23 janeiro, 2025

VIEGAS, Brigadeiro Carvalho -
HISTÓRIA MILITAR DA GUINÉ NA SUA HISTÓRIA GERAL.
(No V Centenário da Descoberta). [Por]... Antigo Governador da Guiné. Lisboa, Composto e impresso na Tipografia da L. C. G. G., 1946. In-4.º (23x16 cm) de 12 p. ; [2] f. il. ; B.
1.ª edição independente.
Separata da «Revista Militar» - Fascículo de Dezembro de 1946.
Interessante subsídio para a história da ex-província Ultramarina.
Ilustrado com duas estampas extra-texto: - Monumento ao «Esforço da Raça», em Bissau; - Comemora a pacificação da Ilha de Canhabaque (1935-1936) (últimas operações na Guiné).
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor ao General Vieira da Rocha (1872-1952).
"A maior parte dos portugueses não conhece, na sua verdadeira grandeza, a extensão dos sacrifícios feitos na ocupação efectiva dos nossos domínios do Ultramar. Quando muito, sòmente alguns dos factos heróicos de Mousinho, na África Oriental, outros em Angola e algum outro episódio em qualquer das outras colónias.
Quanto à Guiné Portuguesa, a sua História Militar ainda está por escrever. Se é certo que nos últimos anos o número de livros, que tratam dessa Colónia, tem aumentado, em verdade falta esse documento indispensável ao estudo da sua formação.
Até agora só alguns relatórios das campanhas da Guiné, subscritos por comandantes de colunas de operações, registaram numa linguagem concisa e objectiva as fases da luta pela posse da última terra africana, que se furtou com invulgar contumácia à aceitação da nossa soberania."
(Excerto do estudo)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas apresentam "esfoladelas".
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
15€

22 janeiro, 2025

DOYLE, Arthur Conan -
A PERSPECTIVA DA GUERRA. Por... Londres: Eyre & Spottiswoode, Limited, 1915. In-8.º (18x13,5 cm) de 19, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Visão da Guerra Mundial pelo consagrado escritor inglês, "pai" do conhecido detective Sherlock Horlmes, Sir Arthur Conan Doyle, que faz o balanço da disputa até então.
Trata-se de uma abordagem realista do conflito, não deixando de focar a o momento em que, pela primeira vez, se estabeleceram as trincheiras como táctica de guerra, incluindo ainda no seu "roteiro" bélico locais que mais tarde viriam a ser ocupados pelas forças portuguesas do C.E.P.
Obra rara, histórica, com interesse para a bibliografia WW1.
"No lado militar da nossa campanha em França e Flandres tem se dado grandes acontecimentos tão cerca de nós, confundindo-nos as suas successivas commoções, que se torna preciso cultivar um certo desprendimento mental para se lhes calcular a proporção e mutua relação para com os valores permanentes da historia. Pelo que diz respeito á campanha britannica o seguinte summario deve estar correcto no seu conjuncto. A campanha começou por derrotas (honrosas e inevitaveis mas não menos derrotas por isso) em Mons (23 de Agosto) e Le Cateau (26 de Agosto). Seguiu-se lhe a victoria do Marne (Setembro 6-11) em que as honras couberam aos nossos aliados francezes, e a batalha empatada do Aisne (13 de Setembro) na qual pela primeira vez se formaram linhas immoveis, confissão de desastre por parte dos invasores. [...]
A campanha de 1915 começou por uma victoria britannica bem cara em Neuve Chapelle, em 10 de Março envolvendo a captura permanente de aldêa. Seguiu-se alli o combate local, mas intenso, da collina 60 que terminou por uma completa victoria britannica, se bem que a guarnição foi depois forçada a retirar-se em 5 de Maio, devido ao emprego dos gazes venenosos."
(Excerto de A Nossa Campanha no Oeste)
Índice:
A Perspectiva da Guerra - "A velha Britannia ainda tem o espirito lucido para planear e o braço robusto para ferir." | O Que Nós Temos Conseguido | Valor da Expedição de Dardanellos | A Nossa Campanha no Oeste | Desempenhámos o Nosso Papel | Pessimismo Despropositado.
Exemplar em brochura, bem conservado. Cadernos soltos da capa. Selo de biblioteca na lombada.
Assinatura de posse - na capa e f. rosto - e ex-libris colado no verso da capa de José Coelho (1877-1977), ilustre escritor, professor e arqueólogo viseense.
Raro.
Peça de colecção.
35€
Reservado

21 janeiro, 2025

EM CUSTÓIAS - Ano 1976 : Dia 1
. Porto, Edições: Alerta, 1976. In-8.º (16,5x11 cm) de 8 p. ; B.
1.ª edição.
Poesia revolucionária em solidariedade com o Chile, que vivia em regime de Ditadura há poucos anos, publicada por ocasião dos incidentes entre manifestantes e forças da GNR "junto das cadeias de Custóias e de Caxias onde se encontravam detidos elementos civis e militares envolvidos nos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975", que resultaram na morte de quatro activistas.
Junta-se pagela poética: "hino de «o diário» - «A verdade a que temos direito».
Exemplar em brochura, bem conservado.
Raro.
Com interesse histórico e bibliográfico.
Indisponível

