17 maio, 2013

VIANNA, Silva – CARTA A EL-REI. Ácerca da insubordinação da armada portuguesa. Semana Santa de 1906. Lisboa, Typographia do Commercio, 1906. In-8º (21cm) de 10, [2] p. ; B.
Opúsculo em verso publicado por ocasião da insubordinação da Armada em pleno Tejo, no ano de 1906. O autor apela ao Rei pedindo clemência para os envolvidos, terminando o seu trabalho com a seguinte estrofe:
“Se tendes, como nós, filhos estremecidos,
em nome d’elles dae perdão para os vencidos.
Não ficam mal a um Rei mil rasgos de bondade,
nem abrigar no manto a bella caridade,
quando empregando-a assim, é prova manifesta
Que quem aos pobres dá, ao grande Deus empresta…” 
A insubordinação da Armada na Semana Santa de 1906
“Em Lisboa, a insubordinação dos marinheiros começa no Domingo de Ramos no cruzador D. Carlos e as sucessivas peripécias vão-se sucedendo ao longo da Semana Santa. Imagine-se a Lisboa de 1906, nestes dias altamente simbólicos do cristianismo, com os navios da Armada a ameaçar bombardear o Terreiro do Paço e as Necessidades! Mas quem corporiza a Marinha neste movimento? São cabos, são marinheiros e grumetes – aparentemente, nenhum sargento sequer e, evidentemente, nenhum oficial, os quais de resto são escorraçados do navio em que prestavam serviço. O próprio Major-General da Armada, almirante Ferreira do Amaral (que virá a ser o chefe do governo da Acalmação, pósregicídio), a autoridade suprema da corporação, tem de ir a bordo por duas vezes, sendo-lhe prestadas pela marinhagem as honras militares devidas, embora de mau modo, mas acabando esta por acatar o seu discurso, dizendo que iriam ser feitas averiguações mas que o navio passaria ao estado de meio-armamento, com nomeação de um encarregado-do-comando e o desembarque da maioria da guarnição. Quando, porém, no dia seguinte se procede a este desembarque, com as praças a serem levadas entre baionetas (do Exército) e em vagões de caminho-de-ferro para as prisões de Caxias e S. Julião da Barra, repercute o ânimo revoltado da marujada, que encontra apoio nos familiares e população civil do bairro operário e popular de Alcântara e nas guarnições de diversos outros navios da esquadra. Assim, na Sexta-Feira Santa, a rebelião havia alastrado aos cruzadores Vasco da Gama e Adamastor, à canhoneira-torpedeira Tejo e ao torpedeiro n.º 4, havendo também movimentos de solidariedade na fragata de vela D. Fernando e em algumas unidades da Marinha em terra. Há tiros de armas ligeiras e fala-se na ameaça de torpedeamento dos navios revoltados. O almirante Moraes e Sousa, que comandava a divisão naval, demite-se e os navios são afastados uns dos outros. A punição judicial que se seguiu foi muito forte, embora selectiva: mais de quarenta condenados a penas de prisão superiores a 3 anos ou deportação para as colónias. […] De acordo com as informações contidas nos processos judiciais e em outras fontes (de imprensa e memoriais), percebe-se que já havia um comité de marinheiros organizado pelo movimento republicano português, quiçá influenciado pela Maçonaria ou a Carbonária.” (Oliveira, Luísa Tiago de & Freire, João (org.) – Militares e Sociedade, Marinha e Política. Um século de História. Lisboa, ISCTE, 2012)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capa apresenta vinco vertical e pequena falha de papel no canto superior esquerdo.
Invulgar.
15€

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