06 janeiro, 2025

HOGAN, Alfredo - A PEDINTE DE LISBOA OU MEMORIAS D'UMA MULHER. Romance original de... Publicado por L. C. da Cunha. Tomo I [Tomo II]. Lisboa, Na Typografia do Editor, Luiz Correa da Cunha, 1859. 2 vols in-8.º ( de 191, [3] p. ; [2] f. il. e 144, [2] p. ; [2] f. il. ; E. num único tomo
1.ª edição.
Curiosíssimo romance de costumes, cuja acção decorre em Lisboa. Uma história de intriga e chantagem que termina num crime horrendo sem castigo. O extenso epílogo "compõe o ramalhete".
Ilustrado com 4 gravuras extra-texto (2 por volume) compostas na "Lith. de Roza e Lima" - Rua dos Fanqueiros, n.º 114.
"No dia 21 de Outubo de 1850, uma sege de aluguel que com extrema velocidade corria pelo Chiado abaixo, chamando pela sua velocidade, a attenção de todas as pessoas que tranzitavam.
Dentro da sege, e recostado languidamente para um dos angulos da caixa, via-se um homem ainda moço, decentemente vestido, e apresentando uma placidez d'espirito que contrastava singularmente com a agitação do vehiculo que o conduzia.
Ora uma viatura qualquer correndo de batida pelo Chiado, é uma coisa que sempre attrahe a curiosidade de todos os passeantes d'aquelle sitio, e mui principalmente dos frequentadores do marrare; por isso grande numero de pessoas assomaram ás portas desse botequim, e das lojas de modistas, para interrogarem com a vista aquella sege de batida, aquelle bolieiro de maneiras insolentes, aquelles cavallos estafados, e sobre tudo, o placido senhor que vinha dentro da sege; mas um riso de desdem e até de despreso, errando nos labios d'esse homem, um estalo do chicote do bolieiro, e uma nuvem de poeira levantada pelas patas dos cavallos, era a unica resposta que obtinham todos esses curiosos que se aguppavam para verem o que podia aquillo ser.
E a sege continuava de batida; n'uma bem calculada curva, voltou para o lado da Boa hora metteu se pela rua dos Algibebes, passou á rua Augusta, e sem que affrouxasse a corrida foi desemboccar na grande praça do Rocio.
A um grito sonoro que sahio de dentro da sege, o bolieiro tomou os cavallos; logo depois abriu-se o alçapão, e o homem saltou n'um pulo para a rua.
Eram seis horas da tarde, mareadas no relogio que está na frente do Theatro de D. Maria II, cujo mostrador é transparente e illuminado, para que de noite se conheçam as horas. [...]
O homem que se apeara da sege, caminhou vagaroso para o centro da praça, e cruzando os braços sobre o peito, parou um instante, olhando ao redor de si.
Era de meia estatura: os cabellos negros, com o o ébano, caíam-lhe, debaixo do chapéo, sobre a golla da sobre cazaca depois de formarem um lustroso caixilho á physionomia morena, e expressiva, onde scintillavam os olhos, tambem negros, e rodeados d'espessa pestanas. Os labios grossos e roliços tinha-os elle agora serrados, com um gesto de nobre altivez. Os sobreolhos unidos e um pouco encrespados por um pensamento d'orgulho."
(Excerto de I - Cordão - o negociante de casamento)
Indice do 1.º Volume:
I - Cordão - o negociante de cazamentos. II - Quem era o senhor Miguel d'Andrade. - Clara. - Amizade travada em caza d'um Eleitor. III - Um chá offerecido a alguns Eleitores. - Recepção de Leonildo. IV - O mancebo lord. V - Mãe e amiga. VI - A mulher philosopha. VII - A semi-deusa. VIII - A queda da semi-deusa. IX - A cruz de ouro do Bispo de S. Torcato. X - Feliciano. XI - O jardim Botanico.
Indice do 2.º Volume:
I - Soffrimento. II - Resolução. III - Marido e Mulher. IV - Tres homens dignos uns dos outros. V - A entrevista. VI - Conclue a narração da pedinte. VII - Declaração do bom Sacerdote. VIII - Fim da Quiteria. IX - Pae e filho. X - Outra victima. XI - Contra.tempo. XII - Na Estrada do crime caminha-se insensivelmente. | Epylogo - Riqueza maldita.
Alfredo Possolo Hogan (1830-1865). "Nasceu e faleceu em Lisboa. Funcionário dos correios, cultivou a literatura negra, tornando-se um romancista e um dramaturgo bastante popular em Lisboa. Nas suas obras notam-se influências de Eugène Sue e Alexandre Dumas. Escreveu vários romances históricos, como Marco Túlio ou o Agente dos Jesuítas (1853), Mistérios de Lisboa (romance em 4 volumes, 1851), Dois Angelos ou Um Casamento Forçado (romance em 2 volumes, 1851-1852), etc. Das peças de teatro, destacam-se: Os Dissipadores (1858), A Máscara Social (1861), Nem Tudo que Luz É Oiro (1861), A Vida em Lisboa (em parceria com Júlio César Machado, 1861), O Dia 1º de Dezembro de 1640 (1862), As Brasileiras; Segredos do Coração e O Colono. Foi-lhe atribuída a autoria do romance A Mão do Finado (1854), publicado anonimamente em Lisboa, pretendendo ser a continuação de O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas."
(Fonte: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/hogan.htm)
Encadernação coeva meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Os 2 vols ostentam assinatura de posse; Restauro à cabeça na última folha de texto do vol I.
Muito raro.
A BNP dá notícia da obra com a indicação "Sem informação exemplar".
85€

Sem comentários:

Enviar um comentário