20 janeiro, 2025

MARTINS, José F. Ferreira -
ANGRID (romance oriental).
Por... Colecção Civilização N.º 85. Pôrto, Livraria Civilização, 1938. In-8.º (14x9,5 cm) de 204, [4] p. ; E.
1.ª edição.
Romance histórico cuja acção decorre, na sua maioria, no Oriente antigo português.
"Êste romance tem algum fundamento histórico, como todos os outros trabalhos de igual natureza por mim escritos.
Um pequeno episódio concernente à sociedade portuguesa no Oriente foi a chave que me serviu para bordar o enrêdo, que romantizei, ampliando-o com aspectos curiosos da vida movimentada dos tempos que dominávamos no Oriente.
Angrid, de-facto existiu e foi um célebre corsário, temido no Oceano índico, e cuja amizade os vice-reis, por mas de uma vez, procuraram e obtiveram em certas condições.
Muitos portugueses, franceses e ingleses serviram nas suas Armadas, e todos eram unânimes em exaltar as suas qualidades: valente na guerra e generoso na paz.
Angrid, lugar-tenente do célebre Corsário, é personagem principal do romance. Singularmente expressiva em tôdas as manifestações, formosa e ousada, objectiva e genuína mulher portuguesa do Século XVIII."
(Excerto do preâmbulo - Angrid)
"Acabavam de soar as últimas badaladas na tôrre da vélha igreja, tocando as Avé-Marias. Alguns peões retardatários, acabada a faina do dia, caminhavam apressados para chegarem a tempo a casa, pela vélha estrada cheia de buracos e entulhos, que do Lumiar ia a Odivelas.
Era noite escura e o céu triste de trovoadas.
Dois homens, no entanto, parecendo não ter pressa, de quando em quando suspendiam a marcha, discutindo com calor e lamentando que os seus magros salários mal chegassem para o pão. Estavam nesta altura em frente duma casa senhorial, cercada de muro que lhes dava pelos ombros. Um dêles num repente mal disfarçado, olhando para as janelas donde coava luz em jorros, comentou com um riso escarninho.
- A êste, aqui - apontando para o palácio - nada falta para ser feliz!...
Triste ilusão...
Lá dentro, na sumptuosidade dos vastos salões, de ricos doirados, tapeçarias e exquisitos candelabros, havia mais do que tristeza, havia dor, haviam lágrimas... Pairava uma pesada nuvem de tormentos mil. Um desastre lançava negra sombra n alma torturada de seus ricos moradores, os quais, talvez, preferissem, naquela hora, a mediania e até a pobreza de muitos dos seus vizinhos."
(Excerto do Cap. I - Hora fatal)
José Frederico Ferreira Martins (Nova Goa, 1874 - Lisboa, 1960). "Historiógrafo, romancista e tradutor. Depois de ter frequentado algumas escolas e universidades inglesas sem nelas ter completado qualquer curso, dedicou-se ao ensino, tendo sido professor liceal em Lisboa e em Goa. Foi vogal do Conselho de Instrução Pública da Índia e administrador da Imprensa Nacional de Luanda, cargo em que se aposentou nos anos trinta, vindo viver para Portugal onde passou a dedicar-se exclusivamente à escrita. Durante a sua estada na Índia havia desenvolvido uma importante atividade de investigação, cujos resultados estão presentes nos numerosos ensaios que publicou sobre a presença portuguesa no Oriente e vieram também a refletir-se numa parte da obra de ficção. Colaborou em O Oriente Português, de Goa, em O Instituto, de Coimbra, e em O Mundo Português, no Boletim da Sociedade de Geografia, de Lisboa."
Encadernação em percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura frontal.
Exemplar em bom estado de conservação. Aparado. Folha 139/140 alvo de restauro.
Muito invulgar.
15€

19 janeiro, 2025

FORJAZ, Augusto -
LIVRES DAS FÉRAS...
[Por]... Augusto Eugenio Duarte Pereira de Sampaio Forjaz Pimentel. Lisboa, Livraria Ferin, 1915. In-8.º (21x15,5 cm) de XII, 270, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Curiosíssimo conjunto de crónicas sobre Portugal e os portugueses, pessimistas na sua maioria, incluindo na primeira parte da obra a descrição de alguns dos episódios mais violentos da nossa história.
"Tem este livro duas partes distinctas, bem caracterizantes.
A primeira é chaga viva, supporando horrores. Pelo fôgo, pela córda, pelo ferro, chamei-lhe, abrangendo quadros temerósos.
São paginas repercutindo gritos de esquartejádos, bramidos de desespero, uivos de soffrimentos. São exhumações de despotismo, arrancando ao esquecimento 356 victimas. São fructos d'uma arvore que foi abatida, mas cujas sementes ainda ás vezes tentam germinar. [...]
Livro de rehabilitação, de Piedade, de Misericordia e de protesto, onde a Verdade surge a rosto nú, despida de ouropeis fictícios e de complacências sem motivo, assim fui procurá-lo na Historia, entenebrecida de pungitíva mágua, nauseáda por justificado ásco. Tristúra pèlos que que morreram; repulsão pèlos que matáram. Assim o apresento na scena contemporanea, como dóbre a finados abatidos por villanzêtes.
A segunda parte da óbra: Nos acasos da vida... é menos áspera. Tráta dos que morreram sem arrepios de tormentos physicos. Bastou-lhes a intriga maledicente."
(Excerto do Prologo)
Indice:
Prologo | Primeira Parte - Pelo fôgo, pela córda, pelo ferro: - O «Lisbôa». Carniceria no Porto. 1757. - Os «Tavoras». Barbarismo em Belem. 1759. - Malagrida. 1761. - A Trafaría. Entre labarédas. 1777. - Gomes Freire. 1817. - Moreira Freire. 1829. - Gravíto. Os assassinados do Porto. 1829. - Campo de Ourique. Fusilamentos. 1831. - Frei Simão. 1832. - O padre Farinha. 1838 - Remechído. 1838. Segunda Parte - Nos acasos da vida: Sotto Maior. - Niza. - Branca de Paiva. - Castello Melhor. - Chico Reis. - Sampaio. - Sant'Anna e Vasconcellos. - Barjona.
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com pequenos cortes e falhas de papel marginais.
Raro.
30€
Reservado

