SUBTIL, Manuel - AURAS : versos. Prefacio de J. A. Caldeira Rebollo. Portalegre, Typographia Fragoso & Leonardo, 1898. In-8.º (21,5 cm) de VIII, 74, [2] p. ; B.
1.ª edição.
Edição original daquela que será a primeira obra do autor, não referenciada na Biblioteca Nacional, recolha poética da sua mocidade.
"Em 1891, n'uma manhã d'Outubro, entrou em minha casa, na rua da Rosa, o moço poeta, que agora me entala n'estas paginas. Quem me havia de dizer?
Acompanhava-o seu pae, o sr. José Joaquim Subtil, um portuguez de lei, de rosto aberto e franco emôldurado n'umas pequenas suissas, a que vulgarmente chamam patarras, no Alentejo. Cultiva umas pequenas geiras de terra em Valle do Pezo e vinha trazer o rapaz, dizia, para frequentar a Escola Normal. [...]
Em meados de 1894 frequentava o meu pupilo o 3.º e ultimo anno do seu curso; appareceu-me na repartição do Ministerio do Reino, onde eu, como tantos outros ganho o pão quotidiano atrophiando o espirito com a rotina dos officios de chapa, e afferrolhando todos os ideiaes, na negrura estupida da manga d'alpaca. Pareceu-me mais timido do que d'outras vezes.
- O que traz aqui Manuel?
O Manuel saccou acanhadamente de um quarto de papel, cuidadosamente dobrado, e respondeu-me com o olhar velado de quem pede coisa assaz difficil.
- Trazia-lhe isto para o senhor publicar n'O Leão...
O isto que elle me trazia era a Pescadora, uma das mais bellas manifestações poeticas do seu estro brilhante, que o leitor vae admirar em seguida, tanto mais se tiver o cuidado de lembrar-se de que foi escripta dos 18 para os 19 annos por um alumno da Escola Normal. [...]
Um dia, já terminado o curso, e quando elle leccionava no Collegio Collipolense, aconselhei-o a junctar em livro todas as suas poesias... [...]
Do meu conselho nasceu o presente livro, um livro sadio e bom, que nos ensina a amar tudo quanto ha de nobre no coração humano, tudo quanto ha de bello na Natureza sempre fecundante, num livro singelo e perfumado como são perfumadas e singelas as flores da paysagem, que elle nos canta com hymnos melodiosos de formosissimo sentimento artistico."
(Excerto de Prefacio)
"Vem commigo, pescadora,
deixa o rude labutar,
larga o barco, deixa o mar,
solta a rêde e vem-te embora,
deixa o rude labutar,
vem commigo, pescadora.
Vem-te embora, faz-me medo
o rugido cavernoso
que o mar solta furioso
la nos antros do rochedo;
o rugido cavernoso,
que o mar solta, faz-me medo.
Nuvens colossaes, diversas,
quaes gigantes desconformes,
ora se cruzam disformes,
ora apparecem dispersas,
quaes gigantes desconformes,
nuvens collossaes, diversas...
Vem commigo, pescadora,
deixa o rude labutar,
larga o barco, deixa o mar,
solta a rêde e vem-te embora,
deixa o rude labutar,
eu amo-te, ó pescadora."
(Excerto de Pescadora)
Manuel Subtil (1875-1960). "Professor e Educador, nasceu na Freguesia de Vale do Peso (Crato), a 05-02-1875, e faleceu em Lisboa, a 15-04-1960. Diplomado pela Escola Normal de Lisboa, Manuel Subtil, frequentou, posteriormente, o Instituto Industrial e Comercial. Foi professor primário, exerceu funções em Loures, Arronches e Lisboa. Em 1902, participou como Subinspector no processo de criação de várias Escolas no círculo de Portalegre. A partir de 1913, leccionou, como Professor interino, na Escola Normal de Lisboa. Também desempenhou funções lectivas no ensino particular, nomeadamente nas Escolas Nacional e Académica. Entre 1925 e 1944, integrou o corpo docente do Instituto de Orientação Profissional, na sequência de um convite de Faria de Vasconcelos. No biénio de 1926-1928, foi membro do Conselho Administrativo da Universidade Popular de Lisboa. Fez parte de várias comissões de serviço ligadas à organização e administração do ensino primário. Publicou, em conjunto com Cruz Filipe, Faria Artur e Gil Mendonça, um Dicionário Escolar, Cadernos de Exercícios e Manuais Escolares de Leitura e Aritmética para as várias classes do Ensino Primário, que atingiram várias dezenas de edições. Assinou, com Faria de Vasconcelos e Fernando da Costa Cabral, diversas monografias profissionais."
(Fonte: https://ruascomhistoria.wordpress.com/2019/06/19/quem-foi-quem-na-toponimia-do-municipio-do-crato/)
Exemplar brochado em razoável estado de conservação. Capas frágeis com defeitos, rasgões e pequenas falhas de papel. Lombada apresenta tosco restauro com fita gomada. Pelo interesse e raridade justifica encadernar.
Raro.
Sem registo na BNP.
Indisponível
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