20 junho, 2025

ACUTAGAUÁ, Riunossuqué -
OGUIM.
Por... Traduzido para português por José Cabral de Lacerda e Minóru Izauá. Colecção de Literatura Japonesa. Lisboa, Imprensa Nacional, 1930. In-4.º (20,5x14,5 cm) de 54, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Peça de literatura japonesa contemporânea, composta por um conto - Oguim - e a peça Os três tesouros. O autor é, justamente, considerado o "pai" do conto japonês.
Obra cuidada, impressa em papel encorpado.
"As publicações portuguesas sôbre o Japão, nos séculos XVI e XVII, são numerosas. No princípio do século XVII os padres jesuítas compuseram um volumoso dicionário português-japonês, tam perfeito que hoje não se faria melhor. Havia gramáticas japonesas e traduções de livros europeus para japonês feitas também pelos padres portugueses.
O exotismo introduzido na vida social e literária do Japão, assim como a influência do japonismo na literatura europeia, sobretudo portuguesa, são presentemente objecto de estudo.
O encerramento dos portos do Japão (1639), aos portugueses e espanhóis, coincidiu com a decadência literária dêstes dois países. Desde então, como é natural, as publicações portuguesas sôbre o Japão rarearam.
No ano de 1863 Marques Pereira publicou um livro curioso sôbre a época da restauração do Japão; e em 1874 Gastão Mesnier escreveu O Japão - Impressões e Estudos, livro não menos interessante que o anterior. Nos últimos tempos o saudoso Venceslau de Morais, que fez do Japão a sua segunda pátria, cantou durante quési quarenta anos, na língua de Camões, as belezas da païsagem e da vida do Japão.
Mas, apesar disto tudo, a literatura japonesa não é muito conhecida em Portugal, nem tam pouco no Brasil. Foi para remediar um pouco esta falta que nos propusemos fazer uma série de traduções da moderna literatura japonesa.
O Japão actual não pode ser representado pelas Gueixas nem pelo Fujiama: resulta da fusão harmónica das ideias e dos costumes do Ocidente e do Oriente.
Os leitores encontrarão, portanto, nestas traduções um sabor que não é oriental nem ocidental: é o da fusão de duas vidas completamente diferentes. Não é o duma imitação servil: é o duma criação puramente japonesa.
O autor dos dois trabalhos que publicamos hoje, o Sr. Riunossuqué Acutagauá, nasceu em 1892. Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Tóquio e foi discípulo do famoso novelista Sosséqui Natsume. Suicidou-se no dia 27 de Julho de 1927, por debilidade nervosa. É conhecido como grande estilista, e deixou muitas obras."
(Prefácio)
"Foi na era de Guena ou na de Can-ei? Em todo o caso foi há muito tempo. Aqueles que acreditavam nos ensinamentos do Senhor do Céu eram queimados vivos ou crucificados, mal os descobriam. E por causa destas perseguições tam crueis o Senhor, que tudo pode, parecia dispensar, nesse tempo, maiores desvêlos aos fiéis do Japão.
Por vezes os anjos e os santos visitavam as aldeias vizinhas de Nagassáqui, ao cair da noite. Contam mesmo que S. João Baptista aparecera uma vez no moinho de Miguel Iá-hei, em Uracámi.
O demónio também aparecia, mas sob as formas dum preto desconhecido, duma flor exótica, ou dum palanquim de Ajiro, a fim de impedir os fiéis de guardarem abstinência. Pretendia-se mesmo fazer acreditar que os ratos, que torturavam Miguel Iá-hei na prisão, onde o dia se assemelhava à noite, não eram senão demónios metamorfoseados."
(Excerto de Oguim)
Ryunosuke Akutagawa (Kyōbashi, 1892 - Tóquio, 1927). "Ryunosuke Akutagawa, nascido em Tóquio em 1892, foi escritor, poeta, ensaísta e um dos primeiros modernistas japoneses a serem traduzidos no Ocidente. Começou a escrever após entrar para a Universidade de Tóquio, em 1910, participando com traduções e alguns textos próprios na revista literária Shinshicho.
Em 1915, publica o seu segundo conto, «Rashomon», texto que, embora criticado ostensivamente pelos seus pares aquando da sua publicação, se tornou um dos trabalhos mais importantes de Akutagawa, tendo sido, aliás, a base para o filme de Akira Kurosawa com o mesmo título.
Continuou a escrever, parando apenas durante alguns meses, nos quais trabalhou como jornalista para o Osaka Mainichi Shinbun, viajando pela China; no total, para além de haikai e textos dispersos, escreveu mais de 150 contos que o elevaram à categoria dos mais importantes escritores da literatura japonesa, a par de Tanizaki, Kawabata, Soseki e Mishima. Padecendo de uma saúde física e mental frágil, morreu aos 35 anos, vítima de suicídio."
(Fonte: Wook)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Capas oxidadas.
Raro.
25€

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