18 janeiro, 2025

JOBIM, José -
A VERDADE SOBRE SALAZAR.
(Entrevistas concedidas em Paris pelo Sr. Affonso Costa, ex-presidente da Liga das Nações e antigo primeiro-ministro de Portugal). Prefacio de Danton Jobim. Rio, Calvino Filho, editor, 1934. In-8.º (19x12,5 cm) de 141, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Importante contributo para história da política portuguesa nos alvores do Estado Novo, protagonizado por Afonso Costa - figura de proa da 1.ª República - que através de um conjunto de entrevistas concedidas a partir do exílio a um jornalista brasileiro, dá conta do seu "incómodo" com a situação vigente no país.
"Não sou amigo nem partidario do Sr. Affonso Costa. Reporter brasileiro, correspondente de jornaes brasileiros, não desejo immiscuir-me nos negocios internos de Portugal. Colhi, entretanto, um grande e expressivo depoimento sobre o momento politico portuguez. O ex-primeiro ministro e antigo presidente da Liga das Nações supportou durante annos o assédio que lhe movi. Não queria falar a estrangeiros sobre seu paiz. Ao fim de trez annos, capitulou. O que não obtivera a habilidade do jornalista conseguiu o odio contra a dictadura militar que, atacando-o, lhe nega o direito de defesa. E o Sr. Affonso Costa falou-me, concedendo a sua entrevista mais sensacional. Este livro é uma resposta ao "Salazar" do Sr. Antonio Ferro. Deveria compol-o um portuguez. Mas o estado totalitario do Doutor Salazar, pela sua propria estructura e finalidade, se attribue em Portugal o dominio absoluto dos prélos e das consciencias. Além do mais, a dictadura portugueza mantém um amplo e bem organisado serviço de propaganda entre nós. Creio, pois, que se deve conceder o direito de trazer ao publico brasileiro "a voz do outro sino"."
(Introdução)
"Neste livro o sr. Affonso Costa renova a sua velha crença nos destinos da democracia.
Si eu tivesse de tratar da personalidade politica do ex-primeiro ministro portuguez antes de ter deante dos olhos a série de entrevistas que ahi está, não o chamaria pura e simplesmente um democrata. Democrata e democracia são, em nosso tempo, expressões vagas, imprecisas, e, por isso, incolores, tão amplo o sentido que as conveniencias partidarias lhe emprestaram, sobretudo nas nossas jovens republicas da America Latina, e tão numerosos e evidentes têm sido os contrabandos de idéas e interesses sob esses rotulos honestos.
Recordando o seu passado republicano e as idéas que elle sustentou, teriamos preferido situal-o entre os authenticos jacobinos, cuja caracteristica fundamental é o culto da autoridade soberana do Estado, a necessidade da submissão de todos á lei, que emana da vontade popular, expressa através da igualdade politica, sem que se attenda ás differenciações de ordem economica e social. [...]
O estatismo exagerado que caracteriza a nossa época é levado a suffocar as liberdades individuaes. O sr. Salazar repete as variações do sr. Mussolini sobre as relações entre  liberdade e autoridade, que, aliás, em si, não têm nada de novo.
As theorizações fascistas, o esforço pela creação de uma physionomia propria para o fascismo, estão consubstanciadas na exposição doutrinaria redigida pelo Duce para a Encyclopedia Italiana:
"Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fóra do Estado". (Discurso no Scala de Milão). [...]
O sr. Oliveira Salazar é partidario intransigente desse estaismo fascista. Sob a sua immediata direcção organiza-se em Portugal um movimento corporativista, nos moldes do syndicalismo burocratico italiano. Mas haverá consições, na republica portugueza, para a victoria desse movimento? E a dictadura militar qu governa o paiz será capaz dessa tarefa? Eis uma these interessante e opportuna que aos pensadores e homens de estado portuguezes, que conhecem de parto a situação politico-social do paiz, incumbe responder."
(Excerto do Prefacio)
"O Hotel Vernet, situado na rua do mesmo nome, que atravessa os Champs Elysées na altura de Georges V, é um dos mais curiosos de Paris. Ali se hospedam estrangeiros apenas. É um hotel caro e familiar. Ha antigos presidentes e mesmo reis dos paizes mais remotos. [...]
O Sr. Affonso Costa não me faz esperar cinco minutos. Entra com um sorriso nos labios. É um homem baixo, forte, elegante, com os cabellos grisalhos e a pêra - a mais famosa pêra de Portugal - quasi alva. Parece ter apenas quarenta annos. E tem mais de sessenta. Respira saude e energia. E quando fala, ao sorrir faz com que a gente se lembre logo de Mefistopheles, tal a expressão maliciosa, viva, intelligente de sua mascara. Ha mesmo sarcasmo e força nessa mascara.
- "Uma entrevista? diz-me. Pois, seja! Mas quero que note em que condições especiaes e excepcionaes lh'a vou dar. Tenho sempre hesitação e melindre em contar a estrangeiros o que se passa de desagradavel e de injusto no meu paiz. O meu orgulho pessoal e de portuguez não me permitte solicitar apoio ou solidariedade a estranhos e muito menos fazer-lhes queixas."
(Excerto da Entrevista)
José Pinheiro Jobim (Ibitinga, 1909 – Rio de Janeiro, 1979). "Foi um economista e diplomata brasileiro, morto político da ditadura militar brasileira. Trabalhou primeiramente como jornalista, tendo sido revisor e redator de "A Manhã", do Rio de Janeiro, e redator do "Diário de Notícias" de Porto Alegre. Contratado pela Agência Meridional dos Diários Associados, foi redator de "O Jornal" e seu enviado especial à Europa. Entre 1930 e 1936 viajou também à URSS, Ásia e África. Iniciou sua carreira diplomática em 1938, atuando como cônsul de terceira classe, no mesmo ano foi designado vice-cônsul em Yokohama, no Japão. Entre 1938 e 1941, de volta ao Brasil, serviu na Secretaria do Comércio Exterior. Em 1941 foi transferido para Nova Iorque, ainda no posto de vice-cônsul. Promovido a cônsul de segunda classe em 1942, permaneceria em Nova Iorque até 1943 como cônsul adjunto. Desde sua promoção a ministro de primeira classe, em 1959, ocupou o posto de embaixador do Brasil no Equador, de 1959 a 1962, na Colômbia e na Jamaica cumulativamente, de 1965 a 1966, na Argélia, de 1966 a 1968, e no Vaticano e Malta, de 1968 a 1973. Ao se aposentar do Itamaraty, em 1975, estava à frente da representação brasileira no Marrocos, onde chegara em 1973. Fundou com seus filhos a Editora Brasília Rio.
Em 15 de março de 1979, o embaixador, já aposentado, foi à Brasília, onde tomou posse o ditador João Batista Figueiredo e, com ele, o chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro, amigo de José Jobim. Durante a cerimônia, Jobim comentou com alguns amigos que estava escrevendo um livro de suas memórias, inclusive detalhes sobre o superfaturamento do governo na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que custou dez vezes o valor orçado, totalizando cerca de US$ 30 bilhões. Uma semana depois, no dia 22 de março, Jobim já estava de volta ao Rio de Janeiro e, logo depois do almoço, saiu de sua casa para encontrar um amigo. Seu corpo foi encontrado por um gari dois dias depois do sequestro, a menos de 1 quilômetro da Ponte da Joatinga. Ele estava pendurado pelo pescoço em uma corda de náilon em um galho de uma árvore pequena. Assim como as do jornalista Vladimir Herzog, seus pés, com as pernas curvadas, tocavam o chão, levantando suspeitas sobre a hipótese de suicídio. Seis anos depois, a promotora Telma Musse reconheceu que houve homicídio, mas considerou o caso insolúvel e pediu o arquivamento."
(Fonte: Wikipédia)
Encadernação meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas originais.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Aparado. Com falhas de pele na lombada.
Raro.
Com interesse histórico.
45€

