10 fevereiro, 2017

VIEIRA, Padre Antonio - SERMÃO DE SANTO ANTONIO : Prégado Na cidade de S. Luiz do Maranhão, no anno de 1654. Pelo... [Santo Antonio e os Peixes]. Porto, Livraria Mesquita Pimentel - Editora, 1895. In-8.º (18,5cm) de VIII, 69, [3] p. ; B.
Edição comemorativa publicada por ocasião do 7.º centenário natalício de Santo António, reproduzindo um dos mais conhecidos sermões de Vieira - o celebrado Sermão aos Peixes, que tanta polémica provocou no Brasil, junto da comunidade portuguesa, acusada por Vieira de maltratar e utilizar os nativos como mão-de-obra escrava.
"O Sermão de Santo António foi pregado no dia 13 de Junho de 1654, na cidade de S. Luís do Maranhão, três dias antes de Padre António Vieira partir ocultamente para Portugal, para denunciar o modo como os índios estavam a ser tratados pelos colonos portugueses. Este sermão recebeu este nome por ter sido pregado no dia em que se celebra Santo António. Outra razão prende-se com o facto de Padre António Vieira tomar Santo António como modelo e, fazendo referência ao milagre dos peixes, tomar a decisão de imitar o santo português e, também ele, ir pregar aos peixes. Estes peixes são alegóricos, simbolizando as qualidades e os defeitos dos homens. Padre António Vieira aproveita ainda o sermão para tecer um enorme panegírico (elogio rasgado) a Santo António. A par e passo, é apresentado o exemplo de Santo António, ora em paralelo com os peixes elogiados, ultrapassando ele as virtudes desses peixes, ora numa posição antitética com os peixes criticados, por o santo apresentar as qualidades opostas aos defeitos desses peixes."
(fonte: pt.scribd.com)
"Corria o seculo XIII, quando na Italia e cidade de Arimino, banhada pelo rio Marecchia, appareceu um frade franciscano, de origem portugueza, prégando aos hereges. Chamava-se Antonio de Lisboa e sempre se revelára modêlo de oradores sagrados; prégava pela palavra e pelo exemplo.
A sua palavra, que sempre fôra lus a infiltrar-se na intelligencia, a afugentar as sombras da ignorancia, a illuminar os abysmos do erro, a queimar a teia do sophisma, a guiar no labyrintho dos escrupulo dos ouvintes, d'esta vez parecia incidir n'uma muralha de bronze. [...]
Tal era a cegueira de espirito e a dureza do coração dos habitantes d'aquella cidade. [...]
O ardor, porém, da sua fé, o zelo pela salvação das almas, o amor á Santa Egreja e a gloria de Deus não consentiam que a lingua se atasse e a voz emmudecesse, e portanto o humilde missionario dirigiu-se para a prai no ponto em que o rio se lança no mar, e ahi collocado começo a fallar aos peixes, como se fôra enviado da parte de Deus.
Rompeu o notabilissimo improviso pelas palavras:
«Ouvi a palavra de Deus, vós, ó peixes do mar e do rio, já que os herejes não querem ouvil-a»."
(excerto da introdução, Duas palavras)
"Enfim, que havemos de prégar hoje aos peixes? Nunca peior auditorio. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não fallam. Uma só coisa pudéra desconsolar ao prégador, qie é serem gente os peixes, que se não ha de converter. Mas esta dôr é tão ordinaria, que já pelo costume quasi se não sente. Por esta causa não fallarei hoje em céo nem inferno; e assim será menos triste este sermão, do que os meus parecem aos homens, pelos encaminhar sempre á lembrança d'estes dois fins.
«Vós sois o sal na terra». Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós, tem duas propriedades, as quaes em vós mesmos se experimentam: conservar o são, e preserval-o para que se não corrompa. Estas mesmas propriedades tinham as prégações do vosso prégador Santo Antonio, como tambem as devem ter as de todos os prégadores. Uma é louvar o bem, outra reprehender o mal: louvar o bem para o conservar, e reprehender o mal para preservar d'elle. Nem cuideis que isto pertence só aos homens, porque tambem nos peixes tem seu logar."
(excerto do Sermão)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis, com manchas e pequenas falas de papel, a mais visível, no cantos superior esq. da capa.
Raro.
Indisponível

Sem comentários:

Enviar um comentário