06 janeiro, 2024

MARTINS, Francisco da Rocha -
OS PÁRIAS (romance)
. Lisboa, Parceria Antonio Maria Pereira, 1899. In-8.º (16,5x11,5 cm) de [4], 249, [3] p. ; B. Colecção Economica - N.º 40
1.ª edição.
Capa de Condeixa (Ernesto Condeixa, pintor naturalista - Lisboa, 1858-1933).
Curioso romance de Rocha Martins, um dos seus primeiros trabalhos, se não mesmo o primeiro, quando assinava ainda com o seu primeiro nome - Francisco - e contava apenas 20 anos de idade. A história aborda a temática dos "protegidos" - aspirantes a artistas, familiares pobres, excluídos da sociedade, etc. - recebidos e sustentados pela elite burguesa, expediente comum na época.
"Estivera meditando durante muito tempo sentado na cadeira, no interior do quarto luxuoso onde chegáva a voz dolente dos vendedores nos seus pregões mais ou menos estudados e que se confundiam n'uma toada que elle não ouvia, preoccupado como estava nos seus pensamentos.
Já se encontrava ali havia muito tempo sempre absorto, sempre na mesma ordem d'ideias, quando se ouviram no corredor uns passos pesados e uma voz de mulher que dizia:
- Ó menino Antonio! Menino Antonio, venha almoçar.
Elle ao ouvil-a enrugou a testa n'uma expressão de mau humor e respondeu:
- Lá vou Genoveva, lá vou!
Começára então a percorrer o aposento n'umas passadas desordenadas, recordando-se cada vez mais de tudo que lhe succedia.
Vivia alli n'aquella casa onde até os servos, como aquella Genoveva, a velha creada, tinham com elle umas certas liberdades, onde era tratado como um intruso, como um homem que está por demais, que recebe uma esmola, finalmente como um mendigo!
- E que era elle? - pensava o mancebo - Sim, que nome se podia dar a um individuo que tudo quanto possuia era devido a extranhos? Bem lh'o fazia sentir. A serva tratava-o familiarmente, os outros quasi nem lhe fallavam, como a mostrarem a toda a gente o que tinham feito em seu favor.
O seu protector passava dias inteiros no vão d'uma janella muito aborrecido, muito melancholico, o genro fallava-lhe delicadamente sim, mas sem intimidade.
E a filha d'esse homem que o acolhera; essa Marianna Mendes que ainda na vespera por occasião de o apresentar a uma sua amiga, como se desejasse frizar bem qual a sua posição n'aquella casa, dissera:
- O sr. Antonio Salles, protegido de meu pae."
(Excerto do Cap. I - Uma lagrima)
Francisco José Rocha Martins (Lisboa, 1879 - Sintra, 1952). "De família modesta, Rocha Martins foi um autodidacta que se tornou num dos escritores portugueses que em todos os tempos mais terá publicado. Frequentou o Curso Superior de Letras, que não completou. Jornalista, romancista com temas históricos (Maria da Fonte, Madre Paula, Bocage, Gomes Freire, e outros), divulgador de assuntos de história a que chama evocações históricas (em livros e nos periódicos ABC e Arquivo Nacional que fundou e dirigiu e em inúmeras brochuras - formando colecções que atingiram grandes tiragens). Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, a literatura também lhe serviu de assunto, tendo dedicado a Camilo Castelo Branco e a Eça de Queirós alguns trabalhos com interesse. Em todos os seus escritos está muito presente a perspectiva um tanto romântica - parecendo apreciador de dramalhões."
(Fonte: Magalhães, Joaquim Romero - Dicionário de Historiadores Portugueses : Da Academia Real das Ciências ao final do Estado Novo)
Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Capas envelhecidas, frágeis, com defeitos. Assinatura de posse na capa, f. rosto e primeira página de texto.
Raro.
Indisponível

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