09 março, 2022

[SOUSA, Maria Peregrina de] - RHADAMANTO OU A MANA DO CONDE. [ROBERTA OU A FORÇA DA SYMPTHIA]
. Lisboa, Typographia de Castro Irmão, 1863. In-4.º (22 cm) de 390 p. ; E.
1.ª edição.
Obra típica do romantismo nacional composta por um romance - Rhadamanto - e uma pequena novela - Roberta -, assinada com as iniciais "M. P. de S." na folha da dedicatória, onde a autora - Maria Peregrina de Sousa - oferece o seu trabalho à Sociedade Madrépora do Rio de Janeiro, "como tributo de gratidão". Muito interessante.
"A rapida mudança de uma sorte mesquinha para outra opulenta, ordinariamente ensoberbece os favorecidos, e os torna egoistas: não é regra sem excepção, nem tambem com muitas.
Antonio Cosme, pequenissimo contrabandista das raias de Portugal, chegou a adquirir grossos cabedaes, e com elles uma jactancia irrisoria.
Era elle, pesar das suas riquezas, tão pouco conceituado por aquelles que o conheceram pobre, que decidiu ir estabelecer-se em Lisboa. Fortaleceu-o n'esta tenção o não poder afastar de si os muitos parentes pobres que o cercavam, e teimosos lhe chamavam: irmão, filho, sobrinho, tio e primo.
Sua mulher, de familia tambem pouco abastada, não tinha ao menos parentes que a envergonhassem. Seu pae era morto, não tinha tios nem primos, e seu unico irmão havia em pequeno partido para o Brasil. Tinha mãe e avó, mas viviam muito recolhidas, e não a incommodavam. Antes, porém, de Antonio Cosme ter a idéa de mudar de terra, deu-lhe sua mulher um morgado (isto é, um filho), que o enlouqueceu de prazer. A mãe do morgado, que era tão vaidosa como seu marido, e muito mais tola, depois de muito scismar, decidiu que o herdeiro de sua casa se chamasse Rhadamanto, nome que encontrára n'uns versos antigos.
O cura quiz oppor-se dizendo, que aquelle nome era de cães e não de gente. Estava o bom homem afeito a ver prodigalisar os nomes dos deuses do Olympo e do Averno nas matilhas do caçadores seus visinhos.
Os paes da criança não attenderam a nada, e tomaram em seu brio não descerem das tamancas. E teimaram com entono que iriam antes baptisar seu filho á Turquia do que consentirem que lhe fosse posto um nome como qualquer legalhé podia ter. O cura cedeu."
(Excerto de Rhadamanto... - Cap. I)
Maria Peregrina de Sousa (1809-1894). "Escritora, romancista e poetisa. Nasceu no Porto a 13 de fevereiro de 1809, sendo filha do comerciante António Ventura de Azevedo e Sousa, e de D. Maria Margarida de Sousa Neves.
Foi muito conhecida e considerada romancista e poetisa, mas as suas numerosas composições, que lhe granjearam repetidas aplausos e louvores de juizes autorizados, existem disseminadas em vários jornais literários e políticos, que desde 1842 começaram a tê-la a por colaboradora, tais como o Arquivo popular, Restauração da Carta, Revista Universal Lisbonense, Íris, do Rio de Janeiro; Aurora, Pirata, Braz Tisana, Lidador, Pobres do Porto, etc. Alguns dos romances publicados nessas folhas, têm a assinatura de Uma obscura portuense, outros a de Mariposa, muitos com o nome completo, ou com as iniciais D. M. P.
Em publicação separada, em 1859: Retalho do mundo, romance dedicado a António Feliciano de Castilho, o qual se compõe de 58 capítulos, que são os desenvolvimentos de outros tantos rifões, adágios e anexins populares, que lhe servem de títulos. Na Revista Universal saiu as Superstições do Minho, de que se tentou fazer uma colecção separada, com uma introdução ou advertência preliminar pelo referido poeta Castilho, mas ficou interrompida logo na 1.ª folha, por causa das lutas políticas de 1846, e nunca mais continuou. Publicou em 1863, em Lisboa, o romance Rhadamanto ou a mana do conde; seguido do Roberto ou a força da sympathia; esta edição foi feita a expensas da sociedade Madrépora, do Rio de Janeiro, que estava então florescente e se destinava a proteger as publicações literárias e os escritores portugueses. Escreveu também algumas notas para a versão dos Fastos de Ovídio por A. F. de Castilho, nos tomos I, II e III. Na Gazeta de Portugal, de 1843, uma narrativa sob o título Um romance de Tomas da Gandara.
Na Revista Contemporânea de Portugal e Brasil, tomo III, Setembro, de pág. 273 a 312, vem publicada uma biografia desta ilustre escritora e poetisa, escrita pelo já citado escritor e poeta António Feliciano de Castilho."
(Fonte: https://www.arqnet.pt/dicionario/sousamariap.html)
Encadernação em meia de pele com ferros gravados a ouro na lombada. Sem capas de brochura.
Exemplar em bom estado geral de conservação. Manuseado. Folhas algo oxidadas. Dedicatória manuscrita de oferta, não da autora.
Raro.
Indisponível

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