17 janeiro, 2025

TRIGUEIROS, Luiz -
O ROUXINOL DOS ALAMOS : novella minhota
. Lisboa, Livraria Central de Gomes de Carvalho, editor, 1908. In-8.º (19x11,5 cm) de 167, [1] p. ; B.
1.ª edição.
Curioso romance campestre cuja acção decorre no Minho.
"Abafava-se na matta. Nem a mais leve aragem agitava a ramaria dos pinheiros. Ao longe, o sino de S. Torquato vibrou compassadamente onze horas. Depois tudo voltou ao silencio anterior. O sol entornava sobre a paisagem a sua cornucopia de oiro e a essa caricia faiscavam as corôas de areia lá em baixo, no rio, aonde a maré vasava lentamente. O Bartholomeu ergueu-se vagaroso, aborrecido, e propoz aos outros caçadores, aqui e acolá estendidos á sombra:
- Vamos nós para casa? Tenho lá um vinho branco que substitue, com vantagem, a melhor Pilsener!...
Levantaram-se todos. Tiveram certa difficuldade em juntar os cães que de lingua pendente, offegantes, mal dispostos estavam para correr sobre a restéva dos milharaes na pista das ligeiras codornizes, ou a romper decididos os mattos espessos em busca dos coelhos. [...]
Poz-se a caminho o grupo, attento ás fececias do padre Alves, que de carabina ao hombro, o chapeu de grande abas cahido para os olhos, um sorriso franco a pairar nos labios descorados, ia contando, com grande prodigalidade de pormenores, façanhas notaveis em partidas de caça.
- Certa manhã, estava eu com os meus dois perdigueiros na devesa de Leiras...
E logo desfiava a historia a historia complicada d'essa caçada celebre. Os cães andavam no rastro, preoccupados, sem descanço, as ventas fumegantes varrendo a herva fresca... Foi então que elle, do sitio aonde agachado vigiava o trabalho dos perdigueiros, julgou sentir para a esquerda qualquer cousa a esvoaçar entre as arvores!...
Esquecido já dos cães, que se adeantavam na pista, avançou cauteloso, e...
- Pim, pim! fez o padre, simulando uma dupla descarga da sua famosa carabina; e para os companheiros que haviam estacado interessados na narrativa:
- Tinha dado em terra com um milhafre! [...]
A meio da descripção haviam chegado á pequena porta do pomar da Casa dos Alamos. Entraram todos na propriedade, sequiosos, maçados; e logo, sem ir mais longe, acampando sob o grande pavilhão revestido de murta que marcava o centro do jardim, o grupo deliberou ficar ali mesmo emquanto o Bartholomeu se dirigia apressado á vivenda a pedir as chaves da adega."
(Excerto do Cap. I)
"Completavam-se na Paschoa dez annos desde que o Bartholomeu abandonara a vida facil de prazeres desregrados que levava em Lisboa, para vir pedir á velha tia Germana irmã unica de seu pae, uma temporaria hospitalidade.
A boa senhora, cuja existencia decorria traquilla n'um velho solar minhoto ha muito que defendia o seu cofre dos violentos saques do seu unico sobrinho; por isso recebeu de braços abertos o transviado moço, alimentando todavia ácerca dos seus designios, uma duvida cruel no coração amantissimo.
Mal reconhecia porém no pallido mancebo de fundas olheiras e aspecto abatido, a forte vergontea do varonil ramo dos Sottos da Cunha que na sua familia se haviam distinguido sempre pela força e pela graciosa destreza, entre os fidalgos que enxameavam buliçosamente nos salões mais concorridos dos principaes solares de Entre Minho e Douro."
(Excerto do Cap. II)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa vincada no canto superior direito.
Raro.
35€
Reservado

16 janeiro, 2025

OLIVEIRA, A. de Sousa & CASTRO, L. de Albuquerque e -
A IGREJA ROMÂNICA DE SANTA LEOCÁDIA
. Braga, Congresso Histórico de Portugal Medievo, 1964. In-4.º (23,5x17,5 cm) de 10, [8] p. il. ; B.
1.ª edição independente.
Separata de Bracara Augusta : Vol. XVI-XVII - N.os 39-40 (51-52).
A história e a lenda associadas à igreja medieval de Santa Leocádia, Chaves.
"A Igreja de Santa Leocádia é uma das mais antigas do aro de Chaves, cuja cronologia de construção deverá rondar os finais do século XIII. Ao certo, sabe-se que o templo já existia em 1264." (https://www.visitchavesverin.com/pages/952?poi_id=333)
Bonita monografia, ilustrada com 8 estampas fora do texto.
"Diz-nos uma lenda regional flaviense que uma matrona de Chaves, tendo por nome Maria Mantella, não acreditando na possibilidade de dois gémeos serem filhos dum mesmo pai foi castigada, dando à luz, simultâneamente, sete crianças, todas do sexo masculino. Como o marido estava ausente, receou que ele suspeitasse da sua fidelidade e então resolveu mandar, por uma serva de confiança, lançar seis dos recém-nascidos ao rio Tâmega.
Mas o destino tece-as e a criada foi surpreendida no caminho pelo amo, que estava de regresso, vendo-se obrigada a confessar tudo. Aquele recomendou-lhe segredo e entregou as crianças a seis diferentes amas, que não suspeitaram do caso. Sete anos depois apresentou os filhos a sua mulher, levando-a ao arrependimento e perdoando-lhe o, felizmente, frustrado crime.
Na igreja matriz de Chaves, onde ela foi sepultada com a sua prole, lia-se numa campa rasa este epitáfio:
«Aqui jaz Maria Mantella
Com sete filhos ao redor della».
Diz ainda a lenda que todos os rapazes se ordenaram sacerdotes e fundaram sete igrejas na terra de Chaves, ma das quais, Santa Leocádia, constitui o motivo desta comunicação."
(Excerto do Estudo)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Sem f. ante-rosto.
Muito invulgar.
Com interesse histórico.
15€
Reservado

15 janeiro, 2025

GOMES, Paulo Varela -
VIEIRA PORTUENSE
. Lisboa, Círculo de Leitores, 2001. In-4.º (28,5x22,5 cm) de 140, [2] p. ; mto il. ; E.
Importante subsídio biográfico sobre Vieira Portuense, figura de proa da pintura portuguesa, um dos maiores pintores da sua geração, introdutor do neoclassicismo na pintura nacional.
Edição luxuosa, muitíssimo preferível à da Inapa, impressa em papel de superior qualidade, profusamente ilustrada com trabalhos emblemáticos do mestre pintor - esboços, desenhos e pinturas.
"Francisco Vieira Portuense (1765-1805) ocupou o lugar português por excelência: o das esperanças frustradas. Falecido aos 40 anos de idade, atravessou como um cometa a cena artística de Portugal entre dois séculos e duas idades do mundo, deixando atrás de si um rasto de brilho e amargura por ter partido tão cedo depois de ter feito tanto e deixado tanto por fazer. Biógrafos e admiradores choraram a sua morte percebendo muito bem que o pintor era muito melhor que a pintura portuguesa da época e que esta, sem ele, dificilmente seria tão boa como a dele fora. [...]
Vieira Portuense continua popular entre nós porque a sua carreira foi singular no meio artístico português. No entanto, a primeira coisa que é necessário perceber é que Vieira foi um de entre centenas de artistas do mesmo género em toda a Europa que, por estarem hoje votados ao esquecimento, não foram menos importantes e significativos. [...]
A segunda prevenção necessária à abordagem da obra de Vieira é que,  mais que português, ele foi um pintor plenamente europeu, o mais europeu de toda a pintura portuguesa entre o século XVII e o final do século XIX, mais que Vieira Lusitano, Sequeira, António Manuel da Fonseca e até Henrique Pousão. Europeu pelos sítios onde trabalhou, os patronos que teve, os temas que escolheu, a maneira como os tratou. Vieira vivem em Itália, sim, mas também em Inglaterra. Trabalhou, embora brevemente, na Áustria e na Prússia. Foi patrocinado por ingleses do Porto e por grand tour(istas) ingleses em Itália. Foi artista real em Parma. Deu-se com o meio cosmopolita da Royal Academy em Londres onde circulavam pintores e gravadores italianos, franceses e ingleses. [...]
Sem  tal génio, sem estar na vanguarda de coisa nenhuma, Vieira Portuense, pintor europeu à moda da sua época, foi um pintor correcto, um desenhador muito sensível e hábil. A sua pintura, os seus desenhos, as suas ilustrações, não suscitam perturbação, não aquecem os ânimos, não levantam grande dúvidas sobre o que é a pintura, o olhar, a história. Comentam tranquilamente o decorrer dos tempos e das modas. Os quadros são bonitos, os desenhos argutos e por vezes engraçados. Mesmo quando, quando por conveniência do momento ou dos patronos."
(Excerto da Introdução)
Índice:
Apresentação | Introdução | Um viajante na Europa do fim dos tempos | A Natureza e o mito | A pintura de história | A pintura sacra | Rostos e figuras | Vieira Portuense, pintor neoclássico | Notícia biográfica | Bibliografia.
Encadernação em tela do editor com sobrecapa policromada.
Exemplar em bom estado de conservação. Assinatura de posse na f. ante-rosto.
Invulgar.
20€

