13 outubro, 2017

GALLIS, Alfredo - A BURLA DO CONSTITUCIONALISMO : autopsia á politica portugueza no actual momento historico. A pantomima, os pantomineiros e as pantominices do nosso mundo politico. Lisboa, Livraria Antonio Maria Pereira - Livraria editora, 1905. In-8.º (19cm) de 237, [3] p. ; B.
1.ª edição.
Análise política da época em tom corrosivo. O autor, jornalista de fino humor, porventura terá ficado mais conhecido pelos romances de matriz erótica que publicou no final do século XIX, início do século XX.
"A obra do jornalista é ephemera embora civilisadora, e quem tiver assumptos de certa magnitude a tratar, e queira que elles perdurem na memoria dos povos, deve escolher de preferencia o livro ao jornal.
Eis o motivo porque em livro concretisei aquillo que muito facilmente poderis dizer em artigos jornalisticos... [....]
Desde que o jornal envaredou pelo campo da bisbilhotice do soalheiro, quer esse soalheiro seja um gabinete de ministro quer a humilde casa de um operario, a sua missão educativa e civilisadora ficou muito áquem do pensamento fundamental da creação da imprensa. [...]
Escreve-se sem sciencia nem consciencia, n'uma nojenta disciplina brutal que causa asco.
O jornalista politico em vez de orientar o seu partido e corrigir-lhe as demasias, applaude tudo e todos n'uma alacridade de palerma escravisado que indigna e revolta. [...]
Presentemente mesmo, ha pouquissimos jornalistas.
Em compensação abundam os industriaes da imprensa e os carpinteiros da mesma, que morrem sem ninguem os conhecer nem deixarem cousa que se veja, como succedeu a tantos que conheci nos começos da minha vida de jornalista.
A experiencia, unica e exclusivamente, me percaveu contra o destino fatal de todos os jornaes, aconselhando-me a que preferisse antes o livro que fica e se guarda, ao jornal que se lê e se atira para o lado ás vezes com um modo quasi despresivo.
N'este livro pois, deixo bem inpressas todas as considerações e criticas acerbas e desapiedadas, libertas de pressões partidarias, que me inspira o estado canceroso e putrido da politica portugueza n'este momento historico da nossa vida mundial como nação autonoma.."
(excerto da introdução, Aos leitores)
Matérias:
Aos leitores. Duas palavras ácerca da vida. I - A Carta Constitucional. II - Os influentes politicos. III - Dynastias reinantes em Portugal no actual momento historico. IV - O juizo de instrucção criminal - a lei de 13 de Fevereiro, e o juiz Veiga. V - O jornalismo politico, o jornalismo industrial, o jornalismo amalandrado. VI - Politica de partidos e politica de portuguezes. VII - O que faz a Hespanha. VIII - Camaras municipaes e administradores do concelho. IX - A vida dos governos. X - O espetro do absolutismo. XI - Os processos da politica e a Ex.ma Sr.ª D. Maria Emilia Seabra de Castro. XII - O parasitismo. XIII - Alguns alvitres simples.
Joaquim Alfredo Gallis (1859-1910). "Mais conhecido por Alfredo Gallis, foi um jornalista e romancista muito afamado nos anos finais do século XIX, que exerceu o cargo de escrivão da Corporação dos Pilotos da Barra e o de administrador do concelho do Barreiro (1901-1905). Usou múltiplos pseudónimos, entre os quais Anthony, Rabelais, Condessa do Til e Katisako Aragwisa. Desde muito jovem redigiu artigos e folhetins em jornais e revistas, entre os quais a Universal, a Illustração Portugueza, o Jornal do Comércio, a Ecos da Avenida e o Diário Popular (onde usou o pseudónimo Anthony). Como romancista conquistou grande popularidade, especializando-se em textos impregnados de sensualismo exaltado que viviam das «fraquezas e aberrações de que eram possuídas, eram desenvolvidas entre costumes libertinos e explorando o escândalo». Escreveu cerca de três dezenas de romances, por vezes publicados com o pseudónimo Rabelais. Alguns dos seus romances têm títulos sugestivos da sensualidade que exploram, nomeadamente Mulheres perdidas, Sáficas, Mulheres honestas, A amante de Jesus, O marido virgem, As mártires da virgindade, Devassidão de Pompeia e O abortador. É autor dos dois volumes da História de Portugal, apensos à História, de Pinheiro Chagas, referentes ao reinado do rei D. Carlos I de Portugal.”
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas manchadas.
Invulgar e muito interessante.
Indisponível

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