16 agosto, 2012

CÉRTIMA, António de - EPOPEIA MALDITA. O drama da Guerra d'África: que foi visto, sofrido e meditado pelo combatente... Lisboa, Portugal-Brasil - Depositária, M. CM. XXIV. [1925]. In-4.º (26,5cm) de 276, [18] p. ; il. ; B.
1.ª edição.
Capa do Pintor Martins Barata.
Clichés do texto do Tenente Alexandre Castelo Branco.
Publicada em 1925 - apesar de no frontispício constar 1924 -, esta edição/3º milhar possui um "Aditamento" do autor e a reprodução de um artigo sobre a Epopeia Maldita da autoria do General Gomes da Costa, bem como um "punhado de opiniões ilustres" colhidas de artigos de jornais e da correspondência do autor com algumas personalidades do meio literário e cultural, e camaradas de armas. 
"(…) Dizia Stendhal, que a arte de mentir se aperfeiçoara muito no seu tempo; que diria ele se hoje aparecesse nesta nossa boa terra de Portugal? Porque, mentir, passou a ser uma necessidade entre nós, desde que se criaram as clientelas para apoio de um chefe que lhes dê de comer. A mentira adopta, agora, formas vagas, genéricas, vesgas, imprecisas, difíceis de incriminar e, sobretudo, de refutar (…) Todos fingem pretender que só se diga a verdade, mas quando alguém de coragem a revela, todos lhe saltam em cima, injuriando-o, abafando-o, repelindo-o. Numa Nação de iletrados, onde a opinião pública é representada por dois ou três jornais políticos, a Verdade anda escondida pelos cantos, e só muito tarde se resolve aparecer (…) Quando algum fracasso ocorre, não hesitam em atirar com as culpas para cima dos outros; e é este o caso da guerra, e particularmente da guerra de África, em que se procuram atribuir culpas do tremendo desastre aos pobres dos soldados e aos graduados inferiores. Cheia de verdade é “A EPOPEIA MALDITA”, e por isso mesmo tem esse livro raro valor. A miséria que descreve, escritor algum seria capaz de as inventar (…) O que se passa em África foi o mesmo que se passou em França, apenas com a diferença de nesta se não sentirem privações - graças à administração britânica; porque se estivéssemos entregues a nós mesmos, a catástrofe teria sido horrorosa (…) Em África, vemos os chefes e a sua claque, na base, comendo, bebendo, passeando, gozando, estendidos nas preguiceiras de verga, abanados pelos moleques, tomando limonadas ou “whisky and soda” bem gelados; o resto, a canalha, os párias - rotos e sujos, debaixo dum sol de inferno, sem pão, sem água, sem medicamentos, atolados nos lodos do Rovuma, trocando tiros com o inimigo pela honra de uma Pátria cujos destinos estavam nas mãos de inconscientes, ou ignorantes, ou perversos (…) Mas no fim, ao terminar a guerra, aparecem, numa evidência balofa, os videirinhos, assaltando os lugares de rendimento, reforçando as clientelas dos deuses de ocasião, cobrindo-se uns aos outros de condecorações e afastando os que poderiam incomodá-los, caluniá-los,e, entre estes, até os pobres mutilados, que eles só aproveitam para os explorar em exibições públicas, colocando-os à sua frente (…) O livro “A EPOPEIA MALDITA” é a reacção salutar contra a mentira de África, é um livro de coragem absoluta, é um livro de Verdade! Porque, os que, como eu, viram em Mocímboa da Praia, ao terminar a guerra, as montanhas de pneus, os centos de automóveis, os rios de águas minerais e de vinho, as máquinas de toda a espécie, algumas das quais nem tinham quem delas se soubessem servir; os refrigeradores, as toneladas de víveres que, estragados pelo tempo, tiveram de ser atirados ao mar, indo envenenar o peixe da baía; as cruzes de pau dos cemitérios, abandonados, dos nossos soldados; quem viu tudo isto, é que pode compreender bem o que é “A EPOPEIA MALDITA”, e revoltar-se contra a inépcia, incapacidade, incúria, desleixo, estupidez e desumanidade dos que, com os meios de acção mais poderosos que nenhuma outra expedição portuguesa teve em África, deixaram devastar e destroçar à fome e à sede, esses pobres soldados de Portugal! (...) Mentira! Tudo Mentira! Ninguém quer a Verdade, porque a Verdade, como a luz, ofusca essas aves sinistras que se governam a si, fingindo governar a Nação. Políticos da força dos básicos de Mocimboa da Praia, comendo e bebendo em repetidos banquetes, sem que lhes perturbe as digestões a lembrança dos que a esta hora dormem nos cemitérios de França e de África, vítimas da sua incapacidade e da eterna falta de preparação do exército (…) Mentira só possível num País onde o Povo, bestializado por uma secular vida de submissão, consente que o crucifiquem sem soltar, sequer um grito. É esta a lição que se tira da leitura deste livro soberbo de Verdade, escrito por quem viu e sentiu bem a guerra em todo o seu horror!(…)" (excerto do artigo do General Gomes da Costa) 
António de Cértima (1894-1983). "Teve como nome de baptismo de António Augusto Gomes Cruzeiro, mas cedo adoptou o pseudónimo António de Cértima. Nasceu a 27 de Julho de 1894, no lugar da Gesta, Freguesia de Oiã, Concelho de Oliveira do Bairro. Filho de António Francisco Cruzeiro e de Teresa Pereira Gomes. Fez a instrução primária na sua terra natal, seguindo depois para o liceu de Aveiro. Em 1915 ingressou no serviço militar, integrado nas campanhas de África, em Moçambique, terminando em 1918. Após o seu regresso ao Continente Europeu continuou os seus estudos, terminando o curso de Direito e adquirindo conhecimentos de línguas estrangeiras, nomeadamente Francês, Espanhol, Inglês, Italiano e línguas árabes. Ainda de tenra idade começa a escrever em jornais da região e em 1914, publica o seu primeiro livro "Marília", (uma peça de teatro). Em 1925, ingressa na vida Diplomática, como Vice-cônsul no Suêz, onde da sua acção neste consulado pouco se sabe, terminando em 18 de Outubro de 1926, sendo nomeado nesta mesma data, Cônsul de Portugal em Dakar, onde permaneceu até à sua passagem para o consulado de Sevilha pela nomeação de 30 de Maio de 1932, onde permanece até à exoneração a seu pedido em 12 de Maio de 1949. A sua acção diplomática distingue-se pela sua integração cultural na região e pelo empenhamento que teve em levar o nome de Portugal, não esquecendo o incentivo das exportações Portuguesas para aquelas regiões. Aquando da sua permanência em Sevilha, que coincidiu com o período da guerra civil espanhola, foi notável o seu grande humanismo. A sua presença naqueles consulados, levou a que fosse considerado ao nível internacional como um grande Embaixador da Cultura Portuguesa e um diplomata de reconhecido valor internacional. Deixou a Vida Diplomática em 1949 regressando a Portugal onde ingressou como gerente de uma empresa em Lisboa. O seu conceito internacional levou a que continuasse a ser mediador de Portugal em situações que a governação Portuguesa sentisse necessitava. Esteve sempre atento a vida Nacional e Internacional. Enquanto novo e na Região da Bairrada, pertenceu à Plêiade Bairradina, grupo que integrava outros escritores e artistas desta região. Foi sócio da Sociedade Portuguesa de Geografia. Faleceu no Caramulo em 20 de Outubro de 1983."
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação, com defeitos nas capas e na lombada.
Muito invulgar.
Com interesse histórico. 
Indisponível

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