14 janeiro, 2025

ARNOSO, Conde d' -
ELOGIO DO CONDE DE FICALHO. Lido na Sessão Especial da Sociedade de Geographia de Lisboa em 19 de Maio 1903. Lisboa, Livraria Ferin, 1903. In-4.º (23,5x17 cm) de 24 p. ; E.
1.ª edição.
Homenagem do Conde de Arnoso um mês exacto após o falecimento do Conde de Ficalho. Apontamento biográfico lido pelo autor na Sociedade de Geografia de Lisboa.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do autor "ao seu querido amigo A. da Cunha Lima".
"Convidado por esta douta Sociedade a fazer o elogio do nosso illustre consocio Conde de Ficalho, eu podia e devia talvez, declinar tão honroso encargo. O elogio far-se-hia, e seguramente com mais brilho para a sua memoria, e mais deleite e agrado para aquelles que me dão a immerecida honra de escutar-me. Eu, porém, faltaria a um gratissimo dever, e o meu coração d'amigo e até a minha consciencia soffreriam, desaproveitando a solemne occasião de dar publico testemunho de  consideração e respeito á memoria de quem tanto me honrou com a sua amisade."
(Excerto do Elogio)
Bernardo Pinheiro Correia de Melo, primeiro conde de Arnoso (1855-1911). "Nasceu em Guimarães, em maio de 1855. Estudou matemáticas e engenharia, foi oficial do exército e secretário pessoal do rei D. Carlos, que lhe atribuiu o título em 1895. Membro dos "Vencidos da Vida", como autor usou também o pseudónimo literário Bernardo Pindela (era filho do visconde de Pindela). Morreu em Famalicão, em 1911. Além de Jornadas pelo Mundo e de Azulejos – com prefácio de Eça de Queirós –, publicou De Braço Dado, em coautoria com o conde de Sabugosa, seu cunhado, e as peças de teatro A Primeira Nuvem e Suave Milagre (adaptação de um conto de Eça). Tem vasta colaboração dispersa na imprensa da época."
(Fonte: https://www.quetzaleditores.pt/autor/conde-de-arnoso/10538)
Encadernação em skivertex com ferros gravados a seco e a ouro na pasta anterior e na lombada. Conserva a capa de brochura frontal.
Exemplar em bom estado de conservação. Aparado.
Raro.
20€

13 janeiro, 2025

PIMENTA, Belisário -
MEMÓRIAS DUM APRENDIZ DE GRAVADOR.
Notas para a História da Gravura em Madeira em Portugal (Edição do Autor). Coimbra, Edição do autor, 1961. In-8.º (21,5x15 cm) de 26, [2] p. ; [2] f. il. ; il. ; B.
1.ª edição.
Interessante contributo, autobiográfico, para a história da xilogravura nacional.
Tiragem limitada a 250 exemplares fora do mercado, rubricados pelo autor [chancela].
Livro ilustrado no texto com bonitos desenhos de capitulares e vinhetas tipográficas e, em separado, reproduzindo em duas folhas, respectivamente, a "Casa da Praça do Comércio, n.º 11" e o retrato de "Albino Caetano da Silva", tio do autor (c. 1880).
Muito valorizado pela dedicatória autógrafa de Belisário Pimenta a Luís Gonçalves Rebordão (1894-1976).
"Andava eu pelos onze anos e meio quando meu tio materno Albino Caetano da Silva, sempre atento ao meu desenvolvimento, me prepôs ensinar a gravar em madeira, dada a minha aplicação a certos trabalhos que ele fazia ainda uma vez por outra. Aceitei com vontade e comecei.
Era no vão da porta da varanda do 1.º andar, do lado norte, no prédio da Praça do Comércio, n.º 11 (ver grav. junta), onde nasci e onde então ainda vivia, que meu tio tinha uma mesa em que estava o estojo de buris e a almofada de camurça já bastante usada. Foi ali que eu comecei a fazer os primeiros traços sobre uma chapa de buxo coberta de alvaiade e que eu comecei a sentir as picadas dos buris nos dedos da mão esquerda quando, por inexperiência, me fugiam do seu destino. E assim por algumas lições."
(Excerto das Memórias)
Belisário Maria Bustorf da Silva Pinto Pimenta (Coimbra, 1879 - Lisboa, 1969). "Nasceu em Coimbra em 1879. Frequentou o colégio externato do Padre Simões dos Reis e depois transitou para o Liceu. Aos 14 anos começou a formar a sua biblioteca pessoal, que no final da sua vida ultrapassava mais de oito mil obras. Seguiu a carreira militar ingressando como cadete na escola Prática de Infantaria de Mafra. Em 1903 foi promovido a alferes e em 1910 passou a ser Comissário da Polícia em Coimbra. A sua vida militar decorreu ainda por Valença, Portalegre, Castelo Branco, Lagos, Porto, Penafiel, Abrantes e Leiria. Em 1913 publica o seu primeiro trabalho sobre Miranda do Corvo, tema que foi uma das suas predileções e cultivou até ao final da sua vida. Os seus escritos sobre o concelho encontram-se dispersos por jornais (Alma Nova, Diário de Coimbra) e monografias, podendo ser considerado como o autor que mais se debruçou sobre o concelho. Privou com figuras ilustres da cultura como sejam Eugénio de Castro, António Nobre, António José de Almeida, Vitorino Nemésio, António Nogueira Gonçalves ou Álvaro Viana de Lemos, entre muitos outros."
(Fonte: https://cm-mirandadocorvo.pt/pt/menu/347/belisario-pimenta.aspx)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capa manchada.
Muito invulgar.
Indisponível

