20 janeiro, 2019

COSTA, Vieira da - A IRMÃ CELESTE (pathologia religiosa). Lisboa, Livraria Clássica Editora de A. M. Teixeira, 1904. In-8.º (18,5cm) de 498, [2] p. ; E.
1.ª edição.
Interessante romance realista/naturalista de forte pendor anticlerical.
"Foi por um bello dia de março, no momento preciso em que na torre da igreja matriz soavam as dose badaladas do meio dia, que as Irmãs de Caridade, ha tanto tempo esperadas, chegaram á vasta portaria do hospital, amontoadas dentro d'um velho landau fechado e poeirento, puxado por trez magros cavallos esqueleticos, d'ossaduras salientes.
Áquella hora não eram esperadas, e por isso não havia ninguem que as recebesse. O provedor estava ausente, o medico não chegara ainda; e só havia presente o velho pharmaceutico hospitalar, Norberto Taveira, sentado á janella da botica, no rez do chão da casa, a ler o Seculo."
(Excerto do Cap. I)
"Chamava-se, no seculo, Valentina de Castro Aboim de Noronha, a linda irmã Celeste, e tinha vinte annos. O pae, Manuel de Souza Aboim de Noronha, morgado de Valle de Cedros, e a mãe D. Maria Vasques de Castro, lá deviam residir ainda no velho solar da Beira, definhando dia a dia n'uma trizteza morna e inconsolavel, desde que a partida da filha os deixara n'uma solidão desolada como um abandono.
Quinta na ordem de nascimento, Valentina tornara-se filha unica por morte de seus quatro irmãos, fallecidos creanças. Ella mesmo não dera, a principio, esperanças de viabilidade, tão franzina, tão delicada era a sua compleição. O sangue dos paes, derrancado e empobrecido por successivos casamentos consanguineos, não transmittira aos filhos senão uma seiva dessorada e debil, - e d'ahi aquelle sersinho fraco e doentio, que a morte parecia a cada ameaçar com sua fouce impiedosa."
(Excerto do Cap.II)
"A installação da vespera, toda provisoria, só n'esse dia teve o seu caracter definitivo, - e desde então tudo entrou nas praxes determinadas, que o regulamento prescrevia.
Mas quasi logo começou mais uma vez a desenhar-se para Valentina o espectro sarcastico da desillusão, que tantas vezes a fustigara já com o rijo tagante do desgosto: as Irmãs, as santas Irmãs de Caridade, que ella sempre imaginara uns entes piedosos a desentranharem-se em dedicações sublimes pelos enfermos, surgiam agora, sem os atavios da consagração, o que real e verdadeiramente eram, uns simples typos mercenarios, cumprindo uma obrigação, que lhes era imposta."
(Excerto do Cap. III)
José Augusto Vieira da Costa (1863-1935). "Nasceu em Salgueiral, concelho da Régua, em 14.3.1863. Aí morreu em 13.1.1935. Colaborou em vários jornais e revistas, nomeadamente na Ilustração Transmontana e em jornais do Brasil. Publicou os romances Entre Montanhas, A Irmã Celeste e A Familia Maldonado. Deixou organizado o romance O Amor, e a novela Sob a Folhagem. Já quase cego escreveu Portugal em Armas, publicado por ocasião da Grande Guerra. A cegueira deixou o na miséria pelo que a Câmara da Régua lhe estabeleceu uma pensão. O Dr. Fidelino Figueiredo publicou uma análise crítica sobre a sua obra."

(Fonte: http://www.dodouropress.pt/index.asp?idedicao=66&idseccao=555&id=2555&action=noticia)
Encadernação coeva em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Sem f. anterrosto.
Muito raro.
Indisponível

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