29 março, 2016

HERCULANO, A. - EURICO O PRESBYTERO. [O MONASTICON. Por... Tomo I.]. Lisboa, [s.n.], 1844. In-8.º (16cm) de [2], VIII, [2], 321, [23] p. ; E.
1.ª edição.
Eurico, o Presbytero é um romance histórico, durante muitos anos considerado o 1.º com estas características a ser publicado em Portugal. Trata-se de uma obra de referência da literatura portuguesa, e do período do romantismo em particular. Monasticon, foi o nome escolhido por Herculano para designar uma série de dois romances que abordam a problemática ético-religiosa do celibato, cuja acção decorre em épocas distintas, não tendo as narrativas ligação entre si. O primeiro, «Eurico, o Presbítero», no primeiro quartel do século VIII, aquando da invasão sarracena da Península que coincide com o final da monarquia goda. O segundo, «O Monge de Cister», no século XIV/XV, durante o reinado de D. João I, em pleno período de convulsões políticas.
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"Para as almas, não sei se diga demasiadamente positivas, se demasiadamente grosseiras, o celibato do sacerdocio não passa de uma condição, de uma formula social applicada a acerta classe de individuos, cuja existencia ella modifica vantajosamente por um lado, e desfavoravelmente por outro. A philosophia do celibato para os espiritos vulgares acaba aqui. Aos olhos dos que presam considerar o homem em relação á sociedade, o celibato perpetuo do clero é condemnado por uns como contrario aos interesses das nações; como damnoso em moral e em politica, e defendido por outros como util e moral."
(excerto da introdução)
" A raça dos visigodos, conquistadora das Hespanhas, subjugára toda a Peninsula havia mais de um seculo. Nenhuma das tribus germanicas, que, dividindo entre si as provincias do imperio dos cesares, tinham tentado vestir sua barbara nudez com os trajos despedaçados mas esplendidos da civilisação romana, soubera como os godos ajunctar esses fragmentos de purpura e ouro, para se compôr a exemplo de povo civilisado."
(excerto do Cap. I, Os wisigodos)
"No reconcavo da bahia quw se encurva ao oeste do Calpe, Carteia, a filha dos phenicios, mira ao longe as correntes rapidas do estreito que divide a Europa da Africa. Opulenta outrora, os seus estaleiros tinham sido famosos antes da conquista romana; mas apenas restam vestigios d'elles: as suas muralhas haviam sido extensas e solidas; mas jazem desmoronadas: os seus edificios foram magnificientes; mas cairam em ruinas: a sua povoação era numerosa e activa;  mas rareou e tornou-se indolente. Passaram por lá as revoluções, as conquistas, todas as vicissitudes da Iberia durante doze seculos, e todas essas vicissitudes deixaram ahi uma pégada de decadencia. Os curtos annos d'esplendor da monarchia wisigotica tinham sido para ella como um dia formoso d'inverno, em que os raios de sol resvalam pela face da terra sem a aquecerem, para depois vir a noite, humida e fria como as que a precederam. Debaixo do governo e Witiza e de Ruderico a antiga Carteia é uma povoação decrepita e mesquinha., á roda da qual estão espalhados os fragmentos da passada opulencia, e que, talvez, na sua miseria, apenas nas recordações que lhe suggerem esses farrapos de louçainhas juvenis, acha algum refrigerio ás amarguras da malfadada velhice.
Não! - Resta-lhe ainda outro: - a religião do Christo.
O presbyterio situado no meio da povoação era um edificio humilde, como todos os que ainda subsistem alevantados pelo godos sobre o sólo da Hespanha. [...]
O presbytero Eurico era o pastor da pobre parochia de Carteia. Descendente de uma antiga familia barbara, gardingo na côrte de Witiza, tiuphado ou millenario do exercito wisigodo, vivêra os ligeiros dias da mocidade no meio dos deleites da opulenta e risonha Toletum."
(excerto do Cap. II, O Presbytero)
Bonita encadernação francesa em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada; carminado no corte superior das folhas. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação. Desgaste pelo manuseio junto à lombada.
Raro.
Peça de colecção.
Indisponível

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