23 março, 2023

QUEIROZ, Teixeira de - D. AGOSTINHO.
Por... Comedia Burgueza
. Lisboa, Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, 1894. In-8.º (19 cm) de 338, [2] p. ; E.

1.ª edição.
Rara edição original do terceiro volume da série naturalista «Comédia Burguesa», e um dos mais notáveis romances do autor.
"Palmyra estava só e triste. Enterrada na poltrona, a pequenina e airosa cabeça entre as mãos constelladas de anneis, esperava anciosamente seu marido. Pouco antes estivera ali a condessa de Franzuella a dispol-a para a dolorosa noticia. As reticencias, as consolações vagas, as esperanças sem horisonte deixadas nas suas palavras, fizeram-lhe peor, tornaram-na excessivamente nervosa. O ranger das botas de Sallustio despertou-a. Quando elle entrou, aquelle seu aspecto convencional de tristeza deu-lhe logo a ideia de que tudo estava perdido. Agarrando-se-lhe freneticamente ao pescoço, perguntou n'uma explosão soluçante:
- Então?...
Sallustio beijou-a amoravelmente na testa, desprendeu-a do seu pescoço, acompanhou-a até ao sophá e, sentando-a a seu lado, disse n'uma voz resignada, designando-lhe o ceu com o olhar:
- Aquelle está melhor que nós
- Morreu! - exclama. Ai! meu querido pae! Tudo está acabado entre nós!
Atirou-se ao troco do marido como a um arrimo. O soluçar doloroso e sentido entrecortava-lhe as palavras de recordação e amor. Eram coisas da infancia, do tempo em que ella já não tinha mãe. Durante a vida, elle, seu pae, nunca tivera outra preocupação, outro pensamento, que não fosse o bem estar, a felicidade de Palmyra. Trabalhou sá para ella, dedicou-se-lhe absolutamente, como humilde escravo d'um sentimento affectuoso e enorme."
(Excerto do Cap. I)
Francisco Teixeira de Queiroz (Arcos de Valdevez, 1848 - Sintra, 1919). “Romancista e contista, Francisco Teixeira de Queirós licenciou-se em Medicina, tendo ocupado diversos cargos públicos, entre os quais o de deputado, de vereador da Câmara Municipal de Lisboa e de ministro dos Negócios Estrangeiros, neste caso em 1915. Chegou a ser presidente da Academia das Ciências de Lisboa. Fundou em 1880, com Magalhães Lima, Gomes Leal e outros, o jornal «O Século», tendo também colaborado nos periódicos «O Ocidente», «Revista de Portugal», «Revista Literária», «Arte & Vida», «Ilustração Portuguesa», «A Vanguarda» e «A Luta», entre outros. Em 1876, publicou o seu primeiro romance, «Amor Divino», com o pseudónimo de Bento Moreno, que viria a usar em outros livros. A sua vasta obra está repartida em dois grupos: «Comédia de Campo» e «Comédia Burguesa», imitando assim a «Comédie Humaine», de Balzac, um dos seus mentores. Durante cerca de 40 anos, reformulou o seu plano e a sua doutrinação literária sobre o romance, procurando incansavelmente aplicar o seu programa realista-naturalista de base científica. Cultivou uma escrita de feição realista, fazendo uma crítica constante à alta sociedade lisboeta, evidenciando os seus costumes, os seus modos de agir e de estar perante a sociedade portuguesa em geral. Em algumas das suas obras, por outro lado, retrata de uma forma carinhosa e saudosa os seus tempos de infância, vividos na quietude da sua terra natal.”
Encadernação recente inteira de percalina com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado de conservação.
Raro.
35€

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