11 março, 2022

VIEIRA, Affonso Lopes - AO SOLDADO DESCONHECIDO (morto em França). Por... [S.l.], [s.n. - Imp. Libanio da Silva, Lisboa], [1921]. In-4º (25 cm)  de 4 p. (inc. capas] ; B.
1.ª edição.
Poema publicado em homenagem ao soldado desconhecido. Obra polémica, foi apreendida na época. Na contracapa está impresso: "vendido a favor de um orfão da guerra : preço...... um tostão".
A respeito deste folheto, e com a devida vénia pelo excelente trabalho publicado pela Professora Cristina Nobre nos Cadernos de Estudos Leirienses – 4 Maio 2015, sob o título «O Soldado Desconhecido: o público e o privado em Afonso Lopes Vieira», reproduzimos dois excertos exemplificativos da celeuma levantada pelo poema de ALV.
"Em Março de 1921, o poeta Afonso Lopes Vieira vive uma experiência dolorosa com a apreensão da sua poesia “Ao Soldado Desconhecido (Morto em França)”, texto que o leva a ser interrogado pelas instâncias oficiais, já que o Exército se sente melindrado e retratado em algumas das referências aí feitas, tomando à letra os versos: "[…] a tua imensa / presença acusadora e aterradora / para quem te exportou como um animal, / se estenda sobre o céu de Portugal!". Vários contemporâneos reagem a este acontecimento de um modo violento, atribuindo-lhe um significado político. [...]
Escrevendo esses versos, que me honro de ter escrito, prestei ao heroe a melhor e a mais bela homenagem que o meu espirito foi capaz de conceber. Esses versos estão muito acima de todas as preocupações partidarias ou sectarias, — as quaes me não interessam — porque elas são a glorificação do Povo que se sacrificou com tanto e tão belo heroismo, a saudação funebre e heroica do recem-vindo á sua terra. E eu tenho a absoluta convicção de que nunca escrevi uma pagina mais patriotica do que esta poesia, e de que a sua intenção pelo menos, é digna do heroe. (Entrevista ao jornal Epoca de 19 de março de 1921, apud R I, f. 128 v.)"

"Sem discursos, sem frases,
sem alexandrinos,
porque a Piedade que nos fazes
deshonrá-la-hiam os hinos,
vem, oh Soldado Português da Guerra,
dormir enfim na tua terra
de Portugal,
e que a voz dela te embale
numa caricia enorma:
- Dorme, meu menino, dorme...

Sem discursos, sem frases,
ah! mas com quanto pranto
interior,
porque a Piedade que nos fazes
nos alanceia de Amor,
vem, oh Soldado Português da Guerra,
dormir enfim na tua terra,
e que a tua presença
espectral,
a tua imensa
presença acusadora e aterradora
para quem te exportou como um animal,
se estenda sobre o céu de Portugal!
E que essa voz te embale
numa caricia enorme:
- Dorme, meu menino, dorme..."

(Excerto do poema)

Exemplar brochado em bom estado geral de conservação. Frágil. Vincado.
Raro.
Com significado histórico.
Peça de colecção.
Indisponível

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