8.º (21x14 cm) de 31, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Importante trabalho, de certa forma, pioneiro e premonitório, acerca  da organização e viabilidade da produção e comercialização do figo no Algarve, de onde o autor é natural, para mercado interno/externo, preconizando o associativismo e o acesso ao crédito.
Estudo muito valorizado pela carta-prefácio de Luciano Cordeiro.
"O Figo! pois isso vale lá a pena estudar-se!...
Mas é que o amigo sabe que o pobre, o modestissimo figo, representa a vida, a fortuna de muitas famillias; - a figueira, que já serviu de symbolo a qualquer cousa, é aqui, em Portugal, uma realidade importante, composta de muitas esperanças, de muitas canceiras, de muitas horas amargas e muitas horas felizes, de muitos suores e de muitos jubilos, de muitos futuros até - deixe dizer assim. [...]
O meu amigo é do Algarve; nasceu lé; tem vivido, pensado, trabalhado ali; aquella é, como se costuma dizer, a sua terra, isto é, a sua familia, o seu lar, a sua officina, o seu passado, as suas melhores recordações, o ar a que se affeiçoaram os seus pulmões, os horisontes em que mergulharam os seus primeiros olhares, as praias em que primeiro se exercitaram os seus musculos, o sol que primeiro o aqueceu, a escola que primeiro o illuminou, o amigo que primeiro lhe estendeu a mão, a mulher talvez - perdôe se sou indiscreto - que primeiro lhe deu a alma.
Ama a sua terra, quer-lhe muito, deseja ver o seu Algarve prospero, feliz, forte, engrandecido. [...]
N'estas linhas que acabo de ler, o amigo procura acordar a sua provincia para a vida do progresso e da sciencia economica. Estuda a principal fonte da industria e do commercio do Algarve. Vêa jorrando e correndo á toa, esperdiçada, desvinda, desviada.
Crê que a associação a poderia salvar, utilisar, converter em caudal de riqueza para todos o que é exploração precaria d'alguns.
Tambem creio. A associação é um grande, um poderoso meio."
(Excerto da Carta-prefácio)
"A industria do figo, pelo seu estacionamento, o commercio, pelo desconceito que denuncia, merecem o cuidado activo e vigilante, pelo futuro que se lhes prepara. [...]
Proval-o-hemos.
Só a iniciativa collectiva nos parece destinada a organisar a industria, a aperfeiçoal-a, a acreditar o commercio, fecundando o seu desenvolvimento.
É notoria a importancia da producção do figo na provincia do Algarve.
O commercio d'este producto com a praça de Lisboa mercados estrangeiros não declina sensivelmente, mas desconceitua-se.
Ninguem ignora que a producção do figo representa inegavelmente a maior verba da riquesa do Algarve e portanto, a todos é dado averiguar os inconvenientes que se manifestam em depreciações na riquesa publica."
(Excerto do Estudo)
Exemplar brochado, por abrir, em bom estado de conservação.
Raro.
Com interesse histórico e regional.
Indisponível

16 agosto, 2025

REIS, Alves -
O SEGRÊDO DA MINHA CONFISSÃO
. Lisboa, Edições Novo Mundo / Edições Europa, 1931-1932. 2 vols in-8.º (19x12,5 cm) de 314 [6] p. ; [15] p. il. (I) e 412 [4]. p. (II) ; B.

1.ª edição.
Autobiografia de Alves dos Reis, conhecido burlão português, escrita durante o período de cativeiro.
Obra em 2 volumes (completa), ilustrada com reprodução fac-símile de diversos documentos no primeiro livro em 15 páginas separadas do texto.
"Mais de um ano decorreu sôbre a confissão, que fiz ao Tribunal que me condenou, e ainda circulam diversas versões da atitude inesperada que tomei em Santa Clara.
Não quero ouvir o fervilhar dos boatos tendenciosos. Não discuto, portanto, as versões que correm, nem desejo provar a veracidade do segrêdo da minha confissão.
Escrevo a história psicológica das minhas crenças. Narro, o melhor que sei, o meu renascimento e a evolução da minha alma. E os bem intencionados julgarão a Verdade desta narração, que horas bem amargas de carcere não deixar estropiar pelo horror à mentira gerado à custa de muitas lágrimas, pelo culto à Verdade que só Deus sabe ensinar, entre soluços e dores, na religião do sofrimento."
(Excerto da Introdução)
Artur Virgílio Alves Reis (Lisboa, 1896-1955). "Foi um famoso burlão português que, em 1925, ficou associado ao crime de falsificação das notas de 500$00, Efígie Vasco da Gama, no denominado processo "Angola e Metrópole". Além disso, também foi o autor de inúmeras falsificações de documentos e assinaturas, comprou ações de forma ilegal e passou cheques sem cobertura."
(Fonte: https://www.bportugal.pt/arquivo/details?id=48694)
Exemplares brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos. Chancela de posse na f. rosto de ambos os volumes.
Invulgar.
Indisponível