MORAES, Anacleto da Silva - MALHOADA : poema heroi-comico em 5 cantos. Por... (Impresso em 1881 e publicado em 1894). Barcellos, Typographia da Aurora do Cavado, 1884 [capa, 1894]. In-8.º (17x12,5 cm) de VIII, 58, [2] p. ; B. 1.ª edição.
Obra maior do autor. Trata-se de uma paródia a António Malhão, poeta em voga na época em que o poema foi composto, no final do século XVIII, tendo o poema circulado através de cópias manuscritas, como era uso então, até à sua publicação em livro - a presente edição.
"Este poema, que ficou inédito, foi composto em
verso solto e 5 cantos por Anacleto da Silva Morais,
oficial maior do antigo tribunal da junta do comércio.
Em
1894 o dr. Rodrigo Veloso salvou da obscuri-
dade a Malhoada,
dando-a a público em Barcelos, e
bem haja por fazê-lo, pois que ela é um dos nossos
melhores poemas heroi-cómicos depois do Hissope.
Menos ampla na arquitectura e vitalizada por menor fôlego, merecia contudo as honras da impressão.
Como sátira pessoal que é, de carácter principalmente
literário, não desluz hoje, antes aviva, a memória do
protagonista: António Gomes da Silveira Malhão. Ainda que a existência de Anacleto de Morais
haja excedido o primeiro quartel do século XIX, pode
fixar-se com segurança a época da elaboração da MaIhoada; foi anterior a 1786, ano em que faleceu António Malhão."
(Fonte: Pimentel, Alberto - Poemas Herói-Cómicos Portugueses, Renascença-Porto, 1922)
"Canto o Malhão, e a vida extravagante
De insipido trovista, que arrojára
Avesso Fado, desde os patrios lares
A ver de Luso a capital da cidade.
Jocosa Musa, que em tão tenros annos
Quizeste bafejar-me a vaste ideia,
Não te envergonhesd de invocar teu nome
Para cantar assumptos tão rasteiros,
Emquanto as debeis penugentas azas
Não me permittem revoas mais alto,
E tu, Lereno amigo, que em meu canto
Sempre ao lado serás sobre as estrellas,
Acolhe a bronca Lyra, que dedico
Á gratidão e á candida amizade.
Se o teu saber profundo e se o teu braço
Para me defender ao lado tenho,
Verás como encarando a vil caterva
De atrevidos pedantes, que me insultam,
Qual carniceiro lobo invisto, aterro
Pavorosa phalange de rafeiros.
Grande Lisboa, abrigo de caturras,
Quam funerea te foi a infausta perda
Do gritador Valverde, que inda choram
Um Luiz Gaspar, um Braga, um Talaveira!
Façanhudo Dom Felix que assombraste
Da rua suja as bellas moradoras,
Inda limpando a esqualida ramela,
Solicito cultor do cemiterio,
Em quanto arranca sobre o teu sepulchro
As crespas couves, os succosos nabos
Repete os versos teus, chora o teu fado!
[...]
Emquanto houver Malhões, que o mundo alegrem.
A Fortuna, que ouvio da triste Lisia
Pela falta de bobos consternada,
Os lastimosos, vividos suspiros,
Em dar-lhe não tardou prompto remedio.
Na testa de um aalgosa penedia
Que humanas forças escalar não pódem..."
(Excerto do Poema)
Anacleto da Silva Moraes foi Official maior da Secretaria do Tribunal do Commercio, extincto em 1833. - Creio que foi Socio da Academia de Bellas Artes de Lisboa, mais conhecida pela denominação Nova Arcadia. Pelo menos é certo que tinha grande intimidade com o presidente d'aquella Academia Domingos Caldas Barbosa: e no Almanach das Musas, parte IV a pag. 78, vem uma Ode sua. - Ignoro a sua naturalidade, mas sei que falleceu em Lisboa, na freguesia da Encarnação, a 17 de Dezembro de 1831, em edade provecta. [...]
Entre o grande numero de poesias que escrevera, e que ou se extraviaram por sua morte, ou existem talvez em poder dos seus parentes, avulta um poema heroi-comico em cinco cantos, hoje quasi desconhecido, e composto, segundo parece nos fins do seculo passado. Serviu d'assumpto a esta composição a pessoa e obras do poeta Malhão, de Obidos, que por esse tempo gosava em Lisboa de alguma celibridade como improvisador facil e conceituoso. Intitula-se A Malhoada, é em verso solto, e offerece por todo o seu conceito notaveis pontas de similhança com o Hyssope. Ha mesmo alguns episodios em que ninguem poderá desconhecer a imitação caracteristica e bem pronunciada. Todavia, á parte o senão de satyra pessoal, parece-me bem escripto, e prova irrefregavel do talento do auctor. Possuo d'elle uma copia, extrahida ha já bastantes annos de outra, que um amigo me facilitou, e é possivel que em Lisboa existam mais algumas, de que eu não tenha noticia."
(Breve noticia do auctor da «Malhoada», extrahida do «Diccionario Bibliographico Portuguez»)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos. Lombada apresenta restauro tosco.
Raro.
Peça de colecção.
35€