30 novembro, 2024

FERRAZ, Guilherme Ivens -
DO CHINDE A CHILOMO.
Por... Vice-Almirante R. Separata do Arquivo de Anatomia e Antropologia : Vol. XXVI, 1949. Lisboa, Arquivo de Anatomia e Antropologia, 1949. In-4.º (25,5x17,5 cm)  de 20 p. (529-548 p.) ; il. ; B.
1.ª edição independente.
Narrativa da viagem empreendida pelo autor e seus companheiros em missão geográfica por Moçambique. Mas o assunto principal do livro é o "Crocodilo": depois de um trágico incidente com um destes animais, Ivens Ferraz dedica-lhe a quase totalidade dos seus apontamentos; no final dá conta de alguns episódios insólitos de caça passados na selva africana.
Memórias antes publicadas no Boletim da Pesca, Lisboa, n.º 21, Dez., 1948. A BNP não menciona o presente.
Livro ilustrado com fotogravuras, e desenhos da anatomia do réptil e do "incidente", sendo este em página inteira.
Exemplar muito valorizado pela dedicatória autógrafa do Almirante, na capa, datada de 22/III/1949, a José de Campos e Sousa.
"No ano de 1899 foi o autor deste artigo nomeado delegado do Governo Português, para proceder à definição e estabelecimento de uma linha provisória de fronteira luso-britânica, nos territórios de Ruo, Milange, Chirua, Niassa e Angónia. Foram nossos companheiros de trabalho nesta missão, o tenente do Exército Colonial João de Freitas Branco e o 2.º tenente da Armada Conde da Ponte, ambos já falecidos.
Partimos do Chinde no dia 19 de Junho a bordo da lancha-canhoneira Cherim e subimos o rio do mesmo nome, o qual serpenteia entre alagadiças margens de mangal, ou vestidas de capim e raquítico arvoredo, até à sua confluência com o Zambeze, a cujo delta pertence.
Ia a lancha singrando cautelosamente, conforme a regra infalível em todos os rios, de fugir das pontas e encostar às curvas, e à noitinha fundeámos no Sombo, a meio do rio, para meter lenha na manhã imediata e largar depois com destino a Chilomo, onde tencionávamos contratar carregadores para a nossa expedição.
Jantámos no espardeque, tendo ocasião de admirar o desembaraço do pequeno moleque Vicente, que servia à mesa com todas as regras e etiquetas do mais requintado serviço europeu.
À alvorada encostámos à margem para facilitar a faina da lenha e, ao içar a bandeira às oito horas, recebemos a visita do Sr. Paiva de Andrade, arrendatário do prazo Luabo.
Não demorámos em ir a terra retribuir essa visita, na companhia do comandante da lancha, que era o 1.º tenente Magalhães Ramalho, também já falecido. Poucos passos tínhamos caminhado, quando Ramalho, dando pelo esquecimento do relógio, chamou para bordo: «Ó Vicente, Vicente! Traz o meu relógio!»
O criadito, vivo como azougue, vai à câmara, daí corre ao portaló e entra na prancha para saltar em terra e entregar o relógio ao patrão. Por fatalidade, desiquilibra-se e cai ao rio!
Uma gritaria alucinante levantada pela tripulação, ecoa nas margens, perdendo-se logo num lúgubre silêncio!
Virámo-nos surpreendidos e ainda tivemos tempo de ver, como num pesadelo, a cabeça de um enorme crocodilo, com o franzino corpo do Vicente atravessado na boca medonha!"
(Excerto de I - Prólogo)
Índice:
I - Prólogo. II . O Crocodilo Africano. III - Chilomo.
Guilherme Ivens Ferraz (1865-1956). "Vice Almirante da Real Marinha de Guerra Portuguesa.Entre os muitos e importantes cargos que ocupou, destacam-se o de  governador da Companhia de Pesca das Pérolas do Bazaruto em Moçambique em 1892; participou nas campanhas de África de 1891 a 1895; comandante da Esquadrilha de Lourenço Marques em Moçambique e ainda dos seguintes navios "Sabre", "Auxiliar", "Bérrio", "Tejo", "Bengo" ; secretário do Conselheiro Régio António Enes em Moçambique entre 1894 e 1895; capitão do Porto de Lourenço Marques de 1895 a 1899; presidente da Câmara Municipal de Lourenço Marques; nomeado oficial às ordens do Rei D. Carlos I; nomeado comissário do Governo Português na delimitação de fronteiras anglo-portuguesas na África Central."
(Fonte: in Memorias do Reino de Portugal, FB, 18 de janeiro de 2021)
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Vinco ao centro, na vertical. Cadernos soltos.
Raro.
Com interesse histórico.
Sem registo na Biblioteca Nacional.
35€

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