12 janeiro, 2025

PEREIRA, Consiglieri Sá - A RESTAURAÇÃO VISTA DE ESPANHA : histórias de portugueses contadas por espanhois. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1933. In-4.º (23 cm) de IX, [1], 264, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Curioso trabalho sobre a restauração da independência portuguesa em 1640, e a perspectiva do país vizinho sobre o assunto.
"Como viram os espanhóis de 1640 o movimento restaurador da dignidade nacional portuguesa?
[...] A origem deste livro assenta no desejo de vulgarizar os íntimos sentimentos dos espanhóis de 1640 acerca de nós. A Restauração vista de Espanha, representa uma contribuição minúscula desprovida de valor fundamental; mas, modéstia à parte, dste livro constam episódios e pormenores que nos permitem paladear um pouco o gosto íntimo desses tempos que, com terem sido decisivos, carecem de bibliografia proporcionada."
(Excerto do prólogo)
Índice:
- A etiqueta da Duquesa de Mântua. - Portugal no conjunto hispânico. - Um decreto do «Manuelinho» de Évora. - O silêncio de Portugal. - Vicissitudes do Conde de Linhares. - Um crime em Antequera no século XVIII. - Juízo jesuíta de Miguel de Vasconcelos. - As primeiras notícias da Restauração em Espanha. - Como um castelhano viu a Restauração. - O Conde da Torre e S. Julião da Barra. - Sacrifícios e martírios ignorados. - Duas anedotas da Restauração. - Estranho desacato à Duquesa de Mântua. - Sevilha e os portugueses. - Portugueses em Castela. - Sátira à guerra de Portugal. - Considerações de um fidalgo castelhano. - D. João IV e a guerra ofensiva. - Reflexos da Restauração no Peru. - A saída do Egito. - Os temores do Conde-Duque. - O prior de Cedofeita em Roma. - A política secreta da Restauração. - Heroicidades de portugueses em Lérida. - O duende do palácio real de Madrid. - Portugueses e espanhóis no Guadiana.
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas ligeiramente oxidadas.
Invulgar.
Com interesse histórico.
25€

11 janeiro, 2025

LEMOS, Julio de - CAMPESINAS
(Quadros do Minho). Lisboa, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 1903. In-8.º (19x11 cm) de 262 p. ; E.
1.ª edição.
Conjunto de pequenos contos, sendo uns de índole rústica, ou históricos, sensuais outros, tendo como traço comum o amor e as relações humanas.
"Era certo e sabido. Ao fim da tarde, já depois de haverem despegado do trabalho, os rapazes da freguezia iam reunir-se no adro, em roda do cruzeiro negro de pedra, a taramelar e a brincar uns com os outros, n'uma inalteravel boa harmonia, que era o gosto de quem passava.
Muros abaixo, a um lado, seguia a estrada para a villa, e a outro, distendia-se, n'uma successão de campos infindaveis, a «fazenda» do Thomé de Vascões, toda coberta de latadas e com loiras espigas formosissimas. [...]
Como vinha dizendo, os rapazes da aldeia, ao anoitecer, iam reunir-se no adro, a brincar e a taramelar.
O sol amortecia ao largo, descia sobre a montanha em irradiações violeta - e, entretanto, a rapaziada, marotos que eu sei lá, contava as suas historias e as suas «partidas»: o Evaristo de Penim déra um beijo na filha do Brazileiro; o Firmino de Lizouros mordiscára o braço polpudo da Joanna; o Manuel abraçára, na veiga, a afilhada do Fidalgo de Venade; o Lopes fizera dois dedos de namoro áquella das Barrocas; o Clemente fôra ás uvas do Zé Cosme, o ricaço; o Joaquim da tia Zefa estivera com a ama do abbade, na deveza de Chavião, onde o padre os mandára á lenha...
- Ah, rapazes! Que bom peguilho! Cada perna!...
- E vá um homem fiar-se... Olha o abbade, que bebe os ventos por ella... Se elle o sabe!
E o Firmino, que, baldadamento e por mais de uma vez, lhe rogára um ar da sua graça:
- Parecia tão séria...
E explodiam as gargalhadas, que echoavam ao longe como um estrondo.
- Olha-a, mail-a Therezinha! berrou o garoto do Gachineiro.
N'aquelle minuto, a creada do abbade passava pela taberna do tio Bento, com a «moça» das Cortinhas, em direcção á fonte.
Todos poisaram os olhos nas duas mulheres, especialmente na Maria, appetecivel creatura na belleza sã e fresca dos vinte e pico. E em todos os olhos appareceu, rapido, a chamma do desejo."
(Excerto de No fim da tarde)
Júlio de Lemos (Ponte de Lima, 1878 - Viana do Castelo, 1960). "Escritor e jornalista. Fez os estudos em Viana do Castelo e após breve passagem pelo Seminário Diocesano de Braga (1898-1899) foi nomeado professor da Escola Normal da mesma cidade. Em 1901 foi colocado como Secretário da Câmara de Paredes de Coura e, de 1911 a 1938, na Câmara de Viana do Castelo, onde organizou os arquivos municipais daquelas duas localidades e deixou bem patentes as suas qualidades de investigador, o seu dinamismo e a sua cultura. Colaborou, desde muito novo, em numerosos jornais e revistas portuguesas e espanholas e foi director das revistas literárias Myosótis e Limiana, e de alguns números únicos, entre os quais, Consagração, comemorativo da criação da comarca de Coura (1906) e Pró-Viana, comemorativo das Festas de Nossa Senhora da Agonia (1921 e 1922)."
(Fonte: https://www.memoriasdaromaria.pt/romaria1950/)
Encadernação meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas originais.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Lombada apresenta falha de pele na extremidade superior.
Raro.
45€
Reservado

10 janeiro, 2025

CARTA // DE VN SARGENTO PORTUGVEZ // DE VN TERCIO DE LA // guarnicion de Lisboa al Marquez // de Carracena sobre su voto al // Rey de Castilla. [S.l], [S.n.], [1661?]. In-8.º (20x13 cm) de 4 p. ; E.
1.ª edição.
Opúsculo anónimo, sem data e local de impressão, relacionado com o tema da Guerra da Restauração.
Estes opúsculos da Restauração são hoje muito raros e procurados.
Relativamente ao conteúdo, segundo Inocêncio (XVIII, 217), "pode avaliar-se do intuito de zombaria pelo estylo, apesar de não ser correcta a linguagem".
Encadernação contemporânea, cartonada, em papel marmoreado.
Muito raro.
Peça de colecção.
45€

