27 junho, 2017

MELLO, Vicente Pinheiro de - COIMBRA : nobre cidade. Memorias. Com uma carta-prefacio de Affonso Lopes Vieira. Lisboa, [s.n.], Anno de 1909. In-4.º (25cm) de 104, [8] p. B.
1.ª edição.
Memórias do autor dos seus tempos de estudante em Coimbra.
"Quem não conheceu a minha servente, a Guilhermina, com seus cabellos brancos abrindo em bandós sobre a testa engelhada?
Um dia, já distante, quando o Chico Valle se formou, fez, segundo os usos de Coimbra, o testamento do seu quarto de estudante. Deixou a capa a um, a cama, os codigos a outros. Fiquei eu com a Guilhermina, que fôra sem duvida o seu melhor tesosuro. Ninguem mais pittoresco conheci ainda sobre a terra que a minha pobre e boa Guilhermina! Toda Coimbra a conhecia. A «Guilhermina do Vicente Pindella»! Era assim que indistinctamente a tratavam estudantes e tricanas.
Uma vez, numa volta de ferias do Natal, encontrei esquecida sobre a minha banca de trabalho uma cautella de prégo. Dizia assim: Guilhermina Pindella, uma saia de baixo, usada, doze vintens e meio. Soube depois que era assim que ella propria se assignava.
A Guilhermina foi para mim, durante dez annos de Coimbra, o mais extranho mixto de bondade e rabugice que alguem possa phantasiar. Todos aquelles que frequentavam a minha casa nunca conseguiram da sua bocca outro tratamento que não fosse o de tu. Quando se referia ao patrão dizia sempre:
- O maluco sahiu, o maluco não está em casa."
(excerto de A minha servente)
Vicente Miguel de Paula Pinheiro de Melo, também conhecido por Vicente Arnoso (1881-1925). Filho de Bernardo Pindella, o 1.º Conde de Arnoso, secretário particular do rei D. Carlos. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. De acordo con Norberto de Araújo, Vicente Arnoso pertenceu a uma geração singularíssima de Coimbra, uma que deu troveiros e idealistas. A vida, se os espalhou, não os afastou. A distância, mata-a a bondade. Não houve nunca melhor bondade na terra, e os outros, que com ele viveram e viviam – tinham também qualquer coisa de bom, que explicava, nos arroubamentos defendidos pelo instinto fidalgo de bem se cercar, as aproximações para o seu peito varonil. Fizera com Alexandre Braga, com Alberto Costa, o “Pad Zé”, com Aníbal Soares, ainda, com Augusto Soares, Lopes Vieira, João de Barros, Augusto Gil, Amândio Baptista de Sousa (Carnaxide), Fausto Guedes e outros – uma geração impecável de almas boas, concertadas dentro do desconcerto de génios, tendências, ilusões políticas, pecado de se ter nascido homem."
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa manchada. Sem f. anterrosto.
Invulgar e muito apreciado.
Indisponível

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