20 janeiro, 2025

MARTINS, José F. Ferreira -
ANGRID (romance oriental).
Por... Colecção Civilização N.º 85. Pôrto, Livraria Civilização, 1938. In-8.º (14x9,5 cm) de 204, [4] p. ; E.
1.ª edição.
Romance histórico cuja acção decorre, na sua maioria, no Oriente antigo português.
"Êste romance tem algum fundamento histórico, como todos os outros trabalhos de igual natureza por mim escritos.
Um pequeno episódio concernente à sociedade portuguesa no Oriente foi a chave que me serviu para bordar o enrêdo, que romantizei, ampliando-o com aspectos curiosos da vida movimentada dos tempos que dominávamos no Oriente.
Angrid, de-facto existiu e foi um célebre corsário, temido no Oceano índico, e cuja amizade os vice-reis, por mas de uma vez, procuraram e obtiveram em certas condições.
Muitos portugueses, franceses e ingleses serviram nas suas Armadas, e todos eram unânimes em exaltar as suas qualidades: valente na guerra e generoso na paz.
Angrid, lugar-tenente do célebre Corsário, é personagem principal do romance. Singularmente expressiva em tôdas as manifestações, formosa e ousada, objectiva e genuína mulher portuguesa do Século XVIII."
(Excerto do preâmbulo - Angrid)
"Acabavam de soar as últimas badaladas na tôrre da vélha igreja, tocando as Avé-Marias. Alguns peões retardatários, acabada a faina do dia, caminhavam apressados para chegarem a tempo a casa, pela vélha estrada cheia de buracos e entulhos, que do Lumiar ia a Odivelas.
Era noite escura e o céu triste de trovoadas.
Dois homens, no entanto, parecendo não ter pressa, de quando em quando suspendiam a marcha, discutindo com calor e lamentando que os seus magros salários mal chegassem para o pão. Estavam nesta altura em frente duma casa senhorial, cercada de muro que lhes dava pelos ombros. Um dêles num repente mal disfarçado, olhando para as janelas donde coava luz em jorros, comentou com um riso escarninho.
- A êste, aqui - apontando para o palácio - nada falta para ser feliz!...
Triste ilusão...
Lá dentro, na sumptuosidade dos vastos salões, de ricos doirados, tapeçarias e exquisitos candelabros, havia mais do que tristeza, havia dor, haviam lágrimas... Pairava uma pesada nuvem de tormentos mil. Um desastre lançava negra sombra n alma torturada de seus ricos moradores, os quais, talvez, preferissem, naquela hora, a mediania e até a pobreza de muitos dos seus vizinhos."
(Excerto do Cap. I - Hora fatal)
José Frederico Ferreira Martins (Nova Goa, 1874 - Lisboa, 1960). "Historiógrafo, romancista e tradutor. Depois de ter frequentado algumas escolas e universidades inglesas sem nelas ter completado qualquer curso, dedicou-se ao ensino, tendo sido professor liceal em Lisboa e em Goa. Foi vogal do Conselho de Instrução Pública da Índia e administrador da Imprensa Nacional de Luanda, cargo em que se aposentou nos anos trinta, vindo viver para Portugal onde passou a dedicar-se exclusivamente à escrita. Durante a sua estada na Índia havia desenvolvido uma importante atividade de investigação, cujos resultados estão presentes nos numerosos ensaios que publicou sobre a presença portuguesa no Oriente e vieram também a refletir-se numa parte da obra de ficção. Colaborou em O Oriente Português, de Goa, em O Instituto, de Coimbra, e em O Mundo Português, no Boletim da Sociedade de Geografia, de Lisboa."
Encadernação em percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva a capa de brochura frontal.
Exemplar em bom estado de conservação. Aparado. Folha 139/140 alvo de restauro.
Muito invulgar.
15€

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