LEMOS, Julio de - CAMPESINAS (Quadros do Minho). Lisboa, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 1903. In-8.º (19x11 cm) de 262 p. ; E.
1.ª edição.
Conjunto de pequenos contos, sendo uns de índole rústica, ou históricos, sensuais outros, tendo como traço comum o amor e as relações humanas.
"Era certo e sabido. Ao fim da tarde, já depois de haverem despegado do trabalho, os rapazes da freguezia iam reunir-se no adro, em roda do cruzeiro negro de pedra, a taramelar e a brincar uns com os outros, n'uma inalteravel boa harmonia, que era o gosto de quem passava.
Muros abaixo, a um lado, seguia a estrada para a villa, e a outro, distendia-se, n'uma successão de campos infindaveis, a «fazenda» do Thomé de Vascões, toda coberta de latadas e com loiras espigas formosissimas. [...]
Como vinha dizendo, os rapazes da aldeia, ao anoitecer, iam reunir-se no adro, a brincar e a taramelar.
O sol amortecia ao largo, descia sobre a montanha em irradiações violeta - e, entretanto, a rapaziada, marotos que eu sei lá, contava as suas historias e as suas «partidas»: o Evaristo de Penim déra um beijo na filha do Brazileiro; o Firmino de Lizouros mordiscára o braço polpudo da Joanna; o Manuel abraçára, na veiga, a afilhada do Fidalgo de Venade; o Lopes fizera dois dedos de namoro áquella das Barrocas; o Clemente fôra ás uvas do Zé Cosme, o ricaço; o Joaquim da tia Zefa estivera com a ama do abbade, na deveza de Chavião, onde o padre os mandára á lenha...
- Ah, rapazes! Que bom peguilho! Cada perna!...
- E vá um homem fiar-se... Olha o abbade, que bebe os ventos por ella... Se elle o sabe!
E o Firmino, que, baldadamento e por mais de uma vez, lhe rogára um ar da sua graça:
- Parecia tão séria...
E explodiam as gargalhadas, que echoavam ao longe como um estrondo.
- Olha-a, mail-a Therezinha! berrou o garoto do Gachineiro.
N'aquelle minuto, a creada do abbade passava pela taberna do tio Bento, com a «moça» das Cortinhas, em direcção á fonte.
Todos poisaram os olhos nas duas mulheres, especialmente na Maria, appetecivel creatura na belleza sã e fresca dos vinte e pico. E em todos os olhos appareceu, rapido, a chamma do desejo."
(Excerto de No fim da tarde)
Júlio de Lemos (Ponte de Lima, 1878 - Viana do Castelo, 1960). "Escritor e jornalista. Fez os estudos em Viana do Castelo e após breve passagem pelo Seminário Diocesano de Braga (1898-1899) foi nomeado professor da Escola Normal da mesma cidade. Em 1901 foi colocado como Secretário da Câmara de Paredes de Coura e, de 1911 a 1938, na Câmara de Viana do Castelo, onde organizou os arquivos municipais daquelas duas localidades e deixou bem patentes as suas qualidades de investigador, o seu dinamismo e a sua cultura. Colaborou, desde muito novo, em numerosos jornais e revistas portuguesas e espanholas e foi director das revistas literárias Myosótis e Limiana, e de alguns números únicos, entre os quais, Consagração, comemorativo da criação da comarca de Coura (1906) e Pró-Viana, comemorativo das Festas de Nossa Senhora da Agonia (1921 e 1922)."
(Fonte: https://www.memoriasdaromaria.pt/romaria1950/)
Encadernação meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Conserva as capas originais.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Lombada apresenta falha de pele na extremidade superior.
Raro.
45€
Reservado
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