21 fevereiro, 2022

BRANCO, Manuel Bernardes - AS MINHAS QUERIDAS FREIRINHAS D'ODIVELLAS
. Lisboa, Typographia Castro Irmão, 1886. In-8.º (20 cm) de 412 p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Interessante conjunto de crónicas, lendas e episódios históricos - alguns impregnados de humor e ironia - relacionados com o Convento de Odivelas e o viver monástico das suas residentes. Com interesse camiliano.
Livro ilustrado com três estampas em página inteira: Egreja e Convento d'Odivellas; Tumulo d'el-rei D. Diniz dentro da egreja conventual d'Odivellas; Monumento de D. Diniz em Odivellas.
"Ah, queridas freirinhas! Porque não permittiu o Pai do Ceu que eu houvesse vivido no reinado d'el-rei o senhor D. João V, tempo em que vós estaveis na maxima florescencia, e em que eu poderia com mais facilidade narrar vossos feitos de alta pilheria, ao passo que na epocha, em que nos achamos, as noticias chegam até nós já tão confusas e emmaranhadas que não se me torna facil narrar com verdade e elegancia vossos chistosos feitos, dignos d'uma epopeia, ou d'um Camões que não fosse o Camões do Rocio, tão vosso conhecido!
E assim é, amigo leitor, vejo-me muito confuso e embaraçado não só emquanto ás causas porque o grande rei D. Diniz fundou em Odivellas o afamado mosteiro, mas tambem emquanto é etymologia do nome do local em que foi erigido.
Correm duas versões, e eu propendo para esta que passo a narrar, embora se baseie na tradição popular.
D. Diniz, apesar de se entreter de vez em quando na guerra, ou em fazer versos, era, no tocante a mulheres, um conquistador d'alto lá com elle!
Ver e amar - era obra d'um abrir e fechar d'olhos. Em summa era um maganão de primeira força. [...]
Ver uma mulher e perder a cabeça era tudo o mesmo! Velhas e novas, seculares e freiras, magras e gordas, brancas, coradas, trigueiras... tudo ia razo com elle! Vesgas, tortas e zarolhas... tudo lhe servia! Não dava preferencia a nacionalidades - hespanholas, francezas, portuguezas, mouriscas; eram mulheres, não eram? Pois então venham para cá!... Tambem não fazia questão d'olhos - pardos, azues, bonitos, feios, e até mesmo remelosos, serviam áquella alma damnada, e damnada com certeza, sem com alguma fundação religiosa não tratasse de espiar as suas culpas!"
(Excerto de Parte I - Casas da fundação do mosteiro)
"Ah! mosteiro d'Odivellas! Aquelle que pela primeira vez no teu recinto entrasse tinha forçosamente de ser impressionado por seducções taes que nunca mais, estivesse onde estivesse, se poderia de ti esquecer! Tuas harmonias musicaes eram as redes e as armadilhas com que não só se conquistavam  as almas, mas tambem os corpos! [...]
E os travessos olhares das freiras! E as alcunhas! E as travessuras que ellas faziam ás companheiras, e ainda mais aos homens!"
(Excerto de Parte I - O mosteiro de Odivellas nunca poderá esquecer)
Manuel Bernardes Branco. "Natural de Lisboa e nascido em 1832. Foi collaborador no jornal politico O Clamor Publico, e tem feito inserir varios artigos sobre assumptos litterarios nos periodicos portuenses Portugal, Oriente, Conservador, Ecco Popular, e Miscellanea Litteraria (1860). O Diccionario Bibliographico deve-lhe valiosos e prestaveis serviços, na investigação e diligencia a que se deu, para obter varias noticias que d'elle solicitei, relativas a escriptores contemporaneos, nascidos ou residentes no Porto, como por vezes nos artigos respectivos hei tido occasião de notar."
(Inocêncio: Vol. XVI, pp. 376.)"
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas frágeis com defeitos, toscos restauros e falhas de papel. Miolo correcto. Falta f. ante-rosto. F. rosto e seguinte alvo de restauro no canto inferior esquerdo. Lombada fendida. Deve ser encadernado.
Raro.
Com interesse histórico.
45€

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