09 janeiro, 2025

TRATADO DE COMÉRCIO E NAVEGAÇÃO ENTRE PORTUGAL E A GRÃ-BRETANHA -
Ministério dos Negócios Estrangeiros : Direcção-Geral dos Negócios Comerciais e Consulares
. Lisboa, Imprensa Nacional, 1960. In-4.º (23,5x15 cm) de 29, [3] p. ; B.
Reprodução bilingue (português/inglês) do importante tratado de comércio assinado entre os dois países, pouco tempo após a instauração da República, em 12 de Agosto de 1914, subscrito pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros português Alfredo Augusto Freire de Andrade e pelo Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário britânico Lancelot Douglas Carnegie.
"Haverá entre os territórios das duas Partes contratantes plena e completa liberdade de comércio e navegação.
Os súbditos ou cidadãos de cada uma das Partes contratantes terão permissão de ir livremente com os seus navios e cargas a todos os lugares, portos  rios nos territórios da outra a que os súbditos ou cidadãos nacionais tenham ou possam ter acesso. Não estarão sujeitos, com relação ao seu comércio ou indústria nos territórios da outra, quer a sua residência tenha um carácter permanente ou temporário, a quaisquer direitos, taxas, impostos ou licenças de qualquer espécie diferentes ou mais elevados do que os que são ou podem ser impostos aos súbditos ou cidadãos nacionais, e gozarão os mesmos direitos, privilégios, liberdades, imunidades e outros favores em matéria de comércio e indústria que sejam ou possam ser gozados pelos súbditos ou cidadãos nacionais."
(Artigo I)
Exemplar em brochura, bem conservado.
Invulgar.
Com interesse histórico.
10€

08 janeiro, 2025

BASTOS, Leite -
LETRAS E TRETAS.
Por... Leitura para Caminhos de Ferro. Lisboa, Livrarias de Campos Junior - Editor, [1866]. In-8.º (14,5x10 cm) de 94, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Interessante colecção de textos - contos, crónicas e histórias - pela pena de Leite Bastos, conhecido autor de romances históricos da segunda metade do século XIX, publicados na apreciada colecção "Leitura para Caminhos de Ferro".
"Estavamos á mesa de um dos cafés de Lisboa.
Tratava-se de casamentos extravagantes. Um dos sujeitos que até então se conservara na espectativa acercou-se de nós e disse:
- Querem saber a historia do meu casamento? Asseguro-lhes que é original. Não me consta de pessoa alguma que se casasse assim como eu me casei.
- Então como se casou o senhor?
- A toque de fogo! [...]
Bento José das Neves é o meu nome, sou proprietario e accionista do theatro da rua dos Condes... [...]
Um dia ao entreabrir da manhá, um visinho mercieiro que defrontava com a minha casa, deu-me parte, de passagem, que sua irmã mais nova vinha para a companhia d'elle.
Dei-lhe os parabens e não fiz cabedal do caso, de simplissimo e naturalissimo que era.
Note bem que eu sou miope desde que me entendo. Não vejo um palmo adiante do nariz. [...]
Chegou a mana do mercieiro. O meu barbeiro, ao escanhoar-me os queixos, deu-me parte do acontecimento e acrescentou:
- Ahi tinha agora você, seu Bento, bôa occasião de mudar de estado. A irmã do Manuel deve ter os seus vintens, você tambem tem de seu, por que se não resolve ao casorio d'esta vez?! [...]
Lá estava ella! Foi o demonio a curiosidade que me trahiu! [...]
Eu sempre gostei de mulheres claras; aquella era mesmo da côr do papel almaço, e atirava assim para um esverdeado que lhe ficava a matar. [...]
Estava com vontade de lhe dizer alguma coisa e perguntei-lhe como se chamava.
- Margarida.
- Oh! magia dos meus encantos! exclamei.
- E a sua pessoa, perguntou ella.
- Bento José das Neves, respondi logo.
- Meu avô teve um creado d'esse nome. (O avô guardava porcos no Alemtejo e fazia gaitas para vender aos pastores do logar. Era um grandissimo ratão se não mente a fama)."
(Excerto de A toque de fogo)
Indece:
Notae bem | Fraquezas do proximo: - Preliminar; Amor a quanto obrigas; Amostinhas lyricas; A primeira receita infalivel; Na sala de espera; Applicação do elexir; Um parenthese;  A rede de arrastar; Os alarves favorecidos pelo providencia. | Padecimentos chronicos | O Barba Longa | O deficit | A toque de fogo: No botequim: - capitulo preambular; Quem era o homem; Ai!; A entrevista; Que chalaça; O abysmo. | Pobres e ricos |  O potosi d'um actor dramatico: Preliminar;  Em casa do auctor; Na rua, no botequim, e até no inerno se o diabo quizesse negocios com litteratos de taxa e meia; Homero era um pedaço d'asno ao pé de mim; Certezas e incertezas - Coisas do Arco da Velha; Representa-se hoje uma peça do nosso amigo o sr. Fulano de tal; As palmas na platéa e os abraços no foyer; A prosa da vida.
Francisco Leite Bastos (1841-1886). "Jornalista e romancista, foi, no início da sua actividade profissional, escriturário na Repartição do Major-General da Armada, mas demitir-se-ia aos 22 anos, dedicando-se a partir daí exclusivamente à escrita.
Destacou-se sobretudo como autor de dramas e comédias folhetinescas, mas também escreveu romances, quase todos retratando episódios relacionados com crimes, de que são exemplo O Incendiário da Patriarcal, O Crime de Matos Lobo, Os Crimes de Diogo Alves, Os Trapeiros de Lisboa, A Calúnia, O Último Carrasco, Os Sapatos de Defunto e O Crime do Corregedor, sendo considerado mesmo um dos precursores do género policial."
(Fonte: https://www.goodreads.com/author/show/4786601.Leite_Barros)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Envelhecido. Capas frágeis, com defeitos e pequenas falhas de papel.
Raro.
45€

