BARBOSA JUNIOR, José Correia Leite - MYSTERIOS D'ALDEIA : romance original. Porto, Livraria Progresso de Peixoto & Pinto Junior - Editores, 1873. In-8.º (18x12 cm) de 257, [3] p. ; E.
1.ª edição.
Interessante romance oitocentista de cariz histórico e rústico, baseado em factos reais, de acordo com as palavras do autor na oferta a sua mãe, da qual reproduzimos um excerto:
"A vós, minha mãe, dedico este fructo das minhas vigilias.
Foste vós que m'o inspirastes, quando, na minha infancia, me contaveis alguns factos mysteriosos, ocorridos na aldeia que me viu nascer.
Da recordação vaga d'essas narrativas, que tanto me impressionavam, nasceu-me mais tarde o desejo de escrever um romance, que se tornasse uma especie de monumento de lembranças do passado..."
Nada foi possível apurar acerca do autor por inexistência de fontes bio-bibliográficas, com excepção de uma notícia impressa no Diario Illustrado (Lisboa, de 27 de Agosto de 1873), que nada desvenda sobre o autor, sob o título Um romance original portuguez,
que transcrevemos:
"A Livraria Progresso, dos srs. Peixoto e Pinto Junior, da cidade do Porto, que já tantos serviços tem feito á
liiteratura nacional, publicando no nosso idioma varias obras dos mais abalizados escriptores estrangeiros, e algumas de primorosos escriptores naionaes - edictou o interessantíssimo
romance original de costumes portuguezes intitulado Mysterios de Aldeia,
de que é auctor o sr. Jose Correia
Leite Barbosa Junior. Este senhor já
publicou um semanario de litteratura
Voz do Douro, de que foi proprietário,
vários capítulos d'este bello romance,
dos quaes se pôde colligir o grande
interesse do seu entrecho e a incontestável naturalidade da sua redacção.
Auguramos um brilhante successo
ao auctor, e ao seu romance, que recommendamos a quem preze os bons
livros."
Obra rara, por certo com tiragem reduzida. A BNP não menciona.
"No concelho de..., em Portugal, a pequena distancia da antiga estrada real, via-se, ha bastantes annos, uma linda casa de campo, agradavelmente situada.
Edificada no meio da planura d'uma collina, tinha a frente voltada para a aldeia, que se estendia em baixo, no valle, com as suas casinhas brancas ou pardacentas, engrinaladas de cêpas e trepadeiras, e com seus quintaes e pomares de verdejantes e floridos matizes. [...]
Esta casinha, de que acabamos de dar uma pequena ideia, era habitada em 17... por um padre, uma mulher e uma joven, mãe e filha.
Não tinham servos.
Os quintaes eram amanhados por jornaleiros, que, ao pôr do sol, se retiravam para a aldeia.
Não havia visinhos. Viviam na mais completa solidão.
A mulher dirigia a casa de portas para dentro; a joven lavava a roupa, cosia-a e brunia-a.
O padre dizia missa todos os dias ao romper d'alva, no verão, e ás 8 horas, no inverno.
Chamava-se João do Nascimento. Tinha quarenta annos. Era alto, magro, de feições agradaveis, d'olhos pequenos e vivos.
Quem era, d'onde viera, a que familia pertencia, ninguem o sabia dizer.
Chegara alli havia dous annos, comprara aquelle terreno, fizera aquella casa, e alli vivia.
Nada mais constava.
Tratava a todos com boas maneiras, dava bastantes esmolas, e era muito bem-quisto.
A mulher orçava pela mesma idade.
Devia ter sido bella. Chamava-se Margarida.
Maria do Sacramento, a joven, mostrava ter 16 annos. Era linda como as que o são. Através da saia de chita côr de cinza, e do collete de duraque preto, adivinhava-se umas fórmas perfeitamente modeladas.
Ao vêl-a, com o seu rosto pallido, olhos castanhos, cabello d«ebano, mãos mimosas, pés pequeninos, julgal-a-ias uma dama de distincção disfarçada em camponeza para travessuras de Cupido."
(Excerto do Cap. I)
Encadernação coeva meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Assinatura de posse na f. rosto. Ausência f. ante-rosto.
Muito raro.
100€