22 setembro, 2016

ORNELLAS, Carlos d' - O AÇOREANO NA GRANDE GUERRA. (Capa de Carlos Mendes da Costa). [Prefácio do Marechal Gomes da Costa]. Lisboa, Revista Insular e de Turismo, 1931. In-8.º (22cm) de [14], 128, [2] p. ; mto il. ; B.
1.ª edição.
Ilustrada com os retratos do Marechal Gomes da Costa, com a legenda "uma grande figura da guerra", e do pai do autor, o General de Artilharia Guilherme Carlos Lopes Banhos. Contém ainda inúmeros retratos da oficialidade açoriana que integrou o C. E. P., em França, bem como a reprodução de fac-símiles, desenhos e fotogravuras de paradas militares.
Exemplar n.º 814 de uma tiragem não declarada, assinada pelo autor.
Livro duplamente valorizado pela dedicatória autógrafa de Carlos de Ornelas.
"Carlos d'Ornellas, açoriano que esteve na guerra, ao voltar às suas Ilhas, realizou uma conferência para honrar os patrícios que com êle tomaram parte na grande guerra. E é essa conferência que êle hoje lança a público e me pediu para prefaciar.
Esta guerra de 1914-1918, foi a mais assombrosa de todos os tempos, quer pelo número de homens, nela empenhados, quer pela qualidade e perfeição do material; mas tudo isso, que constitue sérias preocupações para os comandos, têm para o soldado um único sentido - a necessidade de vencer; e essa mesma, deixa-a êle ao cuidado dos comandos, entendendo que, por si, o que tem a fazer, é servir-se bem da espingarda e da baioneta. E como a guerra não é uma cousa triste para soldados verdadeiros, procuraram, fóra das horas de combate, passar o tempo o melhor possível. [...]
Enfim, eu não me proponho descrever o que é a guerra de trincheiras; mas quando se tem de escrever lembrando gente da guerra, logo acodem ao pensamento detalhes que só os que pelas trincheiras passaram conhecem. O essencial, agora, é mostrar o valor do soldado, e em particular, do soldado açoriano, e é êsse o objectivo do Carlos d'Ornelas e consegue-o."
(excerto do prefácio)
"Fui parar a uma unidade de infantaria e, no próprio dia em que cheguei, fiz a minha apresentação nessa unidade, que se encontrava no sector Ferme du Bois, marchando imediatamente para o front, como recompensa pelos serviços que prestei aos soldados portugueses, quando «capachim», porque também o fui, infelizmente, três meses, em Roquetoire, onde a abundância de géneros de todas as qualidades, fazia caras de repouso nas arrecadações.
Contos largos para a história da guerra...
Como ia dizendo, às 10 horas da noite, depois de percorrer aquela extensa trincheira de comunicação, fui escalado para fazer uma patrulha com dez praças para a colocação de arame farpado.
Alicates, corta arames, luvas, espingardas, granadas de mão e ainda granadas de espingarda, não contando com as respectivas máscaras de gazes, espingarda e os duzentos cartuchos da praxe, tudo levávamos.
Ao entrar na primeira linha, (noite cerrada) encontrei o Armando Saraiva, rapaz do meu tempo de escola em Ponta Delgada, hoje conhecido barítono que, em Itália, tem feito os seus dias, que estava na primeira linha a comandar um pelotão.
Escusado será dizer que o Saraiva era miliciano.
Baixinho, conversámos um pouco e eu, à direita do sector, mandei os soldados saltar o parapeito para a terra de ninguém, sendo o primeiro a fazel-o o medroso, 144, que, minutos antes, se lastimara da sua malfadada vida, e com tanta infelicidade, que, com todas as suas demoras, foi ferido com uma bala no peito, retirando para a ambulância."
(excerto do texto)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Falha de papel nas extremidades da lombada.
Muito invulgar.
Com interesse histórico e regional.
Indisponível

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