07 janeiro, 2025

BOISSIER, Dr. Henri - GERAÇÃO E FECUNDAÇÃO. Os vicios no amor. 
[Pelo]... Da Academia de Medicina de Paris
. Lisboa, João Romano Torres & C.ª : Editores, [191-]. In-8.º (18 cm) de 35, [1] p. ; B. Biblioteca Scientifica Sexual, N.º 2
1.ª edição.
Interessante trabalho saído da pena do portuguesíssimo Henrique Marques, autor de diversos trabalhos de índole médico-sexual publicados sob a capa do pseudónimo Henri Boissier, via escolhida para a divulgação destes temas - "sensíveis" na época.
"É certo que os primeiros gosos do amor augmentam a energia do systema circulatorio do sangue e por isso mesmo, os vasos ãrteriaes levam mais calor e mais vida a todas as partes do corpo.
A satisfação dos desejos e das necessidades a que conduz a união dos sexos dá egualmente uma nova disposição ás faculdades intellectuaes.
A donzella, ha pouco timida, torna-se desembaraçada; a timidez transforma-se-lhe em confiança e até em audacia no desejo; os movimentos são mais livres, o andar mais medeiado, na conversação, a voz é menos incerta, sonora e, emfim, todo o porte se apresenta mais resoluto. [...]
A satisfação dos sentidos e o prazer material que d'ahi resulta são apenas o meio que a mulher emprega para chegar ao termo completo, ao objecto exclusivo de todas as suas vistas - a reproducção da especie.
Ser mãe, eis a aspiração suprema de toda a mulher!"
(Excerto do Cap. II, Segredos da Fecundação)
Sumario:
I - Destino dos sexos. II - Segredos da Fecundação. A concepção. - III - A fecundação. IV - Influencia do estado physico sobre a fecundação. V - Previsões dos sexos (Determinismo sexual).
Exemplar em brochura, por aparar, bem conservado. Sem capas. Deve ser encadernado.
Raro.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
30€

06 janeiro, 2025

HOGAN, Alfredo - A PEDINTE DE LISBOA OU MEMORIAS D'UMA MULHER. Romance original de... Publicado por L. C. da Cunha. Tomo I [Tomo II]. Lisboa, Na Typografia do Editor, Luiz Correa da Cunha, 1859. 2 vols in-8.º ( de 191, [3] p. ; [2] f. il. e 144, [2] p. ; [2] f. il. ; E. num único tomo
1.ª edição.
Curiosíssimo romance de costumes, cuja acção decorre em Lisboa. Uma história de intriga e chantagem que termina num crime horrendo sem castigo. O extenso epílogo "compõe o ramalhete".
Ilustrado com 4 gravuras extra-texto (2 por volume) compostas na "Lith. de Roza e Lima" - Rua dos Fanqueiros, n.º 114.
"No dia 21 de Outubo de 1850, uma sege de aluguel que com extrema velocidade corria pelo Chiado abaixo, chamando pela sua velocidade, a attenção de todas as pessoas que tranzitavam.
Dentro da sege, e recostado languidamente para um dos angulos da caixa, via-se um homem ainda moço, decentemente vestido, e apresentando uma placidez d'espirito que contrastava singularmente com a agitação do vehiculo que o conduzia.
Ora uma viatura qualquer correndo de batida pelo Chiado, é uma coisa que sempre attrahe a curiosidade de todos os passeantes d'aquelle sitio, e mui principalmente dos frequentadores do marrare; por isso grande numero de pessoas assomaram ás portas desse botequim, e das lojas de modistas, para interrogarem com a vista aquella sege de batida, aquelle bolieiro de maneiras insolentes, aquelles cavallos estafados, e sobre tudo, o placido senhor que vinha dentro da sege; mas um riso de desdem e até de despreso, errando nos labios d'esse homem, um estalo do chicote do bolieiro, e uma nuvem de poeira levantada pelas patas dos cavallos, era a unica resposta que obtinham todos esses curiosos que se aguppavam para verem o que podia aquillo ser.
E a sege continuava de batida; n'uma bem calculada curva, voltou para o lado da Boa hora metteu se pela rua dos Algibebes, passou á rua Augusta, e sem que affrouxasse a corrida foi desemboccar na grande praça do Rocio.
A um grito sonoro que sahio de dentro da sege, o bolieiro tomou os cavallos; logo depois abriu-se o alçapão, e o homem saltou n'um pulo para a rua.
Eram seis horas da tarde, mareadas no relogio que está na frente do Theatro de D. Maria II, cujo mostrador é transparente e illuminado, para que de noite se conheçam as horas. [...]
O homem que se apeara da sege, caminhou vagaroso para o centro da praça, e cruzando os braços sobre o peito, parou um instante, olhando ao redor de si.
Era de meia estatura: os cabellos negros, com o o ébano, caíam-lhe, debaixo do chapéo, sobre a golla da sobre cazaca depois de formarem um lustroso caixilho á physionomia morena, e expressiva, onde scintillavam os olhos, tambem negros, e rodeados d'espessa pestanas. Os labios grossos e roliços tinha-os elle agora serrados, com um gesto de nobre altivez. Os sobreolhos unidos e um pouco encrespados por um pensamento d'orgulho."
(Excerto de I - Cordão - o negociante de casamento)
Indice do 1.º Volume:
I - Cordão - o negociante de cazamentos. II - Quem era o senhor Miguel d'Andrade. - Clara. - Amizade travada em caza d'um Eleitor. III - Um chá offerecido a alguns Eleitores. - Recepção de Leonildo. IV - O mancebo lord. V - Mãe e amiga. VI - A mulher philosopha. VII - A semi-deusa. VIII - A queda da semi-deusa. IX - A cruz de ouro do Bispo de S. Torcato. X - Feliciano. XI - O jardim Botanico.
Indice do 2.º Volume:
I - Soffrimento. II - Resolução. III - Marido e Mulher. IV - Tres homens dignos uns dos outros. V - A entrevista. VI - Conclue a narração da pedinte. VII - Declaração do bom Sacerdote. VIII - Fim da Quiteria. IX - Pae e filho. X - Outra victima. XI - Contra.tempo. XII - Na Estrada do crime caminha-se insensivelmente. | Epylogo - Riqueza maldita.
Alfredo Possolo Hogan (1830-1865). "Nasceu e faleceu em Lisboa. Funcionário dos correios, cultivou a literatura negra, tornando-se um romancista e um dramaturgo bastante popular em Lisboa. Nas suas obras notam-se influências de Eugène Sue e Alexandre Dumas. Escreveu vários romances históricos, como Marco Túlio ou o Agente dos Jesuítas (1853), Mistérios de Lisboa (romance em 4 volumes, 1851), Dois Angelos ou Um Casamento Forçado (romance em 2 volumes, 1851-1852), etc. Das peças de teatro, destacam-se: Os Dissipadores (1858), A Máscara Social (1861), Nem Tudo que Luz É Oiro (1861), A Vida em Lisboa (em parceria com Júlio César Machado, 1861), O Dia 1º de Dezembro de 1640 (1862), As Brasileiras; Segredos do Coração e O Colono. Foi-lhe atribuída a autoria do romance A Mão do Finado (1854), publicado anonimamente em Lisboa, pretendendo ser a continuação de O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas."
(Fonte: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/hogan.htm)
Encadernação coeva meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Os 2 vols ostentam assinatura de posse; Restauro à cabeça na última folha de texto do vol I.
Muito raro.
A BNP dá notícia da obra com a indicação "Sem informação exemplar".
85€