01 abril, 2013

ARROYO, Antonio - O CASO DO MONUMENTO AO MARQUEZ DE POMBAL. Lisboa, Typographia "A Editora Limitada", 1914. In-4.º (23cm) de 36 p. ; [2] est. ; B.
1.ª edição.
Opúsculo ilustrado com duas gravuras em separado:
- O Terreiro do Paço com a estátua de D. José em 1.º plano, podendo divisar-se ao fundo, em 2.º plano, o Arco do Triunfo inacabado.
- Maquete do projecto da autoria do arquitecto Marques da Silva e do escultor Alves de Sousa.
Contém memória descritiva do projecto de Marques da Silva e Alves de Sousa.
“O monumento ao estadista [Marquês de Pombal],  que a memória cívica procurava reabilitar desde as comemorações oficiais do 1º centenário da sua morte, em 1882, esteve envolvido em diversas polémicas e limitações orçamentais que atrasaram a sua construção. Em 1918 é celebrada com os autores a escritura de adjudicação do monumento, iniciando-se os trabalhos das fundações. A 13 de Maio de 1926, decorre a cerimónia formal de lançamento da 1ª pedra, dando lugar ao lançamento das sucessivas empreitadas de arquitectura,  escultura e fundição. O monumento contou com a participação das parcerias escultóricas de Leopoldo de Almeida e Simões de Almeida (Sobrinho) que, em 1930, substituíram Francisco Santos na direcção do projecto, tendo sido inaugurado a 13 de Maio de 1934.” (in museudacidade.pt)
O presente opúsculo foi parte de uma “guerra” entre os adeptos dos dois projectos a concurso pela edificação do monumento ao Marquês – o vencedor, da autoria dos arquitectos Adães Bermudes e António Couto e do escultor Francisco Santos, e o outro, da autoria do arquitecto Marques da Silva e do escultor Alves de Sousa. Dirimido a maior parte das vezes nas páginas dos jornais, como era uso na época, esta foi uma polémica de “longa duração” que viu vários concursos serem anulados, e que contou com a intervenção de algumas figuras de relevo da cultura nacional.
António Arroio, partidário do projecto classificado em 2º lugar, “arrasa” o projecto ganhador sugerindo a viciação do concurso pelo júri, e tecendo os mais rasgados elogios ao projecto preterido.
“O actual caso do monumento ao Pombal integra-se na serie lamentavel das obras más que deslustram Lisboa e de todo contrastam com o traçado e o espirito da sua obra de constructor.
Parece que, no exame das diferentes maquettes apresentadas a concurso, o jury, cada um dos seus membros em separado, deveria compenetrar-se da extrema e excepcional gravidade do problema a resolver. O monumento tinha necessariamente de encerrar o conjunto dos tres temas expressivos a que atrás me referi: ser um organismo forte e valioso, simbolisar o trabalho productor do nosso povo e coroar dignamente a bela cidade reconstruida pelo marquez, no ponto culminante d'onde a vemos desenrolar-se até á borda do Tejo, até ao logar em que ele levantou, ao rei que lhe deu força para realisar a sua obra, um monumento de inexcedivel beleza. […] Consta porem, que não houve discussão alguma; que houve apenas uma votação por escrutínio secreto!
Todos quanto conhecem estes casos de apreciação critica e julgamento não deixarão por certo de ficar surpreendidos e até desorientados. Pois é porventura possível que uma votação dessa ordem não seja precedida de larga e até violenta controvérsia?
Mas emfim o juri, na sua alta sabedoria, não discutiu. Não discutiu e enganou-se. É incontestavel. Porque, ao passo que todos encontram uma enorme superioridade ao monumento que obteve o 2.° premio sobre o primeiro premiado, que verbalmente e por escripto o afirmam sem a menor hesitação, ninguém se apresenta a defender a obra que o júri preferiu.  e o seu auctor vê-se forçado a vir fazê-lo; ninguém perfilha a resolução do júri porque afinal, como algures já disse, para mim e para todos, o monumento que obteve o 2.º premio, do arquitecto Marques da Silva e do escultor Alves de Sousa, é uma obra absolutamente excepcional em concursos deste género. […] Eu não julgava que houvesse em Portugal dois artistas capazes de um tal esforço.. Tudo ali é belo, grande, nobre e superiormente tratado. O monumento que obteve o 1º premio é uma obra mal concebida e concebida a frio, sem caracter, sem significação, feita principalmente de bocados ligados apenas materialmente uns aos outros; verdadeira manta de retalhos, sem espirito a reuni-los, e de uma miséria mental que deveras lamento.” (excerto do texto)
António José Arroio (1856-1934). “Foi um engenheiro, político, crítico de arte e professor que, para além da sua carreira técnica como engenheiro, foi autor de obras sobre literatura, música e artes plásticas. Destacou-se como promotor em Portugal do ensino técnico e das artes aplicadas.”
Exemplar brochado em bom estado de conservação. Ausência de f. rosto e capa posterior.
Raro.
Indisponível

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