CAMARA, A. Freitas da - COSTA DO SOL : Romance Rialista. Lisboa, Livraria Central de Gomes de Carvalho, editor, [1932]. In-8.º (18,5x13 cm) de 346, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Capa belíssima assinada por Alfredo Cândido (1879-1960), conhecido ilustrador limiano.
Curioso romance, levemente erótico para os padrões da época, o suficiente para, sujeito à censura do Estado Novo, ser proibido de circular. Posteriormente, em 1933, Freitas da Câmara viria a publicar o romance Vampiro lúbrico : estudos literário-sexuais, que, tal como este, foi banido pelo regime.
Obra invulgar e muitíssimo interessante.
"Ás oito e meia, como de costume, a Leonor bateu levemente á porta do quarto de Maria Luisa. Não obtendo resposta, voltou a bater as tres pancadinhas habituaes com os nós dos dedos, a inquirir:
«Posso entrar, menina?»
De dentro, a voz musical de Maria Luisa preguntou, com aquela intonação propria de quem acaba de ser despertada de improviso;
«Quem é?»
«Sou eu, menina. São horas do pequeno almoço,» voltou a dizer a Leonor.
«Ah. Entra.»
A criada deu a volta ao fecho da porta e penetrou no aposento imerso em quasi completa escuridão. Distinguiam-se vagamente os objectos que adornavam aquele lindo aposento de mulher: o mobiliario de estilo, o lavatorio a um canto onde abundavam os sabonetes de boa marca, o psyché repleto de frasquinhos de capitosos perfumes, a escrivaninha, tudo disposto com muita arte e indiscutivel bom gosto.
ALeonor deu os bons dias e, pousando numa mesinha de centro a salva com a chicara de café com leite que fumegava e as torradas macias e tépidas, dirigiu-se á janela e abriu as portas de madeira.
Um jorro de luz barnca, coada pelos cortinados de tule penetrou no quarto onde flutuva um indifenivel perfume, grato á narina, de essencias de preço e de cheiro a carne feminina bem cuidada."
(Excerto de I - Virgindade inquieta)
"Deitada na chaise, a fumar com volupia uma cigarrilha turca, Maria Luisa lia atentamente a secção «Praias e Termas» do jornal.
Um dos pés descançava sobre o tapete emquanto o outro, apoiado no rebordo do movel, brincava indolentemente com a sapatilha suspensa pelas pontas dos dedos.
A tarde estava quente o que a forçava a afastar as bandas do pijama para refrescar a pele, afogueada a despeito da caricia fresca do sedoso tecido.
Crusou as pernas, ageitou-se melhor na posição horisontal em que estava e pousou o jornal sobre o joelho saliente; em seguida poz-se a observar com curiosidade o movimento ascensional do fumo do seu cigarro até deter a vista num ponto fixo do tecto. Meditava em que praia ou estancia termal lhe conviria veranear nesse ano, parecendo-lhe sentir uma inexplicavel inclinação pelo Estoril.
No ano anterior estivera na Figueira da Foz. Não voltaria lá tão cedo.
Das restantes localidades que a gente chic habita na época calmosa eram-lhe familiares a Curia, o Bussaco, Vila do Conde, a Nazare e outras estancias de verão mais ou menos atraentes desde os tempos em que o papá ia a Vizela todos os anos para as suas massagens mercuriaes. De forma que hesitava na escolha."
(Excerto de II - Meditações)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação.
Raro.
Indisponível

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