27 setembro, 2016

NAVARRO, Emygdio - OS FUSILAMENTOS. O Direito - A Politica - A Ordem Social. Lisboa, Typographia do Jornal - O Paiz, 1874. In-8.º (20cm) de 40 p. ; B.
1.ª edição.
Importante peça bibliográfica com interesse para a história da Pena de Morte em Portugal.
Valorizada pela dedicatória autógrafa do autor.
Trabalho publicado na sequência do assassinato do alferes Palma e Brito pelo soldado de infantaria n.º 2, António Coelho. A juventude do oficial e as circunstâncias que rodearam o acto, provocaram grande comoção e revolta um pouco por todo o país, com epicentro em Lisboa, onde se deu o crime. A pena a aplicar, originou uma enorme discussão pública com participação de personalidades dos mais diversos sectores da sociedade civil e militar.
"O auctor d'este pequeno opusculo é jornalista. Por mais de uma vez tem defendido na imprensa periodica as idéas, que ora entrega á publicidade, e foi a sua penna uma das primeiras, que se cruzaram com as espadas n'esse duello, que se fere sobre a sepultura do desditoso Palma e Brito. [...]
Quando entre nós surge uma questão grave, que vem cortar a monotonia e a tranquilidade da nossa existencia, é costume começar-se por pedir á opinião e á imprensa, que não agite e discuta essa questão como questão partidaria. Erro grave, ou confissão da nossa profunda decadencia. São essas as verdadeiras, as unicas questões partidarias, porque são ellas, que estabelecem divergencias consideraveis em pontos de doutrina, demarcando arraiaes, caracterisando distinctamente os partidos, os quaes devem separar-se pelas diferenças de ideias e principios, e não pelas rivalidades dos homens e as ambições dos corrilhos. Para o auctor d'este opusculo, o fusilamento do soldado Antonio Coelho é, primeiro que tudo, uma gravissima questão politica, e notavel raia divisoria entre os campos occupados pelos partidos militantes. Assim o trata."
(excerto do preâmbulo)
A questão divide-se naturalmente em tres partes distinctas: - qual deve ser o procedimento dos tribunaes, qual o do governo, e qual o do poder moderador, no castigo do crime e na solução dos problemas gravissimos de ordem politica e social, que com elle se prendem. Nunca é inconveniente a discussão nos paizes, que se regem por instituições livres; e, n'esta conjectura, é ella tanto mais necessaria, quanto mais imperativas se mostram mal disfarçadas manifestações de militarismo. Contra a força dos sabres convem oppor a força da razão e da opinião publica. Restabelecer-se-ha d'este modo o equilibrio, para que sejam decretadas com independencia e reflexão as resoluções, que houverem de adoptar-se. Nem a paixão é bôa conselheira, nem a pressão de uma classe qualquer póde ser garantia de justiça e acerto."
(excerto da introdução, Os fusilamentos)
Emídio Júlio Navarro (Viseu, 1844 - Luso, 1905). Jornalista, político e diplomata português. "Foi aluno do Seminário de Bragança, onde completou o 2.º ano do Curso de TeoIogia. Em Coimbra, não se sentindo com vocação para a vida eclesiástica, matriculou-se na Faculdade de Direito, tendo concluído o curso em 1869. Deputado, ministro de Estado e ministro de Portugal em França, Emídio Navarro foi sobretudo um grande jornalista. Quando estudante em Coimbra, fundou o jornal A Académica, que teve como colaboradores João de Deus, Teófilo Braga e outros. No Conimbricense também escreveu assiduamente, onde começou a revelar-se dando extraordinárias provas de polemista, de incomparável observador e comentador da vida política do seu tempo. Regressado a Bragança, abriu banca de advogado e aí publicou alguns artigos sobre a Revolução Francesa e os seus homens mais eminentes e tentou fundar um jornal político. Em Lisboa, fundou O Progesso, foi director do Correio da Noite, órgão do partido progressista, onde ingressou. Nomeado secretário do Tribunal de Contas e eleito deputado em várias legislaturas, foi mais tarde para Paris como Ministro de Portugal. Luciano de Castro nomeou-o Ministro das Obras Públicas, tendo desenvolvido notável acção. Abriu grande parte das estradas de Portugal, alargou os serviços florestais, criou, protegeu, edificou e consolidou tudo quanto podia contribuir para o desenvolvimento do património nacional. Após o regresso de Paris, abandonou por completo a actividade política e dedicou-se ao seu jornalismo. Nesta última fase salienta-se a «questão dos tabacos» que ocasionou extraordinários episódios políticos. Parecia que a sua pena ressurgia, moça, dos tempos antigos. Minado pela doença, retirou-se com sua família para o Luso, onde viria a falecer."
(fonte: www.prof2000.pt)
Exemplar brochado, aparado, em bom estado geral de conservação. Capa manchada. Ausência da contracapa e lombada - indicia ter estado encadernado com outras publicações.
Raro.
25€

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